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Jornalista inglês denuncia mentiras de Israel

Em artigo publicado no “The Independent”, Robert Fisk acusa governo israelense de contar mentiras para tentar justificar as atrocidades cometidas em Gaza. “O que surpreende é que tantos líderes ocidentais, tantos presidentes e primeiros-ministros e, temo, tantos editores e jornalistas tenham acreditado na mesma velha mentira: que os israelenses algum dia tenham se preocupado em poupar civis”, escreve.

Em artigo publicado no jornal The Independent, o jornalista inglês radicado no Líbano, Robert Fisk, denuncia as mentiras contadas pelo governo de Israel para tentar justificar as atrocidades cometidas em Gaza (e atrocidades anteriores também). A Organização das Nações Unidas também rebateu a versão israelense, segundo a qual as escolas bombardeadas estariam abrigando militantes do Hamas. Sobre esse tema, Fisk, que é considerado um dos maiores especialistas hoje em Oriente Médio, escreve:

“O que surpreende é que tantos líderes ocidentais, tantos presidentes e primeiros-ministros e, temo, tantos editores e jornalistas tenham acreditado na mesma velha mentira: que os israelenses algum dia tenham se preocupado em poupar civis. Todos os presidentes e primeiros-ministros que repetiram a mesma mentira, como pretexto para não impor o cessar-fogo, têm as mãos sujas do sangue da carnificina de ontem. O que aconteceu não foi apenas vergonhoso. O que aconteceu foi uma desgraça. ‘Atrocidade’ é pouco para descrever o que aconteceu. Falaríamos de ‘atrocidade” se o que Israel fez aos palestinos tivesse sido feito pelo Hamas. Israel fez muito pior. Temos de falar de ‘crime de guerra’, de matança, de assassinato em massa”.

A lógica de justificativas de Israel não é nova, acrescenta o jornalista:

“Reportei as desculpas que o exército de Israel tem oferecido ao mundo, já várias vezes, depois de cada chacina. Dado que provavelmente serão requentadas nas próximas horas, adianto algumas delas: que os palestinos mataram refugiados palestinos; que os palestinos desenterram cadáveres para pô-los nas ruínas e serem fotografados; que a culpa é dos palestinos, por terem apoiado um grupo terrorista; ou porque os palestinos usam refugiados inocentes como escudos humanos.

O massacre de Sabra e Chatila foi cometido pela Falange Libanesa aliada à direita israelense; os soldados israelenses assistiram a tudo por 48 horas, sem nada fazer para deter o morticínio; são conclusões de uma comissão de inquérito de Israel. Quando o exército de Israel foi responsabilizado, o governo de Menchaem Begin acusou o mundo de preconceito contra Israel. Depois que o exército de Israel atacou com mísseis a base da ONU em Qana, em 1996, os israelenses disseram que a base servia de esconderijo para o Hezbollah. Mentira.

Israel insinuou que os corpos das crianças assassinadas num segundo massacre em Qana teriam sido desenterrados e expostos para fotografias. Mentira. Sobre o massacre de Marwahin, nenhuma explicação. As pessoas receberam ordens, de um grupo de soldados israelenses, para evacuar as casas. Obedeceram. Em seguida, foram assassinadas por matadores israelenses. Os refugiados reuniram os filhos e puseram-se à volta dos caminhões nos quais viajavam, para que os pilotos dos helicópteros vissem quem eram, que estavam desarmados. O helicóptero varreu-os a tiros, de curta distância. Houve dois sobreviventes, que se salvaram porque fingiram estar mortos. Israel não tentou nenhuma explicação.

12 anos depois, outro helicóptero israelense atacou uma ambulância que conduzia civis de uma vila próxima – outra vez, soldados israelenses ordenaram que saíssem da ambulância – e assassinaram três crianças e duas mulheres, Israel alegou que a ambulância conduzia um ferido do Hezbollah. Mentira.

Fisk relata ainda que cobriu, como jornalista, todas essas atrocidades e investigou-as uma a uma, entrevistando sobreviventes:

“Muitos jornalistas sabem o que eu sei. Nosso destino foi, é claro, o mais grave dos estigmas: fomos acusados de anti-semitismo. Por tudo isso, escrevo aqui, sem medo de errar: agora recomeçarão as mais escandalosas mentiras.”

Uma outra mentira denunciada por Fisk é a de que o cessar-fogo em Gaza teria sido rompido pelo Hamas: “O cessar-fogo foi rompido por Israel, primeiro dia 4/11; quando bombardeou e matou seis palestinenses em Gaza e, depois, outra vez, dia 17/11, quando outra vez bombardeou e matou mais quatro palestinos”, escreve.

