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Por 20:55 Sem categoria

Por que a mídia privada não consegue ver o Fórum Social Mundial?

A mídia mercantil é um caso perdido para a compreensão do mundo contemporâneo. Não por acaso a crise atual a afeta diretamente. Não tardará para que comecem as quebras de empresa de jornalismo por aqui também. E eles serão vitimas da sua própria cegueira, aquela que lhes impede de ver os projetos do futuro da humanidade, que passeiam pelas veredas de Belém.

Mais uma vez a mídia privada não consegue ver o FSM. Os leitores que dependerem dela ficarão sem saber o que acontece aqui em Belém. Por que? O que impede uma boa cobertura, se a riqueza de idéias, a diversidade de presenças, a força dos intercâmbios – como não se encontra em lugar algum do globo – estão todos aqui? Há jornalistas, algum espaço é dedicado pela imprensa ao evento, mas o fundamental passa despercebido.

O fundamental não tem preço – diz um dos lemas melhores do FSM. Enquanto o neoliberalismo e o seu reino do mercado tentam fazer com que tudo tenha preço, tudo se venda, tudo se compre, ao estilo shoping-center, o FSM se opôs desde o seu começo a isso, opondo os direitos de todos ao privilégio de quem tem poder de compra, incrementando sempre mais as desigualdades.

Um jornalista da FSP (Força Serra Presidente) se orgulha de ter ido a todos os Foros de Davos e, consequentemente, a nenhum Forum Social Mundial. A espetacular marcha de abertura do FSM retratada com belíssimas fotos por Carta Maior, foi inviabilizada pela mídia mercantil.

A cobertura se faz com a ótica com que essa imprensa se comporta, com os óculos escuros que a impedem de ver a realidade. O FSM, como tudo, é objeto das fofocas sobre eventuais desgastes do governo Lula – a obsessão dessa mídia. Não cobrem o dia do Forum PanAmazônico, não deram uma linha sobre o Forum da Mídia Alternativa, não ouvem os palestinos, nem os africanos ou os mexicanos. Nada lhes interessa. No máximo aguardam para ver se Brad Pitt e Angelina Jolie vão vir.

Seu estilo e sua ótica está feita para Davos, para executivos, ex-ministros de economia. Lamenta a imprensa que a América Latina, a África e a China estejam tão pouco representados em Davos. Mas o que teriam a fazer por lá? Não se perguntam, nem querem saber. Seus jornalistas não são orientados senão para seguir os passos de Lula e seus ministros.

Temas como os diagnósticos da crise e as alternativas, a guerra e as alternativas de paz, as propostas de desenvolvimento sustentável – fundamentais no FSM – estão fora da pauta. Nem falar da crise da própria mídia tradicional e das propostas de construção de mídias públicas e democráticas.

A mídia mercantil é um caso perdido para a compreensão do mundo contemporâneo. Não por acaso a crise atual a afeta diretamente. Não tardará para que comecem as quebras de empresa de jornalismo por aqui também. E eles serão vitimas da sua própria cegueira, aquela que lhes impede de ver os projetos do futuro da humanidade, que passeiam pelas veredas de Belém.

Por Emir Sader.

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Aviso urgente: cai a bilheteria de Davos!

Em Davos, sem nenhuma grande líder mundial, com os “intelectuais” do capitalismo em crise de identidade e com os “[i]big shots[/i]” do capital à beira de um ataque de nervos, o casal Pitt-Jolie resolveu mudar de endereço e dirigir-se aos trópicos. Talvez seja muito tarde.

Depois de anos seguidos “abrilhantando” as reuniões dos grandes capitalistas e dos governos mais conservadores do mundo nos salões do Fórum Econômico Mundial, em Davos, a Warner anunciou ontem (27/01/2009) a vinda do casal hollywoodiano Brad Pitt (*1963, Thelma & Louise, 1991) e Angeline Jolie (*1975, Lara Croft: Tomb Raider, 2000) ao FSM.

