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Democratização da mídia é prioritária para a defesa da soberania

Samuel Pinheiro Guimarães: “democratização da mídia é prioritária para a defesa da soberania”

O embaixador e ex-ministro alerta para riscos decorrentes do atual controle dos meios de comunicação pelas classes hegemônicas mundiais e aponta como saídas a reavaliação de critérios e a desconcentração de recursos.

Leonardo Wexell Severo

“O controle dos meios de comunicação é essencial para o domínio da classe hegemônica mundial. Como esses meios são formuladores ideológicos, servem para a elaboração de conceitos, para levar sua posição e visão de mundo. Daí a razão da democratização da mídia ser uma questão prioritária”, afirmou o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães no debate ‘O Brasil frente aos grandes desafios mundiais’, realizado nesta terça-feira na Universidade Federal do ABC.

Ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (2009-2010) e secretário geral do Itamaraty (2003-2009) no governo do presidente Lula, o embaixador defendeu a campanha do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) por um novo marco regulatório para o setor. Segundo ele, uma relevante contribuição à democracia e à própria soberania nacional, diante da intensa disputa política e ideológica numa “economia profundamente penetrada pelo capital internacional”.

Entre as iniciativas para garantir o surgimento e estabelecimento de novas mídias, apontou, está a “distribuição das verbas publicitárias do governo”, desconcentrando os recursos públicos e repartindo de forma justa e plural. “O critério de audiência que vem sendo utilizado privilegia o monopólio e o oligopólio”, sublinhou.

O embaixador também condenou o fato de que um mesmo grupo possa deter emissoras de rádio e televisão, jornais e revistas – a chamada propriedade cruzada. Samuel lembrou que, quando estados como a Argentina, o Equador e a Venezuela aprovam leis para democratizar a comunicação, a mídia responde com uma campanha extraordinária, como se isso fosse censura à imprensa. Segundo ele, “essa concentração acaba concedendo um poder completamente desmedido para alguns poucos divulgarem as suas opiniões como verdade absoluta”.

Manipulação

Em função dos interesses da classe dominante, alertou o embaixador, a mídia hegemônica pode, sem qualquer conexão com a realidade, “demonstrar que um regime político da maioria é uma ditadura e realizar campanhas sistemáticas que permitam uma intervenção externa, com o argumento que determinado governo oprime os direitos humanos”.

Uma vez criado o caldo de cultura, soma-se à campanha de difamação e manipulação das consciências a intervenção militar, como aconteceu contra o governo de Muammar al-Gaddafi. “Na Líbia houve a derrubada de um governo que lhes era contrário, não foi ação defensiva dos direitos humanos em hipótese nenhuma”, frisou. Na avaliação de Samuel, os Estados Unidos têm um projeto muito claro de manter o seu controle militar e informativo, que utilizam de forma alternada e complementar. “Contra os governos que contrariam frontalmente os seus interesses, os EUA têm uma política declarada de ‘mudança de regime’. Para isso, sem grandes embaraços, qualquer movimento pode ser instrumentalizado”, assinalou.

Entre os muitos exemplos de manipulação citados pelo embaixador está o “esforço da política neoliberal para reduzir direitos”, utilizando-se da campanha pelo “aumento da competitividade”. ”O receituário que defendem”, disse Samuel, “é o de reduzir programas sociais, controle orçamentário e reduzir os benefícios da legislação trabalhista. Para isso disseminam ideias como a de que as empresas nacionais não são produtivas”.

Também condenando a manipulação da informação e o papel desempenhado por setores da mídia, o professor Paulo Fagundes Vizentini, coordenador do Núcleo de Estratégia e Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, considerou inadmissível que “os mesmos que bombardeiam e ocupam militarmente países soberanos venham agora dar lições de direitos humanos”.

“Antes era feio não ter opinião, hoje é ideológico, o que mais se parece com fisiológico”, disse Vizentini, defendendo a afirmação do interesse público e da soberania nacional, e combatendo “os que querem que o país fique na segunda divisão, desde que sejam o capitão do time”.

O professor sublinhou o papel estratégico e singular proporcionado pela descoberta do pré-sal, tanto do ponto de vista energético como geopolítico, e alertou para a necessidade de que o Brasil tenha os elementos de dissuasão para impedir que esse imenso patrimônio venha a ser apropriado militarmente pelos estrangeiros. “Para isso temos de enfrentar os espíritos fracos e colonizados. O colonialismo é o mais difícil de combater, porque está dentro da nossa cabeça”, frisou.

Para o secretário de Relações Internacionais do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, Pedro Bocca, o fortalecimento dos espaços de mídia dos movimentos sociais, como a TeleSur, a Alba TV e a TVT, com sua divulgação em canal aberto, são atualmenee necessários. “O investimento do governo é essencial para combater a desinformação e garantir a efetiva democratização da comunicação e do país”, concluiu.

