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Evento do PT põe socialismo como horizonte da esquerda latino-americana

Seminário internacional Os desafios da esquerda latino-americana e caribenha, que reuniu em Salvador políticos e intelectuais progressistas latino-americanos, foi promovido pela Secretaria Nacional de Relações Internacionais do PT.

SALVADOR – A “festa da esquerda” na América Latina, com a ascensão de vários partidos progressistas ao governo de uma dezena de países, abriu uma trilha de esperança para a luta mundial pelo socialismo. Ao mesmo tempo, colocou para as organizações de esquerda o desafio de não frustrar as expectativas criadas de inclusão social ampla, com redução das desigualdades e injustiças – pois a direita latino-americana continua viva e operante. Essas foram as principais questões levantadas por políticos e intelectuais progressistas latino-americanos que participaram do seminário internacional “Os desafios da esquerda latino-americana e caribenha”, promovido pela Secretaria Nacional de Relações Internacionais do PT durante as comemorações dos 27 anos de fundação do partido, realizada no último fim de semana em Salvador (BA). Buscar novos modelos de desenvolvimento, integração e solidariedade são alguns caminhos apontados por eles para enfrentar a reação das organizações de direita que se empenham para retomar o poder.

O vice-presidente nacional do PT, Marco Aurélio Garcia, assessor especial do presidente Lula para assuntos internacionais, iniciou sua exposição com uma citação do recém empossado presidente do Equador, Rafael Correa, que considera uma síntese do atual momento político da região: “A América Latina não está vivendo uma época de mudança, apenas, mas está vivendo uma mudança de época”. Marco Aurélio fez uma recapitulação histórica dos movimentos de esquerda latino-americanos, desde o início do século passado, com a Revolução Mexicana e a luta pela Reforma Universitária em Córdoba, na Argentina, lembrando que a origem das organizações de esquerda na região é extremamente diversificada e recebeu influências muito distintas no decorrer de sua evolução – do nacionalismo, do internacionalismo, do antiimperialismo e outras.

Marco Aurélio destacou a importância da Revolução Cubana para o estímulo aos movimentos progressistas na América Latina, mencionando os movimentos revolucionários que derrotaram “oligarquias cruéis e exploradoras” na Nicarágua, em El Salvador e na Guatemala. O professor concluiu sua reconstituição histórica fazendo referência ao período de “contra-reformas neoliberais”, iniciado no Chile na base da repressão às classes trabalhadoras e setores médios da sociedade, registrando o surgimento do PT “com um traço dominante de esquerda social, sem definição política muito precisa e sofisticada”, diferenciando-se das “velhas organizações de esquerda”, e realçando a importância dos movimentos sociais na disputa por uma agenda pós-neoliberal. Esses movimentos dialéticos do fim do século passado é que teriam proporcionado que a Bolívia, por exemplo, realizasse pelo voto aquilo que em outros tempos só seria possível pelas armas: eleger um presidente com a cara do seu povo.

“Nunca a esquerda havia tido na América Latina posições de poder como hoje, posições de governo. É uma força real em muitos países e influencia grandes decisões”, constatou Marco Aurélio, relacionando os países com governo de esquerda – Nicarágua, Panamá, Brasil, Uruguai, Chile, Argentina, Equador, Venezuela, além da Bolívia – e observando que essa ascensão também ocorre em países onde os partidos progressistas permaneceram na oposição depois de uma disputa dura nas eleições ou já acumulam força para um próximo embate em igualdade de condições – como Peru, Colômbia, Paraguai, além da Guiana, de Honduras, da República Dominicana e, especialmente o México, que ele esqueceu de mencionar, mas certamente se enquadra nessa categoria. “Essa presença é resultado não de golpes nem de aventuras, mas de intensas mobilizações sociais que se traduziram em eleições vitoriosas”, concluiu.

Como conseqüência dessa ascensão, a esquerda latino-americana está colocada diante de dois grandes desafios, segundo Marco Aurélio: 1) do ponto de vista nacional, construir uma agenda para permitir que a expectativa das massas na esquerda seja correspondida; 2) do ponto de vista internacional, construir um novo conceito de socialismo, com a proposta de uma agenda que signifique a efetiva superação do neoliberalismo. “Não importa só ganhar as eleições. Isso é importante, mas é mais difícil corresponder às expectativas depositadas”, advertiu.

Para tanto, ele aponta uma série de sugestões: 1) retomar o crescimento acelerado dos países da região (“tem que ser acelerado porque a destruição do sistema produtivo foi acelerada e os conflitos sociais se expandiram”); 2) crescer com distribuição de renda; 3) ter suas próprias fontes de financiamento, mas fontes sadias (“o equilíbrio fiscal, discurso dos conservadores, tem que ser tomado pela esquerda”, mas deve ser “um equilíbrio macroeconômico que não seja um freio para o crescimento”); 4) redução da vulnerabilidade externa da América Latina (“no mundo globalizado, é preciso ser menos dependente); 5) tudo isso deve ocorrer no âmbito do fortalecimento da democracia (“seja representativa ou participativa”); 6) não perder de vista os ideais solidários de esquerda (“será muito mais importante governarmos nossas economias, aumentar emprego, reduzir pobreza e exclusão, se fizermos juntos”).

