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Por 17:53 Sem categoria

Os bancos, o crédito, o emprego e a lição de casa

“Até agora se fez muito para proteger os fornecedores de crédito, mas pouco para seus tomadores: empresas e pessoas físicas”

Em meio à divulgação de mais medidas para aumentar a circulação de crédito no país, com a liberação de recursos para dar mais liquidez aos bancos médios e pequenos, as demissões no setor continuam com toda força. Pior que isso, os oportunistas de plantão já aproveitam para novamente falar de flexibilização das leis trabalhistas. Querem empurrar a fatura para os assalariados. Entre setembro e novembro deste ano, as dispensas nestes bancos menores em São Paulo e Osasco subiram 133% em relação ao mesmo período do ano passado, apesar de o governo já ter liberado no mínimo R$ 78 bi nos últimos três meses para que as grandes instituições financeiras adquirissem carteiras das menores. A cada dia surgem novas medidas e mais recursos, e nada de contrapartida das empresas financeiras, seja em relação aos empregos ou aos clientes. Caso o crédito volte a fluir com mais força, as recontratações precisarão ser consideras.

A idéia segundo a qual a solução na crise é demitir deveria ser banida, ainda mais no caso dos bancos, de onde as dificuldades passam longe. Apesar de nem sempre ter o destaque que merece nas análises econômicas, o nível de emprego é a principal variável da economia. Com a maior parte da população economicamente ativa empregada, há mais recursos sendo distribuídos, mais produção, mais consumo.

Nos bancos, o lucro, os ativos e a rentabilidade continuam em alta. Abalados estão os trabalhadores, com o clima de demissão e redução de direitos que paira sobre as instituições, especialmente com a recente onda de fusões entre grandes bancos. Enquanto os pátios das montadoras estão lotados e as empresas decretam férias coletivas para não aumentar a produção, os bancários estão em movimento contrário. A produtividade está em uma linha ascendente nos bancos. Uma prova disso é que as operações de crédito nas dez maiores instituições financeiras subiram 391% nos últimos 13 anos. Em 1994, cada bancário que era responsável por administrar em média R$ 3 bi passou a gerir R$ 16 bi. Houve aumento do ritmo de trabalho e as atividades se expandiram com a venda de produtos.

Os bancos cresceram e continuam nessa toada. E as medidas econômicas que vêm sendo tomadas acabam novamente favorecendo as instituições financeiras, que sempre ganham. É nos momentos de crise que os bancos ficam ainda mais fortes, porém por intermédio da concentração bancária. Aliás, para muitos, concentração é sinônimo de sistema financeiro sólido. E as ações para dar liquidez, adotadas pelo governo, têm favorecido ainda mais esse movimento, já que, além dos recursos irem para as mãos dos grandes bancos, é nesse momento que as fusões e as incorporações aumentam. Não é à toa que 85% dos ativos bancários estão nas mãos das cinco maiores intuições financeiras do país, que precisam abri-las para que o crédito circule e passe por outras mãos, a dos clientes e das empresas. Até agora se fez muito para proteger os fornecedores de crédito, mas pouco para seus tomadores: empresas e pessoas físicas. E nada se fez para preservar os empregos nesses bancos, boa parte deles em pleno processo de incorporação: Itaú-Unibanco, Banco do Brasil-Nossa Caixa e Santander-Real. Apenas nestes seis bancos, trabalham cerca de 230 mil bancários, mais da metade dos 440 mil no setor em todo o país.

É por isso que se faz necessário exigir contrapartidas sociais dos bancos quando estes se utilizam de recursos públicos, dos trabalhadores ou mesmo privados. Cobrar garantia de emprego por um período previamente determinado de um setor que, diga-se de passagem, não está com a corda no pescoço, é fundamental para reduzir a insegurança entre os trabalhadores. As demissões injustificadas não podem não podem acontecer. A retomada da circulação de crédito tende a regularizar a situação e manter os postos de trabalho. Além disso, quanto maior o número de pessoas empregadas, mas renda, confiança, consumo, produção. É necessário que o crescimento econômico seja sustentável e independente. Esse é o compromisso que as empresas deveriam assumir. Um pacto de confiança, que, aliás, agregaria valor às suas marcas.

E por falar em responsabilidade social, onde está o crédito saudável? Regulação e transparência são exigências antigas que devem ser cobradas. As instituições financeiras não podem penalizar pessoas e empresas. Estão com a lição de casa atrasada e precisam colocá-la em dia, com a criação de linhas de crédito e taxas compatíveis, controle de risco e endividamento, análise de cadastro, redução do spread bancário, redução do juro e de tarifas bancárias e interbancárias. Até poucos dias atrás, os clientes eram laçados na rua com a promessa do crédito fácil e não havia preocupação com endividamento. Não adianta apenas passar a borracha, é preciso corrigir as distorções na ponta do lápis. Governo, empresas e trabalhadores têm condições de formalizar medidas e contrapartidas para arrefecer os efeitos da crise, ainda mais em um país como o Brasil, onde a relação crédito/PIB é de 40%, uma das menores do planeta. O crédito vem crescendo e há espaço de sobra para continuar sendo ampliado com regras claras, justas e saudáveis. Não queremos um subprime brasileiro, mas sim crédito para o desenvolvimento.

Por Luiz Cláudio Marcolino, que é economista e presidente do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região – 23/12/2008.

ARTIGO COLHIDO NO SÍTIO www.spbancarios.com.br.

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