No mês de abril, uma notícia chamou bastante atenção, e acho que vale a pena refletirmos um pouco mais sobre ela. Falo da decisão do Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar), que determinou a suspensão de duas campanhas veiculadas pela Petrobrás. Dificilmente alguém deixou de ver essas peças de propaganda, onde ao exibir maravilhosas imagens do mundo natural e da vida selvagem, a petroleira verde-amarela afirmava, orgulhosa, seu compromisso com a sustentabilidade, a responsabilidade social, a natureza, o futuro e tudo o mais que há de bom. Bonito de se ver, mas difícil de acreditar. O Conar determinou que as campanhas saíssem do ar em resposta à ação de um conjunto de entidades ambientalistas.
O argumento decisivo foi o fato de que o óleo diesel vendido pela Petrobrás no Brasil é altamente poluente e prejudicial à saúde, com teor de enxofre dezenas de vezes maior do que o tolerado em outros países, e também do padrão a ser exigido em nosso país a partir de janeiro/2009. Ademais, a empresa descumpriu compromissos anteriores, como o de fornecer às fabricantes de automóveis lotes experimentais do diesel mais limpo, para adequação dos motores. Essa falha pode atrasar todo o processo, e nos fazer respirar veneno por muito mais tempo que o necessário. Quem faz isso pode se auto-rotular sustentável ? Claro que não.
Mas existe empresa sustentável? Infelizmente, ainda não. A tecnologia, o mercado e os hábitos de consumo de hoje não permitem tal façanha. Sustentabilidade é uma situação ainda ideal, na qual produção e consumo dos bens e serviços que todos usamos seria feita com impactos tão baixos, que poderia atender a todos os seres humanos, e ainda assim continuar para sempre. Estamos no caminho, e avançamos cada vez mais rápido. Mas ainda falta muito, e o tempo é curto. Nesse esforço de sobrevivência da espécie humana, as empresas têm um papel fundamental, assim como os governos e os consumidores/cidadãos. Todos têm muito que fazer e contribuir.
Por isso fico arrepiado quando uma empresa sai por aí, alardeando sua sustentabilidade ou afirmando que, desde criancinha , é socialmente responsável. Ao fazer isso, ela passa uma mensagem errada, inverídica e com o efeito altamente negativo de reforçar as suspeitas dos muitos que – com um pé atrás – acham que essa onda toda não passa de oportunismo marqueteiro. Assim como não existem pessoas perfeitas, não existem empresas perfeitas. Os que se anunciam como bancos do planeta ou que misturam promoções comerciais com responsabilidade social fariam muito melhor se investissem na comunicação honesta e no diálogo com seus consumidores. Só assim, juntos, com transparência e comunicação honesta, encontraremos os caminhos mais rápidos e curtos para a real sustentabilidade, de que todos dependemos.
Por Aron Belinky, que é consultor em responsabilidade social e sustentabilidade, e militante em causas socioambientais.
Fonte: Jornal da Tarde,.
NOTÍCIA COLHIDA NO SÍTIO www.idec.org.br.