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Por 17:58 Sem categoria

O PT está vivo !

Adital – O 3º Congresso do PT, do qual fui delegado, continua repercutindo na opinião pública, com opiniões e análises de variados calibres, o que significa que foi um acontecimento político relevante para o momento brasileiro. Filiados e militantes que ainda não tiveram acesso ao conjunto das resoluções e decisões vão, aos poucos, avaliar o seu real significado e importância.

A crise do PT, vivida especialmente a partir de 2005, começou muito antes, ainda nos anos noventa, na seqüência histórica da queda do muro de Berlim e do fim do socialismo real, quando, no mesmo período, o partido crescia quase geometricamente, em parlamentares, governos e influência na sociedade, até chegar à Presidência da República. Sofreu as conseqüências destes acontecimentos e do crescimento rápido, quase gigantismo, no caso de um partido de esquerda, tornando-se talvez o maior do mundo.

O PT passou a enfrentar os problemas de tudo que se institucionaliza (o que, aliás, é necessário e inevitável na vida). O deputado federal Adão Pretto, ligado ao MST, tem um lema desde sua primeira eleição, em 1986: UM PÉ NA LUTA, UM PÉ NO PARLAMENTO. Acontece que o PT pôs os dois pés na luta institucional, esquecendo da luta, afastando-se da mobilização social e de uma relação e do diálogo permanente com a sociedade. Passaram a contar sobretudo os processos eleitorais, o aumento do número de parlamentares e governantes, enfim, o predomínio quase absoluto da luta institucional. Na esteira, a militância de base foi-se esvanecendo, vieram as campanhas milionárias com cabos eleitorais pagos, até chegar-se à corrupção, em alguns casos, e a desvios éticos.

O 3º Congresso foi realizado neste contexto histórico, após um processo interno de eleições diretas para as direções em todos os níveis em 2005, com participação de mais de 300 mil filiados e num momento de se buscar a recuperação do debate programático e com isso bandeiras de luta, o incentivo à militância, a recuperação do sonho e da utopia.

Conseguiu-se ou vai-se conseguir?

Três foram os temas do Congresso, em debate que se estendeu durante todo ano através da revista Teoria e Debate, por meios eletrônicos e nos Congressos municipais, estaduais e agora no nacional com cerca de 1000 delegados: o socialismo petista, o Brasil que queremos e PT, concepção e funcionamento.

O saldo final, segundo manifestações de diferentes setores partidários, acabou sendo positivo. O PT reafirmou-se socialista, sem ser herdeiro do socialismo real nem adepto da social-democracia. Reforçou seus compromissos com a mudança do Brasil, seja através da luta social, seja através da ocupação de espaços institucionais. Assumiu a bandeira da reforma agrária, assumiu compromisso com a democratização dos meios de comunicação, com um sistema de saúde de qualidade, com os direitos das mulheres e com a juventude, aprovou apoio ao Plebiscito da Vale, aprovou a idéia de uma Constituinte Exclusiva para a reforma política. No plano interno, convocou eleições diretas para as direções municipais, estaduais e nacional em dezembro deste ano, reforçou as setoriais partidárias como instrumento de (re)aproximação com os movimentos sociais, convocou o 1º Congresso partidário da Juventude. E apontou para candidatura própria em 2010, em continuidade e aprofundamento das políticas do governo Lula e para impedir o retorno do neoliberalismo.

O Presidente Lula fez pronunciamento no Congresso, onde assumiu compromisso com o partido, reafirmou seu compromisso com os pobres e trabalhadores e disse que, se houve erros e desvios, quem os praticou deve pagar por eles.

Há, pois, na minha avaliação, luz no final do túnel, embora seja prudente um razoável ceticismo e a certeza de que o caminho a percorrer é longo. Recuperar as bandeiras e sonhos de um partido leva tempo, talvez 5, 10, 15 anos. Dar alma e mística à militância tal como nos anos oitenta exige um conjunto de iniciativas e práticas que levem a recuperar a rebeldia, a credibilidade e a ousadia.

Mas quem, pergunto, é capaz hoje de fazer um Congresso partidário com esta densidade e participação? A não ser que, como alguns (ou muitos) acreditam, o instrumento partidário já não seja mais necessário para a transformação, uma vez que os movimentos sociais e a luta popular seriam suficientes e capazes de operar a mudança. Não é o que penso. Para mudar a sociedade, reformar o Estado e criar as condições objetivas e subjetivas da transformação social, os partidos, enquanto espaços para a busca e disputa do poder, continuam indispensáveis. Tomara que o PT continue reencontrando os caminhos de ser uma ferramenta dos trabalhadores e dos oprimidos do Brasil e do mundo.

Por Selvino Heck, que é assessor Especial do Presidente da República. Fundador e Coordenador do Movimento Fé e Política.

ARTIGO COLHIDO NO SÍTIO www.adital.org.br.

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