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Seminário debateu métodos de gestão e saúde do bancário

O Sindicato dos Bancários de Curitiba e região, em parceria com o Escritório de Advocacia Declatra, promoveu na última sexta-feira, 13 de dezembro, o Seminário Novos métodos de gestão e a Saúde do bancário. O evento aconteceu no auditório do MPT-PR e reuniu dirigentes, delegados sindicais e demais profissionais interessados. Durante a manhã, o debate foi sobre as alterações no mundo do trabalho e nos métodos de gestão da categoria bancária, com o economista e professor Cid Cordeiro, o médico do trabalho (MPT-PR) Elver Moronte e o advogado trabalhista Wilson Ramos Filho. Já à tarde, os participantes debateram as relações entre Estado, governo, centrais sindicais, sindicatos e partidos políticos, com o juiz do Trabalho Grijalbo Coutinho, o professor de Sociologia Giovanni Alves, a vice-prefeita de Curitiba Mirian Gonçalves e o presidente da Contraf-CUT Carlos Cordeiro. A mediação das mesas ficou por conta do presidente da Fetec-CUT-PR, Elias Jordão, e do presidente do Sindicato dos Bancários de Curitiba e região, Otávio Dias, respectivamente.

Conjuntura econômica – O economista e professor Cid Cordeiro iniciou o debate apresentando a conjuntura econômica nacional e as transformações da última década. Segundo ele, o crescimento do emprego foi de 42% nos últimos dez anos (uma média de 3,55% ao ano). Já os empregos formais no país passaram de 66% em 2001 para 76% em 2012 e a renda média do trabalhador aumentou 152% neste período. “Estas transformações foram fruto, em primeiro lugar, da luta sindical para pressionar as negociações e também das políticas econômicas e sociais dos Governos Lula e Dilma”, destacou Cordeiro.

No setor bancário, após a drástica queda dos empregos devido às fusões e aquisições e ao aumento da terceirização que marcou os anos 1990, observou-se, a partir dos anos 2000, uma política de expansão a baixo custo. “Enquanto o emprego bancário cresceu 26% nos últimos dez anos, os indicadores de operações financeiras aumentaram 400%. Ou seja, houve um redimensionamento da produtividade, com uma forte intensificação do ritmo de trabalho”, acrescentou o economista.

Gestão que adoece – A partir da conjuntura, o médico do trabalho (MPT-PR) Elver Moronte explicou como entender o adoecimento dos bancários através dos métodos de gestão. Para ele, os novos padrões da organização do trabalho – que incluem uso das tecnologias, terceirização, globalização e uma grande necessidade de flexibilidade do trabalhador para atender as exigências, entre outros – exigem uma produtividade cada vez maior. As consequências são a sobrecarga, a insegurança e o medo constante da demissão.

“Assim, os valores pessoais passam a rivalizar com as exigências do mundo do trabalho. A partir do momento em que o bancário deve estar adaptado a mudanças constantes, com foco no imediato e no presente, há um enfraquecimento de sua confiança. Quando o trabalho passa a ser avaliado apenas pelos resultados e não pelo esforço real, que não é reconhecido, o sofrimento é intensificado. Quando tudo isso acontece, o adoecimento psíquico e ético são inevitáveis”, justificou Moronte. O médico finalizou sua apresentação abordando o assédio moral organizacional, que também ataca a subjetividade do indivíduo e gera adoecimento.

É preciso ir além – Último palestrante da manhã, o advogado trabalhista Wilson Ramos Filho explicou como se dá a regulação do mundo do trabalho, através 1) da legislação trabalhista; 2) das negociações coletivas; 3) e da gestão imposta pelo empregador, que detém a propriedade privada. “Nas duas primeiras, nós temos representatividade e condições de interferir. Falta-nos espaço e força para regular a gestão determinada pelo poder patronal, que, muitas vezes, se traduz em violência e práticas assediadoras”, afirmou Ramos Filho. Segundo ele, toda regulação é relacional, e se dá na disputa entre a tirania e a resistência.

Na parte da tarde, o tema central dos debates foi a relação entre o movimento sindical e o governo, com foco entre a autonomia e as responsabilidades. O primeiro a falar foi o presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, que destacou que o principal motivo da greve de 23 dias dos bancários em 2013 foram saúde e condições de trabalho. Ele destacou que as negociações ficaram paralisadas enquanto os bancos não queriam discutir o tema.

