Entenda o que está acontecendo no mercado financeiro nos últimos dias.
Por que o dólar voltou a subir
1O dólar tinha caído demais, segundo os bancos
No último dia 2 de julho, a moeda atingiu R$ 2,81, o menor valor em 12 meses. Nesse patamar, atraiu mais compradores, como empresas com dívida a vencer nos próximos meses. Essa demanda extra aumenta a pressão sobre o câmbio.
Até dezembro, empresas e bancos precisam de quase US$ 7 bilhões para pagar dívidas no exterior. Só em agosto, vencem cerca de US$ 950 milhões. Há uma maior concentração de vencimentos neste semestre do que no primeiro.
2O governo criou condições para essa alta
No dia 2 de julho, o Banco Central abriu espaço para os bancos comprarem mais dólares. O BC alterou uma norma, afrouxando uma exigência de capital das instituições operarem no mercado de câmbio. Ou seja, deixou os bancos com mais “munição” para pressionar as cotações.
No dia 26 de maio, o BC mudou uma regra para renovar a dívida pública atrelada ao dólar. Na prática, sinalizou que pretende vender menos papéis ao mercado para rolar os vencimentos. Com isso, os bancos “cobrem” essa oferta menor do BC comprando mais a moeda americana
3A euforia com os países emergentes acabou
Os papéis da dívida de países emergentes, como o Brasil, estão perdendo valor, porque, nas últimas semanas, os bancos começaram a desovar esses títulos. Eles vendem porque querem usar o dinheiro para comprar papéis do Tesouro dos EUA ou de companhias americanas, que estão em alta e oferecem ganhos mais seguros.
Desde o início do ano, os títulos brasileiros e de outros emergentes subiram muito, corrigindo o pessimismo que predominou no mercado no ano passado com as especulações sobre uma possível moratória no governo Lula. A expectativa de juros mais baixos no Brasil também favorece essa mudança de posição dos bancos, porque taxas menores significam rendimentos menores com os títulos brasileiros.
4O mercado especula com a política
Há também uma dose de especulação na alta do dólar. Quem comprou o dólar barato tem interesse em vender a moeda por um preço maior, lucrando com a diferença. Para criar o consenso de que a tendência do dólar é subir mais ainda, alguns investidores dramatizam suas previsões sobre os rumos dos projetos de reformas tributária e da Previdência no Congresso, aproveitando-se de eventos isolados, como os constantes recuos do Planalto nas negociações com os governadores, Poder Judiciário e servidores.
As invasões de propriedades pelos sem-terra e pelos sem-teto também são exploradas pelos investidores como pretextos para “temores” de uma crise institucional, cenário que ajuda a afugentar investimentos no país (entrada de dólares). No ano passado, quando o dólar bateu R$ 4, o mercado especulou que uma vitória de Lula na eleição presidencial provocaria uma moratória da dívida externa do país, o que não ocorreu
SÉRGIO RIPARDO
da Folha Online