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A Marcha da Mudança

Desta vez a elite e sua mídia fracassaram. Eis a novidade: o povo quer participar da democracia. Por Mino Carta

Quando os representantes do povo no Congresso aumentam vertiginosamente os seus salários no país vice-campeão mundial em má distribuição de renda, cabe perguntar aos nossos perplexos botões se esses parlamentares se dão conta do seu papel neste exato instante da nossa história. Convém convocar o H grande sem que pareça recurso retórico? Sejamos ousados. Sim, sim, História.

Presente.
O povo vota.Cabresto, representado pela mídia, só nas classes de tailleur
O projeto dos tradicionais donos do poder visou a democracia sem povo e foi bem-sucedido até ontem, com a contribuição decisiva das seqüelas da escravidão, do golpe de 1964, do golpe dentro do golpe de 1968, da rejeição da emenda das Diretas Já em 1984, da enésima conciliação das elites representada pela Aliança Democrática que sacramentou a eleição indireta de Tancredo Neves em janeiro de 1985, e dos governos seguintes até o primeiro e o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.

A seu modo, foi operação impecável. Quer dizer, vigorou a lei do mais forte. Mas quem há de ser mais forte? A elite ou o povo? Talvez o equilíbrio seja o sonho de muitos, bem como a convicção de outros de que a correta aliança exige grandes lideranças. Certo é que em 2006 a maioria impôs sua vontade, e de forma muito mais clara do que em 2002.

Trata-se, apenas, de constatar, sem fugas à verdade factual. Pela primeira vez, de forma inequívoca, a elite malogrou do esforço concentrado da mídia para demolir o adversário do seu candidato. Já ocorreu que a imposição fosse direta, digamos assim. Como, por exemplo, a do coronel, a colocar na mão dos ex-escravos (ex?) a cédula já preenchida.

A mídia, com o tempo cada vez mais capilar e equipada, tornou-se o instrumento ideal da prepotência. Leiam, nesta edição, os textos de Wanderley Guilherme dos Santos, Raimundo Rodrigues Pereira e Paulo Henrique Amorim, que tratam do assunto. As campanhas contra o presidente Getulio, eleito democraticamente, são um primeiro esboço do que viria depois.

E veio na preparação do golpe de 1964, aquele que se destinava a desfazer o caos econômico e a sustar a marcha da subversão. Golpe houve, sem resistência maior, e muito menos derramamento de sangue. A economia brasileira conheceu depois dias infinitamente mais caóticos, quanto à marcha da subversão estamos a esperá-la até hoje.

E o instrumento foi largamente usado por ocasião da campanha das Diretas Já, hostilizadas de mil maneiras, salvo raras exceções midiáticas. Collor é exemplo ululante. Novamente afora as exceções honrosas, os donos da mídia agarraram, impávidos, no fio desencapado para impedir a ascensão do Sapo Barbudo. Acabou como acabou. Fernando Henrique foi mais um nome da conciliação das elites, às quais serviu com denodo comovedor.

A eleição de Lula em 2002 não foi, a rigor, de digestão difícil. Para tanto, contribuíram o desastre fernandista e a situação calamitosa deixada para o sucessor. De verdade, 2006 é a mudança em marcha, em lugar da subversão. Não houve jeito, a maioria não deu ouvidos à sarabanda de ataques desfechados contra Lula e seu governo, por quase dois anos a fio.

Passado.
Nas votações de antanho, eleitoras de tailleur. Nos grotões, o voto de cabresto
A mídia fracassou e, além de tudo, patética, ofertou ao presidente da República a oportunidade de colher, no segundo turno, uma vitória ainda mais retumbante do que se daria no primeiro. O vetusto voto de cabresto, destinado pelos donos do poder ao povo dos grotões, onde quer que os houvesse, mostrou valer, este ano, só mesmo nos rincões das classes A e B, onde a mídia ainda chega, sobretudo em São Paulo, o estado mais rico, ou menos pobre, e mais reacionário da Federação.

