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Censo 2010: uma família plural, complexa e diversa

IHU – Unisinos – Instituto Humanitas Unisinos – Adital

Segunda, 29 de outubro de 2012

“A sociedade brasileira mudou em termos demográficos e na composição plural das relações familiares. Os diferenciais de gênero e de geração são fundamentais para se compreender a complexidade e a diversidade das relações familiares do Brasil contemporâneo”, afirmam o/a pesquisador/a.

Indagados a respeito das principais conclusões a que chegaram em relação à família brasileira no estudo recente que realizaram com base no censo de 2010, José Eustáquio Diniz Alves e Suzana Cavenaghi, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, dizem que a primeira grande mudança foi a redução do arranjo majoritário formado por casais (núcleo duplo) com filhos. “Em números aproximados, este tipo de família estava presente em cerca de dois terços (66%) dos domicílios, em 1980, mas caiu para algo próximo de 50% em 2010. Isso aconteceu porque os pais, tendo menor número de filhos e maior esperança de vida, vivem mais tempo na fase do ‘ninho vazio’, pois os filhos tendem a sair da casa de seus progenitores para formar uma nova família, para morar sozinhos ou para formar arranjos domiciliares com pessoas não parentes”, frisam.

Para eles, o casamento é praticamente um evento universal no Brasil, mas somente se considerarmos todos os tipos de matrimônio. “Em 1970, 65% dos casamentos aconteciam no civil e no religioso, 14% somente no civil, 14% só no religioso e 7% eram uniões consensuais. Em 2010, o casamento no civil e religioso caiu para 43%, só no civil aumentou para 17%, só no religioso caiu para 3% e as uniões consensuais subiram para 37%”.

José Eustáquio Diniz Alves é doutor em Demografia e professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

Suzana Cavenaghi é doutora em Demografia e professora da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE. Os entrevistados esclarecem que nesta entrevista apresentam seus pontos de vista em caráter pessoal.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Quais foram as principais mudanças ocorridas na sociedade brasileira nas últimas décadas?

José Eustáquio Diniz Alves e Suzana Cavenaghi – O Brasil passou por grandes transformações econômicas e sociais no século XX, deixando de ser uma sociedade predominantemente rural e agrária, para se tornar uma sociedade urbana com predominância econômica da indústria e do setor de serviços. Nas últimas décadas, houve mobilidade ocupacional, espacial e social, assim como a construção de uma sociedade de consumo de massa. As relações entre as classes mudaram e o Brasil se tornou uma democracia política e cultural (mesmo com as diversas limitações). A transição demográfica reduziu as taxas de mortalidade infantil, aumentou a esperança de vida e reduziu as taxas de fecundidade. Isso provocou uma mudança da estrutura etária e o Brasil está deixando de ser um país com alta predominância de jovens para se tornar um país com elevada proporção de idosos. Houve também uma mudança das relações de gênero com maior empoderamento das mulheres e um lento, mas contínuo, processo de despatriarcalização da sociedade. Tais transformações tiveram um grande impacto sobre a forma de estruturação das famílias e sobre a dinâmica dos arranjos domiciliares.

IHU On-Line – Como essas transformações econômicas, sociais e demográficas afetaram a organização das famílias brasileiras?

José Eustáquio Diniz Alves e Suzana Cavenaghi – O primeiro e maior impacto foi sobre o tamanho dos arranjos familiares. A família numerosa, que era muito adaptada às condições da sociedade rural, quando havia ampla disponibilidade de terras, deixou de ser funcional na sociedade urbana, onde a inserção dos filhos na produção econômica passa pela intermediação do mercado de trabalho e pelos filtros das exigências educacionais e dos padrões de produtividade da economia urbano-industrial. A formalização do emprego ocorreu juntamente com a ampliação da cobertura da previdência social. Neste processo de mudança do modelo centrado na família ao sistema de inserção produtiva e proteção social público e institucional, há uma tendência de aumento do custo dos filhos e de redução dos seus benefícios. Como teoriza o demógrafo australiano John Caldwell, estas transformações provocam uma reversão do “fluxo intergeracional de riqueza”. Os filhos deixam de ser “a galinha dos ovos de ouro” dos pais e passam a acumular maiores custos econômicos e a reduzir os benefícios. Isso modifica o regime de fecundidade e a dinâmica entre as velhas e as jovens gerações. Também abre espaço para novas formas de organização dos arranjos domiciliares, ao mesmo tempo em que diminui o peso social das famílias tradicionais.

IHU On-Line – Quais as principais conclusões a que vocês chegaram em relação à família brasileira no estudo recente que realizaram com base no censo de 2010?

José Eustáquio Diniz Alves e Suzana Cavenaghi – A primeira grande mudança foi a redução do arranjo majoritário formado por casais (núcleo duplo) com filhos. Em números aproximados, esse tipo de família estava presente em cerca de dois terços (66%) dos domicílios, em 1980, mas caiu para algo próximo de 50% em 2010. Isso aconteceu porque os pais, tendo menor número de filhos e maior esperança de vida, vivem mais tempo na fase do “ninho vazio”, pois os filhos tendem a sair da casa de seus progenitores para formar uma nova família, para morar sozinhos ou para formar arranjos domiciliares com pessoas não parentes.

Casais sem filhos

A segunda mudança – de maneira complementar à primeira – foi o aumento do arranjo formado apenas pelos casais sem filhos e sem outros parentes, que passou de 12% em 1980 para 15% em 2010.

Arranjo monoparental feminino

A terceira alteração foi o aumento do arranjo monoparental feminino (núcleo simples, formado por mães com filhos), que passou de 11,5% em 1980 para 15,3% em 2010.

Arranjo monoparental masculino

A quarta modificação foi também o aumento – ainda que de uma base menor – do arranjo monoparental masculino (núcleo simples, formado por homens com filhos), que passou de 0,8% em 1980 para 2,2% em 2010.

Mulheres morando sozinhas

A quinta transformação foi o crescimento do número de mulheres morando sozinhas, que passou de 2,8% em 1980 para 6,2% em 2010.

Homens morando sozinhos

A sexta foi o crescimento do número de homens morando sozinhos, que passou de 3% em 1980 para 6,5% em 2010. E, finalmente, a sétima mudança aconteceu com a redução do percentual de famílias compostas e extensas (casais, filhos, parentes e agregados) que caiu de 4,8% para 2,2% no mesmo período.

