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Nova política externa aumenta projeção mundial do Brasil

Moniz Bandeira: “Política externa do governo Lula dá mais visibilidade ao Brasil”

O cientista político, historiador e professor emérito da Universidade de Brasília, Luiz Alberto Moniz Bandeira, 71 anos, um dos maiores especialistas brasileiros na área internacional, elogiou nesta segunda-feira (24) a política externa que vem sendo implementada pelo governo Lula.

Segundo ele, o Brasil adquiriu muito “maior visibilidade” externa. “O Brasil ampliou e diversificou mercados, aumentando as vendas para novos parceiros, e também criou mecanismos de cooperação com diferentes países”, disse Moniz Bandeira em entrevista à Agência Informes.

Um dos maiores especialistas brasileiros nas relações Brasil- Estados Unidos, Moniz Bandeira acabou de relançar o “Presença dos Estados Unidos no Brasil”, obra escrita em 1973, quando se encontrava preso num quartel, no Rio de Janeiro, acusado pela Marinha de subversão. Na edição, revista e ampliada, Moniz Bandeira mostra como o relacionamento bilateral tem sido alternadamente amistoso e conflituoso e revela que já no século XIX o governo imperial suspendeu três vezes (1827, 1847 e 1869) as relações diplomáticas com os EUA. Informa também que, por volta de 1849-1854, os dois países quase entraram em guerra por causa da Amazônia.

Em sua análise, o relacionamento entre os dois países, atualmente, está num nível condizente com a estatura dos dois países. “Ambos têm de manter boas relações, mas isto não significa que o Brasil tem que concordar com tudo que os EUA dizem. O Brasil disse não à Alca e a outras posições defendidas pelos EUA, mas isto não significa antiamericanismo, como alguns, no Brasil, disseram até há pouco tempo”.

Ele assinalou que o próprio presidente Lula assegurou um diálogo fluente com os EUA, o que não impediu, contudo, que aflorassem divergências em relação a temas como Cuba, Venezuela, Alca e Organização Mundial de Comércio (OMC). “O importante é que o Brasil não deve ficar hostilizando os EUA e vice-versa”.

Para o cientista político, a política externa brasileira tem defendido o interesse nacional, nas tratativas com os EUA e outros países. “É bem diferente, se compararmos com um chanceler que tirou os sapatos para entrar num aeroporto dos EUA”, disse Moniz Bandeira, numa referência ao ex-chanceler Celso Lafer, que ocupou a chefia do Itamaraty nos últimos anos do governo FHC.

A crítica à política externa implementada no governo FHC vai além. Moniz Bandeira observou que, sob a batuta de Lafer, o governo FHC entregou a cabeça do embaixador José Maurício Bustani ao governo dos EUA. Bustani chefiava a Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), uma organização internacional independente, afiliada às Nações Unidas, cujo objetivo é implementar a Convenção sobre a Proibição do Desenvolvimento, Armazenagem, Produção e Uso de Armas Químicas e sobre sua Destruição. Bustani buscou a adesão do Iraque de Sadam Hussein à Opaq, o que abriria caminho para inspeções internacionais, demolindo os argumentos dos EUA pró-invasão do Iraque por ter supostamente armas de destruição em massa. “Hoje, a política externa brasileira é altiva e independente e não aceitaria tal pressão”, disse Moniz Bandeira.

O professor apontou também como importante avanço a costura alinhavada pelo chanceler Celso Amorim para a aliança do Brasil com a Rússia, Índia e China, formando o chamado Bric. Ele aproveitou para elogiar o trabalho de Celso Amorim, em sua opinião um dos melhores chanceleres que o Brasil já teve. “ Se o barão do Rio Branco consolidou as fronteiras terrestres do Brasil. Amorim está dilatando as fronteiras diplomáticas”, disse.

Moniz também defendeu os esforços que a diplomacia brasileira tem empreendido para fortalecer o Mercosul, incluindo a Venezuela como sócio pleno do bloco. “É importante o ingresso da Venezuela no Mercosul, bem como da Bolívia, futuramente. O professor lembrou que, historicamente, o Brasil sempre esteve mais voltado para os países da bacia do Prata, mas agora redireciona sua política para uma integração mais forte com os vizinhos, entre os quais a Venezuela.

Moniz Bandeira, que mora na Alemanha, assinalou que tem observado uma maior projeção do Brasil no cenário mundial. “Mas este fato, infelizmente, é pouco observado pela mídia brasileira”. Ele reparou que os jornais espanhóis, por ocasião da visita de Lula à Espanha, na última semana, destacaram o papel do Brasil para o equilíbrio geoestratégico latino-americano.

“Os nossos jornais, porém, são muito deficientes, hoje, em termos de informação, não sei se é por causa de alguma crise financeira”, assinalou Moniz Bandeira. “ Dispensam os bons jornalistas, contratam novatos em formação, diferentemente da Alemanha, onde redator de política tem doutorado. No Brasil raramente se tem formação”.

Ele ainda lamenta que os jornais brasileiros, em geral, dêem tanto espaço para escândalos políticos, deixando de lado os aspectos informativos sobre questões mais importantes, inclusive na área internacional. “No Brasil os jornais não são informativos e o noticiário internacional é extremamente fraco”.

Por Paulo Paiva.

NOTÍCIA COLHIDA NO SÍTIO www.informes.org.br.

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