“No momento do desespero, o trabalhador precisa encontrar esperança na atuação do diretor sindical”, relatou o presidente da Contraf, destacando que o banco substituiu o setor Recursos Humanos por Gestão de Pessoas, que visa exclusivamente o lucro. “O bancário não sabe mais como não levar o sofrimento do local de trabalho para dentro da família”, constata o dirigente.

Movimento sindical e o governo federal

O presidente da Contraf continuou sua exposição falando sobre o tema proposto: a postura do movimento sindical diante dos 10 anos de governo Lula-Dilma. Ele destacou a retirada da população da pobreza e da miséria; a vontade política do governo; o enfrentamento da crise de 2008 com ampliação do crédito; e a valorização do salário mínimo. Como reflexo, com a luta da categoria, as greves e a abertura do governo, em 10 anos o salário do bancário dobrou.

Cordeiro criticou o governo Dilma, que “está surdo ao movimento social e sindical. Da plataforma dos trabalhadores, nada foi colocado como prioridade”. Os trabalhadores querem redução de jornada para 40 horas, a aplicação da Convenção 158 pelo fim da rotatividade. Para o presidente da Contraf, o governo Dilma dialoga muito com os empresários e pouco com os trabalhadores. Para finalizar, Carlos Cordeiro destacou o orgulho pela luta contra o PL 4330, da terceirização, e chama os bancários para continuar mobilizados, pois o projeto de lei está apenas adormecido e deve voltar à pauta após as eleições de 2014.

Vice-prefeita quer mobilização – A vice-prefeita de Curitiba, Mirian Gonçalves, militante dos movimentos sociais eleita pelo Partido dos Trabalhadores, falou da dificuldade em “não ter a caneta na mão” para atender os anseios dos trabalhadores. Ela também citou a crise de identidade que ocorre entre o movimento sindical, militantes do PT e o governo. Ela disse que o partido se confundiu com o governo e defende que os movimentos sociais cobrem mais suas bandeiras de luta.

Defesa dos trabalhadores – O juiz do Trabalho Grijalbo Coutinho destacou que em 2004 a Anamatra, associação nacional dos juízes do trabalho, se posicionou a favor da greve dos bancários. Ele iniciou falando sobre a entidade a que pertence para justificar a relação entre partidos políticos e sindicatos. “Se o dirigente sindical se diz apartidário ele está escondendo sua face política. Dirigentes sindicais devem mostrar a sua cara e procurar quem os representa na esfera política”.

Ele falou sobre a relação da CUT com o governo federal, citando as críticas ao governo Lula que era chamado de república sindical. “É a tática de ataque com preconceito de classe e a imprensa tratou como oportunistas”. Ele observa que em relação ao governo Lula a CUT arrefeceu, citando dois pontos específicos: a reforma trabalhista e a reforma previdenciária, que na concepção dele é o cartão de visitas do governo Lula. “Os interesses da classe trabalhadora se sobrepõem aos interesses do governo”, finalizou o juiz.

O professor de Sociologia Giovanni Alves encerrou os debates defendendo a tese que os governos Lula e Dilma são governos pós-neoliberais sitiados pelo Estado neoliberal. “O lulismo redistribui renda sem confrontar o capital. O estado neoliberal cercando o governo tem como consequência a não discussão da dívida pública, o marco regulatório da mídia e o superávit primário”.

Por: Renata Ortega e Paula Padilha
SEEB Curitiba

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Em seminário, especialistas debatem saúde dos bancários, autonomia sindical e a relação com os governos

Especialistas, teóricos, juristas, autoridades públicas e representantes sindicais participaram nesta sexta-feira (13) do seminário “Novos métodos de gestão e a Saúde do bancário”, realizado no Auditório do Ministério Público do Paraná, em Curitiba.

Na pauta o desgaste da categoria bancária em função de metas abusivas, os reflexos desta nova administração na saúde e no dia-a-dia da categoria. A autonomia sindical, os valores da classe trabalhadora e o relacionamento entre os sindicatos, partidos políticos e governo também estivaram no mote central.

“É perceptível o número de ações judiciais no setor bancário em virtude do abuso dos patrões. Metas abusivas, métodos de gestão ditos modernos, mas que na realidade refletem práticas que se esquecem do ser humano enquanto individuo, levando à uma loucura coletiva que reflete-se nos problemas de saúde que categoria como um todo enfrenta”, afirmou o advogado e professor universitário Wilson Ramos Filho, o Xixo. .

