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A guerra cambial americana e as ameaças sobre o Brasil

Há poucos dias, nós escrevemos que “a sobrevalorização do real é consequência da enxurrada de dólares que o banco central norte-americano, o Federal Reserve (Fed), emitiu desde que a crise estourou. (….) Só no sistema financeiro, foram injetados US$ 14,9 trilhões, mais do que o próprio PIB dos EUA (cf. The Wall Street Journal, 21/05/2009, ‘U.S. Rescue Aid Entrenches Itself’). As taxas de juros nos EUA foram fixadas entre 0 e 0,25% – e não para estimular a indústria, mas para beneficiar os bancos, antes de todos o JP Morgan-Chase, fusão dos grupos Morgan e Rockefeller (….). Com essa taxa de juros e com tanto dinheiro emitido, saem bilhões de dólares sem lastro para outros países – com objetivo tão somente especulativo, parasitário, numa palavra, predatório” (HP 11/11/2009).

Somos, agora, obrigados a atualizar os dados.

Segundo relatório oficial de um alto funcionário da Secretaria do Tesouro dos EUA, Neil Barofsky, inspetor-geral especial do TARP (“Troubled Asset Relief Program” – Programa de Alívio a Ativos Problemáticos), os recursos injetados já chegavam, em junho, a “algo em torno” de US$ 23,7 trilhões.

Barofsky, em seu relatório, discrimina esse dinheiro, além dos US$ 700 bilhões injetados diretamente pelo governo nos bancos:

1) US$ 6,8 trilhões do Federal Reserve, também para os bancos;

2) US$ 2,3 trilhões, igualmente para os bancos, da Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) – que, apesar do “corporation” no nome, é uma agência governamental;

3) US$ 7,4 trilhões, através do TARP, principalmente para os bancos, embora não exclusivamente;

4) US$ 7,2 trilhões gastos com as financeiras de hipotecas (Fannie Mae e Freddie Mac) e outros programas de “salvamento” e ajuda.

A soma desses quatro itens é US$ 23,7 trilhões. No entanto, o relatório fala em “algo em torno” de US$ 23,7 trilhões – Barofsky, pelo visto, não está seguro de que sua contabilidade está completa.

O relatório também cita os receptores do dinheiro, quase todo para apenas 13 bancos, dos 360 que são listados por Barofsky. As maiores quantias foram para o JPMorgan Chase, Bank of America e Wells Fargo.

Depois disso, quase não necessitamos fazer comentários sobre a invasão de dólares sem lastro e a guerra cambial deflagrada pelos EUA contra os outros países. Nem sobre o que significa se conformar em “trabalhar com o câmbio baixo”. Muito menos sobre certas odes e elegias ao “câmbio flutuante”.

Evidentemente, o “câmbio baixo” é resultado de uma política monetária deliberada por parte dos EUA – mais precisamente, dos monopólios financeiros norte-americanos, que determinam essa política através do Fed, um banco central que não somente é “autônomo” em relação ao governo, como é privado. Mas essa política só afeta o Brasil e outros países enquanto eles não se defenderem contra a agressão cambial, ou seja, enquanto mantiverem a ilusão de que o “câmbio flutuante” é flutuante.

Nos parece óbvio que US$ 23,7 trilhões, com as taxas de juros dos EUA em torno de zero, só podem ter um destino – a pilhagem de outros países, debaixo de um tsunami de papel pintado (hoje, não há ao menos a necessidade de imprimi-lo: basta acrescentar cifras num computador). Mais óbvia ainda nos parece a conclusão de que, diante disso, temos que nos defender da invasão e depredação de nosso país.

No entanto, já que a vaga neoliberal, apesar de minguante, tornou difícil de compreender certas coisas que antes eram consideradas óbvias, vejamos essa questão do “câmbio flutuante”, tão incensado por Fernando Henrique.

A determinação da taxa de câmbio sempre foi um instrumento de política econômica. A ideia de que ela deve ser determinada pelos bancos e outros especuladores – ou seja, pelos que podem se beneficiar com a sua manipulação – é, além de esdrúxula, essencialmente estúpida. Entretanto, é a isso que se chama “câmbio flutuante”. Equivale a encarregar a Cosa Nostra de fazer a segurança dos cofres do Banco do Brasil.

Como escreveu recentemente, em artigo na “Carta Capital”, o ex-ministro Delfim Netto:

“Como todo ativo financeiro, a taxa de câmbio, quando há liberdade de movimento de capitais, ajusta-se instantaneamente às pressões do mercado (seja lá o que isso for), enquanto os preços e os salários demoram a fazê-lo, o que impõe custos reais à economia. É pura mitologia pensar que isso pode ser corrigido simplesmente aumentando o grau de ‘abertura’. É também mítica a crença de que a taxa de câmbio estabelecida livremente pelo ‘mercado’ é um fenômeno ‘natural’, e que, portanto, qualquer intervenção governamental só poderia aumentar o desequilíbrio”.

