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Desigualdade foi menor no primeiro ano de Lula

Menos desigualdade no mercado de trabalho, porém uma persistência histórica nas diferenças regionais, de gênero e de raça. A Síntese dos Indicadores Sociais de 2004, que reúne números sobre a realidade social brasileira, retratou um país com uma distância menor entre os rendimentos dos mais ricos e mais pobres, porém com mais trabalhadores na menor faixa de renda, indicando aumento da pobreza em 2003, no primeiro ano do governo Lula, marcado por estagnação econômica, queda da renda e aumento do desemprego. Os indicadores sociais, divulgados ontem pelo IBGE, continuaram avançando, repetindo desempenho observado nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso. A taxa de analfabetismo caiu de 11,8% entre os maiores de 15 anos para 11,6%, enquanto a mortalidade infantil atingiu 27,5 crianças para mil nascidas contra 28,4 em 2002.

— Foi um ano muito sofrido para o tecido social. Apesar da queda da desigualdade, não houve um impacto significativo nos indicadores sociais. Eles revelaram um quadro pouco favorável, principalmente no mercado de trabalho. Ficamos com a esperança que haja alguma mudança em 2004 — diz Ana Lúcia Saboia, coordenadora da pesquisa.

Em Brasília, a 2 maior desigualdade
O rendimento dos 10% mais ricos, que correspondiam a 14,34 salários-mínimos em 2002, caiu para 13,04 salários, uma redução de 9%. Queda superior ao rendimento médio dos 40% mais pobres, que passou de 0,8 salário-mínimo para 0,77, representando um recuo de 3%. Essa diferença reduziu a distância entre os rendimentos de 18 vezes para 16,9 vezes.

— Quando se olha o espaço entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres, essa redução na desigualdade é tênue, passou de 25,6 vezes em 2002 para 25,3 — diz Mauricio Blanco, economista do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets).

Mas esse comportamento médio da desigualdade no país não foi acompanhado com a mesma força no Sul (em Paraná e Santa Catarina a desigualdade subiu) e no Nordeste. Nesta região, a diferença caiu só de 18,8 vezes para 18,2. E, no Piauí, esse abismo de desigualdade ficou ainda maior: subiu de 27,6 para 32,8.

Em Recife ela aparece em bairros sofisticados, que convivem com 421 favelas que podem ser vistas tanto em Boa Viagem, na Zona Sul, quanto no Centro ou nas zonas Norte ou Oeste. O melhor exemplo podia ser observado na última quinta-feira no bairro do Parnamirim, um dos mais sofisticados da cidade, durante a demolição de uma favela de 192 palafitas. Uma multidão de miseráveis de uma outra favela tentava aproveitar o que sobrara da demolição para remendar seus barracos. Marisa Cruz, viúva com dois filhos, pode ser definida como excluída dos excluídos. Ela tentava colher o que restou dos casebres que tinham sido erguidos com o que seus antigos moradores conseguiram recolher do lixo da cidade.

— Há tempos não consigo emprego. Vivo com R$ 130 do bolsa-escola. O dinheiro mal dá para comer. Não posso comprar madeira para fazer minha casa. Vou aproveitar o que achar aqui para tapar os buracos do meu barraco.

Outra que tentava salvar madeiras velhas era Claudete Maria Virgínio, 29 anos, quatro filhos, de 14, 12, 11 e 6 anos. Viúva de marido biscateiro, ela vive hoje como catadora e mora em um casebre de um vão, onde tem uma cama velha, dois bancos e uma mesa. Analfabeta, ela mora na favela Abençoado por Deus.

— Vivo do que cato. De vez em quando aparece limpeza para fazer. Mas somando o que consigo tirar das duas coisas não dá nem meio salário-mínimo — afirma ela.

Tanto na Vila Vintém quanto na Abençoado por Deus, mais de 60% da população não conseguem renda maior do que meio salário-mínimo. Em Brasília, apesar do rendimento dos mais pobres ser maior (1,18 salário-mínimo), a desigualdade entre ricos e pobres é a segunda mais alta do Brasil. A diferença entre os rendimentos chega a 20,5 vezes. A empregada doméstica Elizângela Gomes Santana, 30 anos, faz parte da camada mais pobre da população do Distrito Federal. Com um salário de R$ 300, ela sustenta dois filhos — um de 8 anos e outro de 1 ano — e o marido, que está desempregado desde dezembro. A família mora na cidade satélite de Planaltina:

— As coisas estão mais apertadas hoje porque não sobra dinheiro. Além da comida, temos que comprar fralda, roupinhas de bebê e ainda material de construção para terminar a casa — diz Elizângela, que trabalha há cinco anos numa residência de classe média em Brasília.

O resultado contrasta tanto com a média brasileira quanto com a tendência da Região Centro-Oeste, onde todos os estados registraram queda na desigualdade. Em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, houve as maiores quedas na desigualdade do país.

