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Golpe militar de 1964: ferida ainda aberta da nossa história, tortura em plena praça pública

O poeta Ferreira Goulart o definiu como um homem feito de “ferro e flor”: o campesino, pernambucano, dirigente comunista Gregório Bezerra que se vivo completaria 111 anos no dia 13 de março último. Coincidência ou não foi também num dia 13 de março de 64 que o presidente João Goulart fez o grande comício na central do Brasil (Rio de Janeiro) defendendo as reformas de base (reforma agrária, fiscal, bancária e educacional; como a pauta esta atual ainda). Dias depois, em 1º de abril do mesmo ano, os militares tomaram o poder com o golpe, sendo Gregório preso no dia seguinte. A prisão de Gregório foi um indício do quão os militares estavam determinados a eliminar quem se opusesse ao golpe. Gregório  foi arrastado por um destacamento militar, acorrentado e  brutalmente espancado nas ruas do Recife no bairro de Casa Forte sob o comando do inescrupuloso coronel Darcy Villoc Viana. A cena chocou a cidade e o país. Era o início de um período sombrio na história recente do Brasil.

O golpe militar contou com apoio incondicional do governo dos Estados Unidos que financiava e auxiliava tecnicamente os métodos usados pelos militares brasileiros. Também foi assim com os outros golpes militares na América Latina. Os agentes da CIA conspiraram o golpe com os militares da Escola Superior de Guerra, com a elite brasileira e a UDN com o apoio do então Sfici – serviço federal de informação e contra informação que depois se transformou no SNI – serviço nacional de informação que hoje se chama ABIN (Agência Brasileira de Inteligência).

Foram 21 anos de ditadura militar no Brasil, centenas de mortos, milhares desaparecidos, presos, torturados, perseguidos, Universidades sem vida e produção, violação de direitos humanos, liberdades democrática proibidas, foram crimes de lesa humanidade. Não é possível que aquela página da história do Brasil não seja registrada honesta e abertamente. Instalar imediatamente a Comissão da Verdade, abrir os arquivos militares do período, identificar e julgar todos os torturadores e agentes da ditadura é uma obrigação desse governo. Já se passaram 26 anos do fim do regime e o Brasil ainda tem essa ferida aberta, é uma obrigação para com o país e sua história.

Não sabemos onde se encontram até hoje: Fernando Santa Cruz, Pedro Inacio de Araújo, Virgilio Gomes da Silva. Muito menos sabemos quem foram os algozes de Vladmir Herzog; quem comandou a chacina da Lapa que matou Pedro Pomar e quase todo o comitê central do PcdoB, tampouco quem assinou o mandado de prisão do então deputado federal Rubens Paiva, que foi levado de casa, até hoje não se sabe do paradeiro.

Sabemos por enquanto onde estão uma considerável parte dos arquivos da ditadura. Sabemos onde estão vários torturadores ainda vivos e o endereço do clube militar do Rio de Janeiro. Recentemente, um dos mais carrascos, o torturador João Lucena Leal, radicado em Rondônia há trinta anos, revelou em rede nacional de televisão, com um depoimento frio sobre mortes e torturas, detalhes das operações de que participou para prender a hoje presidenta da República, Dilma Rousseff, e do então estudante José Genoíno. Lucena vivo e livre falou ao jornalista Roberto Cabrini, do programa Conexão Repórter, do SBT, sem menor constrangimento, nem medo de punição. Esse assassino a serviço da governo militar que comandava o Brasil foi descrito como o típico homem dos porões da ditadura. Na entrevista, descreveu, com tranquilidade e frieza, o que viu e o que fez com os adversários políticos do regime. Ao narrar uma das cenas entre as inúmeras das quais  presenciou e participou disse: “O sujeito amarrado, algemado e o executor puxava o gatilho e matava”.

Para Lucena, a tortura se justifica “para extrair uma informação ardente”. Fazia parte de seu “trabalho” extrair tais informações dos ativistas políticos.“Eu executava com nobreza”, acrescentou. Mesmo acusado de cometer atrocidades, disse estar orgulhoso de tudo que fez. Acusado de ser um torturador impiedoso, diz ter a consciência e um sono tranquilos.

As mães, pais e familiares vitimas do golpe, a sociedade brasileira foram novamente torturados com essa entrevista. Não adianta a comissão de anistia pedir desculpas pelo Brasil afora às vítimas do golpe, se a justiça brasileira, a luz do seu ordenamento, não julgar os crimes cometido pelos agentes da ditadura.

O Brasil tem essa dívida com o seu próprio povo. Não podemos admitir entrevistas como essa do torturador Lucena nem muito menos de fascistas como Jair Bolssanaro que falou esses dias que tem saudades do regime militar e da censura. Esses ratos reaparecem para tripudiarem com nossas memórias e tristezas no dia que relembramos o Golpe e nossos lutadores que morreram nos porões dos DOI-Codi espalhados pelo Brasil. Temos que passar essa hitória a limpo, temos o direito de encontrar e enterrar nossos mortos. Só assim o Estado democrático e de direito se reconciliará com a história e a nação brasileira.

A Comissão Nacional da Verdade tem que ser instalada e a abertura dos arquivos da ditadura abertos para que todos saibam a verdadeira história dos 21 anos de ditadura militar no Brasil.

Por: Expedito Solaney, secretário Nacional de Políticas Sociais da CUT

ARTIGO COLHIDO  NO SÍTIO www.cut.org.br

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