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Movimentos sociais cobram justiça e punição de torturadores da ditadura

Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil“Se não há Justiça, há escracho popular”, estampava a faixa afixada no muro da casa do coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, que comandou o Destacamento de Operações de Informações e o Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) de São Paulo, entre 1970 e 1974. Sobre o gramado da entrada da casa, localizada em um bairro nobre e tranquilo de Brasília, foram colocadas fotografias de vítimas dos agentes da ditadura militar, como Sônia Maria de Moraes Angel e Carlos Lamarca.

“Foi uma forma de Justiça mesmo, para expor para a sociedade que ele praticou crimes muito cruéis de tortura. Ele foi o único torturador que foi punido pela Justiça, porém continua livre e solto. Parece que olha para a sociedade e fala ‘Eu matei, eu torturei, agora eu vou continuar recebendo meu salário e vivendo no anonimato'”, diz Bárbara Loureiro, integrante do Levante Popular da Juventude, grupo que organizou a ação de “escracho”.

As grades da casa deixaram à mostra o carro novo na garagem de Ustra, mas as portas e janelas cerradas não permitiram que os ativistas e a imprensa vissem mais que poucos elementos do cotidiano do coronel.

Pelo interfone, a esposa dele, Maria Joseíta Brilhante Ustra, relutou em falar com nossa equipe de reportagem. A única exceção foi para reclamar dos “vândalos” que picharam o local: “Se tivesse vindo um outro grupo, a gente atendia, mas veio um bando de gente marginal com bandeira vermelha”, disparou.

Do outro lado da rua, Marília Souza, 58 anos, olhava a movimentação de jornalistas e a palavra “Justiça” inscrita repetidas vezes sobre o asfalto e as paredes da casa daquele que ela avalia ser um bom vizinho. Apesar de relatar a convivência tranquila com a família, ela diz que “é revoltante, a gente se coloca no lugar das vítimas”. Logo depois, completa: “Mas é isso. Ele lá e eu cá”.

O vizinho de Marília, também conhecido como doutor Tibiriçá, é apontado como coordenador de mais de 500 sessões de tortura na sede do DOI-Codi de São Paulo, muitas delas registradas pela Arquidiocese de São Paulo no livro Brasil: Nunca Mais.

Distante poucos quilômetros dali, em frente ao Congresso Nacional, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o Movimento de Mulheres Camponesas e o Movimento dos Pequenos Agricultores lembravam os camponeses que foram perseguidos e torturados durante o regime militar. Em homenagem a eles, foram colocados 1.196 crucifixos na Esplanada dos Ministérios, número equivalente ao que os movimentos consideram ter sido o de camponeses assassinados naquele período.

Integrante da coordenação nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores, Beto Palmeira lembra que, antes do golpe, a população rural estava fortalecida e organizada em torno das Ligas Camponesas e da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura. Depois, “com o golpe, houve um processo de repressão muito forte, de tortura e desaparecimentos. Pelas próprias condições da época e pela invisibilidade das lutas do campo, chegou-se a esse número de1.196, embora o Estado só reconheça 29”, lamenta.

Para Palmeira, os camponeses mortos precisam ser encarados e contabilizados como mortos políticos e os responsáveis pelas mortes, julgados. Além disso, defende que a luta deles por reformas deve integrar a agenda da sociedade e do Poder Público.

“Quando a gente traz a pauta dos camponeses mortos, é para quebrar esse tabu e para lembrar que a reivindicação daqueles camponeses continua sendo atual: a reforma agrária. Depois de 20 anos de democracia, a gente costuma dizer que ainda há resquícios da ditadura. E um desses resquícios é a falta de reforma agrária”, completa.

Fonte: Agência Brasil

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Artigo de Breno Altman: Teoria dos dois demônios é apenas farsa histórica

Crédito: Brasil 247
Brasil 247Jornalista desmistifica tese dos militares que derrubaram Jango

Em artigo exclusivo para o site Brasil 247, o jornalista Breno Altman desmistifica a tese de que os militares derrubaram João Goulart, há 50 anos, porque a esquerda planejava implantar um regime totalitário no País; “O que ocorreu naquele primeiro de abril foi a vitória de uma mentira que disfarçava um plano. A função dos meios de comunicação, à época, era agigantar esse boneco, para justificar que as tropas tomassem as ruas”, diz ele.