Membro da Comissão de Assuntos Internacionais da Frente Ampla que hoje governa o Uruguai, Niko Schvarz, fez um relato das condições históricas que levaram à vitória da esquerda em seu país. De acordo com ele, foi um processo paulatino, que durou mais de 30 anos, com a adesão, uma a uma, de mais de 20 organizações, que se juntaram da Frente Ampla que quebrou a hegemonia dos partidos Colorado e Nacional, que se revezavam no poder, conquistando uma expressiva vitória com 54% dos votos, mais do que a votação de todos os partidos somados aos votos brancos e nulos. Schvarz relacionou algumas mudanças ocorridas no Uruguai nestes dois anos de governo do presidente Tabaré Vázquez (salário mínimo, leis trabalhistas, redução do desemprego, direitos humanos etc).

Para ele, o primeiro desafio é atender as expectativas e avançar. Outro desafio é a relação com os movimentos populares, em especial o movimento sindical. Schvarz defende que os partidos tenham relação com os movimentos sociais, sem instrumentalização. Apontou também a organização dos movimentos de base nos bairros da capital, Montevidéu, e em cada cidade do interior. Disse que a militância tem papel importante nas críticas construtivas dos programas de governo, mas também na propagação dos avanços alcançados “para furar o cerco midiático”. Sugeriu a integração e intercâmbio maior dos partidos de esquerda, com reuniões freqüentes, bilaterais, regionais e do conjunto da América Latina. “Os países vêm acumulando uma série de conquistas e avanços. E o maior desafio, no plano continental, é a integração regional, a coordenação entre os partidos de esquerda e a troca de experiências”, apontou o representante do Uruguai.

Coordenador parlamentar do Partido da Revolução Democrática (PRD) na Câmara de Deputados do México, o deputado Javier González Garza lamentou que a eleição em seu país tenha representado um contraste “com a grande festa da esquerda na América Latina”. Ele lembrou que a esquerda mexicana formou uma coalizão de três partidos, com o PRD à frente no apoio à candidatura de José Lopez Obrador, que teve a “votação histórica de 15 milhões de votos, mais que o dobro de qualquer outra eleição da esquerda”. Por outro lado, ele entende que os partidos da esquerda mexicana sofreram uma “enorme derrota”, porque perderam por menos de 200 mil votos (0,5% do total). González observou que, a despeito dos erros, houve “uma grande fraude eleitoral”, com o empresariado comandado pelo ex-presidente Vicente Fox “fazendo propaganda ilegal”.

O deputado mexicano fez uma advertência aos demais partidos de esquerda da América-Latina. Disse para terem cuidado com uma aliança do Partido Popular Espanhol com outros partidos de direita latino-americanos, com vistas a uma organização internacional para recuperar o poder na região. Lembrou que os governos de esquerdas possuem características diferentes e que é preciso encontrar novos paradigmas para a defesa do socialismo, mas enfatizou que todos devem ser compreendidos e defendidos para que não seja abortada uma nova solução ideológica mundial.

“Estamos em um período fundamental da esquerda em toda a América Latina. (Mas) “se não tomarmos como próprio o futuro da revolução na Bolívia, não seremos capazes de defender a nós mesmos. A direita não está morta na América Latina. Se não somos capazes de defender a Venezuela e a Bolívia não vamos ser capazes de defender nós mesmos”, conclamou González, que também defendeu maior participação das mulheres na direção dos partidos de esquerda. “Não vamos resolver os problemas da equidade mundial se não resolvermos o problema da equidade de gênero em nossas organizações”. Javier Gonzáles, do PRD do México, falou sobre a tensa situação de seu país, onde inúmeras fraudes impediram que Lopes Obrador, o candidato da esquerda, se elegesse presidente no ano passado.

Nils Castro, representante do PRD do Panamá, disse estar satisfeito por não ouvir no debate tantas referências ao Muro de Berlim quanto ouviu em um seminário mais amplo do Fórum São Paulo, promovido pela Fundação Perseu Abramo, quatro anos atrás. “Hoje, ninguém ter falado no Muro significa que já podemos caminhar, fazer coisas novas sem lembrar do coitadinho do Muro”. Ele fez as mesmas referências em relação ao acúmulo de forças progressistas na AL, lembrando ainda da Costa Rica, onde considera que a mobilização social poderá dar “resultados políticos interessantes nos próximos anos”.