A advogada e vice-prefeita de Curitiba, Mirian Gonçalves, enfatizou o papel dos movimentos sociais e sindicatos na cobrança da administração pública. De acordo com ela, a tensão criada pelas reivindicações e mobilizações são salutares. “A greve dos servidores federais, por exemplo, não é contra o Governo, mas sim por melhorias de condições. Não é contra o Governo do PT, é a favor da população, é a favor das categorias”, afirmou.

De acordo com ela, é preciso representar o formato de estado desejado. “Precisamos manter o movimento social, não apenas da categoria de vocês, mas em todos os debates. Vamos trazer para dentro dos sindicatos o que a sociedade quer. Este é o pedido, a solicitação, muito mais do que uma crítica ou uma proposição”, argumentou Mirian.

O presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, destacou o problema de saúde enfrentados pelos bancários com exemplos do seu dia-a-dia de dirigente sindical. “Muitos trabalhadores fizeram greve devido às condições de trabalho. Tomam remédio tarja preta e têm medo grande de estar dentro de uma agência bancária”, denunciou.

“Estive em Florianópolis e fui visitar uma agência Vang Gogh e duas meninas, novinhas, me receberam. Em cinco minutos de conversa começaram a chorar pois não suportavam mais as metas do período da manhã e do período da tarde. Não aguentam mais terapia que faziam para tentar não levar os problemas para casa”, explicou Cordeiro, que ainda citou exemplo de mortes ocorridas em virtude dos novos métodos de gestão dos bancos.

O Juiz do Trabalho e ex-presidente da Anamatra, Grijalbo Coutinho, defendeu a autonomia, porém, a ligação dos sindicatos e seus dirigentes à organizações políticas e governos. “Os sindicatos representam toda a categoria? Não, representam frações e somente do ponto de vista formal é que representa todos os trabalhadores. Qual é a razão então para impedir que os sindicatos tivessem algum tipo de relação com partidos operários? Quem nasceu antes? Partidos operários ou sindicatos? Muitas vezes um criou o outro”, recordou Coutinho.

Para ele, esta é uma relação linear e há um discurso de assepsia moral, como se sindicalistas não pudessem fazer militância. “Há um componente ideológico equivocado”, disse. Para o juiz, esta relação depende das “circunstâncias e do conteúdo e da natureza do partido. Isso é que vai determinar”, argumentou.

O professor de sociologia da Unesp, Giovanni Alves, destacou o processo de precarização do trabalho. “Há uma outra dimensão, mais radical. Estamos falando no tocante à pessoa humana, de classe, que está sendo desmontada”, alertou.

Embora, segundo ele, os indicadores sociais estejam melhorando, sobretudo nos índices econômicos, existem outros fatores que precisam ser avaliados. “Me tragam os indicadores de adoecimentos, as taxas de homicídio, os indicadores da irracionalidade social na loucura coletiva”, reforçou Alves.

Para ele, a mudança nesta sociedade capitalista pós-neoliberal, passa necessariamente pela formação. “O sindicalismo deve investir e inovar em formação. Não é transformar em escola e nem doutrinação, mas sim pesquisar, conhecer a categoria, articular reflexões, fatos culturais, políticos, ir para as ruas e resgatar os movimentos sociais”, garantiu.

O presidente do Sindicato dos Bancários de Curitiba, Otávio Dias, também reiterou a importância dos sindicatos lutarem de forma unitária por pautas da classe trabalhadora. “Em junho, nos protestos, os jovens foram às ruas por bandeiras como o transporte coletivo, saúde, educação e segurança e o movimento sindical foi proibido de entrar. Percebi ali uma crise séria, pois as bandeiras que estavam nas ruas foram construídas pelo movimento sindical”, lembrou.

Também participaram das mesas de debate: o presidente da Fetec-CUT-PR, Elias Jordão, o economista e professor Cid Cordeiro e o médico do Trabalho, Elver Moronte.

Notícia colhida no sítio http://defesa-trabalhador.com.br/declatra/2013/12/em-seminario-especialistas-debatem-saude-dos-bancarios-autonomia-sindical-e-a-relacao-com-os-governos/

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