fetec@fetecpr.com.br | (41) 3322-9885 | (41) 3324-5636

Por 10:22 Sem categoria

Conselheiro eleito fala sobre desafios e ressalta luta pela Caixa 100% pública

Fernando Neiva é conselheiro titular eleito pelos empregados para o CA da CaixaFernando Neiva é conselheiro titular eleito pelos empregados para o CA da Caixa

SEXTA-FEIRA, 18/03/2016

O representante titular eleito pelos empregados para o Conselho de Administração da Caixa Econômica Federal, Fernando Neiva, esteve nos dias 15 e 16 de março em Londrina, a convite do Sindicato. Ele visitou unidades, participou de encontro com delegados e delegadas sindicais e de reunião com a Superintendência Regional do banco.

Em sua passagem por Londrina Fernando Neiva deu entrevista para o Vida Bancária, na qual fez uma análise da conjuntura do país, falou sobre a importância de se manter a Caixa 100% pública e sobre a nova reestruturação que está sendo implementada pela atual direção da empresa.

Para o conselheiro eleito, os empregados e empregadas são o alicerce da Caixa e esta é a “joia da coroa”, devido ao seu importante papel na condução de diversas políticas e serviços oferecidos para os brasileiros. Sem apoio do banco para exercer seu papel, Fernando conta com o apoio dos Sindicatos para atuar e reafirma o compromisso de lutar em defesa dos direitos dos empregados.

Confira a entrevista:

Vida Bancária – Qual é a sua avaliação sobre a situação da Caixa na conjuntura atual, em meio à tentativa de volta das privatizações, instabilidade econômica e política no Brasil?

Fernando Neiva – O atual momento pelo qual nós estamos passando, não somente a Caixa, mas o país, nos mostra que estamos passando por uma crise mais política do que econômica, porque se analisarmos os dados economicamente, não estamos ainda na chamada recessão. Nós temos uma crise política, onde nós temos que garantir a democracia do país, mas, infelizmente, alguns atores não estão aceitando. E dentro da Caixa Econômica Federal não é diferente: nós estamos passando por um processo muito difícil; recentemente tivemos o lançamento de uma nova reestruturação, que na minha avaliação não trouxe nada de novo. É uma reestruturação que pega novamente só os empregados, com fechamento de unidades, retirada de funções, transferências, enfim: é o empregado mais uma vez que estará pagando por essas consequências. O próprio balanço da Caixa demonstrou que o banco não está em crise, pois é o quarto maior do país, com um trilhão e duzentos bilhões de reais em ativos e por quinhentão fala-se em crise na Caixa Econômica Federal. A Caixa é uma condutora de políticas sociais no país, é um banco de suma importância. Não podemos admitir esse tipo de reestruturação para atacar fortemente seus empregados, que são o alicerce da empresa. A Caixa só cresceu quando contratou mais empregados. A gente coloca essa perspectiva de que não podemos aceitar essa política implementada dentro do banco.

Vida Bancária – Como está essa discussão no âmbito do Conselho de Administração da Caixa?

Fernando Neiva – Olha, este debate ainda não chegou ao Conselho de Administração, mas quando ele chegar, com certeza farei a defesa contrária a esse processo de reestruturação, porque eu entendo que os funcionários não são responsáveis por qualquer tipo de crise. Na minha concepção eu defendo mais contratações na Caixa, porque em 2002 nós tínhamos 55 mil empregados efetivos e 45 mil terceirizados. Em 2014 nós chegamos a 101 mil trabalhadores, com um mínimo de terceirizados. Foi justamente neste período em que mais se contratou que a Caixa mais cresceu. Então por que não contratar mais? Por que aplicar um projeto de reestruturação para reduzir funções e unidades? Nós temos que fazer a Caixa crescer mais. Porque nós já mostramos ao país e à sociedade brasileira que nós damos conta dos dois pontos principais que a Caixa tem: primeiro é o mercado e a Caixa precisa ir para o mercado; segundo, são as políticas sociais e públicas que a Caixa desenvolve no país. É o Minha Casa, Minha Vida, é o Penhor, o Fundo de Garantia, a habitação, na qual a Caixa tem uma importância muito grande. Então, por que reduzir, por que tirar? Nós temos que fazer a Caixa alavancar cada vez mais. Não podemos permitir, deixar tirar a nossa função social, que é de servir à sociedade brasileira e, principalmente, as pessoas mais carentes do país, como, por exemplo, o Programa Bolsa Família. É a Caixa que faz toda a estruturação desse trabalho. Então, por que aplicar uma reestruturação no momento em que a Caixa mostrou que é viável, que é grandiosa, mas aplica essa medida que afeta mais diretamente o empregado. Isso nós não podemos aceitar!