Castro considera que, apesar de a esquerda ter aumentado a participação no poder mas não ter conquistado o poder, muitas coisas podem ser e estão sendo feitas para enfraquecer o controle do imperialismo. Disse acreditar que houve uma derrota “ao menos conceitual” do neoliberalismo, mas que “os efeitos materiais do neoliberalismo permanecem” e precisam ser superados com novos métodos, novos projetos, por um caminho próprio, sem a prisão dos paradigmas existentes ou a repetição de modelos externos. Mas, assim como González, advertiu: “Temos que ter muito cuidado. Não quer dizer que os derrotados estão tranqüilos, observando se teremos sucesso ou não. Eles estão trabalhando. E têm muito poder real, como os meios de comunicação. A direita está trabalhando e sabe fazer o seu trabalho”.

Citando como exemplo a reconstrução dos partidos democrata-cristãos na região do Caribe, Castro advertiu os partidos de esquerda para as disputas eleitorais. “Nos próximos anos, não vamos ter apenas disputa eleitoral, vamos ver uma intensa luta ideológica”, previu, apontando o processo de reeleição do presidente Lula como um bom exemplo para reflexão. No entanto, considerou que hoje a esquerda tem mais motivos para sua luta do que há 30 anos. “Se compararmos a miséria do tempo de Che Guevara, hoje a situação é muito pior. Temos mais motivos para lutar”. Mas fez um censura cifrada ao presidente da Venezuela, Hugo Chavez, dizendo que a idéia não é fazer mais heróis e mártires. “Entre morte e pátria, eu prefiro pátria. Entre morrer e vencer, eu prefiro vencer. O importante é garantir a mudança de sistema para os próximos povos viverem melhor”.

Para o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, a atual integração da América do Sul é o movimento mais profundo desde a colonização. Para ele, o pano de fundo por trás da ascensão do movimento de massas é “a ascensão dos governos de esquerda respeitando a legalidade burguesa”. Disse que a última eleição presidencial no Brasil merece uma profunda reflexão por ter sido atípica e inédita. Lembrou que a coalizão de esquerda e o próprio presidente foram vítimas de uma “uníssona, unânime e profunda campanha, que não acontecia desde a Era Vargas” e que “a figura do presidente da República foi levada ‘a execração” no Congresso Nacional, mas “nada disso teve relevância”.

“Há um fato novo no nosso país que é a emergência do povo. Onde havia um pobre havia um defensor do governo Lula”, observou Amaral. “O povo desorganizado reagiu como se estivesse organizado. E não foi mérito dos partidos. Foi resultado da ligação direta do presidente com as massas. Há algo que está caminhando à frente dos nossos partidos e merece reflexão se quisermos ser condutores do processo revolucionário”, advertiu, observado que, se não houver solidariedade entre os governos de esquerda “esses movimentos serão esmagados, um a um, a seu tempo, basta que o imperialismo tenha tempo de cuidar da gente”. “Precisamos juntar nossos partidos e nossos povos. Se conseguirmos nos unificar, seremos invencíveis”, propôs Amaral.

O secretário de Relações Internacionais do PCdoB, José Reinaldo Carvalho, considera que está em curso no mundo contemporâneo duas tendências principais e contrárias. De uma lado, uma ofensiva abrangente do imperialismo norte-americano, através da guerra e da diplomacia, com a tentativa de impor uma guerra infinita contra os países que se opuserem ao imperialismo, utilizando a justificativa do “combate ao terrorismo”. Do outro lado, um cenário favorável para soberania dos países e a melhoria das condições de vida aos povos da região, indicado pela crise estrutural da economia norte-americana, o movimento pela paz nos EUA, resultado das derrotas políticas que o país vêm sofrendo no Iraque, no Afeganistão, no Irã, na Síria e na Coréia do Norte e as sucessivas vitórias das forças progressistas, revolucionárias e socialistas na América Latina. Além da luta dos trabalhadores rechaçando a integração da União Européia e a consolidação de Cuba como país socialista e o peso da China colocado na balança geopolítica mundial.

Para Carvalho, hoje, as evidências de que o imperialismo não é invencível e pode ser derrotado são maiores. Assim como crescem os elementos de convicção de que outro mundo, socialista, não só é possível como indispensável para a solução dos impasses históricos engendrados pela dominação imperialista. “Tudo isso nos leva a um cenário de prolongada correlação de forças que vai levar os países da América Latina a melhores condições de enfrentamento e conquista da libertação nacional e social dos povos”, avalia o comunista.

O representante do Departamento de Relações Internacionais do Partido Comunista Cubano, Jorge Ferreira, considera que a troca de experiências dos países da região é muito importante para o processo de identificação e integração dos governos de esquerda na AL, pois acredita que o principal para o futuro do socialismo é “avançar com realizações concretas”. Ele fez um balanço da situação de Cuba, enfatizando que o bloqueio comercial dos EUA não é uma ficção e afeta profundamente a economia do país. Disse que o governo cubano continua com apoio popular, mesmo depois de 48 anos da Revolução, mas em estado permanente de defesa.

