fetec@fetecpr.com.br | (41) 3322-9885 | (41) 3324-5636

Por 14:04 Sem categoria

BC atua como sindicato dos bancos, denuncia Carlos Cordeiro na Câmara

  • “O Banco Central funciona hoje como um verdadeiro sindicato nacional dos
    bancos. Em vez de se preocupar com a sociedade e com o desenvolvimento
    econômico e social do país, age única e exclusivamente a serviço do
    sistema financeiro.” A acusação foi feita pelo presidente da
    Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, diante de representantes da Fenaban e do
    Banco Central, na audiência pública realizada nesta terça-feira 16 na
    Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, convocada
    para discutir o Projeto de Decreto Legislativo (PDC) nº 214/2011, do
    deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP), que suspende as recentes
    resoluções do BC que amplia a atuação dos correspondentes bancários.Em um plenário lotado de representantes de bancários de todo o país,
    Carlos Cordeiro explicou por que a Contraf-CUT é favorável ao PDC
    214/2011, qual a posição da entidade sobre os correspondentes, defendeu a
    inclusão bancária de toda a população e exortou o Congresso Nacional a
    se somar aos esforços de convencimento da presidenta Dilma Roussef a
    convocar uma Conferência Nacional sobre o Sistema Financeiro, na qual a
    sociedade possa definir qual o papel que os bancos devem assumir no
    Brasil.

    Além da Contraf-CUT, participaram da mesa da audiência pública convocada
    pelo presidente da Comissão de Finanças, deputado Cláudio Puty (PT-PA),
    o deputado Ricardo Berzoini, o Banco Central (representado pelo gerente
    do Departamento de Normas Sérgio Odilon), a Febraban (representada por
    Gérson Gomes da Costa), e Amaury Martins de Oliva, diretor-substituto do
    Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor do Ministério da
    Justiça.

    Exclusão, precarização e insegurança

    Último a falar na audiência, o presidente da Contraf-CUT fez um
    histórico da evolução da legislação sobre os correspondentes bancários e
    rebateu as argumentações do BC e da Fenaban de que esses instrumentos
    desempenham importante função social ao supostamente levar atendimento
    bancário a regiões distantes e carentes.

    “Quando foram criados, na década de 1970, a intenção era realmente essa.
    Mas paulatinamente o Banco Central foi alterando a sua função,
    atendendo os interesses dos bancos, e hoje os correspondentes podem
    fazer praticamente tudo o que as agências fazem. Mas é mentira que eles
    estão levando atendimento às populações distantes e desassistidas”,
    criticou Carlos Cordeiro.

    “Os correspondentes estão concentrados hoje nas regiões onde está a
    população bancarizada, principalmente no Sudeste, funcionando ao lado ou
    próximo das agências, que é para onde os bancos estão empurrando a
    clientela de baixa renda em sua estratégia de elitização das agências”,
    acrescentou o presidente da Contraf-CUT. “Os correspondentes estão sendo
    usados na verdade para segregar e excluir os mais pobres, para
    precarizar as relações de trabalho, reduzir custos e aumentar os lucros
    dos bancos, uma vez que os correspondentes fazem a mesma coisa e custam
    um quarto do salário do bancário.”

    Em vez de correspondente, posto de atendimento

    Cordeiro, por fim, refutou a argumentação da Fenaban de que a aprovação
    do PDC 214 provocará demissões e deixará sem acesso aos serviços
    financeiros as populações de regiões desassistidas.

    “É preciso deixar claro que nós não defendemos o fim dos
    correspondentes”, frisou o presidente da Contraf-CUT. “O que queremos é
    transformar os correspondentes em postos de atendimento, em agências
    pioneiras, com segurança, com sigilo bancário preservado, que dêem
    assistência financeira a toda a população, sem discriminação de condição
    econômica e social, de raça ou de cor. Os bancos são o segmento que
    mais lucra na economia. Essa deveria ser a sua contrapartida social para
    ajudar o Brasil a se desenvolver”, destacou.

    Bolsa-banqueiro

    O deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), autor do PDC 214/2011, criticou o
    Conselho Monetário Nacional (CMN) por ter extrapolado suas atribuições
    em detrimento do Congresso Nacional, ao criar normas trabalhistas e
    pretender regulamentar o sistema financeiro. “Ninguém quer acabar com os
    correspondentes bancários, mas é importante que eles sejam criados onde
    realmente são necessários, e não a 50 metros das agências bancárias,
    como ocorre em diversos locais. Queremos impor limites geográficos e
    transformar esses trabalhadores do comércio em bancários”, propôs.

