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Visões da Exclusão

Sueli Carneiro*

Está naturalizado no imaginário social um lugar para o negro e esse lugar é a pobreza, a miséria e a exclusão. Um lugar compatível com a idéia de inferioridade natural que lhe é atribuído ao negro desde os primórdios de nossa colonização.

Segundo o sociólogo Antônio Sérgio Guimarães, “em primeiro lugar, os negros (pretos e pardos) têm menos escolaridade, sua renda familiar per capita é quase que a metade dos brancos, têm família maior, residem em maior número que os brancos em áreas rurais e têm menor status ocupacional.”

Em segundo lugar diz o autor, há uma grande diferença de status e de renda, em desfavor dos negros, que se deve ao local da ocupação (nas áreas rurais a renda é quase 50% menor), expressa na diferença entre os estratos 1 e 2; assim como entre ocupações manuais e não manuais, expressa na diferença entre os estratos 3 e 4. Esses dois fatos demonstram a grande importância, em nossa hierarquia social, da educação (escolaridade exigida nos empregos não manuais) e do domicílio urbano. Mas, em todos os estratos ocupacionais, ou grupos de status, o rendimento dos negros é, em média, quase que a metade dos brancos (49%).

Em terceiro lugar para Guimarães, o sexo, além da cor, é um importante fator de discriminação em termos de rendimento e, portanto, de alocação da pobreza. Como sabemos o “trabalho doméstico ainda é, desde a escravidão negra no Brasil, o lugar que a sociedade racista destinou como ocupação prioritária das mulheres negras. Nele, ainda são relativamente poucos os ganhos trabalhistas e as relações se caracterizam pelo servilismo. Em muitos lugares, as formas de recrutamento são predominantemente neo-escravistas, em que meninas são trazidas do meio rural, sob encomenda, e submetidas á condições sub humanas no espaço doméstico”.

O DIEESE em parceria com o INSPIR – Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade Racial realizaram um outro estudo amplamente divulgado o Mapa da População Negra no Mercado de Trabalho que nos ilustram com dados chocantes: em Salvador, por exemplo, uma das cidades de maior concentração de população negra do Brasil, a taxa de desemprego da população economicamente ativa está assim distribuída: entre as mulheres negras é da ordem 27,6% contra 24,0% para os homens negros, 20,3% para as mulheres brancas e 15,2% para os homens brancos.

Em São Paulo, as taxas de desemprego encontradas de 25% para as mulheres negras, 20,9% para os homens negros, 19,2% para as mulheres brancas e 13,8% para os homens brancos.
Quando empregadas, as mulheres negras ganham em média metade do que ganham as mulheres brancas e 4 vezes menos do que ganham os homens brancos. Dados divulgados pelo Ministério do Trabalho/ Ministério da Justiça na publicação “Brasil, gênero e raça” demonstram o tamanho das desigualdades: o rendimento médio nacional entre negros e brancos em salários mínimos era: homem branco 6,3 SM; mulher branca 3,6 SM; homem negro 2,9 SM; mulher negra 1,7 SM.

As mulheres negras brasileiras compõem em grande parte, o contingente de trabalhadores em postos de trabalho considerados pelos especialistas como os mais vulneráveis do mercado de trabalho ou sejam: os trabalhadores sem carteira assinada, os autônomos, os trabalhadores familiares e os empregados domésticos.

A condição de vida das mulheres negras configura um verdadeiro matriarcado da miséria, uma expressão que designa a experiência histórica das mulheres negras brasileiras marcada pela exclusão, discriminação e rejeição social e a despeito disso o seu papel de resistência e liderança de suas comunidades miseráveis.

*Sueli Carneiro é pesquisadora do CNPQ e diretora do Geledés – Instituto da Mulher Negra

Por 12:53 Notícias

Visões da Exclusão

Sueli Carneiro*
Está naturalizado no imaginário social um lugar para o negro e esse lugar é a pobreza, a miséria e a exclusão. Um lugar compatível com a idéia de inferioridade natural que lhe é atribuído ao negro desde os primórdios de nossa colonização.
Segundo o sociólogo Antônio Sérgio Guimarães, “em primeiro lugar, os negros (pretos e pardos) têm menos escolaridade, sua renda familiar per capita é quase que a metade dos brancos, têm família maior, residem em maior número que os brancos em áreas rurais e têm menor status ocupacional.”
Em segundo lugar diz o autor, há uma grande diferença de status e de renda, em desfavor dos negros, que se deve ao local da ocupação (nas áreas rurais a renda é quase 50% menor), expressa na diferença entre os estratos 1 e 2; assim como entre ocupações manuais e não manuais, expressa na diferença entre os estratos 3 e 4. Esses dois fatos demonstram a grande importância, em nossa hierarquia social, da educação (escolaridade exigida nos empregos não manuais) e do domicílio urbano. Mas, em todos os estratos ocupacionais, ou grupos de status, o rendimento dos negros é, em média, quase que a metade dos brancos (49%).
Em terceiro lugar para Guimarães, o sexo, além da cor, é um importante fator de discriminação em termos de rendimento e, portanto, de alocação da pobreza. Como sabemos o “trabalho doméstico ainda é, desde a escravidão negra no Brasil, o lugar que a sociedade racista destinou como ocupação prioritária das mulheres negras. Nele, ainda são relativamente poucos os ganhos trabalhistas e as relações se caracterizam pelo servilismo. Em muitos lugares, as formas de recrutamento são predominantemente neo-escravistas, em que meninas são trazidas do meio rural, sob encomenda, e submetidas á condições sub humanas no espaço doméstico”.
O DIEESE em parceria com o INSPIR – Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade Racial realizaram um outro estudo amplamente divulgado o Mapa da População Negra no Mercado de Trabalho que nos ilustram com dados chocantes: em Salvador, por exemplo, uma das cidades de maior concentração de população negra do Brasil, a taxa de desemprego da população economicamente ativa está assim distribuída: entre as mulheres negras é da ordem 27,6% contra 24,0% para os homens negros, 20,3% para as mulheres brancas e 15,2% para os homens brancos.
Em São Paulo, as taxas de desemprego encontradas de 25% para as mulheres negras, 20,9% para os homens negros, 19,2% para as mulheres brancas e 13,8% para os homens brancos.
Quando empregadas, as mulheres negras ganham em média metade do que ganham as mulheres brancas e 4 vezes menos do que ganham os homens brancos. Dados divulgados pelo Ministério do Trabalho/ Ministério da Justiça na publicação “Brasil, gênero e raça” demonstram o tamanho das desigualdades: o rendimento médio nacional entre negros e brancos em salários mínimos era: homem branco 6,3 SM; mulher branca 3,6 SM; homem negro 2,9 SM; mulher negra 1,7 SM.
As mulheres negras brasileiras compõem em grande parte, o contingente de trabalhadores em postos de trabalho considerados pelos especialistas como os mais vulneráveis do mercado de trabalho ou sejam: os trabalhadores sem carteira assinada, os autônomos, os trabalhadores familiares e os empregados domésticos.
A condição de vida das mulheres negras configura um verdadeiro matriarcado da miséria, uma expressão que designa a experiência histórica das mulheres negras brasileiras marcada pela exclusão, discriminação e rejeição social e a despeito disso o seu papel de resistência e liderança de suas comunidades miseráveis.
*Sueli Carneiro é pesquisadora do CNPQ e diretora do Geledés – Instituto da Mulher Negra

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