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Grandes homens públicos não usam questão pessoal como álibi político

Michel Temer, rezando o terço no baile

ter, 08/12/2015 – 09:04 – atualizado em 08/12/2015 – 10:31

Luis Nassif

O vice-presidente Michel Temer pode estar coberto de razão quando se queixa – em carta aberta, sim – da falta de consideração com que foi tratado no primeiro governo Dilma e no início do segundo, quando lhe entregaram a articulação política sem lhe entregar as condições para implementá-la. Não foi apenas descortesia pessoal: foi desastre político que ajudou a implodir a base de apoio do governo.

Grande parte do ressentimento contra Dilma Rousseff deve-se à sua falta de verniz político mínimo, de não saber administrar sua agenda naquilo que a função de Presidente tem de mais essencial: o trabalho político.

Há uma enorme lista de ressentidos com a desatenção de Dilma, de Ministros do STF e do TSE às lideranças políticas de Brasília ou fora dela. Ou seja, em todas as áreas críticas de poder.

A diferença dos grandes homens públicos é que engolem em seco, até podem destilar suas mágoas em particular, mas não usam a questão pessoal como álibi para ações políticas: seu compromisso maior é com as instituições e o país.

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Com suas últimas atitudes, Temer não está afrontando apenas Dilma. Aliás, enquanto Dilma esteve popular – e garantindo cargos ao PMDB – Temer jamais foi se queixar a ela da desatenção com que era tratado.

Agora, está entrando na lama da conspiração e não quer respingos na roupa. Lembra a mocinha de véu que entra no baile de carnaval e fica no canto empunhando o terço e balbuciando que entrou ali por engano, porque ouviu uma barulhada e achou que era a missa.

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Ontem, no Valor Econômico, uma reportagem de conhecido repórter engajado falava das movimentações no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice, de correligionários já planejando seu governo.

É uma matéria reveladora desse papel dúbio do vice. “Apesar da discrição de Michel Temer, o pós-Dilma Rousseff já é tratado no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente da República”.  Ou seja, a mocinha ofereceu a festa na sua própria casa, convocou os convidados e deu início ao baile.  Mas se mantém discreta no canto, orando. “Enquanto em volta discute-se com vigor as possibilidade de Dilma se manter no cargo, Temer parece uma estátua. Mal sorri”, diz a reportagem camarada. A reportagem ressalta que “senadores próximos a Temer (…) registraram ao Valor que o vice é cuidadoso ao tratar de assumir a Presidência. Não quer e não vai, dizem,  fazer nenhum gesto que o acusem de oportunista, inclusive porque avalia que isso diminuiria sua legitimidade para governar, caso venha a sentar na cadeira número um do país”.

Entenderam? Temer quer a Presidência, mas diz que não quer para, quando assumir a presidência, o fato de ele muito querer não atrapalhar o exercício da presidência.

Como dizem os tais “senadores”  em off, essa figura heráldica, despida de paixões, não se furtará a montar no cavalo encilhado que passar à sua frente: “Uma coisa é certa: está preparado, ou quase isso, se o momento chegar”.

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Agora, repete o jogo da filha de Maria no baile de carnaval.

Primeiro, ao divulgar a carta particular baseado em um álibi torto: a de que assim procedeu devido aos rumores de que o Palácio estaria divulgando seletivamente trechos dela.

Espalhou o teor da carta, sim, como conversou em off com o jornalista Jorge Moreno, e, sob a alcunha de “importante personalidade da República”,  desqualificou a comitiva de seus próprios colegas do Direito da PUC, que visitou Dilma hipotecando apoio e apresentando argumentos contra o impeachment.

Afirmou a Moreno que, “a apresentação dos chamados “juristas” foi um desastre. “De jurista ali naquele grupo, só tinham dois ou três, no máximo”. Atacou um deles, sem mencionar o nome, da maneira sibilina com que sempre foi acusado de agir. Seria “uma figura carimbada, professor de direito comercial, eterno candidato a ministro do Supremo”.

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Por mais que disfarce, Temer estará no centro das paixões, sim. Se o impeachment der certo, assumirá a presidência de um país ferozmente dividido e será apontado como um dos responsáveis pela dimensão que a crise assumir.

Artigo colhido no sítio http://jornalggn.com.br/noticia/michel-temer-rezando-o-terco-no-baile

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Vice-Presidência confirma teor de carta de Temer a Dilma; leia a íntegra

Da Agência Brasil

A Vice-Presidência da República confirmou à Agência Brasil o teor de uma carta enviada ontem (7) pelo vice-presidente, Michel Temer, à presidenta Dilma Rousseff. A carta começa com uma expressão em latim: “As palavras voam, o escrito permanece”.

A seguir, a íntegra do documento:

“São Paulo, 7 de Dezembro de 2015

Senhora Presidente,

“Verba volant, scripta manent”. Por isso lhe escrevo. Muito a propósito do intenso noticiário destes últimos dias e de tudo que me chega aos ouvidos das conversas no Palácio. Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo.

Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a necessidade da minha lealdade. Tenho-a revelado ao longo destes cinco anos. Lealdade institucional pautada pelo art. 79 da Constituição Federal. Sei quais são as funções do Vice. À minha natural discrição conectei aquela derivada daquele dispositivo constitucional.

Entretanto, sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB. Desconfiança incompatível com o que fizemos para manter o apoio pessoal e partidário ao seu governo. Basta ressaltar que na última convenção apenas 59,9% votaram pela aliança. E só o fizeram, ouso registrar, porque era eu o candidato à reeleição à Vice.

Tenho mantido a unidade do PMDB apoiando seu governo, usando o prestígio político que tenho, advindo da credibilidade e do respeito que granjeei no partido. Isso tudo não gerou confiança em mim, Gera desconfiança e menosprezo do governo.

Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles.

1. Passei os quatro primeiros anos de governo como vice decorativo. A Senhora sabe disso. Perdi todo protagonismo político que tivera no passado e que poderia ter sido usado pelo governo. Só era chamado para resolver as votações do PMDB e as crises políticas.

2. Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir formulações econômicas ou políticas do país; éramos meros acessórios, secundários, subsidiários.

3. A senhora, no segundo mandato, à última hora, não renovou o Ministério da Aviação Civil, onde o Moreira Franco fez belíssimo trabalho, elogiado durante a Copa do Mundo. Sabia que ele era uma indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me. Cheguei a registrar este fato no dia seguinte, ao telefone.

4. No episódio Eliseu Padilha, mais recente, ele deixou o Ministério em razão de muitas “desfeitas”, culminando com o que o governo fez a ele, Ministro, retirando, sem nenhum aviso prévio, nome com perfil técnico que ele, Ministro da área, indicara para a ANAC. Alardeou-se a) que fora retaliação a mim; b) que ele saiu porque faz parte de uma suposta “conspiração”.

5. Quando a senhora fez um apelo para que eu assumisse a coordenação política, no momento em que o governo estava muito desprestigiado, atendi e fizemos, eu e o Padilha, aprovar o ajuste fiscal. Tema difícil porque dizia respeito aos trabalhadores e aos empresários. Não titubeamos. Estava em jogo o país. Quando se aprovou o ajuste, nada mais do que fazíamos tinha sequência no governo. Os acordos
assumidos no Parlamento não foram cumpridos. Realizamos mais de 60 reuniões de lideres e bancadas ao longo do tempo, solicitando apoio com a nossa credibilidade. Fomos obrigados a deixar aquela
coordenação.

6. De qualquer forma, sou Presidente do PMDB e a senhora resolveu ignorar-me, chamando o líder Picciani e seu pai para fazer um acordo sem nenhuma comunicação ao seu Vice e Presidente do Partido. Os dois ministros, sabe a senhora, foram nomeados por ele. E a senhora não teve a menor preocupação em eliminar do governo o Deputado Edinho Araújo, deputado de São Paulo e a mim ligado.

7. Democrata que sou, converso, sim, senhora Presidente, com a oposição. Sempre o fiz, pelos 24 anos que passei no Parlamento. Aliás, a primeira medida provisória do ajuste foi aprovada graças aos 8 votos do DEM, 6 do PSB e 3 do PV, recordando que foi aprovado por apenas 22 votos. Sou criticado por isso, numa visão equivocada do nosso sistema. E não foi sem razão que em duas oportunidades ressaltei que deveríamos reunificar o país. O Palácio resolveu difundir e criticar.

8. Recordo, ainda, que a senhora, na posse, manteve reunião de duas horas com o Vice-Presidente Joe Biden – com quem construí boa amizade – sem convidar-me, o que gerou em seus assessores a pergunta: o que é que houve que numa reunião com o Vice Presidente dos Estados Unidos, o do Brasil não se faz presente? Antes, no episódio da “espionagem” americana, quando as conversas começaram a ser retomadas, a senhora mandava o Ministro da Justiça, para conversar com o Vice-Presidente dos Estados Unidos. Tudo isso tem significado absoluta falta de confiança.

9. Mais recentemente, conversa nossa (das duas maiores autoridades do país) foi divulgada e de maneira inverídica, sem nenhuma conexão com o teor da conversa.

10. Até o programa “Uma Ponte para o Futuro”, aplaudido pela sociedade, cujas propostas poderiam ser utilizadas para recuperar a economia e resgatar a confiança, foi tido como manobra desleal.

11. PMDB tem ciência de que o governo busca promover a sua divisão, o que já tentou no passado, sem sucesso. A senhora sabe que, como Presidente do PMDB, devo manter cauteloso silêncio com o objetivo de procurar o que sempre fiz: a unidade partidária.

Passados estes momentos críticos, tenho certeza de que o País terá tranquilidade para crescer e consolidar as conquistas sociais. Finalmente, sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB hoje e não terá amanhã.

Lamento, mas esta é a minha convicção.

Respeitosamente, \ L TEMER
A Sua Excelência a Senhora
Doutora DILMA ROUSSEFF
DO. Presidente da República do Brasil
Palácio do Planalto
Brasília, D.F.”

Edição: Graça Adjuto
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