O atual deputado Antonio Palocci, quando ministro da Fazenda, disse que “o diabo do câmbio flutuante é que o danado flutua”. Talvez as palavras “diabo” e “danado” não sejam completamente inadequadas ao assunto. Mesmo assim, não é verdade. O problema do mal chamado “câmbio flutuante” é que ele afunda o país sob a especulação – porque significa entregar aos bancos e outros especuladores externos a administração da nossa moeda.

O câmbio, deixado à mercê dos monopólios financeiros (ou do “mercado”, na expressão de Delfim, que percebe perfeitamente que isso não é um mercado), obedece às manipulações especulativas dos monopólios financeiros – manipulações que, evidentemente, são em benefício deles, sobretudo dos que têm mais dólares e, antes de tudo, em benefício daqueles que têm a capacidade de fabricar dólares.

Em um mês, outubro, entraram no Brasil US$ 17 bilhões em dinheiro puramente especulativo. Nos últimos quatro meses, entraram US$ 37,4 bilhões – uma montanha de dólares sem lastro que serviu somente para sobrevalorizar o real, frear exportações, anabolizar importações, e drenar recursos para os EUA.

O problema do “câmbio flutuante”, em suma, consiste em que, ao invés da relação da moeda nacional com o dólar ser administrada publicamente, pelo Estado, tendo em vista os interesses do país, essa relação é administrada privadamente pelos que se locupletam com ela contra os interesses do país, em suma, especuladores que têm em vista os seus interesses – e não estamos falando de um Soros da vida ou outro pistoleiro qualquer do “mercado financeiro”, mas dos grandes bancos norte-americanos, em especial, o JP Morgan Chase.

Ou, o que é outra forma de dizer a mesma coisa, o problema do “câmbio flutuante” é que manda nele quem tem dólares – e não quem tem reais. A rigor, aqueles que têm reais, ao aceitar o “câmbio flutuante”, entregam o comando do real aos que têm dólares.

Em conferência no Brasil, no último mês de agosto, Louis-Vincent Gave, um dos sócios da empresa de consultoria francesa GaveKal, estimou que, em 2009, 60 a 70% do crescimento do PIB mundial serão devidos ao crescimento de um único país, a China.

Gave, apesar de francês, nada tem de anti-americano. Pelo contrário, consultor de especuladores, é um americanófilo, formado por uma universidade dos EUA. Apenas, em relação à China, estava registrando o fato de que esse país não entrou em crise – e continuou a crescer, enquanto os EUA submergiam na crise. Basicamente, ele frisou que este ano “ficaria na história” como o primeiro, desde antes da II Guerra, em que os EUA “não lideram a recuperação” da economia mundial.

Não é somente que os EUA “não lideram” a recuperação. Até agora não apareceu nem uma luz no fim do túnel da crise norte-americana.

A prova maior é que, no momento, os bancos e demais monopólios norte-americanos, inclusive através de Obama, pressionam a China para que a taxa de câmbio do yuan em relação ao dólar seja deixada ao alvedrio da agressão especulativa, isto é, que essa taxa passe a ser “flutuante”.

Essa é a esperança do establishment dos EUA de sair da crise – afundar a China, assim como os outros países, na crise, drenando, através dessa guerra cambial, riquezas do mundo para os monopólios dos EUA.

Nada poderia mostrar com tanta clareza a situação em que está a economia dos EUA – a única “recuperação” que seus paxás e mandarins conseguem imaginar é que os outros países a sustentem com seus recursos e, inclusive, que permitam ser devastados pela drenagem desses recursos para os EUA.

Certamente, os EUA poderiam reorganizar a sua economia de modo mais racional, e assim sair da crise – mas isso é tudo o que os monopólios financeiros não querem, porque significaria o fim de seu domínio.

Significativamente, enquanto tentam saquear os outros países para sair da crise, sua mídia – e a mídia vassala em outros países – propagandeia que os EUA já teriam, no essencial, superado a crise em que se atolaram desde o último trimestre do ano passado – na verdade, desde março de 2008, quando o Bear Sterns quebrou. Apenas três meses antes a revista “Fortune” havia escolhido o Bear Sterns como “a mais admirada” empresa dos EUA, quiçá do mundo. O Bear Sterns, instalado em Wall Street desde 1923, sobrevivera à crise iniciada em 1929, mas sucumbiu a esta logo no início. O Fed, depois de fracassar em seu “salvamento”, entregou-o ao JPMorgan Chase.