IHU On-Line – As famílias unipessoais são as que mais crescem?

José Eustáquio Diniz Alves e Suzana Cavenaghi – Sim. Mas não é correto usar o termo “famílias unipessoais”, pois, de acordo com a definição das Organizações das Nações Unidas – ONU, uma família é formada por pelo menos duas pessoas e seus membros devem estar relacionados por meio de relações de consanguinidade (parentesco), adoção ou casamento. Dessa forma, pessoas morando sozinhas podem ser definidas como “arranjo unipessoal”, “domicílio unipessoal” ou simplesmente “pessoas morando sozinhas”.

Solidão

De fato, o número de pessoas morando sozinhas tem crescido e deve aumentar ainda mais com o processo de envelhecimento da população. Houve também certa mudança de perfil. No passado, havia uma clara diferenciação geracional e de gênero entre as pessoas morando sozinhas no Brasil, pois entre os homens predominavam aqueles com idade entre 30 e 59 anos, enquanto entre as mulheres em domicílios unipessoais predominavam aquelas acima de 60 anos. Atualmente tem crescido o número de mulheres entre 30 e 59 anos morando sozinhas. Geralmente são as que optam por uma carreira profissional e declinam ou retardam a “carreira” da maternidade.

IHU On-Line – Famílias e domicílios são conceitos equivalentes?

José Eustáquio Diniz Alves e Suzana Cavenaghi – Não. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE define o domicílio como o local estruturalmente separado e independente que serve de habitação a uma ou mais pessoas. Existem vários tipos de habitação, como os domicílios particulares e coletivos, domicílios permanentes e improvisados, etc. A maior parte dos dados coletados do censo se refere aos domicílios particulares permanentes ocupados. Nestes domicílios pode haver famílias nucleares (com núcleo duplo ou núcleo simples), famílias estendidas (com um ou mais de um núcleo familiar e outros parentes) ou famílias compostas (núcleo familiar com parentes e outras pessoas não aparentadas). Pessoas sem laços de parentesco e sem relacionamento afetivo, mas morando juntas (tipo uma república de estudantes), são classificadas como arranjo não familiar pela metodologia da ONU. O número de arranjos não familiares é pequeno, mas cresceu na última década no Brasil. Deve-se ressaltar que até o censo 2000 era possível identificar diretamente as chamadas famílias conviventes, por meio das perguntas sobre as relações de parentesco dos moradores com os responsáveis do domicílio e da família. Mas, no censo 2010, a convivência só pode ser obtida de forma indireta e aproximada.

IHU On-Line – Qual é o tipo de família que mais sofre com as situações de pobreza?

José Eustáquio Diniz Alves e Suzana Cavenaghi – Sem dúvida são as famílias monoparentais femininas, especialmente aquelas com filhos pequenos. Por exemplo, a maioria dos beneficiados do programa Bolsa Família é constituída por este tipo de arranjo. Isso acontece porque é muito difícil para uma mãe combinar, ao mesmo tempo, as funções de provedora e cuidadora. As mães com filhos menores de 15 anos e sem cônjuge não conseguem ter uma inserção integral e permanente no mercado de trabalho, pois precisam dedicar muito tempo às questões de alimentação, saúde, educação e cuidados dos filhos e da moradia. Como resultado, recebem salários mais baixos e precisam dividir uma renda baixa com seus dependentes. Acabam caindo na “armadilha da pobreza” e não conseguem romper com o ciclo intergeracional da pobreza. Nesses casos, além dos direitos básicos de cidadania, o governo deveria promover políticas de conciliação entre trabalho e família, intermediando condições de emprego mais favoráveis e equipamentos públicos para o cuidado dos filhos, como creches, restaurantes e lavanderias coletivos, escola em tempo integral, etc.

IHU On-Line – Que tipo de realidade social se reflete diante do crescimento de casos em que os membros do casal trabalham e decidem não ter filhos?

José Eustáquio Diniz Alves e Suzana Cavenaghi – De regra, são os casais sem filhos que apresentam renda média domiciliar per capita mais elevada. Um caso particular são os casais sem filhos com marido e esposa participando do mercado de trabalho. Nos Estados Unidos, esses tipos de casais são chamados de Dinc (sigla para Double Income No Children); no Brasil esse acrônimo significa: Duplo Ingresso Nenhuma Criança. O número de famílias Dinc estava em torno de um milhão de casais em 2000 e chegou a 2,8 milhões de casais. Portanto, em 2011 os Dincs somavam 5 milhões e 600 mil pessoas no Brasil. Eles possuem maior poder de consumo e, proporcionalmente, optam por morar em apartamentos nas grandes metrópoles. Praticamente não existem casais Dinc entre os beneficiários do Bolsa Família, pois duas pessoas com renda de um salário mínimo cada um, morando juntas, são classificadas como membros da “nova classe média”. Em geral, o casal Dinc apresenta alta mobilidade social, mas é um tipo de família não procriativa, que reforça a tendência nacional para uma taxa de fecundidade média abaixo do nível de reposição.

IHU On-Line – Como entender que quanto maior o número de filhos, menor o tempo que os maridos dedicam aos afazeres domésticos?

José Eustáquio Diniz Alves e Suzana Cavenaghi – Os dados mostram que existe um forte descompromisso dos homens com o trabalho doméstico. Isso vem desde a época em que Paulo Prado definiu a família patriarcal brasileira como “Pai soturno, mulher submissa, filhos aterrados”. Na divisão do uso do tempo entre os cônjuges, em geral os homens se dedicam mais às atividades produtivas (e remuneradas) e as mulheres se dedicam mais às atividades reprodutivas (e não remuneradas). Isso acontece mesmo nas famílias em que as mulheres trabalham fora e são penalizadas com a dupla jornada. A alocação desigual do tempo é mais acentuada nas famílias tradicionais onde existe uma rígida divisão sexual do trabalho, onde os homens fazem o papel de provedores e as mulheres o papel de cuidadoras. Paradoxalmente, quando o trabalho doméstico diminui a contribuição relativa do esposo aumenta, mas quando os afazeres da reprodução aumentam muito o custo recai sobre as esposas. Isso indica que o maior número de filhos reforça a tradicional divisão sexual do trabalho, com o homem se concentrando na luta pelo “ganha pão” e a mulher assumindo os encargos da casa, da cozinha e dos cuidados dos filhos.