Por outro lado, considera que Cuba vem dando passos importantes para a integração, mencionando o acordo tarifário com o Mercosul, a abertura para 10 mil estudantes latino-americanos estudarem no país, sendo 1.497 na Escola Latino Americana de Medicina e 944 na de Educação Física. Além da cirurgia de visão, que beneficiaram mais de 500 mil latino-americanos e do contingente de 2 mil médicos e para-médicos treinados para atuar em catástrofes, que não puderam ajudar os atingidos pelo furacão Katrina, nos EUA, mas trabalharam no terremoto no Paquistão e no tsunami da Malásia. “Para Cuba, solidariedade não é cobrar pelo que sobra, mas dividir o que temos”, sintetizou.

A unidade da América Latina é vital para a Bolívia, na opinião da senadora Leonilda Zurita, do Movimento al Socialismo (MAS). Ao fazer o balanço do primeiro ano do governo, disse que 70% dos planos traçados foram cumpridos e que os bolivianos agradecem aos presidentes Lula, Chavez e Fidel Castro pelo apoio que estão dando ao governo de Evo Morales. Relatou que o MAS elegeu 72 entre 130 deputados e 12 dos 27 senadores. Lembrou que a vitória de Morales, que até hoje é discriminado pelo preconceito de que um índio não tem competência para governar seu país, tornou-se possível porque o ex-presidente Carlos Mezza não cumpriu o compromisso assumido de nacionalizar hidrocarbonetos e convocar uma Constituinte.

Entre os avanços que considera importantes no governo progressista boliviano, ela mencionou o fato de serem eleitas 70 mulheres entre os 255 eleitos para a Assembléia Constituinte, que é presidida por uma mulher. Lembrou que Morales reduziu de 75 mil para 15 mil bolivianos o salário de presidente e os deputados e senadores também tiveram os subsídios reduzidos de 20 mil para 10 mil bolivianos, economia que permite um gasto maior com educação e saúde. Zurita mencionou ainda o avanço na luta contra a corrupção, com algumas prisões de corruptos, o esforço para a alfabetização de jovens e adultos, para a implementação da reforma agrária, mas não em áreas sem água ou imprestáveis para o cultivo, e as cirurgias nos olhos, que já teriam beneficiado 56 mil bolivianos.

Ela reclamou ainda das notícias que falam do risco de uma guerra civil na Bolívia, dizendo que são mentirosas. “Na Bolívia, é uma guerra entre ricos e pobres. Mas a arma dos camponeses são os diálogos e a paz”, sustentou, pregando a esperança e na unidade e integração da América Latina. “Que ilumine a cabeça dos governantes para de que possamos fazer as mudanças necessárias”.

Ernesto Zelayandia, da Frente Farabundo Martí pela Libertação Nacional (FMLN), de El Salvador, disse que sua organização está no contingente que permanece na oposição em seu país. O objetivo traçado neste momento é vencer as eleições parlamentares e municipais em 2009. Para isso, estão revendo seus estatutos considerados excessivamente democráticos, permitindo que qualquer filiado se lance candidato, o que enfraquece a FMLN no processo eleitoral. “Para ganhar, primeiro tem que ter vontade de ganhar”, afirmou, dizendo que o excesso de “protagonismo” na esquerda, explorado na imprensa conservadora como divergências, prejudica as estratégias eleitorais.

Ele propõe que a integração das esquerdas latino-americanas não fique só no discurso, mas se materialize em contratos de cooperação concretos. E cobrou a solidariedade do PT aos partidos de esquerda da AL, lembrando que a organização surgiu da solidariedade internacional. “A cultura da solidariedade internacional não está fortalecida no partido”, estocou. Sustentando que a “Era Che Guevara continua o grande paradigma”, Zelayandia disse que fico confuso com a troca de bandeiras entre a direita e a esquerda nas últimas décadas. “Agora a direita é internacionalista e a esquerda é nacionalista”, questionou, afirmando que os partidos progressistas só terão futuro na AL se permanecerem ao lado do povo quando estiverem exercendo o poder. “Se nós queremos transformar nossos países temos que ser conseqüentes com o povo, porque nós somos parte do povo”.

Organizador do seminário, o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, disse ao final dos debates que não encontrou uma síntese teórica nem política para as reflexões. Para ele, as esquerdas latino-americanas têm diferenças com as quais é preciso conviver para que haja cooperação. Cada uma deve trabalhar conforme a sua realidade, pois não seria possível enquadra-las no modelo tradicional da esquerda européia do século XX nem haveria condições de tomar o poder pelo processo revolucionário para implementar reformas políticas e sociais ou de mergulhar no mundo capitalista abrindo mão do ideal anticapitalista. Para Pomar, não é simples interpretar o fenômeno de ascensão das esquerdas na AL, que estaria ocorrendo entre outros fatores pela desmoralização da ideologia neoliberal e dos partidos de direita. Mas ele acredita que, apesar das diferenças entre os governo do antiimperialista Chávez e do uruguaio Tabaré, que está em processo de aliança com os EUA, é possível acumular forças para algum dia superar o modelo capitalista. “É preciso resistir juntos e avançar para algum lugar, trabalhando com o dado da realidade”.

Por Nelson Breve.

NOTÍCIA COLHIDA NO SÍTIO www.agenciacartamaior.com.br.