“O mais curioso são as pontes erguidas por Fernando Henrique Cardoso e José Serra, vítimas e adversários do golpe, em direção à teoria da dualidade demoníaca, provavelmente no intuito de manter os atuais laços entre a nova e a velha direita”, afirma.

Leia a íntegra do artigo de Breno Altman:

Teoria dos dois demônios é apenas farsa histórica

O cinquentenário do golpe militar traz à baila narrativa que a direita gloriosamente fabrica para enquadrar o episódio. Núcleo fundamental do teorema: os militares romperam a Constituição e tomaram o poder, com amplo da burguesia brasileira, para se anteciparem a supostos planos golpistas de João Goulart e seus aliados.

Setores mais lúcidos e malandros do conservadorismo (entre os quais, obviamente, não estão correntes abertamente fascistas) até reconhecem crimes e atropelos da ditadura. Mas a alternativa fardada é apresentada como um demônio que a outro se contrapunha.

Os artífices desta explicação reconhecem que a truculência do diabo verde-oliva, de posse dos aparatos de Estado, excedeu a violência de seu inimigo vermelho. Resolvem esse detalhe, porém, valorando a sedição dos quartéis como remédio amargo e exagerado à doença que estaria tomando conta do corpo pátrio e se preparava para o bote final.

O roteiro se completa com uma determinada dissertação sobre os desdobramentos de 1968, quando a ditadura impõe o Ato Institucional nº 5. Até então, segundo os teóricos das opções infernais, vivia-se período de autoritarismo brando, que teria sido desafiado pelo surgimento da resistência armada. O endurecimento do regime militar, assim, seria consequência dos mau-modos da besta vermelha, que teriam provocado o descontrole do belzebu das casernas.

Nos últimos dias, esta tese tem sido brandida por diversas vozes, com uma ou outra variação. Está presente, por exemplo, nos editoriais da Folha e do Estado, nos quais a mea-culpa vem maquiada e travestida por estas supostas condições históricas. Pesquisadores mequetrefes e penas de aluguel, da extirpe de Marco Antônio Villa, também cantam nesse coro. Sequer um jornalista renomado como Elio Gaspari escapa da tentação de flertar com esta interpretação fuleira.

O mais curioso são as pontes erguidas por Fernando Henrique Cardoso e José Serra, vítimas e adversários do golpe, em direção à teoria da dualidade demoníaca, provavelmente no intuito de manter os atuais laços entre a nova e a velha direita, aliança que corresponde ao núcleo duro da oposição contra os governos liderados pelo PT.

A questão central é que a ladainha dos infernos está apoiada sobre uma dupla mentira. Não havia qualquer plano ou operação em curso, dirigida por Jango ou os demais protagonistas de esquerda, com o objetivo de executar as reformas prometidas por fora da via institucional e das possibilidades previstas na Constituição. Tampouco a luta armada foi efetivamente implementada, apesar de moralmente legítima desde o putsch militar, antes que os caminhos legais tivessem sido fechados pela decretação do AI-5.

O levante de 1964 foi urdido aos poucos, ao longo de quinze anos. Quem estiver interessado, basta ler sobre a fundação da Escola Superior de Guerra, em 1949, depois que o general Salvador César Obino regressa de uma visita ao National War College, nos Estados Unidos, no alvorecer da tensão com a União Soviética.

A ESG logo se pautou pelo binômio “segurança e desenvolvimento”, indo muito além do estudo de questões corporativas. Foi sendo forjada, no seu interior, a doutrina pela qual o salto adiante no capitalismo brasileiro pressupunha não apenas a liquidação da esquerda como também a derrota das correntes nacionalistas e a subordinação dos partidos políticos da burguesia a um cesarismo de tipo militar.

