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Por 20:35 Sem categoria

Comércio mundial: protecionismo e hipocrisia

O protecionismo é o Grande Satã do momento no mundo assolado pela crise capitalista. Todos o condenam e exorcizam, como se pôde ver ainda há pouco no Fórum Economico de Davos. E, no entanto, há evidências de que a temporada protecionista foi aberta, a começar pelos Estados Unidos de Barack Obama, seguidos pela França de Nicolas Sarkozy.

O paradoxo é apenas aparente. Quando se enxerga a economia mundializada como um todo, não resta dúvida de que artifícios para barrar importações, anabolizar exportações e em geral bloquear o acesso aos mercados só agravarão ainda mais as proporções, os estragos e a duração da crise.

Porém quando se enxerga as coisas sob o prisma específico de um país determinado, a tentação protecionista parece fazer sentido. É o caso do pacote quase trilionário de Obama, que o Congresso americano deve votar nesta terça-feira (10), que exige o uso de ferro e aço made in America. Por que usar os dólares do plano de ajuda para comprar aço estrangeiro em vez de socorrer a cronicamente enferma siderurgia do Tio Sam?

Trata-se de um conflito entre a parte e o todo, no qual prevalece este último, com as medidas e contramedidas se anulando umas às outras e envolvendo o mundo num cipoal de barreiras. Em um sólido artigo publicado nesta terça-feira (Folha de S.Paulo), O ovo da serpente, o senador e economista Aloizio Mercadante dá o exemplo da crise de 1929, em que a onda de protecionismos fez o comércio mundial de 1933 recuar para um terço do que fora em 1929.

Porém se o todo prevalece ao final, a cada momento e em cada lugar impera a parte: a salvação do aço estadunidense da invasão brasileira, ou da indústria automobilística francesa da concorrência leste-europeia, ou os associados da Fiesp da invasão chinesa: os exemplos são incontáveis.

O perigo reside em que cada agente do mercado atua, ou pensa atuar, na parte; cada governante governa a parte. Em geral, as proclamações antiprotecionistas são reservadas aos discursos, hipócritas, enquanto a prática segue o ditado Farinha pouca, meu pirão primeiro.

Enquanto isso o todo fica por conta de uma Organização Mundial de Comércio (OMC) já fragilizada pelo fracasso da Rodada de Doha – vítima do protecionismo – e que pode naufragar de vez caso aconteça uma guerra de protecionismos como a dos anos 30. Pelos cálculos da OMC, o comércio mundial deve encolher 2,8% em 2009, contra uma evolução ainda positiva embora modesta do PIB mundial, de 0,5%. O dado foi apresentado nesta segunda-feira, pelo diretor-geral da Organização, Pascal Lamy, que apontou no protecionismo uma solução falsamente fácil.

O número não deve levar à ilusão de que todos perderiam por igual em uma onda global protecionista. Que todos perderiam é provável, mas com assimetrias profundas, mais uma vez em detrimento dos países pobres e vulneráveis.

O Brasil acionou a OMC pedindo que monitore as medidas protecionistas dos países ricos. O presidente Lula promete incluir o tema na pauta de seu encontro com Obama, dia 16 de março. Pelo andar da carruagem, 16 de março poderá ser tarde demais.

EDITORIAL DO SÍTIO www.vermelho.org.br.

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