Notícia colhida no sítio http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22368&editoria_id=40

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América Latina está bastante furiosa e a Europa, um pouquinho

Diante da espionagem dos EUA e do constrangimento causado a Evo Morales, nações latino-americanas elevaram o tom contra os norte-americanos e ofereceram asilo a Snowden. Mas depois se descobriu que também europeus haviam sido espionados. Eles tiveram de reclamar, ainda que num tom mais baixo. Por Juan Gelman, Página 12

Juan Gelman – Página 12

Propaga-se a indignação nos países da América Latina pelo constrangimento aplicado ao mandatário boliviano Evo Morales ao permitir e depois proibir o avião presidencial no espaço aéreo da Espanha, França, Itália e Portugal durante seu regresso à La Paz. O pretexto, manifestado com todas as palavras pelo embaixador dos EUA em Viena, foi de que transportava Edward Snowden, o ex-técnico da Agência Nacional de Segurança (NSA, por sua sigla em inglês) que denunciou a existência de um mundo onde todos são espionados. Washington também afirmou naquele momento que o Iraque estava repleto de armas de destruição massiva. Não se encontrou sequer uma, nem por equívoco.

Essa atitude dos quatro países europeus não só dá o ar de um patrão maltratando um subalterno, como também denota um cariz de desdenhoso racismo. Porque, para esta gente, o que é a Bolívia? Um país pequeno, de pouco peso internacional e ainda governado por um indígena. Cabe duvidar muito, mas muitíssimo, de que se tente alguma vez aplicar semelhante violação às convenções internacionais de Chicago e de Viena à aeronave do México, da Argentina ou do Brasil enquanto transportasse seus presidentes. As desculpas por este escândalo – Portugal alegou “razões técnicas”, o galo socialista Hollande lamentou “o contratempo” – são tão magras que deixam ver os ossos da mentira. Com a soberba ibérica que o caracteriza, Rajoy manifestou que a Espanha não tinha por que pedir desculpa alguma.

A irritação latino-americana atinge níveis mais altos quando Snowden dá a conhecer, por exemplo, documentos que mostram o Brasil convertido em base de operações da NSA. Por solicitação da Bolívia, Nicarágua, Venezuela e Equador, se levou a cabo uma sessão extraordinária da Organização de Estados Americanos, que condenou os quatro países europeus e exigiu explicações do acontecido.

Enquanto os EUA ameaçam considerar inimigo qualquer país que oferte asilo a Snowden e exigem sua imediata captura à Rússia e também à Venezuela, Bolívia e Nicarágua, que lhe ofereceram asilo. A irritação também se expressa em alguns países europeus, em especial a Alemanha, que agora sabem, graças ao ex-NSA, que também são espionados. Merkel se queixou a Obama: uma ação desta natureza, lhe disse, é inaceitável entre “sócios e amigos”. O tema é que fica inaceitável para a chanceler, que seu país seja espionado ou que os serviços alemães, que trabalham em conjunto com a CIA, conheçam o programa de espionagem, mas não recebam nenhuma informação.

O importante semanário germânico Der Spiegel afirmou que este tipo de espionagem não tem nada que ver com a segurança nacional e que não só é uma mera intrusão na privacidade das pessoas, como também na correspondência diplomática e nas estratégias negociadoras em relação à questões comerciais (www.spiegel.de, 7-7-13). Não apenas isso: a espionagem das grandes empresas permite aos EUA aproveitar avanços tecnológicos que ainda não possui. A Alemanha é o alvo número um nesse quesito. A ministra de Justiça Sabine Leutheusser-Schnarrenbeger afirmou que esses métodos são próprios da Guerra Fria. Só que agora entre “sócios e amigos, não!” completou.

O gesto alemão parece haver dado a Hollande mais energia condenatória que o caso Snowden: “Pedimos que isto acabe de imediato… Temos evidências suficientes para pedir uma explicação”, se animou (www.alterney.org, 6-7-13). É que, como afirma o The New York Times: “Uma leitura atenta dos documentos de Snowden mostra até que ponto a agência furtiva (a NSA) desempenha agora dois novos papéis: é uma mastigadora de dados, com um apetite (capaz) de colher e armazenar, durante anos, uma assustadora variedade de informações e é uma força armada de inteligência com ciber-armas destinadas não só a monitorar computadores estrangeiros, mas também, se fosse necessário, de atacá-los” (www.nytimes.com, 7-7-13).

Enquanto a Casa Branca exige a cabeça de Snowden a todo custo, a San Adams Associated for Integrity in Intelligence acaba de conceder a ele seu prêmio anual por “sua decisão de revelar a vastidão da vigilância eletrônica que o governo dos EUA exerce sobre os habitantes do país e de todo o mundo” (www.middle-est-online.com, 9-7-13). Trata-se de uma organização curiosa: a maioria de seus integrantes são ex-agentes de alto escalão dos serviços de inteligência estadunidense que conhecem e acatam a necessidade legítima de manter em segredo determinados documentos. Pensam, por sua vez, que quando existem segredos para ocultar atividades inconstitucionais é seu dever apoiar aqueles que têm o valor de filtrar a verdade. Assim, proclamaram Snowden ganhador do Prêmio San Adams 2013. Lutam por uma espionagem com ética.

Tradução: Liborio Júnior

Artigo colhido no sítio http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22372

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