Vida Bancária – Você acha que essa é uma tendência em direção a encaminhar a Caixa para privatização, aliado a isso o PLS 555, que também aponta neste sentido?

Fernando Neiva – Olha, a Caixa sempre esteve no debate em torno das privatizações. Isto ocorre porque todos entendem que a Caixa tem importância para este país. É uma empresa lucrativa e importante. Podemos falar que é a “joia da coroa”. Tem projetos sociais, políticas para o desenvolvimento do país. Nas décadas de 1990 e 2000, por exemplo, a Caixa esteve sob ameaça de privatização quando aquele projeto neoliberal nefasto colocou dentro da Caixa um projeto de desqualificação da empresa, de seus empregados. Chegamos até a ter uma empresa para cuidar dos ativos podres da época. A Caixa estava prontinha para ser privatizada durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Com nossa resistência e a organização dos empregados, a partir de 2006, nós conseguimos mudar este quadro e barramos o processo de privatização. No início de 2015, falou-se no próprio governo Dilma, que a Caixa faria a abertura do capital, para que fosse transformada em uma empresa de capital misto, uma S/A, com ações na Bolsa de Valores. O que a gente ouve nos debates hoje no Senado Federal e esta semana já passou o PLS 555, permite que as empresas públicas tenham aberto seu capital social. Com isto, a Caixa Econômica, o BNDES e os Correios, que são as últimas três grandes empresas que ainda temos com capital 100% público, eles querem simplesmente jogar estas empresas que têm importância fundamental para o país na Bolsa de Valores, transformando-as em S/A. Este é o caminho para privatizar estas empresas. Foi assim com a Companhia Vale do Rio Doce, no início dos anos 2000; quem não se lembra dessa privatização, e a própria Petrobras, naquele tempo teve ameaça de privatização, quando mudaram seu nome para Petrobrax. A mesma coisa a gente tá vendo agora com os ataques às nossas empresas públicas com o PLS 555, que permite a abertura do capital e suas ações à venda na Bolsa de Valores. A Caixa Federal é uma empresa pública, 100% da União, 100% Brasil e não podemos permitir que isso ocorra, porque é uma das poucas empresas que promovem o desenvolvimento econômico e, o mais importante, o desenvolvimento social deste país. Em 2008, por exemplo, quando nós tivemos a crise no Brasil, foi a Caixa e o Banco do Brasil que seguraram a crise. Enquanto os bancos privados recuaram na demanda, a Caixa e o Banco do Brasil colocaram crédito para a população. Nós enfrentamos a crise e ajudamos o país a sair daquele momento. E hoje, quando o país passa novamente por uma crise, a Caixa continua sendo muito importante. Por isso, nós temos que fazer o mesmo que foi feito em 2008 e colocar a Caixa a serviço da sociedade brasileira. Por isso não podemos aceitar o PLS 555, que foi aprovado pelo Senado e agora vai para a Câmara dos Deputados, e nós empregados e empregadas temos que reagir. Temos que nos organizar, cada agência, cada setor em todas as localidades do país para enfrentar esse projeto nefasto de abertura do capital social de nossa empresa. Aja vista que nós já passamos por este perigo, como eu falei antes, em 1990 e 2000. É organizar, enfrentar e não deixar abrir o capital de nossa Caixa Econômica Federal.

