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O parto de uma nova idade

Pouco a pouco, as sociedades humanas se cansam dos costumes, da obediência às leis opressivas, dos mesmos líderes e até dos mesmos deuses

Quem se dedica ao estudo da História está dispensado das surpresas e do espanto. Os tempos também envelhecem, de suas entranhas surgem novas idades. E o parto dos tempos novos costuma ser terrível, com guerras, atos de loucura, fogo e sangue. A Idade Moderna, que se iniciou com o Renascimento e a descoberta da América, começou a envelhecer quando o Iluminismo não conseguiu consolidar as conquistas políticas da Revolução Francesa. Não souberam os líderes do grande movimento libertador conter a violência no momento certo, e o resultado, com a reação da direita, foi o surgimento de Napoleão, a restauração da monarquia e a substituição da nobreza pela burguesia.

A injustiça continuou, e as tentativas revolucionárias dos trabalhadores europeus, em 1848, e dos franceses em particular, com a Comuna de Paris, foram derrotadas pela força. O governo dos trabalhadores que assumiram o poder no município de Paris foi, na visão de Marx, “um frustrado assalto ao céu”. Os operários foram trucidados. Os soldados franceses, vergonhosamente recém-derrotados pelas forças alemãs, na guerra de 1870, descontaram sua frustração e se tornaram “valentes” contra trabalhadores mal armados, que se defendiam em barricadas improvisadas. Os que se rendiam eram logo executados.

Desde 1776, quando os norte-americanos declararam independência e iniciaram a guerra contra a Inglaterra, o mundo ocidental entrou no período de preparação para uma nova idade. Em 1789, com a reunião dos Estados Gerais, as ideias políticas do Iluminismo eclodiram em Paris. Elas já haviam influenciado os norte-americanos e chegado ao Brasil, a Ouro Preto. Em março daquele ano, os revolucionários mineiros foram denunciados; em abril de 1792, Tiradentes foi enforcado e esquartejado. Em janeiro de 1793, Luís XVI foi guilhotinado em Paris.

A onda revolucionária árabe é vista por observadores ocidentais, jornalistas e diplomatas como uma vitória do capitalismo. Isso é até possível, mas é só uma pequena parcela da realidade

O processo continuou no século 19, com o enfrentamento entre os ricos burgueses e os trabalhadores pobres e explorados. No século 20, os confrontos se multiplicaram. Durante os 100 anos, duas guerras mundiais e vários conflitos menores, o sangue jorrou como nunca, mais de 100 milhões de pessoas, entre combatentes e não combatentes, morreram. Agora há sinais de que a Humanidade já se encontra cansada de tudo isso.

A onda revolucionária que percorre os países árabes vem sendo identificada pelos observadores ocidentais como uma vitória do capitalismo. Na visão apressada dos jornalistas e diplomatas ocidentais, os jovens mobilizados­ pela internet querem derrubar seus déspotas a fim de viver os padrões europeus e norte-americanos de conforto­. É até possível que isso seja verdade em parte, como é evidente que os países capitalistas, sedentos do petróleo do Oriente Médio, incentivam rebeliões, como as do Líbano, com seus agentes provocadores. Mas estão vendo só uma pequena parcela­ da realidade­.

A rebelião, ainda que não exista uma consciência clara disso, se faz contra uma ordem mundial de domínio. Essa ordem, construída e administrada pelo capitalismo, sempre aceitou os tiranos do Oriente Médio, desde que eles lhe facilitassem o acesso ao petróleo. Não são os direitos humanos, como a sua hipocrisia­ proclama, que defendem, mas o direito que se arrogam de explorar­ os povos.

A Revolução Soviética foi uma grande tentativa de construir esse novo tempo, mas foi vencida pela traição interna de seus burocratas e pelos seus graves erros, entre eles a violência stalinista. A queda do Muro de Berlim, porém, não significa a derrota definitiva do humanismo, como eles pensam.

Está surgindo uma nova idade no mundo: o sistema de poder, dominado pelos banqueiros, que faz e desfaz governos, controla a ciência e a tecnologia, determina a vida e a morte de povos inteiros, começa a ser visto em seu horror pelas grandes massas. O que virá depois, não sabemos – mas as dores do parto desse novo tempo já se fazem sentir.

Por Mauro Santayana. Publicado em 16/03/2011

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Tempo velho, novos tempos

Uma pesquisa coordenada pelos institutos Ibase e Pólis foi o gancho para a reportagem de capa desta edição. O trabalho, intitulado Juventude e Integração Sul-Americana – Diálogos para Construir a Democracia Regional, ouviu 14 mil pessoas de seis países do continente, metade delas entre 18 e 29 anos, a respeito de questões relacionadas a esse segmento da população.

O leitor interessado em detalhes pode navegar na página do Ibase na internet. O mais importante foi uma particularidade: os coletivos juvenis se inquietam com as desigualdades sociais e as injustiças, como explicou a socióloga Helena Abramo, coordenadora do estudo. Com o respaldo estatístico, a reportagem deixou os números de lado e foi atrás das pessoas que os representam.

E surpreendeu-se com o fenômeno identificado nas mais diversas tribos. Anarquistas ou militantes partidários, da classe média ou da periferia, em ações bancadas por políticas públicas ou em ONGs independentes.

A energia renovada e o brilho de esperança causam um contraste amazônico quando comparados à existência de figuras e práticas tão anacrônicas ainda presentes no cotidiano. Como certos governantes que ainda põem policiais para bater em estudantes que não se conformam com tarifas altas demais para um transporte público tão degradado. Ou determinados políticos derrotados que empregam ferramentas atualíssimas como o Twitter para vomitar choramingos com sotaque de uma extrema-direita dos tempos dos campos de concentração no Ceará – sim, eles existiram, e devem ter inspirado aquele antigo personagem do Chico Anysio que adorava pobres… mortos.

Nesse contraste entre a juventude ansiosa para mudar o mundo e essa categoria de políticos que gostaria que o tempo dos coronéis voltasse está a esperança de que estes sucumbirão à energia dos primeiros. Some-se a essa garra juvenil a graça das mulheres que também não se conformam com o estado das coisas, estejam elas no gabinete de uma presidenta da República ou na frente de um computador, mandando ver nos seus blogs. E temos aí ingredientes que apontam nesta segunda década do século 21 que a História – ao contrário do que apregoaram alguns há não muito tempo – ainda produz personagens capazes de reescrevê-la.

Por Redação.Publicado em 15/03/2011.

ARTIGO E EDITORIAL COLHIDOS NO SÍTIO http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/57/

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