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Pesquisadores registram em CDs som de culturas tradicionais

Juazeiro do Norte (CE) – Doze anos depois de gravar seu primeiro disco compacto (CD), a Banda Cabaçal Padre Cícero conseguiu fazer o lançamento do disco, na noite de ontem (5), no 4º Encontro Mestres do Mundo, em Juazeiro do Norte (CE).

O disco é o registro do trabalho de mais de três gerações de tocadores de pífano, zabumba, pratos e caixa de guerra – que compõem as bandas cabaçais. No evento, pesquisadores também aproveitam o momento de reunião de grupos tradicionais para fazer o registro dos sons.

“Estamos muito emocionados e, hoje, a gente viu o nosso sonho realizado. Não o nosso sonho, mas o sonho do mestre Miguel, porque o sonho dele era lançar um CD ainda com vida”, disse José Rocha, filho do mestre Miguel – que tem 66 anos, está debilitado fisicamente e conduz a banda há décadas. “Rapaz, é bom”, foi o que se pôde compreender das palavras do mestre, que fala com dificuldade.

Poucos são os registros dos sons das culturas populares no país. Preocupados com isso, pesquisadores que participam do evento tomaram a iniciativa. Alfredo Bello e Andrea Luísa Teixeira realizam, há anos, mapeamentos e registros das músicas ou produzindo material audiovisual com os grupos folclóricos e de culturas tradicionais e populares pelo país.

Concentrada em mapear a música dos grupos goianos, a pesquisadora da Universidade Católica de Goiás (UCG), Andrea Luísa Teixeira, criou o projeto Sons do Cerrado. “Trata-se de um mapeamento da produção dos grupos de culturas tradicionais do Cerrado brasileiro”, conta. Em mais de 10 anos de pesquisa, ela lançou 13 discos, com grupos baianos e goianos de cantigas, ladainhas, lapinhas e catiras.

No caso de Andrea, a pesquisa serve para reunir material e concentrar dados sobre o que é produzido em cada região. Já Alfredo Bello, também músico e produtor, viaja por todo o país para realizar as gravações e transformá-las em produtos que geram renda para os grupos e as comunidades. Para isso, ele criou o selo Mundo Melhor. Além de ir aos lugares em que os grupos se reúnem e fazer a captação do áudio, é ele quem masteriza e faz a mixagem dos discos.

Nos oito anos de trabalho, Bello já reúne mais de 900 horas de músicas de grupos de todo o país, tendo lançado 14 discos. No site da gravadora, é possível conhecer um pouco mais sobre eles.

“O que faço são acordos com eles [os grupos] sobre os discos. Fiz mil discos, eu banco tudo e dou 500 discos para eles. Alguns grupos pagaram a metade da prensagem e ficaram com a metade dos discos”, conta.

Sobre direito autoral, “nunca precisei usar, porque é domínio público. Teria que haver a idéia do domínio coletivo, que não é prevista na legislação. Vai ter que acontecer alguma coisa nova para que isso mude”, diz. É que, para ele, a idéia de domínio público pode passar a impressão errônea de que aquela obra não é de ninguém, quando, na verdade, é da coletividade.

Pelas andanças de Bello pelo país, ele constatou que “vivemos um momento crucial” sobre a continuidade das culturas tradicionais. “Eu espero que as culturas consigam se recriar. Mas elas sempre se recriam, são culturas vivas. Já me perguntaram se já gravei algo que não existe e respondi que felizmente não, porque meu objetivo não é falar que tenho uma relíquia, é, de alguma forma, ajudar essas comunidades.”

Por Morillo Carvalho – Enviado Especial. O repórter viajou a convite da organização do evento.

NOTÍCIA COLHIDA NO SÍTIO www.agenciabrasil.inf.br.

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