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AOS 20 ANOS, CUT PRESSIONA POR MUDANÇAS NO GOVERNO LULA

Valor Econômico – Marli Olmos
A quinta maior sindical do mundo faz 20 anos hoje. Ontem, sobre a mesa do presidente da Central Única dos Trabalhadores, Luiz Marinho, estava o boné da CUT que toda a direção da entidade espera que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, use hoje à noite, durante a festa, em São Bernardo do Campo. Com mais de 3 mil sindicatos, a CUT representa 75% dos trabalhadores sindicalizados do país.
Oriundo da mesma base metalúrgica de Lula, Marinho diz que o fato de a central ter ajudado a eleger esse o governo, não significa que vai apoiá-lo em tudo que fizer. Segundo ele, ser amigo do presidente não significa “subordinação”. Por isso, a entidade vai continuar pressionando por mudanças. A seguir os principais trechos da entrevista ao Valor:
Valor: A CUT nasceu em meio a uma mobilização para as eleições diretas para presidente da República. Depois de 20 anos, um trabalhador que ajudou na criação da central é o presidente. Isso representa vitória do sindicalismo da CUT?
Luiz Marinho: O Lula foi o grande articulador do processo de criação da central. Havia sido cassado, mas participou ativamente. A CUT nasceu num processo de contestação do regime, militar. As centrais anteriores haviam sido massacradas pelos governos. Participou da construção de um novo momento, através da eleição presidencial do Lula. Se soubermos aproveitar, essa oportunidade coloca nas mãos da sociedade a possibilidade de definir novo rumo para o país.
Valor: O que a CUT não conseguiu fazer?
Marinho: A CUT é resultado da contestação do modelo sindical brasileiro. Mas não conseguimos consolidar uma mudança. Talvez esse seja o desafio imediato.
Valor: Como o sr. avalia o governo Lula?
Marinho: É um governo de muitas contradições. É reconhecidamente um governo de esquerda, mas para criar a governabilidade, fez composição com centro e com a própria direita. Isso coloca a necessidade de uma central como a CUT exercer um papel importantíssimo, para disputar agenda.
Valor: Como conciliar a cooperação com o governo sem perder de vista o papel da central?
Marinho: A melhor forma de a CUT ajudar o governo não é aderir na primeira hora em que o governo propõe, mas disputar com o próprio governo, pressionando e questionando. Para ajudá-lo a cumprir o que está reservado para um governo nessa fase no país.
Valor: Como evitar que os trabalhadores mais atingidos pelas reformas, como a da Previdência, contestem a conduta da central?
Marinho: Quando o Lula assumiu o governo alguns ditos “especialistas” do movimento sindical se apressaram em dizer que a CUT seria uma central governista e que, portanto, se enfraqueceria, perderia espaço, e outra central se fortaleceria. Veio a reforma da Previdência e a única central que se opôs ao conteúdo da reforma foi exatamente a CÚT. Isso é um exemplo de que a CUT apoiará o governo nos momentos em que apresentar propostas que coincidam com o que a CUT pensa e, da mesma forma, vai contestar medidas que achar que não correspondam ao interesse dos seus associados.
Valor: Divisões em torno da discussão da Previdência dentro da CUT não criam dificuldades?
Marinho: Há muita desinformação. Uma parcela do funcionalismo falou em sair da CUT para montar uma entidade, mas eles nunca estiveram na CUT. É evidente que a CUT não tem uma visão única. Mas tem visão clara de reconhecer que a reforma seja realizada. Porém, discorda do conteúdo. Por isso, vamos insistir enquanto durar a tramitação no Congresso.
Valor: O que é importante mudar?
Marinho: A retirada do redutor de 5% ao ano até o teto para proteger os baixos salários. O pessoal de altos salários faz muito barulho. .
Valor: A sua condução à Presidência da CUT contou com o apoio do Lula. Isso não aumenta a sua responsabilidade com o governo?
Marinho: Tenho muita honra de privar da amizade do presidente da República. Mas isso não significa subordinação. O papel da central é mais complexo: ajudou a eleger o governo, ajudou a construir essa histórica. Por isso, nesse momento, muita gente, “no automático” imagina que a CUT vai apoiar tudo que o governo fizer.
Valor: Vários nomes que estão no governo hoje saíram dos quadros da central. Isso não significa um vínculo com o governo?
Marinho: Sim. Vários. Quando me questionam se a CUT tem gente no governo eu respondo que há ex-cutistas que hoje pertencem ao governo, não à CUT.
Valor: Mas essas indicações têm a ver com o desempenho deles no movimento sindical?
Marinho: Claro. E, por isso, o governo veio ao movimento sindical buscar não apenas dirigentes, mas técnicos. Estamos até tendo que reformular quadros, procurando gente no mercado, universidades.
Valor: O sr. acredita que na reforma sindical a CUT possa ser negociadora trabalhista?
Marinho: Isso talvez seja um dos poucos consensos no movimento sindical e com os empresários.
Valor: Para o trabalhador, qual a vantagem do pluralismo sindical que vocês reivindicam?
Marinho: Queremos o conceito de liberdade e autonomia. Hoje os trabalhadores não têm liberdade para decidir a qual entidade querem se sindicalizar.
Valor: Em quanto tempo isso pode mudar?
Marinho: Vai demorar, vai acontecer em etapas. Há insegurança entre sindicatos, que não sabem se isso significará uma explosão ou desaparecimento de sindicatos.
Valor: E a discussão do contrato coletivo passa por isso?
Marinho: Passa. Seria importante garantir algumas mudanças, como a organização sindical no local de trabalho. A partir daí, seguiríamos para o conceito de grandes sindicatos. Devemos romper o conceito de divisão em várias categorias. Podemos ter uma entidade que represente, por exemplo, toda a indústria, ao invés de sindicatos dos químicos, metalúrgicos.
Valor: Hoje os sindicalistas estão tendo de negociar mais com as empresas. O papel dos sindicatos mudou nesses 20 anos?
Marinho: Há 20 ou 30 anos bastava fazer um discurso bravo. Hoje o dirigente precisa ter noções de economia, também no nível internacional. Precisa saber fazer o mapeamento de toda a cadeia produtiva, pensar na reestruturação de uma empresa, entender inovações tecnológicas. Muitas vezes isso significa prever o que a empresa vai fazer para poder influenciar e, acima de tudo, garantir a preservação dos postos de trabalho. Na Volkswagen, começamos em 95 a falar da necessidade de reestruturação da fábrica do ABC e investimento em novos produtos. Se não tivéssemos enxergado o problema com antecedência, certamente aquela fábrica, que estava velha, já estaria quase fechada.

