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Por 09:59 Notícias

Brasileiros consomem mais alimentos com gordura e processados para fugir da inflação

Para driblar a fome, que se agravou com a crise econômica prolongada, e fugir da inflação dos alimentos, milhares de famílias brasileiras estão consumindo alimentos ultraprocessados, como salsichas, linguiças e macarrão instantâneo, que são mais baratos, mas de baixo valor nutricional, e o que é pior, provocam doenças crônicas nos rins, além de diabetes, hipertensão, obesidade, desnutrição e câncer.

A quantidade de produtos processados e ultraprocessados consumidos pode ser medida, em parte, pelo lucro da indústria de biscoitos, massas alimentícias e pães e bolos industrializados de R$ 50,44 bilhões no ano passado – um aumento de quase R$ 6 bilhões em relação a 2020 e quase R$ 10 bilhões a mais em comparação ao ano de 2019. Ou seja, em dois anos, o lucro dessas empresas aumentou mais de 20%.

Ressalve-se que nem toda produção dessas empresas é de alimentos processados e ultraprocessados, mas no ano passado, a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados (Abimapi), já estimava que o faturamento deveria subir entre 5% e 10%, impulsionado pela venda do macarrão instantâneo, um produto considerado pelos nutricionistas prejudicial à saúde pela alta concentração de sódio e outros conservantes.

A nutricionista Sheila Araújo Costa, da prefeitura da capital paulista e dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde de São Paulo (Sindsep), diz que a obesidade aumentou muito durante a pandemia, devido ao sedentarismo, a crise econômica e à alimentação de baixa qualidade, com pouco consumo de frutas e verduras.

“A carcaça de frango é gordura, imagine o tanto de gordura consumida que aumenta o risco de câncer. A nutrição recomenda preparar alimentos sem gordura para não penetrar na carne. A salsicha também traz esse risco, mas as pessoas compram por ser mais barata do que a carne”, diz a nutricionista.

A distribuição de ossos de bois chocou parte da população brasileira, e ainda teve gente que quis lucrar ainda mais sobre a fome. Um supermercado chegou a colocar à venda, por R$ 2,99, a pele de frango. A repercussão negativa fez o estabelecimento retirar o produto da prateleira.

A tragédia aumenta ainda mais quando se percebe que a área da saúde vem sendo atacada pelo atual governo federal que, para manter o teto de gastos públicos e tentar baixar os preços dos combustíveis, diminuiu o valor de impostos, cujos valores são repassados para a saúde pública. Somente com a perda de arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadoria (ICMS) a estimativa é que a saúde e a educação percam R$ 2 bilhões. Efeito colateral da lei pode tirar R$ 21 bilhões só do ensino público de estados e municípios, segundo estimativas da Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação (Fineduca), publicadas no jornal o Globo.

A médica Juliana Salles, que é diretora da Executiva Nacional da CUT, afirma que a falta de alimentação adequada com excesso de consumo de comida processada com alto teor de sal sobrecarrega o sistema de saúde pública. Essas doenças poderiam ser evitadas se o governo federal tivesse comprometimento com a saúde pública, não reduzindo o orçamento que impacta nos municípios.

“Mais de 50% da população passam por insegurança alimentar e a responsabilidade da prevenção de doenças, que inclui a nutrição, é da Atenção Primária, das prefeituras, cujas verbas estão sendo cortadas pelo governo federal, como no caso do ICMS”, critica a médica.

A médica critica ainda as tentativas de terceirização da saúde pública no Brasil. Juliana se baseia num vasto estudo da Universidade de Oxford sobre o NHS – o National Health System do Reino Unido. Conduzida ao longo de oito anos (de 2013 a 2020), a pesquisa apurou que ao menos 557 pessoas morreram de doenças “tratáveis”, depois que parte de seus tratamentos da saúde pública foi terceirizada.

O sistema público paga caro para submeter a população a assistência de pior qualidade e ao risco ampliado de morte. A mesma pesquisa demonstrou que cada aumento de 1% nos gastos com terceirização produz, no ano seguinte, uma alta de 0,29 mortes a cada 100 mil pessoas. O estudo foi publicado, no final de junho deste ano, pela revista Lancet

Foto: Nalu Vaccarin

Fonte: CUT

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