Como disse na época, apesar de sua filiação tucana, o ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira:

“Chegou ao fim a onda ideológica neoliberal que dominou o mundo nos últimos 30 anos no quadro da hegemonia americana. Dois fatos ocorridos nas últimas semanas marcaram esse fim inglório; de um lado, o socorro do banco de investimento Bear Stearns; de outro, as revoltas populares em vários dos 33 países hoje seriamente atingidos pelo aumento dos preços dos alimentos”.

De passagem, notemos que desde abril de 2008 somente o sr. Meirelles e outros da mesma cepa foram incapazes de ver a aproximação da catástrofe – e continuaram não vendo, mesmo depois da quebra do Lehman Brothers, em setembro, quando ninguém mais a negava. Para quem foi defenestrado da presidência do BankBoston por garantir aos clientes, no momento em que De la Rúa estava sendo escorraçado da Casa Rosada, que os títulos argentinos “continuam um investimento seguro” porque tudo ia acabar ficando como dantes, não é uma façanha inédita.

Os chineses jamais tiveram ilusões no “câmbio flutuante”. Sempre determinaram a taxa do yuan em relação ao dólar de acordo com o que entendiam que eram os interesses da China. E isso – ao lado de voltar boa parte de sua produção para o mercado interno – foi o que possibilitou que continuassem a crescer, enquanto os EUA trilhavam o caminho do brejo.

Diante da atual agressão dolarizada, a China defendeu-se, não permitindo que sua moeda fosse artificialmente sobrevalorizada pela política monetária americana, ou seja, pela inundação de dólares provenientes dos EUA, com as consequências a que já nos referimos. Que os EUA propugnem que os chineses – e qualquer um – não devem defender-se enquanto desatam uma guerra cambial contra a China e os outros países, demonstra apenas o que já se sabe: o caráter imperialista dos monopólios financeiros dos EUA. Os antigos romanos, como se lê no relato de César sobre a guerra nas Gálias, também achavam um absurdo que outros se defendessem contra a sua agressão.

Porém, no caso dos EUA, o que torna mais histéricas – portanto, também mais impotentes – as exigências de que os outros não se defendam, é o fato de que seus monopólios, no momento, contemplam o abismo.

Na última terça-feira, Douglas W. Elmendorf, diretor do Congressional Budget Office (CBO – escritório do Congresso dos EUA que acompanha o orçamento), declarou, sobre a crise econômica:

“A previsão do CBO antecipa uma recuperação relativamente lenta e tateante”.

A declaração foi feita em sua apresentação na American Association for Budget and Program Analysis (Associação Americana para a Análise de Orçamento e Programa).

Porém, essa declaração ainda é eufemística, diminuindo, pelo menos em parte, o tamanho do problema.

Elmendorf, em sua conferência, mostrou um gráfico (imagem 1), referente ao chamado “GDP gap”, isto é, a diferença entre o PIB real e o “PIB potencial” (aquele que existiria se a economia estivesse usando plenamente todos os seus recursos, inclusive com pleno emprego):

O GRÁFICO ESTÁ DISPONÍVEL NA NOTÍCIA ORIGINAL.

As áreas em cinza correspondem a períodos de recessão, de “crescimento negativo” da economia. Porém, ainda que admitindo, como está no gráfico, que os EUA não vão entrar em recessão até o ano de 2019, o que é mais do que altamente duvidoso, o que chama a atenção é que somente em 2015, daqui a seis anos, segundo a previsão do CBO, a diferença entre PIB real e “PIB potencial” voltaria ao nível de 2006, isto é, ao nível de nove anos antes (ao contrário do que o gráfico pode induzir, essa diferença não seria zero, pois os números na vertical são referentes a uma base fixa – o ano de 1973).

Em nossa última edição, publicamos artigo do pesquisador norte-americano Andrew Gavin Marshall, onde ele considera que “o grande elefante na sala é a principal bolha financeira criada pelos pacotes de salvamentos e ‘estímulos’ pelo mundo todo. Este dinheiro foi utilizado pelos bancos principais para comprar bancos menores e absorver a economia real, a indústria produtiva. O dinheiro também foi para a especulação, alimentando a bolha de derivativos e levando a uma ascensão dos mercados de ações, uma ocorrência completamente ilusória e fabricada”.

Com efeito, nada na economia dos EUA, no momento, é mais do que ilusão, exceto o sofrimento dos trabalhadores e a aflição dos empresários não-monopolistas.