É verdade que o casal Jolie-Pitt sempre mostrou preocupações sociais. Assim, dos seis filhos do casal, três são adotados em países pobres do mundo: Maddox é cambojano; Zahara é etíope e Pax é vietnamita, enquanto Shiloh, Knox e Viviene são filhos biológicos do casal. Angeline foi nomeada embaixadora da “boa vontade” da ONU, em função de suas visitas e chamadas de atenção para a situação humanitária em Serra Leoa e na Libéria, e depois pelas preocupações com as vitimas dos desastres naturais espalhados pelo mundo. Aparentemente foi Angeline Jolie quem atraiu o parceiro de filmes (Mr. & Mrs. Smith, 2005) e marido para o “movimento social”. Nas últimas eleições americanas Brad Pitt fez campanha aberta por Barck Obama e, na Califórnia, fez uma doação de 100 mil dólares ao movimento gay visando garantir a uniao civil naquele estado (sob ameaça de uma cruzada cristã).

A opção de ambos foi, ao lado do roqueiro Bono Vox, do U-2, aderir à pauta “social” de Davos, com amplas campanhas de doações (especialmente ) para a África. Embora tenham vendido muitas camisetas para acabar com a fome na África, em especial Bono Vox, e tenham feito campanhas de doações de alimentos, nada nunca foi dito pelas celebridades em favor da anulação da divida externa destes países (afinal uma proposta levada a Davos pelo Presidente Lula da Silva! ), pelos termos profundamente desiguais do comércio entre os países europeus, Estados Unidos e os pobres países da África. Mas grave ainda: as terríveis patentes de alimentos ( cereais, leite em pó, etc… ), vacinas e medicamentos, centro das necessidades dos povos pobres do mundo, nunca foram questionadas pelos “artistas engajados” face to face aos seus anfitriões – exatamente os donos das patentes mais exploradoras do mundo!

De qualquer forma é curioso que somente no auge da crise mundial, quando o modelo neoliberal denunciado desde sua criação pelo FSM, o casal Pitt-Jolie volte-se agora para Belém. Em Davos, sem nenhuma grande líder mundial, com os “intelectuais” do capitalismo em crise de identidade e com os “big shots” do capital à beira de um ataque de nervos, o casal Pitt-Jolie resolveu mudar de endereço e dirigir-se aos trópicos. Talvez seja muito tarde.

O movimento social mundial, desde sempre defensor de alternativas radicais aquelas defendidas no Fórum Econômico, não precisa da bilheteria decadente de Hollywood/Davos. Ao contrário, hoje, Davos para ter qualquer respeitabilidade, precisa urgentemente buscar entender a pauta do FSM.

Por Francisco Carlos Teixeira, que é professor Titular de História Moderna e Contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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O filme não é mais aquele, mas Davos e o sistema não sabem

A conclusão de que o mundo, por mais insólito que se possa imaginar, tem uma feição única – aquela a que nos acostumaram os filmes de Hollywood – parece induzir que contra o velho não há o que fazer. Somos iguais desde as estrelas da Alfa, a Davos. Para o Fórum, o filme não é mais esse – mas que fazer?

No filme “Guerra nas Estrelas”, de Spielberg, há uma cena que parece sugerir, mais que tudo, o que vem a ser um dos lugares-comuns do sistema dominante não apenas nas artes. Há um deserto – ou coisa que o valha – a indicar um planeta qualquer no sistema solar. Aparentemente, tudo é estranho: os seres dos vários planetas que circulam tranquilamente pela cidade poeirenta, remetem à visão de um bestiário medieval. Mas é tudo a antecâmara de um baile de máscaras: logo os seres com a aparência de elefantes, robôs, patas de aranha e sabe-se lá mais o quê, entram numa espécie de saloon – aquele que aparece em todos os velhos filmes de faroeste.