Por 19:20 Notícias

Evento do PT põe socialismo como horizonte da esquerda latino-americana

Seminário internacional Os desafios da esquerda latino-americana e caribenha, que reuniu em Salvador políticos e intelectuais progressistas latino-americanos, foi promovido pela Secretaria Nacional de Relações Internacionais do PT.
SALVADOR – A “festa da esquerda” na América Latina, com a ascensão de vários partidos progressistas ao governo de uma dezena de países, abriu uma trilha de esperança para a luta mundial pelo socialismo. Ao mesmo tempo, colocou para as organizações de esquerda o desafio de não frustrar as expectativas criadas de inclusão social ampla, com redução das desigualdades e injustiças – pois a direita latino-americana continua viva e operante. Essas foram as principais questões levantadas por políticos e intelectuais progressistas latino-americanos que participaram do seminário internacional “Os desafios da esquerda latino-americana e caribenha”, promovido pela Secretaria Nacional de Relações Internacionais do PT durante as comemorações dos 27 anos de fundação do partido, realizada no último fim de semana em Salvador (BA). Buscar novos modelos de desenvolvimento, integração e solidariedade são alguns caminhos apontados por eles para enfrentar a reação das organizações de direita que se empenham para retomar o poder.
O vice-presidente nacional do PT, Marco Aurélio Garcia, assessor especial do presidente Lula para assuntos internacionais, iniciou sua exposição com uma citação do recém empossado presidente do Equador, Rafael Correa, que considera uma síntese do atual momento político da região: “A América Latina não está vivendo uma época de mudança, apenas, mas está vivendo uma mudança de época”. Marco Aurélio fez uma recapitulação histórica dos movimentos de esquerda latino-americanos, desde o início do século passado, com a Revolução Mexicana e a luta pela Reforma Universitária em Córdoba, na Argentina, lembrando que a origem das organizações de esquerda na região é extremamente diversificada e recebeu influências muito distintas no decorrer de sua evolução – do nacionalismo, do internacionalismo, do antiimperialismo e outras.
Marco Aurélio destacou a importância da Revolução Cubana para o estímulo aos movimentos progressistas na América Latina, mencionando os movimentos revolucionários que derrotaram “oligarquias cruéis e exploradoras” na Nicarágua, em El Salvador e na Guatemala. O professor concluiu sua reconstituição histórica fazendo referência ao período de “contra-reformas neoliberais”, iniciado no Chile na base da repressão às classes trabalhadoras e setores médios da sociedade, registrando o surgimento do PT “com um traço dominante de esquerda social, sem definição política muito precisa e sofisticada”, diferenciando-se das “velhas organizações de esquerda”, e realçando a importância dos movimentos sociais na disputa por uma agenda pós-neoliberal. Esses movimentos dialéticos do fim do século passado é que teriam proporcionado que a Bolívia, por exemplo, realizasse pelo voto aquilo que em outros tempos só seria possível pelas armas: eleger um presidente com a cara do seu povo.
“Nunca a esquerda havia tido na América Latina posições de poder como hoje, posições de governo. É uma força real em muitos países e influencia grandes decisões”, constatou Marco Aurélio, relacionando os países com governo de esquerda – Nicarágua, Panamá, Brasil, Uruguai, Chile, Argentina, Equador, Venezuela, além da Bolívia – e observando que essa ascensão também ocorre em países onde os partidos progressistas permaneceram na oposição depois de uma disputa dura nas eleições ou já acumulam força para um próximo embate em igualdade de condições – como Peru, Colômbia, Paraguai, além da Guiana, de Honduras, da República Dominicana e, especialmente o México, que ele esqueceu de mencionar, mas certamente se enquadra nessa categoria. “Essa presença é resultado não de golpes nem de aventuras, mas de intensas mobilizações sociais que se traduziram em eleições vitoriosas”, concluiu.
Como conseqüência dessa ascensão, a esquerda latino-americana está colocada diante de dois grandes desafios, segundo Marco Aurélio: 1) do ponto de vista nacional, construir uma agenda para permitir que a expectativa das massas na esquerda seja correspondida; 2) do ponto de vista internacional, construir um novo conceito de socialismo, com a proposta de uma agenda que signifique a efetiva superação do neoliberalismo. “Não importa só ganhar as eleições. Isso é importante, mas é mais difícil corresponder às expectativas depositadas”, advertiu.
Para tanto, ele aponta uma série de sugestões: 1) retomar o crescimento acelerado dos países da região (“tem que ser acelerado porque a destruição do sistema produtivo foi acelerada e os conflitos sociais se expandiram”); 2) crescer com distribuição de renda; 3) ter suas próprias fontes de financiamento, mas fontes sadias (“o equilíbrio fiscal, discurso dos conservadores, tem que ser tomado pela esquerda”, mas deve ser “um equilíbrio macroeconômico que não seja um freio para o crescimento”); 4) redução da vulnerabilidade externa da América Latina (“no mundo globalizado, é preciso ser menos dependente); 5) tudo isso deve ocorrer no âmbito do fortalecimento da democracia (“seja representativa ou participativa”); 6) não perder de vista os ideais solidários de esquerda (“será muito mais importante governarmos nossas economias, aumentar emprego, reduzir pobreza e exclusão, se fizermos juntos”).
