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Fundações adotam o investimento responsável

Com a reputação arranhada pelas acusações de envolvimento na crise política, os fundos de pensão passaram a apostar no politicamente correto. Sessenta por cento das dez principais entidades fechadas de previdência privada do país começaram a adotar políticas de investimento socialmente responsável (ISR). Segundo levantamento feito pelas empresas de rating Management & Excellence e SR Rating, os fundos estão considerando condutas éticas, sociais e ambientais na hora de decidir sobre as compras de ações.

Para os fundos de pensão, a adoção desse modelo de negócio busca não só aumento da rentabilidade, como também da redução de riscos das aplicações de seus recursos e a melhoraria da imagem do sistema. “O uso das boas práticas não pode ser apenas um discurso bonito das fundações. Precisa estar no dia-a-dia desses investidores, seja como minoritários ou como controladores”, diz Manoel Cordeiro, diretor de investimentos da Valia, fundo de pensão dos funcionários da Vale do Rio Doce.

Para 40% das entidades pesquisadas, o uso de políticas de ISR tem importância relativamente alta para melhorar o retorno em relação ao restante da carteira. Na opinião de 60%, a relevância dessas práticas para diminuir os riscos é alta. O mesmo percentual vale para a avaliação dos fundos de que a adoção de critérios de ISR melhora a reputação dos fundos. “Empresas que se preocupam com ISR são empresas mais estáveis e transparentes, o que nos leva a acreditar que oferecem uma redução de riscos na hora da aplicação dos recursos”, diz Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Privada (Abrapp).

Segundo o Valor apurou, Petros (dos funcionários da Petrobras) e Previ (dos funcionários do Banco do Brasil) lideram o ranking dos fundos que têm níveis mais avançados de políticas de ISR. Ambos estão empatados em primeiro lugar, seguidos de Funcef (3º), Valia (4º) e Sistel (5º). O ranking brasileiro mostra uma tendência internacional de que os maiores fundos são também os mais dispostos a adotar políticas de ISR. Exatamente por terem muitos recursos, as grandes fundações puxam a fila das tendências, diz o presidente da Petros, Wagner Pinheiro.

Como no Brasil os fundos de pensão – com patrimônio de R$ 330 bilhões – têm sido historicamente o sustentáculo do mercado de ações, as empresas de capital aberto devem seguir a tendência dos fundos para não perder sua capacidade de atrair investimentos e permanecer na carteira das entidades. Mais do que pressão pura e simples, as fundações sentam no conselho de administração das companhias para ajudar na adoção das boas práticas, afirma Cordeiro, da Valia. “A pressão não vem apenas dos fundos, mas também dos investidores estrangeiros, que hoje já representam parcela significativa do mercado de capitais brasileiro”, afirma William Cox, diretor da Management & Excellence.

Para ele, os fundos de pensão e administradoras de recursos de terceiros americanas e europeus já praticam o ISR há bastante tempo, e devem começar a exigir das empresas brasileiras a mesma transparência e preocupação socioambiental que já exigem das companhias em seus países de origem. Em sua opinião, a adesão maciça dos fundos de pensão do Brasil, com execução prática de políticas de ISR, deve levar entre três e cinco anos. “O Brasil avança a um ritmo bom neste sentido, e se comparado a seus pares emergentes ou latino-americanos, está voando”, afirma William Cox.

Os três maiores fundos brasileiros (Previ, Petros e Funcef) já adotam políticas abertas de engajamento em questões de ISR, segundo publicaram em seus códigos de governança corporativa. O que falta a eles, segundo Cox, é uma política mais forte na etapa de seleção dos papéis. Isso, no entanto, já começa a acontecer. A Petros, por exemplo, acaba de definir na política de investimento que valerá entre 2006 e 2010 critérios de governança e responsabilidade social para escolher as companhias. “Eles serão decisivos. Daremos preferência para investir nas empresas com as maiores pontuações”, diz o presidente da Petros. Para isso, a fundação criou dois grandes grupos de questões que as empresas terão de responder sobre os temas. Na parte de responsabilidade social, há perguntas sobre balanço social, a relação da empresa com os funcionários e a sociedade, gestão para possíveis acidentes ambientais e a comunicação para o consumidor, no caso do produto causar algum dano à saúde. Já em governança, os temas são: se a empresa tem apenas ações ordinárias, quanto do capital social está no mercado, qual a política de dividendos e o nível de presença de representantes independentes no conselho de administração. Ao todo, a empresa poderá ter no máximo 30 pontos.