A conclusão de que o mundo, por mais insólito que se possa imaginar, tem uma feição única – que é aquela a que nos acostumaram os filmes de Hollywood – parece induzir que contra o velho – ou o sistema – não há o que fazer. Somos iguais desde as estrelas da Alfa, a Davos.

No Fórum Social Mundial que se realiza em Belém, nada sugere o bestiário de antanho – mas os saris, os turbantes, os corpos pintados de alguns indígenas, a brancura quase à palidez dos europeus (espera-se que não tenham insolação com o calor de Belém) repisaram, no desfile de abertura, com mais de cem mil pessoas, que o mundo possível não é de outro planeta. Difícil estabelecer, no entanto, sequer como hipótese, que a diversidade cultural, que parece predominar também neste Fórum, termine, enfim, e de novo, na imutabilidade da tal cena de um saloon. Ou no duelo final fora dele. Sabemos que os índios raramente freqüentam bares; que os muçulmanos presentes ao evento, previsivelmente não marcam encontros com bebidinhas como parte do seu “happy hour”.

Há uma certeza generalizada, em suma, de que o mundo não se resolve em duelo finais em botecos ou em combates de rua: por mais que a oposição a Davos seja a palavra de ordem universal em Belém, a grande maioria dos que participam do Fórum Social Mundial afigura-se não se imaginar a partir para o confronto armado como nos sugerem as obras sobre as lutas sociais de Kathe Kolwitz ou de Gustave Doré.

A frase de Brecht, “Pobre do país que precisa de heróis” ao que tudo indica, vem a predominar no Fórum como uma espécie alerta, ou antes, de aquiescência justamente em relação à inutilidade dos tais derramamentos de sangue. A desgraça do mundo adviria da necessidade de alguém se tornar mártir para impor suas idéias e, com ela, as mudanças. Eric Hobsbawm defende uma tese quase insólita sobre a Primeira Guerra: ela se deu como uma espécie desejo coletivo, ou melhor, a crença à esquerda e à direita, do poder “regenerador” das carnificinas. E as revoluções, como a bochevique as justificariam, o que, afinal, milhões de mortos depois, não deu em nada. Ou em muito pouco.

Onde a lógica do confronto, do cruento não previsto pelo Fórum – mas temido por Davos?

Indiretamente parece ser esse um dos temas do Fórum. A diversidade cultural que deu origem à palavra “bárbaro” – para os gregos seria essa a definição do estrangeiros e seus costumes exóticos – difundiu-se ao longo da história, principalmente do Ocidente, como um mote para a supressão do outro. Parece residir também, em última análise, a regra do sistema que engendrou grande parte da arte principalmente do cinema, na versão mais completa que é a da indústria de Hollywood. E que, a propósito, encontraria no Fórum Social Mundial um contraponto inclusive ao que o sistema prevê; e que a história, em princípio não desmente.

E é, aliás, o que parece estar sendo relevado em Belém e que é o velho ramerrão do que se pode chamar de “filosofia de Saloon”. Passados oito Fóruns Sociais Mundiais não se sabe de incidentes ou de “atentados à propriedade” como fruto da pregação anticapitalista. Apesar de tudo, a afiliada da Globo, em Belém, não se deu por achada: tratou de pedir um destacamento inteiro da polícia de Choque, para se postar à frente do edifício que a abriga. O mesmo se deu com um hotel também na avenida: seu dono providenciou às pressas um engradamento à frente do saguão com homens da Guarda Nacional de sentinela. Crença inquebrantável de que tudo se resolva num duelo final?

Eram mais de cem mil pessoas na avenida Nazaré a gritarem sua discordância com o mundo inventado por Davos. Nada indica que essa gente queira seguir o roteiro daquela Guerra das Estrelas sempre presente no sistema e que, no frigir dos ovos, Spielberg e tutti quanti defendem.

Para o Fórum, o filme não é mais esse – mas que fazer?

Por Enio Squeff, que é artista plástico e jornalista.

ARTIGOS COLHIDOS NO SÍTIO www.cartamaior.com.br.

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