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Por 22:23 Sem categoria

Elogio da militância política

Lula comparou Dilma a Mandela e isso causou imenso desconforto na direita brasileira, expressa nos militantes dos partidos midiáticos da direita, exercendo como cronistas atualmente. Como autoritários que são, fazem parte do coro que pretende reduzir os militantes da luta contra a ditadura a “terroristas” ou a “agentes de regimes totalitários, que queriam impor aqui”.

Pobres diabos! Revejam a entrevista da Dilma no Senado. Deveria ser passada todos os dias na televisão, para que vejam de que matéria é feita uma militante. Interpelada por um senador que esteve com a ditadura, sobre o fato de que ela confessou que mentiu durante a ditadura e de que garantia haveria de que ela diria a verdade na democracia, ela respondeu que tinha mentido na tortura, para não entregar companheiros da luta contra a ditadura, que ele não sabe como é difícil mentir na tortura, que ela se orgulhava do seu comportamento como jovenzinha submetida durante muito tempo a brutais torturas.

Dilma acrescentou que na ditadura não há verdade, há apenas mentiras, que a verdade só existe na democracia. E que os dois, ela e o senador do DEM estavam em lados opostos na luta entre a ditadura e a democracia. Essa é a atitude de uma militante política da esquerda.A mesma que tiveram tantos centenas de milhares, aqui e em outros países, na luta contra ditaduras, contra regimes de apartheid – como foi o caso de Mandela.

Nas redações da imprensa-partido da direita, é impossível entender isso. Seria insuportável para jornalistas-militantes, que só fazem o que fazem por dinheiro, a quem não passa pela cabeça que um militante da luta contra a ditadura havia optado por aquela atividade por convicção, que colocava em risco sua vida e sua integridade física, por acreditar que o que havia que fazer era lutar por todos os meios contra a ditadura.

O combustível dos valores foi substituído pelo combustível do dinheiro. Essa é a direita. Essa é a imprensa mercantil, aquela que pregou o golpe militar, que saudou o golpe militar, que reproduziu servilmente todos os comunicados falsos da ditadura para tentar esconder seqüestros e execuções como se fossem “enfrentamentos”, que emprestou os carros da empresa (o que pensam disso os funcionários-militantes da empresa da família Frias,tão incomodados com a atitude dos militantes da luta contra a ditadura, que eles apoiaram e da qual se beneficiaram para se enriquecerem?), que esteve do lado do regime de terror e não do lado dos que lutamos contra a ditadura.

A força deles é a força do dinheiro, a nossa é a força moral, dos que lutamos por causas que escolhemos livremente e às quais entregamos o melhor de nós mesmos.

Por Emir Sader.

ARTIGO COLHIDO NO SÍTIO www.cartamaior.com.br.

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O CAVALO DE PAU DO DATAFOLHA:

–crise de identidade na coalizão demotucana–

Em um mês, o Datafolha deu e tirou 12 pontos de Serra para ajustar os números do instituto à evidência incontornável de um crescimento generalizado de Dilma em todo o país, conforme os levantamentos da Sensus e da Vox Populi já haviam sinalizado. Mais do que colocar o instituto da família Frias e seu diretor, Mauro Paulino, sob suspeição, o cavalo-de-pau de agora, com o empate entre os dois presidenciáveis, reflete uma crise de identidade na candidatura Serra.

O patético figurino de um candidato cordial progressista tentado nos últimos meses derreteu pelo artificialismo abusivo que nennhum gênio do marketing pode contornar. A virada do Datafolha não resultou apenas da exposição de Dilma no programa eleitoral do PT, como quer o reducionismo conveniente dos analistasda pág 2. Acontece que o figurino cordial progressista, quase lulista, de Serra fere uma percepção difusa porém marmorizado no imaginário social, que é a oposição golpista, sistemática, da própria mídia ao governo Lula, indissociável de seu alinhamento escandaloso à candidatura demotucana.

As manobras em alta velocidade do Datafolha apenas corroboram essa adesão agressiva. O que se está colhendo agora é o efeito bumerangue dessa endogamia despudorada: o golpismo de seus aliados na mídia denuncia a farsa de um Serra continuador do governo Lula. Evidencia, ademais, uma profunda crise de identidade de sua estratégia eleitoral, decorrente da falta de um projeto político e econômico convincente para o país.

Só o Datafolha ainda não havia mensurado o desdobramento desse vazio, mas agora não dava mais para esconder. As coisas então ficam assim: ou a mídia muda totalmente seu discurso golpista e adere ao lulismo de Serra –com as consequências eleitorais desse ajuste ; ou Serra sai do armário e se junta ao udenismo lacerdista do diretório midiático.

(Carta Maior; 22-05)

EDITORIAL COLHIDO NO SÍTIO www.cartamaior.com.br.

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Serra e a morte de Deus

A afirmação sobre empregos não é piada, mas sim desespero de um candidato que, em face de uma conjuntura que lhe é totalmente adversa, tem que produzir discursos a todo e qualquer custo. Os números mostram que, quando Serra pôde mais, o trabalhador pôde menos.

