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A dança dos bancos; atenção redobrada antes que a conta passe para toda a população

A dança dos bancos

A operação de compra do banco holandês ABN-AMRO pelo inglês Barclays faz surgir uma nova instituição gigante no setor bancário internacional e, ainda por cima, reforça a posição do Bank of America de primeiro banco dos Estados Unidos, com o acerto de última hora pelo qual ficou com o banco LaSalle, o braço do ABN no mercado norte-americano.

Significa que o Bank of America vai adicionar novas 400 agências à sua rede de postos de atendimento ao público, ganhando presença no meio oeste dos Estados Unidos, uma região onde o banco não tinha muita presença.

Na Europa, a novidade anunciada hoje tem o seguinte efeito imediato. Desloca, na região, um banco inglês da posição de 7º lugar e um banco holandês da posição de 11ºlugar e no lugar de ambos faz surgir o segundo maior banco da região e o quinto do mundo. Para o Barclays, a oportunidade era única. Se não comprasse o ABN e, portanto, não se expandisse para além das fronteiras da ilha britânica, teria ampliadas as chances de ser alvo do interesse de algum banco estrangeiro.

É disso que se trata na indústria bancária: comprar para não ser comprado. O padrão da concentração no setor ganhou força na Europa a partir da década passada e a queda do muro de Berlim teve, sem dúvida, um papel relevante no processo, como aliás em todas as demais atividades empresariais mundo afora.

Nos Estados Unidos, as fusões e aquisições ganharam força com o ato de 1997 que permitiu aos bancos terem agências em outros estados. Com a compra do FleetBoston em 2004, o Bank of America ganhou escopo para tornar-se o grande banco norte-americano, em pé de igualdade na concorrência com o Citibank.

Ainda não se sabe o nome oficial do novo banco europeu criado com a aquisição do ABN-AMRO pelo Barclays. E também se desconhece o destino reservado à subsidiária do ABN no Brasil, que ainda mantém o nome do antigo banco Real. Sabe que parte dos ativos, pertencentes ao private banking do ABN e que envolvem os clientes latinos em Miami e em Montevideu, foram adquiridos pela Itausa, a holding do banco Itaú.

São todos sinais de que a dança dos bancos está em plena atividade. No Brasil, a concentração bancária foi extremanente expressiva no final dos anos 80 quando a economia ainda não havia sido aberta ao exterior, agravada pela série de liquidações de bancos promovidas pelo BC nos rastro do plano cruzado. Em 1986, haviam 105 bancos no país.

Em 1994, ano do Plano Real, com os bancos tendo já aprendido a contornar o efeito da perda do imposto inflacionário sobre sua rentabilidade, o total de bancos chegava a 246. A partir dali houve o desaparecimento dos bancos estaduais e o concomitante ingresso de bancos estrangeiros no setor, em processos que envolveram importantes fusões e incorporações. A concentração foi ampliada. Em 2003, o total de bancos havia caído para 164.

A tendência à concentração bancária requer atenção redobrada das autoridades reguladoras. Quanto menos bancos houver, e mais poderosos, mais cuidados deve existir com as possibilidades de formação de cartel no setor. Isso altera a estrutura do mercado e prejudica a competição entre os bancos, afetando os usuários dos serviços bancários.

A concentração também preocupa pelo risco sistêmico que os bancos estão mais sujeitos a sofrer, causando dados incalculáveis para a economia em geral. Quanto maior o banco e mais presente em vários segmentos da atividade produtiva, maior será o desastre causado por um debacle que por ventura venha a sofrer.

Portanto, a operação entre o Barclays e o ABN serve para lembrar que, aqui e lá fora, torna-se fundamental acompanhar de perto os movimentos do setor bancário com foco na necessidade de garantir os ganhos de eficiência que os bancos podem trazer para a economia. A displicência no trato dessa questão pode causar danos e prejuízos enormes, incluindo a credibilidade dos órgãos responsáveis pelo setor.

Por Maria Clara R. M. do Prado, que é jornalista, formada pela PUC do Rio e pós-graduada em Desenvolvimento Econômico pela Universidade de Oxford, na Inglaterra. É autora do livro “A Real História do Real”, lançado pela editora Record, onde revela os bastidores das discussões que levaram à criação da nova moeda em 1994.

TEXTO COLHIDO NO SÍTIO www.ig.com.br, armazenado no blog da autora.

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