IHU On-Line – O casamento ainda pode ser considerado um anseio universal e um evento para toda a vida?

José Eustáquio Diniz Alves e Suzana Cavenaghi – O casamento é praticamente um evento universal no Brasil, mas somente se considerarmos todos os tipos de matrimônio. Em 1970, 65% dos casamentos aconteciam no civil e no religioso, 14% somente no civil, 14% só no religioso e 7% eram uniões consensuais. Em 2010, o casamento no civil e religioso caiu para 43%, só no civil aumentou para 17%, só no religioso caiu para 3% e as uniões consensuais subiram para 37%.

Casamentos inconstantes

Mas os casamentos ficaram mais instáveis. Nos últimos 40 anos cresceu o número de separações e divórcios. Consequentemente, cresceu o número de recasamentos, especialmente para o caso dos homens. Na pirâmide brasileira existe um superávit de mulheres acima dos 25 anos, pois há uma sobremortalidade masculina por causas externas entre os jovens (especialmente homicídios e acidentes de trânsito). No total, há um excedente de mais de 5 milhões de mulheres na população brasileira e a proporção daquelas sem um companheiro aumenta com a idade, pois, para agravar o desequilíbrio, os homens se casam com mulheres mais jovens. Existe, portanto, um diferencial de gênero e de idade no chamado “mercado matrimonial” brasileiro e um número muito grande de mulheres não encontra companheiro de outro sexo para casamento.

IHU On-Line – Em que medida o aumento das separações e dos divórcios interfere nas mudanças das estruturas familiares?

José Eustáquio Diniz Alves e Suzana Cavenaghi –Interfere, por exemplo, na formação das chamadas famílias reconstituídas, que são cada vez mais frequentes no cenário nacional. Crescem as famílias em que tanto o marido como a esposa trazem para a nova união os filhos de casamentos anteriores, vindo a se somar com novos filhos que surgem do novo enlace. De repente se juntam filhos, enteados, irmãos, madrasta, padrasto, ex-esposo, ex-esposa e diversos avós. Costuma-se dar o nome de “família mosaico” ao arranjo familiar em que os filhos do casal compõem um quadro formado por irmãos, meio-irmãos e não irmãos, pois os filhos de união (ou uniões) anteriores do marido e da esposa não são irmãos, mas ambos são meio-irmãos dos novos filhos do casal. Dessa forma, nem todos os membros da “família mosaico” são parentes entre si, mas todos têm um grau de parentesco com a prole resultante da união do casal reconstituído. A “família mosaico” é apenas mais um tipo de arranjo familiar dentre o leque de arranjos possíveis, em uma sociedade cada vez mais marcada pela pluralidade e por dinâmicas inovadores, que vão além do modelo padrão.

IHU On-Line – E os novos arranjos, tais como famílias homoafetivas e famílias poliafetivas?

José Eustáquio Diniz Alves e Suzana Cavenaghi – O Brasil ainda não possui dados suficientes para traçar a evolução destes arranjos. O censo demográfico de 2010, conduzido pelo IBGE, abriu, pela primeira vez, a possibilidade dos casais do mesmo sexo, que moram no mesmo domicilio, serem considerados um núcleo familiar. Os dados indicaram a presença de cerca de 60 mil casais formados por pessoas do mesmo sexo e um deles se declarou como chefe. Mas, se os casais moram em casas diferentes ou nenhum deles se declarou como chefe, não foram identificados pelo censo. As mulheres são maioria nos arranjos homoafetivos, inclusive na homoparentalidade. Portanto, já existem crianças com dupla “maternidade” ou dupla “paternidade”. Também não foi levantada a informação sobre orientação sexual.

Famílias poliafetivas

As famílias poliafetivas se referem aos arranjos familiares cujo núcleo não é monogâmico. São os “casais de 3” ou o “casal de n pessoas”. Pode ser um arranjo formado por um homem e duas mulheres, uma mulher e dois homens (Uma Dona Flor de verdade) ou qualquer outro tipo de arranjo envolvendo mais de duas pessoas no núcleo familiar. Mas o censo não levantou múltiplos relacionamentos. A história mostra que a poligamia e a poliandria sempre existiram de forma mais ou menos velada. A novidade agora é que estes tipos de arranjos estão sendo visibilizados e estão sendo objeto de busca de base legal para serem reconhecidos na legislação brasileira. Existem, inclusive, as famílias poliafetivas cujos membros possuem poliorientação sexual.

IHU On-Line – Em que consiste “a complexidade e a diversidade das relações familiares do Brasil contemporâneo”?

José Eustáquio Diniz Alves e Suzana Cavenaghi – De modo geral, pode-se afirmar que o modelo hegemônico de família nuclear era formado por um homem e uma mulher que se uniam em um matrimônio por toda a vida e praticavam sexo com finalidade generativa. Esse modelo de família tinha como base o casal heterossexual, ele mais alto e um pouco mais velho, com maior escolaridade, já com um emprego ou independência financeira e ela mais baixa, mais jovem, com menor escolaridade e voltada para a vida privada de dona de casa ou com emprego extradoméstico com flexibilidade e tempo parcial. Esse modelo de família trazia embutida uma forte desigualdade de gênero. A menor autonomia das mulheres na família era geralmente reforçada pela desigualdade social, em especial pela baixa taxa de atividade laboral e pela segregação no mercado de trabalho. O menor poder, a autoridade e o prestígio feminino decorriam da desigualdade de acesso e de controle sobre os diversos recursos econômicos, sociais e culturais. Contudo, esta “família padrão” começou a ruir na mesma época do fim da padronização fordista de produção, ou seja, com a revolução sexual dos anos de 1960, com a disponibilidade de métodos contraceptivos, a entrada crescente da mulher no mercado de trabalho, a reversão do hiato de gênero na educação e a aceitação mais ampla de novos arranjos familiares. Cresceu o número de domicílios comandados por mulheres. Em grande parte, isso se deve ao processo de empoderamento feminino, mas, em outros casos, a chefia feminina é decorrência da ausência do cônjuge e da falta de responsabilização dos pais (homens) com os filhos.

