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Por 08:32 Sem categoria

Estabilidade do Real era falsa, diz Coutinho

Presidente do BNDES afirma que verdadeiro equilíbrio da economia veio em 2005, com a melhoria das contas externas

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse ontem que a estabilidade proporcionada pelo Plano Real “foi extremamente precária” e “vulnerável” às crises cambiais que culminavam em pressões inflacionárias e, conseqüentemente, em aumento da taxa de juros.

Diante de tal cenário, diz, a economia estava “incapacitada para o crescimento”.

Para Coutinho, a “verdadeira” estabilização da economia brasileira ocorreu a partir de 2005, com o crescimento das exportações, do saldo do balanço de pagamentos e das reservas internacionais.
“Esse crescimento, depois de 2005, solidificou de tal forma o balanço, aumentou as reservas, reduziu a vulnerabilidade externa e, finalmente, estabilizou verdadeiramente a economia brasileira.” Segundo ele, o Plano Real proporcionou “quase uma falsa estabilização”.

Na avaliação do presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), a estabilização pós-Real era “vulnerável às crises cambiais, que se traduziam em desvalorização abruptas do câmbio com impactos inflacionários”. Para conter a alta dos preços, o governo era obrigado “a subir as taxas de juros para neutralizar esses impactos inflacionários e derrubava a economia”, afirmou. “Portanto, a economia era incapacitada para o crescimento porque a estabilidade era muito precária.”

Com o maior ingresso de dólares no país especialmente por conta da alta nas exportações, diz, uma estabilidade “definitiva” foi conquistada só em 2005.

“Só podemos afirmar que a estabilização definitiva da economia veio em 2005, quando a robustez cambial brasileira viabilizou uma estabilização da taxa de câmbio e um horizonte de médio prazo [de estabilidade] em relação à inflação e à taxa de câmbio. A possibilidade de surpresas inflacionárias inesperadas a partir de depreciações cambiais abruptas é página virada”, observou.

Para Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e um dos mentores do Real, a declaração de Coutinho “é infeliz, arrogante e pretensiosa”. “Parece-me uma tentativa de “apropriação indébita” do Plano Real pelo PT”, disse.

Segundo Franco, o PT manteve a política econômica de Fernando Henrique Cardoso por “incapacidade de pensar em nada melhor” e teve êxito “principalmente em decorrência de uma conjuntura extremamente favorável”.

Em 1995, o superávit do balanço de pagamentos (conta que registra todas as transações econômico-financeiras realizadas pelo Brasil com o resto do mundo) era de US$ 12,9 bilhões. Foi se deteriorando com o regime de câmbio fixo adotado pelo Real, que resultou na acumulação de déficits na balança comercial por causa do crescimento das importações e da redução das exportações.

O déficit do balanço de pagamentos atingiu R$ 7,8 bilhões em 1999, ano em que se adotou o câmbio flutuante. No ano de 2001, o saldo voltou a ser positivo (US$ 3,3 bilhões), mas se ampliou nos últimos dois anos e chegou a US$ 30,6 bilhões em 2006. Ao mesmo tempo, a folga das contas externas permitiu ao governo acumular reservas internacionais, que passaram de US$ 37,8 bilhões em 2002 para US$ 85,8 bilhões em 2006.

Engordadas em parte pelas compras de dólares do Banco Central para conter a valorização do real, as reservas internacionais chegam a US$ 145,5 bilhões e se aproximam da dívida externa total de longo prazo do país (US$ 147,8 bilhões).

Por PEDRO SOARES – DA SUCURSAL DO RIO.

NOTÍCIA COLHIDA NO SÍTIO www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi2906200712.htm.
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O Brasil vai decolar ?

Adital – Viajeiro inveterado, sempre a trabalho, tenho penado em aeroportos e aeronaves. Salva-me a paciência, o hábito de ler e escrever. Aliás, não sou dado a impaciências. Indignação, sim. Prezo meu estado de espírito e as despachantes ou agentes de terra injustamente culpadas pelo caos aéreo.