Membro da Comissão de Assuntos Internacionais da Frente Ampla que hoje governa o Uruguai, Niko Schvarz, fez um relato das condições históricas que levaram à vitória da esquerda em seu país. De acordo com ele, foi um processo paulatino, que durou mais de 30 anos, com a adesão, uma a uma, de mais de 20 organizações, que se juntaram da Frente Ampla que quebrou a hegemonia dos partidos Colorado e Nacional, que se revezavam no poder, conquistando uma expressiva vitória com 54% dos votos, mais do que a votação de todos os partidos somados aos votos brancos e nulos. Schvarz relacionou algumas mudanças ocorridas no Uruguai nestes dois anos de governo do presidente Tabaré Vázquez (salário mínimo, leis trabalhistas, redução do desemprego, direitos humanos etc).
Para ele, o primeiro desafio é atender as expectativas e avançar. Outro desafio é a relação com os movimentos populares, em especial o movimento sindical. Schvarz defende que os partidos tenham relação com os movimentos sociais, sem instrumentalização. Apontou também a organização dos movimentos de base nos bairros da capital, Montevidéu, e em cada cidade do interior. Disse que a militância tem papel importante nas críticas construtivas dos programas de governo, mas também na propagação dos avanços alcançados “para furar o cerco midiático”. Sugeriu a integração e intercâmbio maior dos partidos de esquerda, com reuniões freqüentes, bilaterais, regionais e do conjunto da América Latina. “Os países vêm acumulando uma série de conquistas e avanços. E o maior desafio, no plano continental, é a integração regional, a coordenação entre os partidos de esquerda e a troca de experiências”, apontou o representante do Uruguai.
Coordenador parlamentar do Partido da Revolução Democrática (PRD) na Câmara de Deputados do México, o deputado Javier González Garza lamentou que a eleição em seu país tenha representado um contraste “com a grande festa da esquerda na América Latina”. Ele lembrou que a esquerda mexicana formou uma coalizão de três partidos, com o PRD à frente no apoio à candidatura de José Lopez Obrador, que teve a “votação histórica de 15 milhões de votos, mais que o dobro de qualquer outra eleição da esquerda”. Por outro lado, ele entende que os partidos da esquerda mexicana sofreram uma “enorme derrota”, porque perderam por menos de 200 mil votos (0,5% do total). González observou que, a despeito dos erros, houve “uma grande fraude eleitoral”, com o empresariado comandado pelo ex-presidente Vicente Fox “fazendo propaganda ilegal”.
O deputado mexicano fez uma advertência aos demais partidos de esquerda da América-Latina. Disse para terem cuidado com uma aliança do Partido Popular Espanhol com outros partidos de direita latino-americanos, com vistas a uma organização internacional para recuperar o poder na região. Lembrou que os governos de esquerdas possuem características diferentes e que é preciso encontrar novos paradigmas para a defesa do socialismo, mas enfatizou que todos devem ser compreendidos e defendidos para que não seja abortada uma nova solução ideológica mundial.
“Estamos em um período fundamental da esquerda em toda a América Latina. (Mas) “se não tomarmos como próprio o futuro da revolução na Bolívia, não seremos capazes de defender a nós mesmos. A direita não está morta na América Latina. Se não somos capazes de defender a Venezuela e a Bolívia não vamos ser capazes de defender nós mesmos”, conclamou González, que também defendeu maior participação das mulheres na direção dos partidos de esquerda. “Não vamos resolver os problemas da equidade mundial se não resolvermos o problema da equidade de gênero em nossas organizações”. Javier Gonzáles, do PRD do México, falou sobre a tensa situação de seu país, onde inúmeras fraudes impediram que Lopes Obrador, o candidato da esquerda, se elegesse presidente no ano passado.
Nils Castro, representante do PRD do Panamá, disse estar satisfeito por não ouvir no debate tantas referências ao Muro de Berlim quanto ouviu em um seminário mais amplo do Fórum São Paulo, promovido pela Fundação Perseu Abramo, quatro anos atrás. “Hoje, ninguém ter falado no Muro significa que já podemos caminhar, fazer coisas novas sem lembrar do coitadinho do Muro”. Ele fez as mesmas referências em relação ao acúmulo de forças progressistas na AL, lembrando ainda da Costa Rica, onde considera que a mobilização social poderá dar “resultados políticos interessantes nos próximos anos”.