O povo quer participar da democracia, eis a novidade, exibida com a nitidez que os parlamentares não percebem. Trafegam ainda na névoa dos velhos hábitos. Resta ver se o próprio Lula percebe plenamente a imponência da sua tarefa. Este povo sofrido, que se identifica com o igual sentado no trono, não parece inclinado a se conformar com as agruras de sempre. E espera dele um desempenho mais desabrido do que no primeiro mandato.

Há mais de 20 anos o Brasil cresce menos do que deveria para ficar na mesma. A podridão de todo o sistema, além do Congresso entregue à ganância, é óbvia. Minoria a ganhar demais. Maioria, de menos. Até a corrupção raciocina em termos de centenas de milhões de dólares. (O que torna ínfima, aliás, a quantia envolvida na história do dossiê anti-Serra.) Enquanto isso, a violência fermenta, em todos os quadrantes. CartaCapital não hesitou em apoiar, pela segunda vez, a candidatura Lula, porque enxerga nele o único mediador possível entre a elite ancorada às suas tradições e o povo que desperta.

Há um ano, em longa entrevista no Planalto, Lula me disse: “Você sabe que nunca fui de esquerda”. Somos amigos há quase 30 anos, e sei somente que Lula nunca foi marxista, ao contrário do irmão, chamado Frei Chico por causa da calva no cocuruto, a lembrar tonsura. Não deixo de crer que Lula é de esquerda, desde o passado de metalúrgico e sindicalista, no sentido de Norberto Bobbio.

No outro dia, o presidente me surpreendeu, ao dizer que quem for de esquerda aos 60 anos é ruim da cabeça. Conheço intermináveis sexagenários, septuagenários, octogenários, que ainda são de esquerda, não escondem e mantêm a inteligência intacta. Ao menos no sentido de Bobbio, para quem direitista quer o status quo e esquerdista igualdade social. É um lutador da inclusão. Eis o ponto. Lula, no entendimento de CartaCapital, terá, para o bem do País e do seu governo, de enfrentar, sem meias medidas, o monstruoso desequilíbrio social do vice-campeão mundial em má distribuição de renda.