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AOS 20 ANOS, CUT PRESSIONA POR MUDANÇAS NO GOVERNO LULA

Valor Econômico – Marli Olmos

A quinta maior sindical do mundo faz 20 anos hoje. Ontem, sobre a mesa do presidente da Central Única dos Trabalhadores, Luiz Marinho, estava o boné da CUT que toda a direção da entidade espera que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, use hoje à noite, durante a festa, em São Bernardo do Campo. Com mais de 3 mil sindicatos, a CUT representa 75% dos trabalhadores sindicalizados do país.

Oriundo da mesma base metalúrgica de Lula, Marinho diz que o fato de a central ter ajudado a eleger esse o governo, não significa que vai apoiá-lo em tudo que fizer. Segundo ele, ser amigo do presidente não significa “subordinação”. Por isso, a entidade vai continuar pressionando por mudanças. A seguir os principais trechos da entrevista ao Valor:

Valor: A CUT nasceu em meio a uma mobilização para as eleições diretas para presidente da República. Depois de 20 anos, um trabalhador que ajudou na criação da central é o presidente. Isso representa vitória do sindicalismo da CUT?

Luiz Marinho: O Lula foi o grande articulador do processo de criação da central. Havia sido cassado, mas participou ativamente. A CUT nasceu num processo de contestação do regime, militar. As centrais anteriores haviam sido massacradas pelos governos. Participou da construção de um novo momento, através da eleição presidencial do Lula. Se soubermos aproveitar, essa oportunidade coloca nas mãos da sociedade a possibilidade de definir novo rumo para o país.

Valor: O que a CUT não conseguiu fazer?

Marinho: A CUT é resultado da contestação do modelo sindical brasileiro. Mas não conseguimos consolidar uma mudança. Talvez esse seja o desafio imediato.

Valor: Como o sr. avalia o governo Lula?

Marinho: É um governo de muitas contradições. É reconhecidamente um governo de esquerda, mas para criar a governabilidade, fez composição com centro e com a própria direita. Isso coloca a necessidade de uma central como a CUT exercer um papel importantíssimo, para disputar agenda.

Valor: Como conciliar a cooperação com o governo sem perder de vista o papel da central?