Mudança da sociedade brasileira

As transformações socioeconômicas e as mudanças ideacionais ocorridas nos campos ético, religioso e cultural levaram a uma maior autonomia individual e a uma mudança na relação custo/benefício entre as gerações. A idade média da primeira relação sexual diminuiu e moças e rapazes passaram a ter relações sexuais com mais frequência antes do casamento. Cresceu o número de filhos nascidos fora do casamento (inclusive na gravidez na adolescência). Aumentaram a guarda compartilhada e o número de crianças que vivem em duas casas. Cresceram as famílias homoafetivas e tem entrado na discussão a formalização dos arranjos poliafetivos. Sem dúvida, a sociedade brasileira mudou em termos demográficos e na composição plural das relações familiares. Os diferenciais de gênero e de geração são fundamentais para se compreender a complexidade e a diversidade das relações familiares do Brasil contemporâneo.

Notícia colhida no sítio http://www.adital.org.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=71668

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Censo 2010: Uniões consensuais já representam mais de 1/3 dos casamentos e são mais frequentes nas classes de menor rendimento

O percentual de uniões consensuais subiu de 28,6% para 36,4% das uniões entre 2000 e 2010, sendo mais frequente nos grupos com rendimentos menores, representando 48,9% na classe com rendimento de até 1/2 salário mínimo. Já o percentual de pessoas que não viviam, mas já viveram em união conjugal passou de 11,9% em 2000 para 14,6% em 2010. O Rio de Janeiro foi o estado que mais registrou essa situação: 17,5%. Dentre os casais do mesmo sexo, observou-se que 25,8% das pessoas declararam possuir superior completo, e 47,4% se declararam católicos. Estes e outros dados sobre nupcialidade foram pesquisados pelo Censo Demográfico 2010, que mostra também que a proporção de divorciados quase dobrou, passando de 1,7% para 3,1%. Verificou-se ainda que o Sudeste é a região onde os homens se casam mais tarde (26,7 anos) e que 69,3% dos brasileiros escolhem parceiros da mesma cor ou raça.

Na análise da fecundidade por cor ou raça, o Censo revelou que as maiores quedas percentuais ocorreram entre as mulheres pretas no Nordeste (29,1%), Norte (27,8%) e Sul (25,3%). Os padrões de fecundidade das mulheres pretas, pardas e indígenas têm estrutura mais jovem (valor máximo entre 20 e 24 anos), contrastando com o padrão das mulheres brancas, que têm maior concentração no grupo de 25 a 29 anos e ainda apresentam grande concentração entre 30 e 34 anos. Para as mulheres com mais de 40 anos, a fecundidade indígena é sempre maior que a dos demais grupos. Entre as mulheres sem instrução e com ensino fundamental incompleto, a taxa de fecundidade chega a 3,09 filhos por mulher, enquanto que, no outro extremo (mulheres com ensino superior completo), a taxa é de 1,14 filho. As mulheres que em 2010 viviam em domicílio com rendimento per capita de até 1/4 de salário mínimo apresentam uma fecundidade ainda muito alta (3,90 filhos) frente a média brasileira (1,90 filhos). Por outro lado, as mulheres nos quatro grupos com rendimento domiciliar per capita de mais de um salário mínimo já apresentam níveis de fecundidade muito baixos (entre 1,30 e 0,97), com decréscimos da fecundidade com o aumento da renda.

Quanto aos domicílios, embora tenha havido melhorias, o Censo mostrou que 52,5% deles eram considerados adequados (em 2000 eram 43,9%), ou seja, tinham abastecimento de água por rede geral, esgotamento sanitário por rede geral ou fossa séptica, coleta de lixo direta e indireta e possuíam até dois moradores por dormitório.

O rendimento médio dos domicílios adequados era de R$ 3.537,95, enquanto o dos inadequados (sem nenhuma das condições de adequação) era de R$ 708,94. Entre os domicílios cujo responsável era branco, 63,0% eram adequados; naqueles com responsável preto, 45,9%. O Censo revelou, ainda, que os percentuais de domicílios inadequados onde viviam crianças de 0 a 6 anos eram altos no Norte (18,6%) e Nordeste (14,5%). A existência de moto no domicílio, pela primeira vez investigada pelo Censo, se comprovou alternativa de transporte para os domicílios inadequados (22,5%).

Em relação às famílias, na comparação entre 2000 e 2010, houve um crescimento na proporção de unidades domésticas unipessoais (domicílios com um só morador), que passaram de 9,2% para 12,1%. No Brasil, predominavam, em 2010, as famílias de duas ou mais pessoas com parentesco (54,3 milhões). Além disso, verificou-se uma aumento na proporção de famílias sob responsabilidade exclusiva da mulher (22,2%, em 2000, contra 37,3% em 2010). A novidade foi a investigação da responsabilidade compartilhada, verificada em 34,5% dos domicílios ocupados por apenas uma família (15,8 milhões). Já as famílias reconstituídas, formadas após a separação ou morte de um dos cônjuges, representavam 16,3% das formadas por casais.

O Censo 2010 investigou também os movimentos migratórios no país e revela que Minas Gerais (3,6 milhões ou 13,6% dos naturais do estado) e Bahia (3,1 milhões ou 11,7% dos naturais do estado) eram, em 2010, os estados com maior número de população natural residindo fora da unidade da federação. O principal local de residência era São Paulo, onde residiam 1,6 milhões de mineiros e 1,7 milhões de baianos.

O estudo completo, dividido em duas publicações, Censo Demográfico 2010: famílias e domicílios e Censo Demográfico 2010: nupcialidade, fecundidade e migração, pode ser acessado na página www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/default.shtm.

Nupcialidade: Uniões consensuais crescem de 28,6% para 36,4% em dez anos

O Censo 2010 indica um crescimento significativo das uniões consensuais em relação a 2000. Em 2010, das pessoas casadas, 36,4% viviam em união consensual, contra 28,6% em 2000. O Amapá foi o estado que apresentou o maior percentual de uniões consensuais (63,5%) e Minas Gerais, o menor (25,9%). Reduziram-se os percentuais de pessoas que viviam unidas através do casamento civil e religioso (de 49,4% para 42,9%) e daquelas unidas apenas no religioso (de 4,4% para 3,4%). O percentual de pessoas casadas apenas no civil variou pouco, passando de 17,5% em 2000 para 17,2% em 2010.