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A Marcha da Mudança

Desta vez a elite e sua mídia fracassaram. Eis a novidade: o povo quer participar da democracia. Por Mino Carta
Quando os representantes do povo no Congresso aumentam vertiginosamente os seus salários no país vice-campeão mundial em má distribuição de renda, cabe perguntar aos nossos perplexos botões se esses parlamentares se dão conta do seu papel neste exato instante da nossa história. Convém convocar o H grande sem que pareça recurso retórico? Sejamos ousados. Sim, sim, História.
Presente.
O povo vota.Cabresto, representado pela mídia, só nas classes de tailleur
O projeto dos tradicionais donos do poder visou a democracia sem povo e foi bem-sucedido até ontem, com a contribuição decisiva das seqüelas da escravidão, do golpe de 1964, do golpe dentro do golpe de 1968, da rejeição da emenda das Diretas Já em 1984, da enésima conciliação das elites representada pela Aliança Democrática que sacramentou a eleição indireta de Tancredo Neves em janeiro de 1985, e dos governos seguintes até o primeiro e o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.
A seu modo, foi operação impecável. Quer dizer, vigorou a lei do mais forte. Mas quem há de ser mais forte? A elite ou o povo? Talvez o equilíbrio seja o sonho de muitos, bem como a convicção de outros de que a correta aliança exige grandes lideranças. Certo é que em 2006 a maioria impôs sua vontade, e de forma muito mais clara do que em 2002.
Trata-se, apenas, de constatar, sem fugas à verdade factual. Pela primeira vez, de forma inequívoca, a elite malogrou do esforço concentrado da mídia para demolir o adversário do seu candidato. Já ocorreu que a imposição fosse direta, digamos assim. Como, por exemplo, a do coronel, a colocar na mão dos ex-escravos (ex?) a cédula já preenchida.
A mídia, com o tempo cada vez mais capilar e equipada, tornou-se o instrumento ideal da prepotência. Leiam, nesta edição, os textos de Wanderley Guilherme dos Santos, Raimundo Rodrigues Pereira e Paulo Henrique Amorim, que tratam do assunto. As campanhas contra o presidente Getulio, eleito democraticamente, são um primeiro esboço do que viria depois.
E veio na preparação do golpe de 1964, aquele que se destinava a desfazer o caos econômico e a sustar a marcha da subversão. Golpe houve, sem resistência maior, e muito menos derramamento de sangue. A economia brasileira conheceu depois dias infinitamente mais caóticos, quanto à marcha da subversão estamos a esperá-la até hoje.
E o instrumento foi largamente usado por ocasião da campanha das Diretas Já, hostilizadas de mil maneiras, salvo raras exceções midiáticas. Collor é exemplo ululante. Novamente afora as exceções honrosas, os donos da mídia agarraram, impávidos, no fio desencapado para impedir a ascensão do Sapo Barbudo. Acabou como acabou. Fernando Henrique foi mais um nome da conciliação das elites, às quais serviu com denodo comovedor.
A eleição de Lula em 2002 não foi, a rigor, de digestão difícil. Para tanto, contribuíram o desastre fernandista e a situação calamitosa deixada para o sucessor. De verdade, 2006 é a mudança em marcha, em lugar da subversão. Não houve jeito, a maioria não deu ouvidos à sarabanda de ataques desfechados contra Lula e seu governo, por quase dois anos a fio.
Passado.
Nas votações de antanho, eleitoras de tailleur. Nos grotões, o voto de cabresto
A mídia fracassou e, além de tudo, patética, ofertou ao presidente da República a oportunidade de colher, no segundo turno, uma vitória ainda mais retumbante do que se daria no primeiro. O vetusto voto de cabresto, destinado pelos donos do poder ao povo dos grotões, onde quer que os houvesse, mostrou valer, este ano, só mesmo nos rincões das classes A e B, onde a mídia ainda chega, sobretudo em São Paulo, o estado mais rico, ou menos pobre, e mais reacionário da Federação.
O povo quer participar da democracia, eis a novidade, exibida com a nitidez que os parlamentares não percebem. Trafegam ainda na névoa dos velhos hábitos. Resta ver se o próprio Lula percebe plenamente a imponência da sua tarefa. Este povo sofrido, que se identifica com o igual sentado no trono, não parece inclinado a se conformar com as agruras de sempre. E espera dele um desempenho mais desabrido do que no primeiro mandato.
Há mais de 20 anos o Brasil cresce menos do que deveria para ficar na mesma. A podridão de todo o sistema, além do Congresso entregue à ganância, é óbvia. Minoria a ganhar demais. Maioria, de menos. Até a corrupção raciocina em termos de centenas de milhões de dólares. (O que torna ínfima, aliás, a quantia envolvida na história do dossiê anti-Serra.) Enquanto isso, a violência fermenta, em todos os quadrantes. CartaCapital não hesitou em apoiar, pela segunda vez, a candidatura Lula, porque enxerga nele o único mediador possível entre a elite ancorada às suas tradições e o povo que desperta.
Há um ano, em longa entrevista no Planalto, Lula me disse: “Você sabe que nunca fui de esquerda”. Somos amigos há quase 30 anos, e sei somente que Lula nunca foi marxista, ao contrário do irmão, chamado Frei Chico por causa da calva no cocuruto, a lembrar tonsura. Não deixo de crer que Lula é de esquerda, desde o passado de metalúrgico e sindicalista, no sentido de Norberto Bobbio.
No outro dia, o presidente me surpreendeu, ao dizer que quem for de esquerda aos 60 anos é ruim da cabeça. Conheço intermináveis sexagenários, septuagenários, octogenários, que ainda são de esquerda, não escondem e mantêm a inteligência intacta. Ao menos no sentido de Bobbio, para quem direitista quer o status quo e esquerdista igualdade social. É um lutador da inclusão. Eis o ponto. Lula, no entendimento de CartaCapital, terá, para o bem do País e do seu governo, de enfrentar, sem meias medidas, o monstruoso desequilíbrio social do vice-campeão mundial em má distribuição de renda.

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