Dos seis fundos engajados com as empresas nas quais investem, 100% afirmam ter melhorado a governança corporativa das mesmas. E 60% reportam aumento de transparência das empresas e melhoria no relacionamento entre acionistas e gestores. Para Gustavo Pimentel, da SR Rating, esse resultado é animador, pois revela a correlação do engajamento com a melhoria das empresas em vários aspectos. O caso da Perdigão, na opinião de Cordeiro, da Valia, é um dos melhores exemplos. Quando sete fundos de pensão assumiram o controle, há mais de dez anos, a companhia tinha uma estrutura familiar arcaica e, por causa de uma gestão ruim, passava por dificuldades. Aos poucos, a administração tornou-se profissional, a companhia despontou, e controladores e minoritários passaram a ter igualdade de direitos. A empresa oferece, por exemplo, o direito dos detentores de ações PNs receberem 80% do valor pago ao controlador, no caso de venda da companhia (o “tag along”). A próxima etapa será a pulverização do capital da empresa no mercado, o que, para Cordeiro, é uma tendência no mercado.

O poder de pressão dos fundos para que as empresas se adaptem aos critérios do ISR deve aumentar ainda mais por causa da tendência de queda continuada da taxa básica de juros (Selic). Nesse cenário, parte dos investimentos dos fundos de pensão em títulos públicos deve migrar para outros papéis. “Essa é uma aposta do mercado para os próximos anos, principalmente porque a parcela alocada em renda variável já passou de 40% no ano de 1997, mas atualmente está na casa dos 30%”, observa Cox. Dentro da própria renda fixa, o presidente da Petros acredita que, com a queda dos juros, os investidores migrarão dos títulos públicos para os papéis privados, já obrigando as companhias a arrumarem a casa.

De fato, a parcela em renda variável não retornou ao patamar anterior principalmente pelos altos juros praticados no triênio 2003-2005, a despeito da retomada do mercado de capitais no período. “Com o viés de baixa dos juros, temos de buscar rentabilidade. E com o fortalecimento do mercado de capitais no Brasil, a tendência é diversificar. Só não podemos perder de vista o trinômio: liquidez, segurança e rentabilidade. Esse é o nosso dogma”, diz Fernado Pimentel. A Valia, por exemplo, possui 30% do patrimônio em ações podendo, segundo o seu estatuto, chegar a 35%, o que deve ocorrer nos próximos anos. “Não vamos investir em um monte de empresas. Entraremos em um grupo pequeno porém seleto de companhias. E a governança com certeza estará entre os aspectos dessas seleção”, diz Cordeiro.

No entanto, 20% dos fundos consideram que o mercado de capitais adaptado ao ISR ainda é fraco e comentam que a aplicação de filtros socialmente responsáveis tornam-se, assim, um fator limitante. Isso porque ao se aplicar critérios de ISR a carteira ficaria reduzida e aumentariam os riscos. “Mas não necessariamente a rentabilidade”, afirma Gustavo Pimentel, consultor da SR Rating.

Por esse motivo, as fundações investem não apenas em companhias que já adotam as boas práticas. “Com um patrimônio que representa 17% do PIB, seria impossível entrarmos apenas em companhias já preparadas. Temos uma tarefa importante de ajudá-las na adoção das boas práticas”, diz Cordeiro, da Valia.

Apesar de ainda dar os primeiros passos, a adoção de governança e responsabilidade social já avançou muito no Brasil. A carteira dos fundos de pensão é o espelho disso. Das 25 companhias nas quais a Valia tem participação, por exemplo, cerca de 90% já adotam parte das boas práticas, estima Cordeiro. Ele acredita que há três anos esse percentual não passava de 60%. Das 20 companhias nas quais a Petros está no bloco de controle, entre 40% e 50% têm práticas socialmente responsáveis e 90% delas possuem traços de governança. “A idéia de responsabilidade social é mais nova no Brasil. Mas é uma questão de tempo estar tão difundida quanto a governança”, diz Pinheiro, da Petros.

Outras dificuldades para adoção dos critérios de ISR são o fato de os benefícios financeiros serem incertos e a ausência de ferramentas para avaliar o retorno e o aumento da carga de trabalho de análise. O problema foi citado por apenas 20% dos pesquisados, mas que representam 69% dos investimentos em renda variável da amostra.

Por Robinson Borges e Daniele Camba – São Paulo – NOTÍCIA COLHIDA NO SÍTIO www.valoronline.com.br/valoreconomico.