Não é à toa que seus dois primeiros comandantes foram Cordeiro de Farias e Juarez Távora. Ex-lideres tenentistas, convertidos ao conservadorismo após a revolução de 1930, mantinham desde a época da Coluna Prestes, da qual fizeram parte do estado maior, a convicção que a velha política parlamentar e institucional, intrinsecamente corrupta e repartida por interesses privados, era grande obstáculo para o avanço nacional.

Nas salas desta instituição foi sendo formada ou reciclada uma geração de altos oficiais que mesclavam anticomunismo com uma noção de destino sobre o papel que caberia aos militares no comando do país. Esta oficialidade foi tecendo sua própria rede de relações internacionais, compromissos empresariais, vínculos com os meios de comunicação e alianças políticas.

A primeira tentativa golpista foi barrada pelo suicídio do presidente Getúlio Vargas, que provocou intensa mobilização popular e animou resistência de setores progressistas dentro das próprias Forças Armadas. Levou quase dez anos para que emergisse nova conjuntura favorável ao bonapartismo dos generais.

Os sediciosos retomaram a ofensiva na renúncia de Janio Quadros, em 1961, quando imaginaram impedir a posse do vice João Goulart, eleito pelo voto direto e popular. Sucumbiram à Cadeia da Legalidade e às divisões internas nos quartéis. Mas as dificuldades para consolidar a hegemonia das forças progressistas, dentro e fora das instituições, mantiveram abertas avenidas ao fortalecimento do golpismo.

O governo Goulart foi sabotado desde o primeiro dia, por forças locais e internacionais. Preparava-se sua derrubada. Criavam-se adversidades, obstáculos, impedimentos. Bloqueadas as reformas, por falta de maioria parlamentar, a coalizão cívico-militar de direita conseguiu enfraquecer o presidente e paralisá-lo.

Jamais esteve no cardápio de Jango, contudo, a virada de mesa. O testemunho de Almino Afonso, ex-ministro do Trabalho, negando taxativamente qualquer plano de “golpe comunista”, é bastante representativo do que se passava. O chefe de Estado e seus parceiros estudavam soluções, algumas delas passavam por mudanças constitucionais, mas nunca foi colocada qualquer hipótese de atropelar a legalidade.

Ao contrário, as críticas que cabem ao líder deposto possivelmente seriam mais honestas se dissessem respeito à sua incapacidade ou indisposição de recorrer a instrumentos políticos e institucionais que poderiam derrotar a sedição. João Goulart tinha compromisso com reformas, mas não era de sua índole ou origem de classe liderar resistência à contra-revolução burguesa que se tecia a olhos vistos.

O que ocorreu naquele primeiro de abril foi a vitória de uma mentira que disfarçava um plano sólido. A conquista de consenso para a modernização conservadora, conduzida pela ditadura dos generais, passou pelo ataque ao espantalho do autoritarismo de esquerda. A função dos meios de comunicação, à época, era agigantar esse boneco e a situação de suposto caos que o cercava, para justificar que as tropas tomassem as ruas e tivessem as mãos livres para o serviço sujo.

Nesse novo primeiro de abril, depois de cinquenta anos, a teoria dos dois demônios se presta a mesma finalidade, agora em caráter retrospectivo. Os sócios do terror e do partido da morte, afinal, precisam desse álibi para explicar o comportamento que tiveram naquele momento dramático de nossa história.

Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi

Fonte: Brasil 247

Matéria colhida no sítio http://contrafcut.org.br/noticias.asp?CodNoticia=37882

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Kotscho diz que imprensa escondeu pesquisa do Ibope com apoio a Jango

Crédito: Brasil 247
Brasil 247Presidente João Goulart tinha amplo apoio popular e seria reeleito

Que João Goulart tinha apoio popular, ao contrário do que diziam os militares, isso já foi dito. Mas que haviam sido feitas pesquisas pelo Ibope dias antes de sua derrubada, mas que nunca foram divulgadas pela imprensa, é o que conta o jornalista Ricardo Kotscho, em seu blog no R7.

