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Lucros crescem e trabalhadores bancários querem sua parte

Cenário recente de aumento no número de demissões e a rotatividade nos bancos afetam salário médio da categoria, diz economista

São Paulo – A política de demissões e a rotatividade nos bancos privados está reduzindo o salário médio dos bancários, apesar de as campanhas vitoriosas terem conquistado ganhos salariais acima da inflação. A preocupante comparação foi feita pelo economista Nelson Karam, coordenador de educação sindical e diretor da Escola de Ciências do Trabalho do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A exposição foi realizada nesta sexta-feira 19, primeiro dia da 15ª Conferência Nacional dos Bancários, em São Paulo.

Segundo Karam (foto acima), que fez a apresentação no Painel sobre Remuneração e Emprego, a luta dos bancários rendeu 85,3% de reajuste salarial desde 2004, valor 16,2% acima da inflação. No piso, a valorização foi ainda maior: 116,2% de aumento, 35,6% a mais que a inflação.

“Entretanto, é preciso observar que a remuneração média dos bancários hoje é menor que em 2000”, afirma. Há treze anos, o salário médio dos bancários era de R$ 4.961,77. Em 2011, último dado disponível, a remuneração média caiu levemente para R$ 4.743,59.

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Essa estagnação é causada pela política de rotatividade dos bancos, que demitem funcionários com maiores salários e contrata novos bancários com ganhos menores. “E o pior é que nos últimos anos o ritmo das contratações não está acompanhando o das demissões”, destacou o economista.

Concentração de renda – Enquanto a remuneração média dos bancários segue estagnada, o lucro dos bancos cresceu espantosos 128% de 2002 para cá. A parte conquistada pelos funcionários nesta lucratividade também caiu. Em 2002, os bancários ficavam com 43% do lucro, enquanto os acionistas abocanhavam 34%. Em 2011, a parte dos funcionários caiu para 38%, enquanto a dos acionistas subiu para 40%.

Hoje, um executivo da diretoria do Itaú ganha 234,27 vezes mais que um funcionário recebe com o piso. No Santander, o executivo ganha 145,67 vezes o piso. E no Bradesco é 130 vezes mais.

“Essa desvalorização dos bancários é inversamente proporcional ao aumento do trabalho nos bancos, afirma a diretora executiva do Sindicato e secretária-geral da Contraf/CUT, Ivone da Silva (foto acima). ”Se levarmos em conta apenas um dos indicadores de produtividade do trabalho bancário, como as contas-correntes, veremos que o trabalho aumentou e muito, mas a parte de cada trabalhador no lucro gerado caiu. Esse é um cenário que a categoria vai lutar pra mudar”, destaca a dirigente. Vale lembrar, que cada bancário abria 83 contas correntes em 1996. Em 2011, foram 302 contas para cada trabalhador.

Nelson Karam defende que os bancários incluam nos debates da campanha nacional os chamados ganhos de produtividade, que levam em consideração não somente o crescimento dos lucros, mas também o aumento da produtividade no setor e dos ganhos dos executivos dos bancos.

Crédito para crescer – Outro dado que preocupa, segundo o especialista, é que apesar de o saldo médio do emprego ter crescido 24% de 2000 a 2011, nos últimos meses os números revelam uma retração.

Karam lembra que de março de 2012 a março de 2013 os bancos privados apresentaram redução de postos de trabalho, o que não ocorreu nos públicos. O Itaú apresentou saldo negativo de 6.679 no período, o Santander de 1.569 e o Bradesco, 2.309. Já a Caixa apresentou saldo positivo de 7.423 e o BB, de 261.

No Brasil, o crédito chega a alcançar 50% do Produto Interno Bruto (PIB). Houve crescimento a partir da política de redução de juros do governo. Mas o índice ainda é bem inferior ao dos países mais desenvolvidos. Nos EUA, a relação entre crédito privado e PIB é de 191% e na Inglaterra, de 186%.

“Ou seja, os bancos têm uma avenida de ganho pela frente, há um grande potencial a ser explorado no mercado brasileiro. Há enorme carência nas áreas de habitação, saneamento, financiamento agrícola”, exemplificou Karam.

A presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira (foto acima), concorda. “O Brasil necessita de crédito para continuar crescendo e suprindo suas deficiências e demandas. Temos um déficit habitacional de cerca de 5 milhões de moradias. O crédito imobiliário chega somente a 7% do PIB, há muito o que ampliar. Isso quer dizer que o setor financeiro pode continuar crescendo, e de forma socialmente responsável, gerando emprego bancário, melhorando a remuneração dos funcionários, prestando atendimento de qualidade. É nesse cenário que acontece nossa Campanha Nacional Unificada 2013 e vamos cobrar do setor financeiro essa postura mais responsável em relação à categoria e a toda a sociedade.”

Aumento da terceirização – O economista do Dieese mostrou, ainda, que apesar do crescimento no saldo do emprego do setor bancário nos últimos dez anos, tem crescido muito o número de trabalhadores terceirizados, em função da ampliação dos correspondentes.

Em 2003, havia pouco mais de 36 mil trabalhadores terceirizados nos bancos. Em 2012, o número saltou para mais de 332 mil. Karam enfatiza que a situação poderá se agravar, caso seja aprovado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC), o Projeto de Lei 4330, que escancara as terceirizações, inclusive em atividades-fins.

“A regulação das terceirizações proposta por esse projeto não interessa à classe trabalhadora”, reforçou Karam.

Inflação sob controle – Para Karam, o discurso disseminado pela mídia, de que a inflação está fora de controle, interessa aos bancos que ganham com a elevação da taxa básica de juros.

“A inflação não é resultado de excesso de demanda, não é uma alta generalizada, como querem fazer crer. Está localizada em alguns setores e não é fruto do aumento do consumo” explicou o economista. “Também há um conjunto de contratos indexados, como os de aluguel, que ajudam a propagar inflação. Sem  falar nos preços elevados pelo resultado da concentração e dos oligopólios observados em alguns setores da economia, como bancos e supermercados”, ressaltou.

Carlos Vasconcellos, Alessandra Mota e Fábio Jammal Makhoul – 19/7/2013

Notícia colhida no sítio http://www.spbancarios.com.br/Noticias.aspx?id=5136

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