Por 22:42 Notícias

Fundações adotam o investimento responsável

Com a reputação arranhada pelas acusações de envolvimento na crise política, os fundos de pensão passaram a apostar no politicamente correto. Sessenta por cento das dez principais entidades fechadas de previdência privada do país começaram a adotar políticas de investimento socialmente responsável (ISR). Segundo levantamento feito pelas empresas de rating Management & Excellence e SR Rating, os fundos estão considerando condutas éticas, sociais e ambientais na hora de decidir sobre as compras de ações.
Para os fundos de pensão, a adoção desse modelo de negócio busca não só aumento da rentabilidade, como também da redução de riscos das aplicações de seus recursos e a melhoraria da imagem do sistema. “O uso das boas práticas não pode ser apenas um discurso bonito das fundações. Precisa estar no dia-a-dia desses investidores, seja como minoritários ou como controladores”, diz Manoel Cordeiro, diretor de investimentos da Valia, fundo de pensão dos funcionários da Vale do Rio Doce.
Para 40% das entidades pesquisadas, o uso de políticas de ISR tem importância relativamente alta para melhorar o retorno em relação ao restante da carteira. Na opinião de 60%, a relevância dessas práticas para diminuir os riscos é alta. O mesmo percentual vale para a avaliação dos fundos de que a adoção de critérios de ISR melhora a reputação dos fundos. “Empresas que se preocupam com ISR são empresas mais estáveis e transparentes, o que nos leva a acreditar que oferecem uma redução de riscos na hora da aplicação dos recursos”, diz Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Privada (Abrapp).
Segundo o Valor apurou, Petros (dos funcionários da Petrobras) e Previ (dos funcionários do Banco do Brasil) lideram o ranking dos fundos que têm níveis mais avançados de políticas de ISR. Ambos estão empatados em primeiro lugar, seguidos de Funcef (3º), Valia (4º) e Sistel (5º). O ranking brasileiro mostra uma tendência internacional de que os maiores fundos são também os mais dispostos a adotar políticas de ISR. Exatamente por terem muitos recursos, as grandes fundações puxam a fila das tendências, diz o presidente da Petros, Wagner Pinheiro.
Como no Brasil os fundos de pensão – com patrimônio de R$ 330 bilhões – têm sido historicamente o sustentáculo do mercado de ações, as empresas de capital aberto devem seguir a tendência dos fundos para não perder sua capacidade de atrair investimentos e permanecer na carteira das entidades. Mais do que pressão pura e simples, as fundações sentam no conselho de administração das companhias para ajudar na adoção das boas práticas, afirma Cordeiro, da Valia. “A pressão não vem apenas dos fundos, mas também dos investidores estrangeiros, que hoje já representam parcela significativa do mercado de capitais brasileiro”, afirma William Cox, diretor da Management & Excellence.
Para ele, os fundos de pensão e administradoras de recursos de terceiros americanas e europeus já praticam o ISR há bastante tempo, e devem começar a exigir das empresas brasileiras a mesma transparência e preocupação socioambiental que já exigem das companhias em seus países de origem. Em sua opinião, a adesão maciça dos fundos de pensão do Brasil, com execução prática de políticas de ISR, deve levar entre três e cinco anos. “O Brasil avança a um ritmo bom neste sentido, e se comparado a seus pares emergentes ou latino-americanos, está voando”, afirma William Cox.
Os três maiores fundos brasileiros (Previ, Petros e Funcef) já adotam políticas abertas de engajamento em questões de ISR, segundo publicaram em seus códigos de governança corporativa. O que falta a eles, segundo Cox, é uma política mais forte na etapa de seleção dos papéis. Isso, no entanto, já começa a acontecer. A Petros, por exemplo, acaba de definir na política de investimento que valerá entre 2006 e 2010 critérios de governança e responsabilidade social para escolher as companhias. “Eles serão decisivos. Daremos preferência para investir nas empresas com as maiores pontuações”, diz o presidente da Petros. Para isso, a fundação criou dois grandes grupos de questões que as empresas terão de responder sobre os temas. Na parte de responsabilidade social, há perguntas sobre balanço social, a relação da empresa com os funcionários e a sociedade, gestão para possíveis acidentes ambientais e a comunicação para o consumidor, no caso do produto causar algum dano à saúde. Já em governança, os temas são: se a empresa tem apenas ações ordinárias, quanto do capital social está no mercado, qual a política de dividendos e o nível de presença de representantes independentes no conselho de administração. Ao todo, a empresa poderá ter no máximo 30 pontos.