Segundo ele, só em São Paulo, um dos principais redutos de oposição ao governo, Jango tinha 69% de aprovação. A pergunta que fica: a divulgação das pesquisas teria mudado o rumo dos acontecimentos, evitando o golpe?

Leia a íntegra do artigo:

Imprensa escondeu pesquisa Ibope com apoio a Jango

O caro leitor sabia que, ao contrário do que nos foi vendido ao longo de todos estes anos, João Goulart, o Jango, presidente deposto por um golpe militar, civil e midiático, em 1964, tinha amplo apoio popular e seria reeleito, segundo pesquisas do Ibope feitas nos dias que antecederam a sua derrubada, e que nunca haviam sido divulgadas pela imprensa? Pois é, nem eu.

Em São Paulo, que era um dos principais redutos de oposição ao seu governo, segundo uma das pesquisas Jango tinha 69% de aprovação, com rejeição de apenas 16%. Em outra, na qual o Ibope entrevistou eleitores de oito capitais, entre os dias 9 e 26 de março de 1964, quase a metade (49,8%) respondeu que votaria em Jango caso ele pudesse se candidatar à reeleição. Ninguém ficou sabendo disso na época.

A pergunta que fica: a divulgação destas pesquisas pela imprensa poderia ter alterado o rumo dos acontecimentos, já que para derrubar Jango um dos principais argumentos utilizados pelos golpistas foi a fragilidade do presidente e do seu governo diante do “perigo comunista” que ameaçava o país? Acontece que todos os principais veículos da mídia brasileira, com exceção da “Última Hora”, estavam não só apoiando os militares como engajados no movimento que levou à sua deposição.

Só agora ficamos sabendo também que, segundo o Ibope, havia amplo apoio popular às reformas (59% dos entrevistados) propostas por Jango no famoso Comício da Central do Brasil, duas semanas antes do golpe, em que ele defendia a reforma agrária, com a desapropriação de terras às margens de rodovias e ferrovias, e a encampação das refinarias estrangeiras, outro argumento utilizado para justificar o golpe. Não por acaso, certamente, a Petrobras está novamente no centro do debate político neste ano de eleições presidenciais.

No momento em que mais uma vez discutimos o papel da imprensa e das pesquisas na política nacional, após o mesmo Ibope, no prazo de apenas uma semana, divulgar dois levantamentos sobre a presidente Dilma Rousseff, com resultados bastante discrepantes, valeria a pena investigar a origem e o destino dos levantamentos inéditos que estão sendo catalogados no Arquivo Edgard Leuenroth, da Unicamp, em Campinas.

Já se sabe, por exemplo, que a pesquisa feita em três cidades paulistas, entre os dias 20 e 30 de março de 1964, ouviu 950 eleitores e foi encomendada pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo, uma das entidades envolvidas na derrubada de Jango.

O Ibope entregou estas pesquisas aos arquivos da Unicamp em 2003 e só agora, quando o golpe completa meio século, os seus resultados foram revelados. Marcia Cavallari, diretora do Ibope Opinião, disse a Paulo Reda, da “Folha”, que “os critérios aplicados nestes levantamentos da década de 60 são semelhantes à metodologia das pesquisas recentes do instituto e são perfeitamente confiáveis”. Falta Cavallari explicar porque estes mesmos critérios levaram a resultados tão diferentes nas recentes pesquisas do Ibope sobre Dilma e por quais razões os levantamentos de 1964 permaneceram secretos por tanto tempo.

Não basta agora a mídia publicar caudalosos cadernos especiais sobre o golpe de 1964, com pencas de entrevistas e artigos tentando explicar o que aconteceu, se nada for feito no Congresso Nacional para evitar que aquela tragédia se repita e os meios de comunicação, incluindo os institutos de pesquisa, não tenham regras claras definidas na legislação para evitar que os eleitores sejam manipulados e a nossa jovem democracia novamente ameaçada.

Fonte: Brasil 247 com R7

Matéria colhida no sítio  http://contrafcut.org.br/noticias.asp?CodNoticia=37884

 

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