Esse perfil se reflete nos estados civis: os solteiros continuam sendo mais da metade da população (55,3%), subindo 0,5 ponto percentual em relação a 2000 (54,8%). Os casados caíram de 37,0% para 34,8%. Já o percentual de divorciados quase dobrou, passando de 1,7%, em 2000, para 3,1% em 2010. O grupo de desquitados ou separados caiu de 1,9% para 1,7%. Em relação às unidades da federação, Rio de Janeiro (4,1%), Mato Grosso do Sul (4,1%) e Distrito Federal (4,2%) apresentaram os maiores valores de pessoas divorciadas e o estado com o menor percentual foi o Maranhão, com 1,2%.

Em relação a 2000, o percentual de pessoas separadas aumentou de 11,9% para 14,6% em 2010. Verificou-se também redução no percentual de pessoas que nunca viveram em união, de 38,6% para 35,4%. O percentual de pessoas que viviam com o cônjuge passou de 49,5% em 2000 para 50,1% em 2010. O Rio de Janeiro apresentou o maior percentual de pessoas que viveram separações, 17,5%. Rondônia foi o estado com o maior aumento do percentual de pessoas que não viviam, mas já viveram em união conjugal: de 10,0% em 2000 para 13,3% em 2010.

Mais da metade dos casais do mesmo sexo (52,6%) estão no Sudeste

O Censo 2010 investigou ainda algumas características das uniões entre cônjuges do mesmo sexo. Em relação ao nível educacional, 25,8% das pessoas envolvidas em uniões com cônjuges do mesmo sexo declararam possuir superior completo. Em termos de opção religiosa, houve predominância de pessoas católicas (47,4%), seguida por pessoas sem religião (20,4%). O estado civil preponderante foi o de solteiros (81,6%), e 99,6% viviam em união consensual. Mais da metade dessas uniões se encontrava na região Sudeste (52,6%).

União consensual é principal escolha entre pretos (46,6%) e pardos (42,6%)

A distribuição por cor ou raça das pessoas que viviam em união revela que aqueles que se declararam pretos ou pardos optaram em maior proporção pela união consensual (46,6% e 42,6%, respectivamente). Observou-se ainda que esse tipo de união é mais frequente entre as pessoas de até 39 anos, o que estaria relacionado a condições socioeconômicas mais precárias, uma vez que o maior percentual foi encontrado na classe de rendimento até ½ salário mínimo per capita (48,9%), decrescendo conforme o rendimento aumentava.

O Censo também analisou o estado conjugal em relação à religião. Entre os que optaram pelo casamento civil e religioso, houve uma maior frequência de pessoas que se declararam católicas (37,5%) ou evangélicas (26,5%), enquanto a união consensual foi a principal escolha para os sem religião (59,9%).

Homens no Sudeste se casam mais tarde

O Censo 2010 também verificou que, até os 39 anos de idade, as mulheres estavam unidas em maior proporção do que homens, que se casam, em média, com 25,9 anos, contra 23,0 anos para as mulheres. A média para o país é 24,4 anos, e a região Sudeste apresentou a mais alta idade média ao casar (24,8 anos), tanto para os homens (26,7 anos) como para as mulheres (23,8 anos).

Em relação àqueles que não viviam e nunca viveram em união, observou-se que entre os jovens de 10 a 19 anos de idade, 96,8% dos homens e 90,0% das mulheres não estavam unidos. No caso dos idosos (60 anos ou mais de idade), o percentual de mulheres que nunca contraíram uma união foi mais elevada, 7,4%, contra 4,6% para os homens. As diferenças foram ainda mais marcantes no grupo de 20 a 29 anos de idade, no qual 53,6% dos homens e 38,5% das mulheres não viviam e nunca viveram em união.

69,3% dos brasileiros escolhem parceiros da mesma cor ou raça

Em relação às configurações das uniões conjugais no tocante à cor ou raça dos cônjuges, os dados do Censo Demográfico 2010 mostraram que 69,3% das pessoas de 10 anos ou mais estavam unidas a pessoas do mesmo grupo de cor ou raça, enquanto, em 2000, esse percentual era 70,9%. Esse comportamento foi mais forte dentre os grupos de brancos (74,5%), pardos (68,5%) e indígenas (65,0%). Já dentre os pretos (45,1%), observou-se que os homens tenderam a escolher mulheres pretas em menor percentual (39,9%) do que as mulheres pretas em relação a homens do mesmo grupo (50,3%).

No que se refere à escolaridade, 68,2% das pessoas uniram-se a outras de mesmo nível de instrução, percentual superior ao observado em 2000 (63,0%). Em 2010, 51,2% das mulheres com nível superior completo estavam unidas a homens desse mesmo grupo, enquanto somente 47,0% dos homens com esse nível de instrução estavam unidos a mulheres do mesmo grupo.

Fecundidade: Taxa de fecundidade está abaixo do nível de reposição e influencia pirâmide etária

A redução dos níveis de fecundidade nos últimos 50 anos foi a principal razão para a queda do ritmo de crescimento da população, que chegou a aumentar cerca de 3,0% ao ano na década de 1950, sendo de 1,17% na última década. A fecundidade teve influência também na mudança da estrutura etária populacional, que se apresenta bem mais envelhecida, em função do aumento proporcional de idosos e diminuição de crianças. A taxa de fecundidade (número médio de filhos que teria uma mulher ao final do seu período fértil) caiu de 6,16 em 1940 para 1,90 em 2010, portanto, abaixo do nível de reposição, que é de 2,10 filhos por mulher. Em 2010, a região Norte foi a única que ainda tinha taxa de fecundidade acima do nível de reposição.

O declínio da fecundidade no Brasil resultou da queda nas taxas específicas por idade (número médio de filhos que uma mulher teria dentro daquele grupo etário) em todas as faixas etárias entre 2000 e 2010. Porém, em 2010, essa queda foi maior nos grupos etários mais jovens, revertendo uma tendência observada nos Censos de 1991 e 2000 de concentração das taxas específicas de fecundidade nas idades mais jovens dentro do período fértil, entre 15 e 24 anos.