Castro considera que, apesar de a esquerda ter aumentado a participação no poder mas não ter conquistado o poder, muitas coisas podem ser e estão sendo feitas para enfraquecer o controle do imperialismo. Disse acreditar que houve uma derrota “ao menos conceitual” do neoliberalismo, mas que “os efeitos materiais do neoliberalismo permanecem” e precisam ser superados com novos métodos, novos projetos, por um caminho próprio, sem a prisão dos paradigmas existentes ou a repetição de modelos externos. Mas, assim como González, advertiu: “Temos que ter muito cuidado. Não quer dizer que os derrotados estão tranqüilos, observando se teremos sucesso ou não. Eles estão trabalhando. E têm muito poder real, como os meios de comunicação. A direita está trabalhando e sabe fazer o seu trabalho”.
Citando como exemplo a reconstrução dos partidos democrata-cristãos na região do Caribe, Castro advertiu os partidos de esquerda para as disputas eleitorais. “Nos próximos anos, não vamos ter apenas disputa eleitoral, vamos ver uma intensa luta ideológica”, previu, apontando o processo de reeleição do presidente Lula como um bom exemplo para reflexão. No entanto, considerou que hoje a esquerda tem mais motivos para sua luta do que há 30 anos. “Se compararmos a miséria do tempo de Che Guevara, hoje a situação é muito pior. Temos mais motivos para lutar”. Mas fez um censura cifrada ao presidente da Venezuela, Hugo Chavez, dizendo que a idéia não é fazer mais heróis e mártires. “Entre morte e pátria, eu prefiro pátria. Entre morrer e vencer, eu prefiro vencer. O importante é garantir a mudança de sistema para os próximos povos viverem melhor”.
Para o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, a atual integração da América do Sul é o movimento mais profundo desde a colonização. Para ele, o pano de fundo por trás da ascensão do movimento de massas é “a ascensão dos governos de esquerda respeitando a legalidade burguesa”. Disse que a última eleição presidencial no Brasil merece uma profunda reflexão por ter sido atípica e inédita. Lembrou que a coalizão de esquerda e o próprio presidente foram vítimas de uma “uníssona, unânime e profunda campanha, que não acontecia desde a Era Vargas” e que “a figura do presidente da República foi levada ‘a execração” no Congresso Nacional, mas “nada disso teve relevância”.
“Há um fato novo no nosso país que é a emergência do povo. Onde havia um pobre havia um defensor do governo Lula”, observou Amaral. “O povo desorganizado reagiu como se estivesse organizado. E não foi mérito dos partidos. Foi resultado da ligação direta do presidente com as massas. Há algo que está caminhando à frente dos nossos partidos e merece reflexão se quisermos ser condutores do processo revolucionário”, advertiu, observado que, se não houver solidariedade entre os governos de esquerda “esses movimentos serão esmagados, um a um, a seu tempo, basta que o imperialismo tenha tempo de cuidar da gente”. “Precisamos juntar nossos partidos e nossos povos. Se conseguirmos nos unificar, seremos invencíveis”, propôs Amaral.
O secretário de Relações Internacionais do PCdoB, José Reinaldo Carvalho, considera que está em curso no mundo contemporâneo duas tendências principais e contrárias. De uma lado, uma ofensiva abrangente do imperialismo norte-americano, através da guerra e da diplomacia, com a tentativa de impor uma guerra infinita contra os países que se opuserem ao imperialismo, utilizando a justificativa do “combate ao terrorismo”. Do outro lado, um cenário favorável para soberania dos países e a melhoria das condições de vida aos povos da região, indicado pela crise estrutural da economia norte-americana, o movimento pela paz nos EUA, resultado das derrotas políticas que o país vêm sofrendo no Iraque, no Afeganistão, no Irã, na Síria e na Coréia do Norte e as sucessivas vitórias das forças progressistas, revolucionárias e socialistas na América Latina. Além da luta dos trabalhadores rechaçando a integração da União Européia e a consolidação de Cuba como país socialista e o peso da China colocado na balança geopolítica mundial.
Para Carvalho, hoje, as evidências de que o imperialismo não é invencível e pode ser derrotado são maiores. Assim como crescem os elementos de convicção de que outro mundo, socialista, não só é possível como indispensável para a solução dos impasses históricos engendrados pela dominação imperialista. “Tudo isso nos leva a um cenário de prolongada correlação de forças que vai levar os países da América Latina a melhores condições de enfrentamento e conquista da libertação nacional e social dos povos”, avalia o comunista.
O representante do Departamento de Relações Internacionais do Partido Comunista Cubano, Jorge Ferreira, considera que a troca de experiências dos países da região é muito importante para o processo de identificação e integração dos governos de esquerda na AL, pois acredita que o principal para o futuro do socialismo é “avançar com realizações concretas”. Ele fez um balanço da situação de Cuba, enfatizando que o bloqueio comercial dos EUA não é uma ficção e afeta profundamente a economia do país. Disse que o governo cubano continua com apoio popular, mesmo depois de 48 anos da Revolução, mas em estado permanente de defesa.