De nada adianta descontar no elo mais frágil. A culpa não é das empresas voadoras, embora tenham a obrigação de assegurar o bom atendimento a seus clientes, incluídas alimentação de qualidade e hotelaria em caso de atrasos demorados.

De quem é a culpa? Segundo vozes ministeriais, de nossa incapacidade de tornar erótico o que é neurótico ou de identificar no afluxo de passageiros a prova cabal da prosperidade do país… Inventou-se agora novo índice de crescimento econômico: o Ica – Índice de Caos Aéreo. Talvez em homenagem a Ícaro.

Na busca de culpados – e agradecendo aos anjos dos céus do Brasil não ter ocorrido novos acidentes – o lado mais frágil são os controladores de vôo. Isso lembra a anedota do larápio pulando o muro com o porco no ombro. Surpreendido, pôs a culpa no porco que se atrevia a agarrar-lhe os costados…

E quem controla os controladores? Como exigir que sejam eficientes se carecem de suficiente qualificação, dominam mal o inglês e o soldo é irrisório? Punem-se os controladores sem que se apontem os verdadeiros responsáveis. De pouco vale o comandante da Aeronáutica dar explicação. A nação espera solução.

Agora os controladores estão sendo substituídos pelo pessoal da Defesa Aérea. Segundo Sérgio Mota, presidente da Associação dos Controladores de Vôo, os militares da Defesa Aérea entendem de proteção de nossas fronteiras aeronáuticas, mas não de tráfego de aviões de passageiros. E se houve melhora no caos na última semana se deve à redução do espaçamento entre as aeronaves que cortam os nossos céus. Ou seja, aumentou-se o risco de acidentes.

Se o caos fosse sinal de prosperidade, o aeroporto de Frankfurt seria o inferno. O que falta ao Brasil é planejamento estratégico. Também o transporte urbano anda estrangulado nas grandes cidades. Nossos metrôs são raros, caros e ampliam-se a passo de tartaruga. O número de ônibus clandestinos e de vans de origem suspeita demonstra o quanto a situação é preocupante. Quem dera o ministro dos Transportes fosse obrigado a ficar uma vez por mês no ponto de ônibus de uma capital na hora do pique. A cabeça pensa onde os pés pisam…

E a nossa malha ferroviária? O gato made in USA comeu. Obrigam-nos a consumir petróleo, seja para abastecer veículos automotores, seja na fabricação de asfalto, precário, que reveste nossas esburacadas rodovias, encarecendo o preço das mercadorias. Agora surge a proposta mirabolante de se construir um trem-bala entre Rio e São Paulo. Há demanda para tal novidade? Por que o Vera Cruz, tão confortável, faliu? E qual será o custo do quilômetro construído? Há que compará-lo ao custo similar em países desenvolvidos. Pelo guloso ralo de empreiteiras, muitos recursos públicos têm sido gautamamente tragados.

Por que nossas rodovias são mal recapeadas? Por que, à primeira chuva, retalham-se em crateras? As licitações exigem e fiscalizam prazos de validade, ou não passam de fajutos acordos entre corruptos, pondo em risco a vida de usuários e prejudicando a economia nacional? São perguntas que não querem calar.

E os idosos, como têm sido tratados pela empresas interestaduais de ônibus, obrigadas por lei a lhes facultar assentos?

Um país como o Brasil, que se ufana de estocar mais de US$ 100 bilhões, não tem o direito de oferecer à sua população – e aos turistas que atrai – transportes insuficientes, ineficientes, caóticos e falhos quanto à sua infra-estrutura. A culpa é sim do governo. Falta é os cidadãos se mobilizarem e pressionarem, sem o que jamais serão transportados a um futuro melhor, no qual o passageiro – de ônibus ou avião – seja considerado o que há de mais importante e cujos direitos sejam petreamente respeitados.

A sensação que dá, a nós, viajeiros compulsivos, é que trafegamos há meses num intrincado labirinto. Haverá saída? Quem é capaz de abri-la?

(Autor de “Treze contos diabólicos e um angélico” -Planeta-, entre outros livros).

Por Frei Betto, que é frei dominicano e escritor.

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