Marinho: A melhor forma de a CUT ajudar o governo não é aderir na primeira hora em que o governo propõe, mas disputar com o próprio governo, pressionando e questionando. Para ajudá-lo a cumprir o que está reservado para um governo nessa fase no país.

Valor: Como evitar que os trabalhadores mais atingidos pelas reformas, como a da Previdência, contestem a conduta da central?

Marinho: Quando o Lula assumiu o governo alguns ditos “especialistas” do movimento sindical se apressaram em dizer que a CUT seria uma central governista e que, portanto, se enfraqueceria, perderia espaço, e outra central se fortaleceria. Veio a reforma da Previdência e a única central que se opôs ao conteúdo da reforma foi exatamente a CÚT. Isso é um exemplo de que a CUT apoiará o governo nos momentos em que apresentar propostas que coincidam com o que a CUT pensa e, da mesma forma, vai contestar medidas que achar que não correspondam ao interesse dos seus associados.

Valor: Divisões em torno da discussão da Previdência dentro da CUT não criam dificuldades?

Marinho: Há muita desinformação. Uma parcela do funcionalismo falou em sair da CUT para montar uma entidade, mas eles nunca estiveram na CUT. É evidente que a CUT não tem uma visão única. Mas tem visão clara de reconhecer que a reforma seja realizada. Porém, discorda do conteúdo. Por isso, vamos insistir enquanto durar a tramitação no Congresso.

Valor: O que é importante mudar?

Marinho: A retirada do redutor de 5% ao ano até o teto para proteger os baixos salários. O pessoal de altos salários faz muito barulho. .

Valor: A sua condução à Presidência da CUT contou com o apoio do Lula. Isso não aumenta a sua responsabilidade com o governo?

Marinho: Tenho muita honra de privar da amizade do presidente da República. Mas isso não significa subordinação. O papel da central é mais complexo: ajudou a eleger o governo, ajudou a construir essa histórica. Por isso, nesse momento, muita gente, “no automático” imagina que a CUT vai apoiar tudo que o governo fizer.

Valor: Vários nomes que estão no governo hoje saíram dos quadros da central. Isso não significa um vínculo com o governo?

Marinho: Sim. Vários. Quando me questionam se a CUT tem gente no governo eu respondo que há ex-cutistas que hoje pertencem ao governo, não à CUT.

Valor: Mas essas indicações têm a ver com o desempenho deles no movimento sindical?

Marinho: Claro. E, por isso, o governo veio ao movimento sindical buscar não apenas dirigentes, mas técnicos. Estamos até tendo que reformular quadros, procurando gente no mercado, universidades.

Valor: O sr. acredita que na reforma sindical a CUT possa ser negociadora trabalhista?

Marinho: Isso talvez seja um dos poucos consensos no movimento sindical e com os empresários.

Valor: Para o trabalhador, qual a vantagem do pluralismo sindical que vocês reivindicam?

Marinho: Queremos o conceito de liberdade e autonomia. Hoje os trabalhadores não têm liberdade para decidir a qual entidade querem se sindicalizar.

Valor: Em quanto tempo isso pode mudar?

Marinho: Vai demorar, vai acontecer em etapas. Há insegurança entre sindicatos, que não sabem se isso significará uma explosão ou desaparecimento de sindicatos.

Valor: E a discussão do contrato coletivo passa por isso?

Marinho: Passa. Seria importante garantir algumas mudanças, como a organização sindical no local de trabalho. A partir daí, seguiríamos para o conceito de grandes sindicatos. Devemos romper o conceito de divisão em várias categorias. Podemos ter uma entidade que represente, por exemplo, toda a indústria, ao invés de sindicatos dos químicos, metalúrgicos.

Valor: Hoje os sindicalistas estão tendo de negociar mais com as empresas. O papel dos sindicatos mudou nesses 20 anos?

Marinho: Há 20 ou 30 anos bastava fazer um discurso bravo. Hoje o dirigente precisa ter noções de economia, também no nível internacional. Precisa saber fazer o mapeamento de toda a cadeia produtiva, pensar na reestruturação de uma empresa, entender inovações tecnológicas. Muitas vezes isso significa prever o que a empresa vai fazer para poder influenciar e, acima de tudo, garantir a preservação dos postos de trabalho. Na Volkswagen, começamos em 95 a falar da necessidade de reestruturação da fábrica do ABC e investimento em novos produtos. Se não tivéssemos enxergado o problema com antecedência, certamente aquela fábrica, que estava velha, já estaria quase fechada.

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