(Trechos do artigo traduzidos por Caia Fitipaldi)

A ÍNTEGRA PODE SER LIDA NO ENDEREÇO ELETRÔNICO http://www.independent.co.uk/opinion/commentators/fisk/robert-fisk-%0Bwhy-do-they-hate-the-west-so-much-we-will-ask-1230046.html

Por Redação – Carta Maior.

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Palestina: uma grande confusão

Na medida em que Israel for contínua e ao longo de muito tempo renegando e denegando as resoluções da ONU e uma conduta humanitária, esse Estado estará se afastando de sua legitimidade e se oferecendo à possibilidade da sua negação.

Sobre o mesmo tema, veja também: Gaza, o novo gueto de Varsóvia

A ofensiva genocida de Israel sobre a faixa de Gaza, transformando-a num espelho cruel do que os judeus sempre sofreram sob os mais variados progroms em todas as latitudes e longitudes, trouxe à baila novamente o debate sobre a natureza do Estado de Israel.

As interpretações são as mais variadas. Acho que dá para concentrá-las em duas raízes. Uma, pró-palestina, diz que o Estado de Israel é uma usurpação. Do que? Não importa muito. Terras foram vendidas, grileiros árabes lucraram vendendo terras para companhias e organizações israelenses, umas meritórias outras não, como soe acontecer nessas ocasiões. Mas nessa interpretação o que houve foi uma ocupação indevida de terras de palestinos por gente estranha, vinda de longe e de alhures, e que se comportaram como os colonos europeus nas Américas: usurparam as terras dos índios.

A outra, pró-israelenses, diz que os direitos deles a essas terras são imemoriais, ou que remontam às origens dos tempos. Os mais afoitos ao passado citarão Moisés; outros citarão a ocupação romana. Mas reivindicarão que o direito às terras advém da progressiva presença, a partir do fim do século XIX, dos movimentos sionistas na região. Em todo caso, aplicarão a lógica parecida com a dos românticos sobre a analogia entre identidade nacional e demarcação territorial, baseada num caráter indissolúvel, que se mantém através dos séculos.

Vã ilusão, de ambos os lados. Quando mais ou menos não fosse, a Primeira e a Segunda Guerra mundiais varreram esses argumentos para a sua fossilização na história. O mundo que emergiu das crises entre 1914 e 1945 era inteiramente outro. O que dali emergiu, sem desacreditar os argumentos anteriores, foi um mundo à busca de uma nova ordenação jurídica, cultural, política, social e econômica, Bretton Woods que o diga. E a ONU. Dali surgiu uma nova fundamentação para tudo, e muita coisa, e isso tem um nome: ONU. Os Estados Unidos apoiaram a sua criação com suas próprias intenções, é claro. A União Soviética, hoje Rússia (a diferença não é muita), a quis também com outras intenções. O então relativamente pequeno Brasil a aceitou com outras ainda, mas não importa. Ela foi criada, e não é a toa que hoje as potências maiores imperialistas a renegam como o filho bastardo a que criaram, e que as traiu.

Israel não é uma criação sionista, nem judaica, nem norte-americana, nem contra-palestina. Israel é uma criação da ONU – e assim tem que ser compreendida, aceita, e limitada. Porque na medida em que Israel for contínua e ao longo de muito tempo renegando e denegando as resoluções da ONU e uma conduta humanitária, esse Estado estará se afastando de sua legitimidade e se oferecendo à possibilidade da sua negação.

E hoje, mais do que nunca, é o que está acontecendo. Israel se nega a reconhecer a natureza das crianças que matou em Gaza. Elas não importam. A situação me faz lembrar ridícula argumentação que ouvi na saída de um filme de faroeste, não dos mais felizes (porque felizes os há), em que morriam índios aos milhares. Um crítico (?) comentava as maravilhas dos dramas internos aos muros do forte em que os valorosos cavalarianos se defendiam. Eu perguntei sobre os índios. E ele, na melhor (não duvido) das intenções me respondeu: “Ora, índio é cenário”. O comportamento de Israel (seu governo) hoje sobre os civis e as crianças da Faixa de Gaza lembra isso. “São cenário”. Não contam. Isso lembra o olhar dos SS sobre os judeus na Segunda Guerra. Eles até os tratavam bem. Tinham a comiseração que as gentes mais indiferentes podem ter sobre os animais que sofrem no inverno, ou no açougue. Mas o que matava aquelas vítimas (as palavras não são minhas, são da incômoda Hanna Harendt) não era sua crueldade, era sua indiferença.

Tenho certeza de que dias melhores virão, de que movimentos políticos virão em melhor estado, e de ambas e das muitas partes envolvidas. Afinal, a humanidade é parte da natureza, e a natureza, por mais indiferente que seja, sempre se empurrou a favor da vida.

Por Flávio Aguiar, que é correspondente internacional da Carta Maior.

NOTÍCIA E ARTIGO COLHIDOS NO SÍTIO www.cartamaior.com.br.

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