Vida Bancária – Esta política tem afetado muito as condições de trabalho dos empregados da Caixa, com a redução de pessoal. Como vai ficar isso, qual é a sua análise sobre esta situação. Há uma saída?

Fernando Neiva – No projeto de reestruturação a própria afirma que é para amenizar e melhorar os serviços na Caixa Econômica Federal. Eu não vejo desta maneira. O que a gente tá vendo efetivamente é a retirada de funções, o fechamento de algumas unidades. O que nós temos hoje dentro da Caixa é uma demanda muito grande de serviços de todos os tipos. Seja do mercado ou da parte social e o que a gente vê também é a falta de pessoal para a gente enfrentar a situação que se está vivendo hoje dentro da Caixa. Temos que contratar e trazer mais gente para atender a população com a qualidade que a Caixa sempre teve no atendimento, principalmente para a população carente. E isso nós não podemos perder. Nós temos que ter mercado, mas não podemos nos eximir da função social e a missão social que a Caixa Econômica Federal tem na sociedade brasileira, que é servir as pessoas carentes, servir a quem mais precisa. Isso, poucos banco fazem no país. A Caixa Econômica é o modelo. Não é à toa que nós atendemos a população do Bolsa Família, a habitação, penhor, Fundo de Garantia e outras políticas públicas. Então, uma grande empresa desta não pode retroceder. Nós temos que partir pra cima, contratar e servir a sociedade bem e fazer o que nestes 155 anos a Caixa fez, sempre como um grande banco, pra que a gente continue a ter uma população sendo atendida com qualidade com os serviços que nossos empregados e empregadas oferecem no dia a dia dentro da empresa. É preciso também dar mais qualidade nas condições de trabalho aos empregados para que possamos tocar a vida. Porque, toda vez que a Caixa teve implementação de políticas duras, neoliberais, eu costumo falar, na guerra, o exército recua … Porque nós somos seres humanos. Assédio Moral, metas, pressões… A Caixa não pode pensar em metas como Itaú e o Banco do Brasil. Nós temos que servir à sociedade e a Caixa está fazendo isto muito bem. No último ano nós tivemos lucro de 7,2 bilhões de lucro no balanço, graças ao trabalho que a Caixa tem neste país. É o quarto maior banco do nosso país, com patrimônio de 1 trilhão e 200 bilhões de reais. Por que recuar, por que retroceder. Eu entendo que é preciso investir no principal capital que nós temos, que são os empregados e empregadas e, por isso, nós temos que contratar mais para fortalecer a nossa empresa.

Vida Bancária – Como está a sua atuação como representante dos empregados no Conselho de Administração da Caixa. É difícil defender lá os interesses dos empregados?