Dos seis fundos engajados com as empresas nas quais investem, 100% afirmam ter melhorado a governança corporativa das mesmas. E 60% reportam aumento de transparência das empresas e melhoria no relacionamento entre acionistas e gestores. Para Gustavo Pimentel, da SR Rating, esse resultado é animador, pois revela a correlação do engajamento com a melhoria das empresas em vários aspectos. O caso da Perdigão, na opinião de Cordeiro, da Valia, é um dos melhores exemplos. Quando sete fundos de pensão assumiram o controle, há mais de dez anos, a companhia tinha uma estrutura familiar arcaica e, por causa de uma gestão ruim, passava por dificuldades. Aos poucos, a administração tornou-se profissional, a companhia despontou, e controladores e minoritários passaram a ter igualdade de direitos. A empresa oferece, por exemplo, o direito dos detentores de ações PNs receberem 80% do valor pago ao controlador, no caso de venda da companhia (o “tag along”). A próxima etapa será a pulverização do capital da empresa no mercado, o que, para Cordeiro, é uma tendência no mercado.
O poder de pressão dos fundos para que as empresas se adaptem aos critérios do ISR deve aumentar ainda mais por causa da tendência de queda continuada da taxa básica de juros (Selic). Nesse cenário, parte dos investimentos dos fundos de pensão em títulos públicos deve migrar para outros papéis. “Essa é uma aposta do mercado para os próximos anos, principalmente porque a parcela alocada em renda variável já passou de 40% no ano de 1997, mas atualmente está na casa dos 30%”, observa Cox. Dentro da própria renda fixa, o presidente da Petros acredita que, com a queda dos juros, os investidores migrarão dos títulos públicos para os papéis privados, já obrigando as companhias a arrumarem a casa.
De fato, a parcela em renda variável não retornou ao patamar anterior principalmente pelos altos juros praticados no triênio 2003-2005, a despeito da retomada do mercado de capitais no período. “Com o viés de baixa dos juros, temos de buscar rentabilidade. E com o fortalecimento do mercado de capitais no Brasil, a tendência é diversificar. Só não podemos perder de vista o trinômio: liquidez, segurança e rentabilidade. Esse é o nosso dogma”, diz Fernado Pimentel. A Valia, por exemplo, possui 30% do patrimônio em ações podendo, segundo o seu estatuto, chegar a 35%, o que deve ocorrer nos próximos anos. “Não vamos investir em um monte de empresas. Entraremos em um grupo pequeno porém seleto de companhias. E a governança com certeza estará entre os aspectos dessas seleção”, diz Cordeiro.
No entanto, 20% dos fundos consideram que o mercado de capitais adaptado ao ISR ainda é fraco e comentam que a aplicação de filtros socialmente responsáveis tornam-se, assim, um fator limitante. Isso porque ao se aplicar critérios de ISR a carteira ficaria reduzida e aumentariam os riscos. “Mas não necessariamente a rentabilidade”, afirma Gustavo Pimentel, consultor da SR Rating.
Por esse motivo, as fundações investem não apenas em companhias que já adotam as boas práticas. “Com um patrimônio que representa 17% do PIB, seria impossível entrarmos apenas em companhias já preparadas. Temos uma tarefa importante de ajudá-las na adoção das boas práticas”, diz Cordeiro, da Valia.
Apesar de ainda dar os primeiros passos, a adoção de governança e responsabilidade social já avançou muito no Brasil. A carteira dos fundos de pensão é o espelho disso. Das 25 companhias nas quais a Valia tem participação, por exemplo, cerca de 90% já adotam parte das boas práticas, estima Cordeiro. Ele acredita que há três anos esse percentual não passava de 60%. Das 20 companhias nas quais a Petros está no bloco de controle, entre 40% e 50% têm práticas socialmente responsáveis e 90% delas possuem traços de governança. “A idéia de responsabilidade social é mais nova no Brasil. Mas é uma questão de tempo estar tão difundida quanto a governança”, diz Pinheiro, da Petros.
Outras dificuldades para adoção dos critérios de ISR são o fato de os benefícios financeiros serem incertos e a ausência de ferramentas para avaliar o retorno e o aumento da carga de trabalho de análise. O problema foi citado por apenas 20% dos pesquisados, mas que representam 69% dos investimentos em renda variável da amostra.
Por Robinson Borges e Daniele Camba – São Paulo – NOTÍCIA COLHIDA NO SÍTIO www.valoronline.com.br/valoreconomico.

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