Aumento no nível de instrução reflete redução na fecundidade

Entre as mulheres sem instrução e com ensino fundamental incompleto, a taxa de fecundidade chega a 3,00 filhos por mulher, enquanto que, entre as mulheres com ensino superior completo, a taxa é de 1,14 filho. A maior taxa de fecundidade no grupo de mulheres sem instrução e fundamental incompleto foi observada na região Norte (3,67); a menor taxa para as mulheres com ensino superior completo foi observada no Sudeste (1,10). As mulheres sem instrução ou com fundamental incompleto apresentaram importante redução da fecundidade, de 3,43 filhos em 2000 para 3,00 em 2010, fazendo com que diminuísse a diferença entre os grupos extremos, que em 2000 era de 67,1%, para 61,9%.

Quanto mais alto o nível de instrução da mulher, mais tardio se torna o padrão etário da fecundidade. Das mulheres sem instrução e com ensino fundamental completo, a maior contribuição da fecundidade vem do grupo de mulheres com idades entre 20 e 24 anos. O grupo de médio completo e superior incompleto mostra um comportamento do padrão da fecundidade mais dilatado, com concentração no grupo de 25 a 29 anos, enquanto no grupo de mulheres com ensino superior completo a maior contribuição da fecundidade vem daquelas com idades entre 30 e 34 anos, que concentram 1/3 da sua fecundidade total neste grupo. As mulheres com ensino superior completo têm seus filhos, em média, 5,5 anos depois do que as sem instrução e com ensino fundamental incompleto, 30,9 contra 25,4 anos. Como as mulheres com ensino superior completo representam 11,2% das mulheres em idade fértil, contra 33,7% sem instrução e ensino fundamental incompleto, o perfil da fecundidade para o conjunto da população ainda apresenta uma tendência predominante de ter filhos mais cedo.

Taxa de fecundidade das mulheres com rendimento domiciliar per capita acima de um salário mínimo fica abaixo do nível de reposição

As mulheres que em 2010 viviam em domicílio com rendimento per capita de até ¼ de salário mínimo apresentam uma fecundidade alta para os padrões recentes brasileiros, de 3,90 filhos. Já as mulheres nos quatro grupos com rendimento domiciliar per capita de mais de um salário mínimo apresentam níveis de fecundidade muito baixos (entre 1,30 e 0,97), com decréscimos da fecundidade com o aumento da renda. Essa tendência de diminuição da fecundidade com o aumento da renda pode ser observada em todas as grandes regiões.

Domicílios: Densidade de moradores por dormitório melhora em dez anos

Entre os Censos de 2000 e 2010, observou-se melhoria no bem-estar dos moradores no que se refere à densidade de moradores por dormitório nos domicílios. A ocupação é adequada quando nos domicílios existem até dois moradores por dormitório. O percentual de domicílios nesse padrão cresceu de 62,9% (1991) para 81,9% (2010). No entanto, as diferenças regionais persistiram, com a região Sul apresentando, em 2010, 90,1% dos domicílios com até dois moradores por cômodo, enquanto no Norte apenas 66,2% tinham essa característica.

No Censo 2010, foi pesquisado o tipo de revestimento das paredes externas dos domicílios: 97,8% dos domicílios tinham as paredes externas construídas com algum tipo de material durável, com predomínio de alvenaria com revestimento (80,0%). A região Sudeste era a que apresentava a mais alta incidência de domicílios com paredes externas de alvenaria com revestimento (88,6%), enquanto os domicílios com paredes externas de alvenaria sem revestimento eram mais frequentes na região Norte (13,3%), seguida da Nordeste (12,3%) e da Sudeste (10,2%).

Nordeste apresentou maiores avanços em saneamento básico

Em 2010, 52,5% dos domicílios do país eram adequados (domicílios com abastecimento de água por rede geral, esgotamento sanitário por rede geral ou fossa séptica, coleta de lixo direta e indireta e com até dois moradores por dormitório;) e 4,1% inadequados (domicílios sem nenhuma das condições de adequação consideradas). No entanto, apenas no Sul (68,9%) e no Sudeste (59,35%) mais da metade dos domicílios eram adequados, pois nas regiões restantes os percentuais não chegavam a metade dos domicílios. A região Norte foi a que apresentou o quadro mais desfavorável, com apenas 16,3% de domicílios adequados.

O crescimento do serviço de abastecimento de água por rede geral ocorreu em todas as regiões, embora de forma desigual. A região Nordeste foi a que apresentou o desenvolvimento mais acelerado no período, crescendo de 52,8%, em 1991, para, 76,3%, em 2010.

O esgotamento sanitário por rede geral ou fossa séptica foi o indicador de saneamento básico que mostrou situação mais crítica e maiores desigualdades entra as regiões. As regiões Norte (32,9%), Nordeste (45,4%) e Centro-Oeste (51,8%) eram as que apresentavam as menores proporções de domicílios com esgotamento sanitário adequado. Mesmo com baixas proporções de domicílios com rede geral de esgoto ou fossa séptica, a região Nordeste foi a que apresentou o maior aumento proporcional, passando de 24,2% de domicílios com esgotamento adequado, em 1991, para 45,4%, em 2010. Por outro lado, a região Norte registrou queda de 36,3% para 32,9% dos domicílios ligados à rede geral de esgoto ou com fossa séptica, entre 2000 e 2010.

Já a coleta direta e indireta de lixo por serviço de limpeza apresentou desempenho significativo em 2010, variando entre 74,4%, na região Norte, e 95,0%, no Sudeste. Esse foi o serviço que, proporcionalmente, mais cresceu em todas as regiões. Entre 1991 a 2010, as regiões Norte (36,9% para 74,4% dos domicílios) e Nordeste (41,6% para 75,0%) tiveram os mais altos avanços no serviço.

Em 2010, o fornecimento de energia elétrica por companhias de distribuição era o serviço mais abrangente, chegando à quase totalidade dos domicílios, principalmente no Sul (99,3%) e Sudeste (99,0%). O Norte (89,3%) e o Nordeste (96,9%) alcançaram os maiores avanços quando comparados a 1991(67,0% e 71,7%, respectivamente).

Domicílios adequados no Sudeste tinham rendimento nominal mensal médio cerca de seis vezes maior que os domicílios inadequados no Nordeste

O valor médio do rendimento mensal domiciliar variou entre os tipos de adequação dos domicílios. Em 2010, o rendimento médio do domicílio adequado era de R$ 3.537,95, o dos semiadequados, R$ 1.746,35, e o dos inadequados, R$ 708,94 para o total do país.

