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Por 14:07 Sem categoria

G20 e FMI depois de Pittsburgh

A cúpula em Pittsburgh foi um momento decisivo em termos de G20 e de FMI. O Brasil, atuando em conjunto com os outros Bric, e em estreito diálogo com os Estados Unidos, obteve vitórias importantes. Posso assegurar, leitor: não deixamos passar a oportunidade a que me referi no artigo da semana passada. No meu entender, foram dois os resultados mais importantes: a) a formalização do G20 como principal instância econômica; e b) o acordo sobre a transferência de poder decisório no FMI.

A designação expressa do G20 como principal foro para a cooperação econômica internacional consagra o que já vinha ocorrendo. Formaliza-se a substituição do G7 pelo G20 em matéria econômica. Afasta-se o risco de que o papel desempenhado pelo G20 desde o final de 2008 fosse visto apenas como temporário, limitado ao período mais agudo da crise.

Afasta-se também a alternativa, preferida por países como a França e a Itália, da ampliação do G7 para G13 ou G14 -formato que seria menos conveniente para nós do que o G20.

O G20, como se sabe, tem como membros todos os países do G7 (EUA, Japão, Canadá e os quatro grandes europeus) e mais um país desenvolvido (Austrália), os Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) e outros países de mercado emergente (Coreia do Sul, Indonésia, Turquia, Arábia Saudita, África do Sul, México e Argentina), além da União Europeia. A composição do G20 é razoavelmente equilibrada. Trata-se obviamente de agrupamento muito mais representativo do que o G7.

Outro grande resultado de Pittsburgh foi o acordo sobre a transferência de cotas no FMI. As cotas são o principal determinante do poder de voto na instituição. Ficou estabelecido que na próxima revisão geral de cotas, a ser concluída até janeiro de 2011, haverá transferência de pelo menos 5 pontos percentuais para os países dinâmicos de mercado emergente e em desenvolvimento.

Atualmente, os países desenvolvidos têm 60% das cotas e os países em desenvolvimento, 40%. A participação dos emergentes e em desenvolvimento no total das cotas aumentou apenas 5 pontos percentuais nos últimos 30 anos. Para a próxima revisão, foi fixado um piso para a transferência, 5 pontos, mas não um teto. Os Bric vão continuar lutando por uma transferência maior, da ordem de 7 pontos.

Mas, mesmo que prevaleça o piso, será a maior transferência de poder decisório da história do Fundo.

Hoje, chego a Istambul para a reunião anual do FMI, onde essa batalha vai continuar. A delegação brasileira, comandada pelo ministro da Fazenda, irá procurar consolidar os avanços obtidos em Pittsburgh e discutir os próximos passos da reforma do Fundo.

Uma palavra final sobre a atuação do Brasil em Pittsburgh. A delegação brasileira foi das mais influentes. O trabalho começou bem antes de Pittsburgh e exigiu difíceis negociações nas quais os Bric tiveram papel central. A mediação dos EUA foi crucial para vencer a resistência dos europeus, os principais interessados na preservação do status quo.

Mas posso dizer tranquilamente: a contribuição do Brasil foi fundamental. Escrevo essa frase com orgulho, e paro um pouco para pensar. Bem sei, leitor, que o brasileiro é um pobre e humilde ser, que duvida de si mesmo e da sua capacidade. É o célebre complexo de vira-lata, apontado por Nelson Rodrigues. Isso é muito verdadeiro, eu sei.

Mas, ouso dizer: o brasileiro está mudando e vai aos poucos deixando para trás suas velhas e arraigadas inseguranças.

Por Paulo Nogueira Batista Jr. que escreve às quintas-feiras nesta coluna. É diretor-executivo no FMI, onde representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago), mas expressa seus pontos de vista em caráter pessoal.

ARTIGO COLHIDO NO SÍTIO www.pt.org.br.

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