    Berzoini disse que é preciso preservar o que a legalidade prevê. “Creio
    que esse tipo de disposição que o BC vem adotando vai contra o princípio
    da isonomia e da qualidade de atendimento que deve ser oferecido pelos
    bancos. Tenho a convicção de que esse projeto abre o debate e traz luz
    para que o CMN não tome resoluções que extrapolem os limites da política
    monetária”, observou Berzoini, que é funcionário licenciado do Banco do
    Brasil, ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo e da
    antiga Confederação Nacional dos Bancários (CNB-CUT).

    O autor do PDC 214 reafirmou que as resoluções do BC são “uma iniciativa
    clara de afastar as pessoas de baixa renda das agências, empurrando-as
    para os correspondentes bancários, que são muito mais baratos para o
    sistema financeiro”.

    Questionado sobre um possível aumento das despesas dos bancos no caso de
    aprovação do projeto 214/11, o parlamentar sugeriu ironicamente que
    fosse criada uma bolsa-banqueiro para ajudar os bancos a manterem a
    rentabilidade acima dos 25%. “Com a substituição dos correspondentes por
    postos de atendimento bancário, quem sabe a rentabilidade dos bancos
    diminua de 28% para 25% e, para não perderem dinheiro, talvez possamos
    criar a bolsa-banqueiro para ajudá-los a manter os lucros exorbitantes.”

    Reclamações de clientes

    Citando dados consolidados de 150 Procons, o diretor-substituto do
    Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça
    revelou na audiência pública que os órgãos estão lotados de reclamações
    contra os correspondentes bancários. “Muitos deles se aproveitam da
    ignorância da população de baixa renda e negociam a quitação de uma
    dívida em troca de novos empréstimos para conseguir comissão”, denunciou
    Amaury.

    Ex-presidenta do Sindicato dos Bancários de Brasília, a deputada federal
    Erika Kokay (PT-DF) observou que é inadmissível o setor que mais lucra
    no país apoiar uma lógica de precarização. “Defendemos que os
    correspondentes continuem, mas sem precarização. Está em risco a
    confiabilidade e o sigilo, que estão sendo transferidos para
    profissionais que não têm qualquer vinculo com as instituições
    financeiras”, observou Érika, empregada licenciada da Caixa Econômica
    Federal.

    Bancários lotam plenário da Câmara

    O representante da Febraban deixou claro em seu pronunciamento que o
    objetivo dos bancos é evitar que a população de baixa renda tenha acesso
    às agências bancárias. “As pessoas também ganham, porque os
    correspondentes levam comodidade ao atendimento, que é feito em locais
    próximos às residências, em horário de atendimento ampliado, em locais
    onde as pessoas podem frequentar com seus chinelinhos”, disse Gomes.

    Expondo faixas e gritando as palavras de ordem “não, não, não à
    precarização”, os bancários protestaram contra a declaração do
    representante da Febraban. A referência aos “chinelinhos” também foi
    bastante criticada por parte dos parlamentares que participaram da
    audiência pública.

    Mobilizados desde a manhã de terça-feira, quando participaram de uma
    manifestação com “descarrego” na rampa do Banco Central, em Brasília,
    contra as resoluções que precarizam o trabalho da categoria,
    representantes de bancários de todo o país lotaram o plenário 1 do Anexo
    2 da Câmara dos Deputados, onde foi realizada a audiência pública.

    Deputado vê problemas no mérito e no método

    Pouco antes de encerrar a audiência pública, o presidente da Comissão de
    Finanças e Tributação informou que vai colocar o projeto na pauta de
    votação assim que o relator, deputado Rui Costa (PT-BA), apresentar seu
    relatório. Na visão de Puty, a audiência pública revelou a existência de
    dois problemas na resolução do Banco Central, uma relativa ao mérito,
    outra ao método.

    No método, está o questionamento sobre a legitimidade de o Banco
    Central legislar sobre relações de trabalho e, por conta disso, talvez
    seja a hora de o Congresso discutir a ampliação do Conselho Monetário
    Naciona, que foi reduzida na época do Plano Real para dar mais agilidade
    às decisões econômicas, mas não correspondente à situação atual”,
    destacou. “Em relação ao mérito, fica clara a contradição entre a
    intenção declarada dos que defendem os correspondentes bancários e o
    texto da resolução, que não traz critérios para garantir o atendimento
    de qualidade da população”.

    O PDC 214 tramita em caráter ordinário. Depois de analisado e votado
    pela CFT será encaminhado para análise da Comissão de Constituição e
    Justiça e de Cidadania (CCJC). Após passar pelas duas comissões, o
    projeto vai à votação no plenário da Câmara.

    Fonte: Contraf-CUT, com Seeb de Brasília

Close