José Serra precisa de ajuda. Não basta aquela que lhe é oferecida por uma mídia favorável. É necessário que alguém reavive seu senso de oportunidade. Um dos males que costumava atacar com muita frequência o brasileiro, principalmente aquele que vivia de salário (a maioria, portanto) consistia na tendência de ser enganado com facilidade. Faz cerca de oito anos que o PSDB deixou o governo e ainda não se deu conta de que a percepção da realidade mudou. Jogar palavras ao vento, com fez o pré-candidato tucano para uma platéia de militantes (?) do PPS, é um exercício arriscado, uma manifestação que mescla soberba e desespero em dosagem tão hilariante quanto assustadora. Mas nada disso nos permite duvidar de sua capacidade e argúcia analítica. Afinal, como diz o slogan de campanha dos tucanos: “o Brasil pode mais”. Resta saber o quê. E para quem.

Ao afirmar, em uma tentativa de crítica à política econômica do governo Lula que “nós estamos voltando rapidamente a um modelo que não atende à demanda de emprego que o país possui”, o ex-governador paulista aposta no total alheamento do eleitor brasileiro. Tamanha credulidade espanta, tendo em vista que o mundo do trabalho – a principal vítima do modelo neoliberal orquestrado pelo tucanato – aprendeu direitinho, na própria pele, o que significou o mercado desregulado como chave para o crescimento econômico e as virtudes do “Estado musculoso”, elementos centrais no discurso serrista.

A afirmação sobre empregos não é piada, nem brincadeira de um notívago diletante, mas desespero de um candidato que, em face de uma conjuntura que lhe é totalmente adversa, tem que produzir discursos a todo e qualquer custo. E de Serra, pode-se afirmar várias coisas, menos a de não ser um ator político que sabe o que faz. Sua eventual perdição, entretanto, antes de ser festejada pelas forças progressistas, deve causar desconfiança e vigilância redobrada. Pois é inevitável que os ânimos se acirrem em seus dois principais pólos de apoio: a mídia corporativa e o Poder Judiciário.

Mas a comparação suscitada por suas declarações é inevitável. Segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o número de vagas criadas no mercado de trabalho bateu recorde no primeiro trimestre de 2010, com um saldo acumulado até março somando 657.259 empregos. Convém retornar no tempo e observar como se comportava a economia brasileira quando o pré-candidato tucano era ministro do Planejamento e Orçamento do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso.

O desemprego na indústria atingia 5,7% em 1997 em relação a 1996, resultado fortemente influenciado pela taxa de dezembro, quando a queda foi de 2,6% em relação a novembro, a pior desde dezembro de 1990, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para se ter uma idéia do tamanho da retração nos empregos, os dados do instituto mostravam uma queda anualizada de 7,3%. Quando Serra pôde mais, o trabalhador pôde menos.

Até então, o governo FHC registrava um desemprego industrial de 19,77%. Mas o “Brasil que não podia mais”, aquele que os colunistas econômicos tanto enaltecem, vivia um amargo processo de ajuste, acentuado em 1996, com a atividade econômica represada e a queda no emprego apresentando taxas expressivas. Ao contrário do que afirma Serra foi sob a batuta tucana que “o Brasil adotou uma política econômica desastrosa.”

Mas o discurso do tucano foi além, mirando também o campo da ética, com críticas a supostas práticas de corrupção no governo petista. Como fazem as vestais tucanas, destampou um poço de demônios para sentenciar: “se aquele que era o guardião da moral, da ética, do antipatrimonialismo toma outro rumo, o rumo oposto, para muita gente Deus morreu”. Que metafísica, o ex-governador paulista quer superar com essa alusão a Nietzsche?

Decerto não deve ser a do governo ao qual serviu em dois ministérios. Fernando Henrique não teve escrúpulos de usar métodos condenáveis para evitar investigação da banda podre da administração federal. A retirada de assinaturas para esvaziar a criação da CPI da Corrupção, em 2001, é um belo exemplo. O arrastão de favores para livrar o governo de qualquer constrangimento ficou como um dos mais baixos momentos de um presidente eleito e reeleito pela ansiedade ética na vida brasileira.

Fernando Henrique liberou por bravata os parlamentares de sua base política para subscrever a CPI e, na hora H, liberou verbas estocadas e fez nomeações para cargos públicos. Junto com ACM e José Roberto Arruda, FHC afrontou o sentimento ético da cidadania falando em “linchamento precipitado” quando sua posição anterior incentivava a punição exemplar e imediata. E onde estava José Serra em meio a tudo isso? No Ministério da Saúde, definindo a criação da CPI como uma “brincadeira”,” pretexto eleitoral”, ” instrumento para prejudicar a governabilidade.”

Em sua campanha, o tucano terá que se confrontar com questões sobre ética e economia. Mas com muita cautela, evitando o reaparecimento de fantasmas incômodos. Eles podem dizer que foi naquela época, e não hoje, que “para muita gente Deus morreu”. Um deus imanente, amoral e, tal como os dirigentes aboletados no Estado, servil ao mercado que o pagou.

Por Gilson Caroni Filho, que é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil.

ARTIGO COLHIDO NO SÍTIO www.cartamaior.com.br.

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