A desigualdade por cor ou raça permaneceu entre os Censos. Enquanto 53,9% e 63,0% dos brancos, em 2000 e 2010, viviam em domicílios adequados, os pretos eram 34,0% e 45,9% e os pardos 30,4% e 41,2%, nos dois períodos respectivamente.

Cabe destacar os altos percentuais de domicílios inadequados onde viviam crianças de 0 a 6 anos no Norte (18,6%) e Nordeste (14,5%). Entre os domicílios em que moravam idosos (60 anos ou mais), eram inadequados 9,4% no Norte e 8,5% no Nordeste.

Motos estavam presentes em 22,5% dos domicílios inadequados

No Censo de 2010 foram incluídos bens existentes nos domicílios que não constavam de levantamentos anteriores, como telefone celular, microcomputador com acesso à internet e motocicleta. A existência de telefone fixo decresceu de 62,0% para 57,4% nos domicílios adequados (com abastecimento de água por rede geral, esgotamento sanitário por rede geral ou fossa séptica, coleta de lixo direta ou indireta, até dois moradores por dormitório), e nos inadequados (sem nenhuma das condições de adequação), de 1,6% pra 1,1%, em razão da disseminação do telefone celular. Em contrapartida, por ordem de grandeza, aumentou a proporção de domicílios com televisão, geladeira e máquina de lavar roupa, em todos os tipos de adequação do domicílio. Enquanto cresceu a proporção de domicílios adequados com automóvel de 47,3% para 51,1%, e de semiadequados (que não têm uma das condições de adequação), de 22,7% para 28,6%, houve uma queda de 7,6% para 6,1% de automóveis em domicílios inadequados. Esta queda pode estar relacionada ao crescimento da motocicleta, que em 2010 estava presente em 22,5% dos domicílios inadequados.

Famílias: Em dez anos, mulheres responsáveis pela família passam de 22,2% para 37,3%

Dos cerca de 57 milhões de domicílios recenseados em 2010, quase 50 milhões (87,2%) eram ocupados por duas ou mais pessoas com parentesco, totalizando 54,3 milhões de famílias; 6,9 milhões (12,1%) eram unidades unipessoais, ou seja, pessoas que viviam sozinhas, e perto de 400 mil unidades (0,7%) não contavam com pessoas aparentadas entre si. Esse padrão de distribuição variava pouco em função da situação de domicílio, sendo a proporção de unidades domésticas unipessoais rurais ligeiramente inferior à urbana (10,3% contra 12,4%).

Nesses dez anos, houve um aumento de famílias tendo a mulher como responsável (de 22,2% para 37,3%), inclusive em presença de cônjuge (de 19,5% para 46,4%), contra o decréscimo de 77,8% para 62,7% no caso de homem responsável. Também houve queda no percentual de homens responsáveis em domicílios com presença de cônjuge, de 95,3% para 92,2%. Os motivos podem ser creditados a uma mudança de valores relativas ao papel da mulher na sociedade e a fatores como o ingresso maciço no mercado de trabalho e o aumento da escolaridade em nível superior, combinados com a redução da fecundidade.

20,2% das famílias eram formadas por casais sem filhos

Mudanças na estrutura da família, maior participação da mulher no mercado de trabalho, baixas taxas de fecundidade e envelhecimento da população influenciaram no aumento da proporção de casais sem filhos entre 2000 e 2010, que passou de 14,9% para 20,2% do total.

O percentual de famílias compostas por casais com filhos é superior na área rural, em função das taxas de fecundidade historicamente mais elevadas, e também, devido a valores culturais mais tradicionais. Observa-se, ainda, nas áreas rurais, um percentual consideravelmente inferior de famílias monoparentais femininas: 9,1% contra 17,4% nas áreas urbanas.

O tipo mais frequente dentre as famílias conviventes (residem na mesma unidade doméstica) é o das monoparentais femininas (53,5%), 98,6% delas formadas por parentes da família principal. Ao examinar o parentesco dos núcleos secundários, verifica-se que, em 78% dos casos, há presença de filhos do responsável ou do cônjuge da família principal que poderiam ser considerados membros da família principal. As monoparentais femininas são provavelmente compostas por filhas dos responsáveis e/ou dos cônjuges, que tiveram seus filhos sem contrair matrimônio ou retornaram à casa dos pais por motivo de separação ou divórcio.

Região Norte possui a maior proporção (23,1%) de famílias conviventes

As famílias conviventes, que residem em uma mesma unidade doméstica, possuem maior representatividade nas regiões Norte (23,1%) e Nordeste (17,6%). Uma possível explicação reside no fato de que, por motivos culturais, há uma proporção mais significativa de famílias extensas (mais de cinco pessoas), o que permite maiores economias de escala em localidades com situação econômica menos favorável.

Famílias reconstituídas representam 16,3% dos casais

O Censo 2010 também investigou a condição dos filhos em relação aos responsáveis ou cônjuges e observou que 16,3% das famílias formadas por casais com filhos podem ser consideradas reconstituídas, ou seja, os filhos eram apenas do responsável, apenas do cônjuge ou uma combinação dessas duas situações.

Em 21,2% das famílias chefiadas por mulheres, o rendimento provém do cônjuge

Nas famílias formadas por casais, 62,7% dos responsáveis e cônjuges possuem rendimento. Esse percentual é superior em famílias nas quais a mulher é responsável, 66,4%, contra 61,6% para famílias nas quais o responsável é homem. Vale destacar que em 21,2% das famílias com responsabilidade feminina, a responsável não possuía rendimento, enquanto o cônjuge (provavelmente do sexo masculino) apresentava fontes de renda.

Além disso, mais da metade (56,8%) das pessoas reconhecidas como responsáveis pela família tinham entre 30 e 54 anos. Na distribuição por cor ou raça, 48,6% se declararam brancos, 41,0% pardos e 8,9% pretos.

Entre os que moram sós, 40% das mulheres são viúvas e 58,9% dos homens, solteiros

O perfil das 6,9 milhões de unidades domésticas unipessoais revela a característica eminentemente urbana do fenômeno: no Brasil, 88% (6,1 milhões) dessas unidades estavam situadas em cidades. Porto Alegre é a capital com maior proporção de pessoas que moram sozinhas (21,4% ou 508,5 mil domicílios) e a 15ª cidade no ranking do país. A análise dos dados sobre o estado civil dos que vivem sós mostra diferenças em relação ao sexo do responsável pelo domicílio: entre as mulheres, cerca de 40% são viúvas, enquanto, entre os homens, 10% dos responsáveis possuem este estado civil e a maioria é de solteiros, 58,9% .