Em setembro, um ano depois do estouro no Lehman Brothers, segundo dados do Bank for International Settlements (BIS), o banco que reúne os bancos centrais, a montanha de derivativos estava em US$ 520 trilhões.

Até agora, a economia americana tem sido sustentada – e quase que somente seu braço financeiro – por injeções maciças de dinheiro público, o mesmo dinheiro que não pode ser empregado na Saúde ou na Educação dos norte-americanos.

Vejamos o que mostra a tabela:

A TABELA REFERIDA ESTÁ NO INÍCIO DESTA NOTÍCIA.

Essa tabela diz respeito apenas a recursos estritamente orçamentários – e a receita é a obtida com a arrecadação de impostos. O resultado final de 2009 é uma projeção feita pelo COB em seu último relatório. Há quem considere otimista essa projeção; existe, por exemplo, dentro do governo dos EUA, quem projete, para este ano, um PIB não maior do que US$ 12 trilhões e 774 bilhões (cf. Bureau of the Public Debt’s, da Secretaria do Tesouro dos EUA, departamento que tem como lema a frase de Alexander Hamilton: “A dívida dos Estados Unidos, externa e interna, foi o preço da liberdade”).

Entretanto, o que chama a atenção, na tabela, é que o déficit fiscal pulou de 3,2% do PIB para 11,2% do PIB – o maior desde 1943, quando os EUA estavam em meio a uma guerra mundial. Quanto à dívida pública federal, ela saltou de 40,8% do PIB para 53,8%. Somados os Estados e condados, a dívida pública atinge US$ 12.036.228.000.000, quase 100% do PIB.

Vejamos a dívida privada individual (ou seja, não-empresarial), neste mês, segundo a última fonte citada:

1) Cartões de crédito – dívida total: US$ 870.370.000.000 (870 bilhões e 370 milhões de dólares).

2) Empréstimos pessoais – dívida total: US$ 2.428.073.000.000 (2 trilhões, 428 bilhões e 73 milhões de dólares).

3) Hipotecas – dívida total: US$ 14.268.426.000.000 (14 trilhões, 268 bilhões e 426 milhões de dólares).

Como é possível manter este estado de coisas? Evidentemente, não é possível. No momento, ele ainda se mantém porque nós – o mundo todo – estamos sustentando os EUA, inclusive através de comprar títulos da dívida que rendem zero de juros. Mas isso, além de devastar os nossos países, serve somente para adiar as mudanças naquele país.

E, certamente, se continuarmos amarrados à crise dos EUA – sobretudo se não nos defendermos na guerra cambial perpetrada contra nós – servirá para que essa crise, que não é nossa, nos conduza, também, a um desastre, e exatamente quando tínhamos tudo para crescer.

Por CARLOS LOPES.

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Entrada de dólar especulativo é recorde em outubro: 17,119 bi

Em 4 meses, entradas somam US$ 37 bilhões

O ingresso de investimentos estrangeiros em carteira, dinheiro puramente especulativo, somou em outubro nada menos que US$ 17,119 bilhões, um recorde segundo o Banco Central. Desde julho, essas entradas totalmente parasitárias e predatórias totalizaram US$ 37,431 bilhões.

A maciça entrada de dinheiro especulativo em outubro se deu mesmo com a instituição, em meados do mês, da cobrança de 2% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre capital estrangeiro aplicado em ações e títulos de renda fixa.

Os números divulgados na terça-feira demonstram bem a política deliberada dos Estados Unidos de jorrar bilhões de dólares sem lastro, emitidos após setembro de 2008, com as taxas de juros daquele país estabelecidas em zero ou próximo de zero. As operações de “carry trade” (tomada de empréstimos a juros baixos para aplicar especulativamente em países onde o juro é mais alto) dos bancos norte-americanos, operações que passaram a inundar o mundo de dólares, não são apenas uma consequência dessa política de emissão desabalada e juros a zero. Rigorosamente, essa política monetária dos EUA força essas operações, de forma consciente e deliberada. Trata-se, sinteticamente, da tentativa de sair da crise em que os monopólios financeiros lançaram a economia americana, através da pilhagem da economia de outros países – nesse caso, de todos os outros países.

Essa enxurrada de dólares tem provocado a sobrevalorização do real, deteriorando as exportações e estimulando as importações. Segundo o ex-ministro Delfim Netto, “as empresas estão substituindo as cadeias produtivas internas pelas importações e instalando-se no exterior para substituir exportações tornadas não competitivas pela taxa de câmbio. Essa supervalorização e volatilidade são também nocivas para o setor agrícola, que tem de preocupar-se com a taxa de câmbio no plantio (que determina seus custos) e estimar a taxa de câmbio na colheita (que determina sua receita)”.

