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Por 11:09 Cidadania, Recentes

Pelas ‘Marias e Clarices’ que ainda choram, viúva de Vladimir Herzog é declarada anistiada. Estado pede perdão

“O Marcelo Rubens Paiva me disse: ‘Teu pai, meu pai, eles não foram heróis. Foram vítimas. As verdadeiras heroínas foram as companheiras deles. As mães, irmãs e tantas outras que dedicaram suas vidas, com coragem, à busca pela verdade e justiça’. Agradeço esta homenagem da Comissão de Anistia a Clarice Herzog, uma destas heroínas. Tenho muito orgulho de ser filho dela. E acho que todos devemos nos sentir muito privilegiados em termos tido Clarice e tantas outras heroínas ao nosso redor, lutando pela democracia neste país.”

Um emocionado Ivo Herzog – diretor do instituto que leva o nome do pai – agradeceu, em nome da família, pela decisão da Comissão de Anistia, que nesta quarta-feira (3) concedeu anistia a Clarice, sua mãe, viúva de Vladimir Herzog. O jornalista, diretor da TV Cultura, foi assassinado no DOI-Codi de São Paulo em outubro de 1975. A ditadura tentou simular um suicídio, sem sucesso, mas com muitas ameaças. Já o pai do escritor Marcelo, Rubens Paiva, morreu sob tortura quatro anos antes, em janeiro de 1971, mas o corpo não foi encontrado.

Abuso de poder

Durante a reunião da Comissão de Anistia, ligada ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, a presidenta do colegiado, Enéa de Stutz e Almeida, pediu perdão a Ivo em nome do Estado brasileiro. “Nenhum Estado tem direito de abusar de seu poder e investir contra seus próprios cidadãos”, afirmou. “A longa resistência de Clarice é uma luz que ilumina os erros que o país tem cometido diante da sua própria história. Ao ser tão determinada, ela ajudou o Brasil, um país que se acostumou ao esquecimento e à impunidade.”

A decisão foi unânime. Também foi aprovado o pagamento de indenização equivalente a 390 salários mínimos. O valor ficaria em torno de R$ 550 mil, mas o teto legal é de R$ 100 mil. “Minha mãe nunca quis nenhuma reparação financeira. Tomei a decisão de entrar com este processo porque agora ela precisa”, disse Ivo. Aos 82 anos e com Alzheimer, Clarice precisa de cuidados especiais.

Vlado e Clarice: ela ficou viúva aos 34 anos, com dois filhos pequenos. Ele tinha 38 quando foi assassinado (Foto: reprodução)

Canção imortal

Clarice está na letra de O bêbado e a equilibrista, de João Bosco e Aldir e Blanc, canção imortalizada por Elis Regina. Um verso fala: “Choram Marias e Clarices/ No solo do Brasil”. Maria é a viúva de Manoel Fiel Filho, metalúrgico que também foi assassinado no DOI-Codi, em janeiro de 1976, poucos meses depois da morte de Vlado.

Vladimir Herzog tinha 38 anos. Clarice ficou viúva aos 34, com dois filhos pequenos: Ivo, 9 anos, e André, de 7. Com ameaças da ditadura até no velório e no enterro, o corpo foi sepultado no Cemitério Israelita do Butantã, na zona oeste de São Paulo.

Clarice conseguiu na Justiça o reconhecimento da farsa sobre o “suicídio” de Herzog. Em 1978, ainda na ditadura, uma sentença judicial condenou o Estado pela morte do jornalista. Quase 40 anos depois, em 2013, o atestado de óbito foi retificado. Mais recentemente, em 2018, a Corte Interamericana de Direitos Humanos também condenou o Estado por não investigar o crime e não punir os responsáveis.

Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Fonte: RBA

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