Fernando Neiva – Para se ter uma ideia, pela primeira vez nestes 155 anos de fundação, em 2014 nós tivemos uma eleição do Conselho de Administração. Este Conselho é o órgão que planeja, é o órgão máximo da empresa, que determina as diretrizes da Caixa Econômica Federal, assim como qualquer empresa. É um orgulho imenso estarmos representando os empregados no Conselho. Este órgão é composto por sete membros: um indicado pelos empregados, que sou eu, o indicado pelo ministro do Planejamento, a presidenta da Caixa e quatro indicados pelo ministro da Fazenda. Então, é um grande passo que os empregados e empregadas têm para fazer um debate. A recepção que nós tivemos foi muito boa e é muito importante. Agora, nós sabemos das dificuldades que nós temos. Por exemplo, a dificuldade que nós temos hoje é com a comunicação com os bancários e bancárias da Caixa. A empresa não permite que use a internet, o e-mail ou o malote para eu me dialogar com a nossa categoria bancária. Quem me ajuda neste processo de divulgação? São os Sindicatos de bancários de todo o país, praticamente. Por exemplo: nós estamos hoje aqui com o Sindicato dos Bancários de Londrina, dialogando com a categoria. É um Sindicato muito importante na conjuntura nacional e que ajuda o mandato do conselheiro. Este apoio é que faz a diferença. Eu encontro estas dificuldades para colocar o mandato à disposição dos empregados. E no geral a gente sabe: as demandas dos empregados e empregadas dentro do Conselho todas as vezes que eu estou levando a votação é de 6 x 1. Um exemplo foi a abertura do capital da Caixa Seguradora no ano de 2015. O meu voto foi contrário, pois é um grande balcão de negócios que a Caixa tem, que a gente está colocando para o mercado, com ações na Bolsa de Valores. Nós já comprovamos ao longo do tempo todo que temos condições de gerir isso. Outro voto contrário foi contra a reestruturação feita no ano passado, com o PAA (Plano de Apoio à Aposentadoria). Por que tirar os empregados? Eu defendo, dentro do Conselho de Administração, a visão dos empregados e empregadas, a defesa permanente de seus direitos e da manutenção da Caixa 100% pública e também esta ligação, este elo que temos com os Sindicatos de todo o país. Eu entendo que este mandato não é meu, é nosso. Fui eleito com apoio dos Sindicatos e dos empregados e empregadas. Eu entendo que os Sindicatos são importantes e só tenho a agradecer este apoio. E nós não podemos perder as perspectivas de ter uma Caixa Econômica Federal cada vez mais forte e dentro do Conselho de Administração coloco as nossas ideias e a vida que segue.

Vida Bancária – O que você tem a falar ainda sobre as demandas a serem resolvidas para os empregados e empregadas da Caixa?

Fernando Neiva – Olha, eu tenho a dizer aos bancários e bancárias da Caixa que nós temos que nos unificar, temos que nos fortalecer, porque quando houve um processo de reestruturação, como nós vimos nas décadas de 1990 e 2000, ele não veio pra brincadeira. Ele pode afetar diretamente nossos empregados e empregadas.  E o empregado não pode esmorecer. Tem que se fortalecer, tem que procurar os Sindicatos, a sua Confederação, a Federação, se organizar com os delegados sindicais. Tem que procurar os deputados federais, senadores, deputados estaduais, vereadores pra gente fazer o debate por uma Caixa Federal cada vez mais pública, 100%. Na minha experiência – eu fui presidente do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte e Região por três mandatos, então eu sou um sindicalista – eu aprendi que nada vem de graça. Então, quando eu digo isso é porque a empresa nunca dá nada de graça pra ninguém. As nossas conquistas só foram feitas a partir do momento em que nós fizemos algumas ações. Eu vou dar alguns exemplo disso: em 1985 nós fizemos uma greve histórica que foi a luta das 6 horas. Até aquele ano o funcionário da Caixa não era considerado bancário, era economiário, com jornada de oito horas. Como nós consertamos: com a greve histórica que conquistou a jornada de seis horas. Nós ficamos praticamente sete anos sem reajuste salarial entre 1996 e 2002. Como nós quebramos o zero por cento? Foi através das mobilizações da categoria e da unidade de todos os bancários a partir de 2006 para romper com o congelamento salarial. Até mesmo a RH-008, que era um instrumento que a Caixa Econômica Federal tinha na década de 2000, provocava um assédio insuportável aos bancários e até mesmo demissões. Era um verdadeiro absurdo. Como nós quebramos esses paradigmas? Através da organização e da mobilização. Eu estou citando estes exemplos porque entendo que o bancário não pode recuar. Nós temos que entender o processo. Estamos passando por um momento político muito tenso no país, não esmorecer, nos organizar e ir pra frente. Este é o recado que eu dou aos empregados e empregadas da Caixa e coloco o mandato do conselheiro à disposição de todos. Quem quiser dialogar comigo tem a página www.conselheirocaixa.com.br e tem a página no Facebook Fernando Ferraz Neiva, e entre em contato com o conselheiro com as suas demandas para a gente levar pra dentro do Conselho de Administração e fazer a defesa permanente dos nossos empregados e empregadas e, principalmente, a defesa da Caixa 100% pública.

Close