Somente nos dez primeiros meses de 2009, a apreciação do real ante à moeda norte-americana já se aproxima de 40%.

O resultado de outubro demonstra, também, que a taxação do IOF é uma medida muito tímida diante dessa guerra cambial. Antes de mais nada, é preciso reduzir drasticamente as taxas de juros reais para os patamares internacionais, entre zero e 1% ao ano. No Brasil, os juros reais do BC estão em 4,3%. Além disso, acabar com a isenção de Imposto de Renda aos especuladores estrangeiros – para defender nossa eeonomia na guerra cambial deflagrada pelos EUA, seria um bom começo.

No mês passado, o déficit nas transações (balança comercial, serviços e rendas e transferências unilaterais) somou US$ 2,911 bilhões. O resultado da balança comercial foi superavitário em US$ 1,328 bilhão. A conta de serviços e rendas (onde estão a maior parte das remessas de lucros, oficiais e disfarçadas) teve déficit de US$ 4,456 bilhões. No acumulado do ano, o déficit em conta corrente foi de US$ 14,788 bilhões.

Por VALDO ALBUQUERQUE.

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CNI pede atitude firme do governo para proteção da moeda brasileira

Durante o 4º Encontro Nacional da Indústria, que reuniu 1.500 empresários nos dias 17 e 18 em Brasília, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI ), Armando Monteiro Neto, cobrou do governo que o Brasil adote medidas mais eficazes para proteger a sua moeda e evitar o agravamento das condições provocadas pela valorização do real diante do dólar.

Segundo ele, o câmbio valorizado prejudica o desenvolvimento do setor. “A indústria brasileira não pode ser desmontada por conta de fatores conjunturais que reclamam uma atitude firme do governo”, afirmou Monteiro Neto.

“A situação chegou a um limite. O processo acarreta implicações negativas para um conjunto de segmentos industriais e sua continuidade irá gerar conseqüências: perdas irrecuperáveis de mercado, redução de lucratividade e, eventualmente, fechamento de empresas e redução de empregos. Essa situação exige ações de forma a evitar tais danos”.

“Todo mundo sabe que o dólar vai perder força nos próximos anos, em função dos problemas da economia americana e dos deficits fiscais e comerciais”, disse o empresário. “Até se adotar outra moeda padrão ou um novo arranjo do padrão monetário internacional, os países emergentes poderão sofrer muito porque passam a ser objeto de especulação e de ganhos que se realizam em curto prazo.”

Segundo o empresário, há o agravante que é o diferencial da taxa de juros praticadas no Brasil e a taxa de juros externa. “O que acontece é que se financia em operações nos Estados Unidos, a juros quase negativos, para se aplicar no Brasil, em função das taxas de juros”, afirmou.

Para Monteiro, é difícil apontar um câmbio ideal porque há setores que importam insumo. “Mas o fato é que não vejo hoje um câmbio que possa ser inferior a R$ 2,30 para que o setor exportador se veja remunerado”, declarou.

Armando Monteiro Neto disse que o real avançou, neste ano, cerca de 30% em relação ao dólar dos EUA e ao ien do Japão; também cresceu em torno de 20% comparado ao euro, um pouco mais que isso diante da libra esterlina, da Inglaterra, e mais de 40% em relação ao peso argentino.

Para o chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, existe ainda “perspectiva inequívoca de mais valorização do real”, por causa da enxurrada de dólares no mercado nacional, mesmo com a taxação de 2% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). “O câmbio é o problema mais sério que temos hoje no curto prazo”, afirmou Freitas.

De acordo com Monteiro Neto, a crise financeira nos EUA atingiu seriamente a indústria pela falta de crédito. Segundo a CNI, houve forte desaceleração da produção nacional, embora o setor venha se recuperando há nove meses, de forma lenta e gradual. Uma eventual mudança desse ritmo dependerá muito do retorno das exportações, ora prejudicadas pela valorização cambial, disse o presidente da entidade.

Na reunião do Grupo de Avanço da Competitividade (GAC), com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, no dia 25, o presidente da CNI voltou a defender medidas mais efetivas para lidar com o câmbio, como a reforma na legislação do setor. “O Brasil optou por um câmbio flutuante, mas como atuar diante desse cenário?”, questionou Monteiro Neto. “Apoiamos firmemente uma posição ativa do Banco Central em comprar divisas e defendemos a revisão e modernização da legislação cambial”.

NOTÍCIAS COLHIDAS NO SÍTIO www.horadopovo.com.br.

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