Por outro lado, considera que Cuba vem dando passos importantes para a integração, mencionando o acordo tarifário com o Mercosul, a abertura para 10 mil estudantes latino-americanos estudarem no país, sendo 1.497 na Escola Latino Americana de Medicina e 944 na de Educação Física. Além da cirurgia de visão, que beneficiaram mais de 500 mil latino-americanos e do contingente de 2 mil médicos e para-médicos treinados para atuar em catástrofes, que não puderam ajudar os atingidos pelo furacão Katrina, nos EUA, mas trabalharam no terremoto no Paquistão e no tsunami da Malásia. “Para Cuba, solidariedade não é cobrar pelo que sobra, mas dividir o que temos”, sintetizou.
A unidade da América Latina é vital para a Bolívia, na opinião da senadora Leonilda Zurita, do Movimento al Socialismo (MAS). Ao fazer o balanço do primeiro ano do governo, disse que 70% dos planos traçados foram cumpridos e que os bolivianos agradecem aos presidentes Lula, Chavez e Fidel Castro pelo apoio que estão dando ao governo de Evo Morales. Relatou que o MAS elegeu 72 entre 130 deputados e 12 dos 27 senadores. Lembrou que a vitória de Morales, que até hoje é discriminado pelo preconceito de que um índio não tem competência para governar seu país, tornou-se possível porque o ex-presidente Carlos Mezza não cumpriu o compromisso assumido de nacionalizar hidrocarbonetos e convocar uma Constituinte.
Entre os avanços que considera importantes no governo progressista boliviano, ela mencionou o fato de serem eleitas 70 mulheres entre os 255 eleitos para a Assembléia Constituinte, que é presidida por uma mulher. Lembrou que Morales reduziu de 75 mil para 15 mil bolivianos o salário de presidente e os deputados e senadores também tiveram os subsídios reduzidos de 20 mil para 10 mil bolivianos, economia que permite um gasto maior com educação e saúde. Zurita mencionou ainda o avanço na luta contra a corrupção, com algumas prisões de corruptos, o esforço para a alfabetização de jovens e adultos, para a implementação da reforma agrária, mas não em áreas sem água ou imprestáveis para o cultivo, e as cirurgias nos olhos, que já teriam beneficiado 56 mil bolivianos.
Ela reclamou ainda das notícias que falam do risco de uma guerra civil na Bolívia, dizendo que são mentirosas. “Na Bolívia, é uma guerra entre ricos e pobres. Mas a arma dos camponeses são os diálogos e a paz”, sustentou, pregando a esperança e na unidade e integração da América Latina. “Que ilumine a cabeça dos governantes para de que possamos fazer as mudanças necessárias”.
Ernesto Zelayandia, da Frente Farabundo Martí pela Libertação Nacional (FMLN), de El Salvador, disse que sua organização está no contingente que permanece na oposição em seu país. O objetivo traçado neste momento é vencer as eleições parlamentares e municipais em 2009. Para isso, estão revendo seus estatutos considerados excessivamente democráticos, permitindo que qualquer filiado se lance candidato, o que enfraquece a FMLN no processo eleitoral. “Para ganhar, primeiro tem que ter vontade de ganhar”, afirmou, dizendo que o excesso de “protagonismo” na esquerda, explorado na imprensa conservadora como divergências, prejudica as estratégias eleitorais.
Ele propõe que a integração das esquerdas latino-americanas não fique só no discurso, mas se materialize em contratos de cooperação concretos. E cobrou a solidariedade do PT aos partidos de esquerda da AL, lembrando que a organização surgiu da solidariedade internacional. “A cultura da solidariedade internacional não está fortalecida no partido”, estocou. Sustentando que a “Era Che Guevara continua o grande paradigma”, Zelayandia disse que fico confuso com a troca de bandeiras entre a direita e a esquerda nas últimas décadas. “Agora a direita é internacionalista e a esquerda é nacionalista”, questionou, afirmando que os partidos progressistas só terão futuro na AL se permanecerem ao lado do povo quando estiverem exercendo o poder. “Se nós queremos transformar nossos países temos que ser conseqüentes com o povo, porque nós somos parte do povo”.
Organizador do seminário, o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, disse ao final dos debates que não encontrou uma síntese teórica nem política para as reflexões. Para ele, as esquerdas latino-americanas têm diferenças com as quais é preciso conviver para que haja cooperação. Cada uma deve trabalhar conforme a sua realidade, pois não seria possível enquadra-las no modelo tradicional da esquerda européia do século XX nem haveria condições de tomar o poder pelo processo revolucionário para implementar reformas políticas e sociais ou de mergulhar no mundo capitalista abrindo mão do ideal anticapitalista. Para Pomar, não é simples interpretar o fenômeno de ascensão das esquerdas na AL, que estaria ocorrendo entre outros fatores pela desmoralização da ideologia neoliberal e dos partidos de direita. Mas ele acredita que, apesar das diferenças entre os governo do antiimperialista Chávez e do uruguaio Tabaré, que está em processo de aliança com os EUA, é possível acumular forças para algum dia superar o modelo capitalista. “É preciso resistir juntos e avançar para algum lugar, trabalhando com o dado da realidade”.
Por Nelson Breve.
NOTÍCIA COLHIDA NO SÍTIO www.agenciacartamaior.com.br.

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