Fonte: O Globo – Cássia Almeida, Luciana Rodrigues, Letícia Lins e Martha Beck

Por 12:38 Notícias

Desigualdade foi menor no primeiro ano de Lula

Menos desigualdade no mercado de trabalho, porém uma persistência histórica nas diferenças regionais, de gênero e de raça. A Síntese dos Indicadores Sociais de 2004, que reúne números sobre a realidade social brasileira, retratou um país com uma distância menor entre os rendimentos dos mais ricos e mais pobres, porém com mais trabalhadores na menor faixa de renda, indicando aumento da pobreza em 2003, no primeiro ano do governo Lula, marcado por estagnação econômica, queda da renda e aumento do desemprego. Os indicadores sociais, divulgados ontem pelo IBGE, continuaram avançando, repetindo desempenho observado nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso. A taxa de analfabetismo caiu de 11,8% entre os maiores de 15 anos para 11,6%, enquanto a mortalidade infantil atingiu 27,5 crianças para mil nascidas contra 28,4 em 2002.
— Foi um ano muito sofrido para o tecido social. Apesar da queda da desigualdade, não houve um impacto significativo nos indicadores sociais. Eles revelaram um quadro pouco favorável, principalmente no mercado de trabalho. Ficamos com a esperança que haja alguma mudança em 2004 — diz Ana Lúcia Saboia, coordenadora da pesquisa.
Em Brasília, a 2 maior desigualdade
O rendimento dos 10% mais ricos, que correspondiam a 14,34 salários-mínimos em 2002, caiu para 13,04 salários, uma redução de 9%. Queda superior ao rendimento médio dos 40% mais pobres, que passou de 0,8 salário-mínimo para 0,77, representando um recuo de 3%. Essa diferença reduziu a distância entre os rendimentos de 18 vezes para 16,9 vezes.
— Quando se olha o espaço entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres, essa redução na desigualdade é tênue, passou de 25,6 vezes em 2002 para 25,3 — diz Mauricio Blanco, economista do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets).
Mas esse comportamento médio da desigualdade no país não foi acompanhado com a mesma força no Sul (em Paraná e Santa Catarina a desigualdade subiu) e no Nordeste. Nesta região, a diferença caiu só de 18,8 vezes para 18,2. E, no Piauí, esse abismo de desigualdade ficou ainda maior: subiu de 27,6 para 32,8.
Em Recife ela aparece em bairros sofisticados, que convivem com 421 favelas que podem ser vistas tanto em Boa Viagem, na Zona Sul, quanto no Centro ou nas zonas Norte ou Oeste. O melhor exemplo podia ser observado na última quinta-feira no bairro do Parnamirim, um dos mais sofisticados da cidade, durante a demolição de uma favela de 192 palafitas. Uma multidão de miseráveis de uma outra favela tentava aproveitar o que sobrara da demolição para remendar seus barracos. Marisa Cruz, viúva com dois filhos, pode ser definida como excluída dos excluídos. Ela tentava colher o que restou dos casebres que tinham sido erguidos com o que seus antigos moradores conseguiram recolher do lixo da cidade.
— Há tempos não consigo emprego. Vivo com R$ 130 do bolsa-escola. O dinheiro mal dá para comer. Não posso comprar madeira para fazer minha casa. Vou aproveitar o que achar aqui para tapar os buracos do meu barraco.
Outra que tentava salvar madeiras velhas era Claudete Maria Virgínio, 29 anos, quatro filhos, de 14, 12, 11 e 6 anos. Viúva de marido biscateiro, ela vive hoje como catadora e mora em um casebre de um vão, onde tem uma cama velha, dois bancos e uma mesa. Analfabeta, ela mora na favela Abençoado por Deus.
— Vivo do que cato. De vez em quando aparece limpeza para fazer. Mas somando o que consigo tirar das duas coisas não dá nem meio salário-mínimo — afirma ela.
Tanto na Vila Vintém quanto na Abençoado por Deus, mais de 60% da população não conseguem renda maior do que meio salário-mínimo. Em Brasília, apesar do rendimento dos mais pobres ser maior (1,18 salário-mínimo), a desigualdade entre ricos e pobres é a segunda mais alta do Brasil. A diferença entre os rendimentos chega a 20,5 vezes. A empregada doméstica Elizângela Gomes Santana, 30 anos, faz parte da camada mais pobre da população do Distrito Federal. Com um salário de R$ 300, ela sustenta dois filhos — um de 8 anos e outro de 1 ano — e o marido, que está desempregado desde dezembro. A família mora na cidade satélite de Planaltina:
— As coisas estão mais apertadas hoje porque não sobra dinheiro. Além da comida, temos que comprar fralda, roupinhas de bebê e ainda material de construção para terminar a casa — diz Elizângela, que trabalha há cinco anos numa residência de classe média em Brasília.
O resultado contrasta tanto com a média brasileira quanto com a tendência da Região Centro-Oeste, onde todos os estados registraram queda na desigualdade. Em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, houve as maiores quedas na desigualdade do país.
Fonte: O Globo – Cássia Almeida, Luciana Rodrigues, Letícia Lins e Martha Beck

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