Quando se analisa esse perfil por grupos de idade, verifica-se, no caso das mulheres, uma concentração nos grupos de idade mais avançada (cerca de 53% eram mulheres de 60 anos ou mais).

O nível de instrução é uma variável importante na configuração do perfil das unidades domésticas unipessoais, especialmente, quando a análise leva em conta o sexo dos responsáveis. O nível geral de escolaridade não é satisfatório, pois mais da metade dos indivíduos que viviam em unidades domésticas unipessoais não tinham instrução ou nem o fundamental incompleto. Por outro lado, as mulheres que viviam sozinhas apresentavam um nível de instrução melhor que o dos homens, com 16% delas com superior completo.

Migração: 35,4% da população brasileira não reside no município onde nasceu

O Censo 2010 mostra que 35,4% da população não residia no município onde nasceu, sendo que 14,5% (26,3 milhões de pessoas) moravam em outro estado. São Paulo (8 milhões de pessoas), Rio de Janeiro (2,1 milhões), Paraná (1,7 milhão) e Goiás (1,6 milhão) acumularam o maior contingente de não naturais residentes. Minas Gerais (3,6 milhões de pessoas), Bahia (3,1 milhões), São Paulo (2,4 milhões) e Paraná (2,2 milhões) foram os estados com os maiores volumes de população natural residindo em outras unidades da federação.

A comparação entre os valores de residentes não naturais com o de naturais não residentes mostra que, historicamente, 15 estados vêm apresentando resultados positivos no processo de migração (chegam mais migrantes do que saem) e 12 estados, resultados negativos (o número de saídas é maior do que o de chegadas). São Paulo tem apresentado o maior ganho populacional resultante desse processo histórico de migração interestadual, com 5,6 milhões de pessoas. Minas Gerais e Bahia, estados com histórico de emigração, foram os que apresentaram a maior diferença negativa entre naturais não-residentes e não-naturais residentes (ambos com 2,2 milhões de pessoas).

Na região Sudeste, estão as duas unidades da federação que contabilizaram os maiores números de não naturais residentes em nível nacional, São Paulo e Rio de Janeiro. O primeiro destacou-se pelo número de naturais da Bahia (1,7 milhão de pessoas), Minas Gerais (1,6 milhão) e Paraná (1 milhão). A maior parcela dos não naturais residentes no Rio de Janeiro nasceu em Minas Gerais, Paraíba e Ceará, que, juntos, alcançaram 45,9% do total de não naturais.

A maior parte dos migrantes (53,6%) não naturais do estado onde residiam era de origem nordestina, 9,5 milhões de indivíduos. Historicamente, o Sudeste foi o principal destino, onde residiam 66,6% dos nordestinos que viviam fora da região. A exceção da região Norte, cuja maior parte dos naturais que residiam fora viviam no Centro-Oeste, para todos os naturais das demais regiões, inclusive países estrangeiros (66,4%), a região Sudeste era a principal região de residência.

9,9 milhões de pessoas migraram nos últimos 10 anos

O Censo 2010 detectou uma redução na chamada migração de última etapa, que se refere à última mudança realizada pelo indivíduo nos dez anos anteriores à pesquisa. Em 2000, 11,3 milhões de pessoas eram migrantes de última etapa, ao passo que, em 2010, esse número caiu para 9,9 milhões de pessoas. Esta queda foi observada em 24 estados, sendo que, em Roraima, diminuiu 30,0% e, em Rondônia, Ceará e São Paulo, cerca de 25,0%. O estado que apresentou maior aumento no volume de imigrantes de última etapa foi Santa Catarina (33,0%).

A região Nordeste apresentou o maior número de estados com altos percentuais de imigrantes vindos de outras grandes regiões. Dos seus nove estados, seis apresentaram, em 2010, mais de 50,0% do total de imigrantes de última etapa vindos de outras regiões, destacando-se a Bahia, onde 73,5% de seus imigrantes eram oriundos de outras grandes regiões.

O Censo observou também um aumento no volume de imigrantes internacionais de última etapa entre 2000 e 2010. Aproximadamente 455 mil pessoas migraram de países estrangeiros nos 10 anos que antecederam o Censo. Em 2000 esse número era de 279 mil pessoas. Esses migrantes, em 2010, dirigiram-se majoritariamente para São Paulo (30,0% do total de imigrantes internacionais), Paraná (14,7%), Minas Gerais (9,8%), Rio de Janeiro (7,6%) e Rio Grande do Sul (5,3%). Quanto ao país de origem dos migrantes, 17,6% vieram dos Estados Unidos, 13,7%, do Japão, e 9,8%, do Paraguai.

Em cinco anos, 1,3 milhão de pessoas deixaram o Nordeste

Em relação à chamada migração de data-fixa, que investiga o local de residência do indivíduo cinco anos antes do Censo, observou-se que a região Nordeste foi a única que perdeu população. Em 2005 e 2010, 1,3 milhão de pessoas deixaram a região, 828 mil dirigindo-se para o Sudeste e 386 mil fazendo o caminho inverso. Os estados que tiveram o maior ganho de população no período, com saldos migratórios positivos, foram São Paulo, Goiás e Santa Catarina. Maranhão e Bahia tiveram as maiores perdas.

Entre os 4,6 milhões de indivíduos que migraram entre as unidades da federação nos cinco anos antes do Censo, 2,4 milhões eram homens e 2,3 milhões, mulheres. A maior parte era formada por adultos entre 20 e 29 anos (31,5%). Em seguida, vieram os migrantes que tinham entre 30 e 39 anos (19,8%). Em termos gerais, 89% dos migrantes tinham menos de 50 anos e 5% eram idosos, com 60 anos ou mais.

Comunicação Social
17 de outubro de 2012

Notícia colhida no sítio http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=2240&id_pagina=1&titulo=Censo-2010:-Unioes-consensuais-ja-representam-mais-de-1/3-dos-casamentos-e-sao-mais-frequentes-nas-classes-de-menor-rendimento

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