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G20 abriu caminho para fim da crise e reforma do FMI

Algumas das decisões tomadas na cúpula dos países do G20, realizada em Londres em abril, foram fundamentais para que o mundo começasse a sair mais cedo do que o previsto da crise econômica, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil.

Além disso, a cúpula do G20 reforçou o papel do Fundo Monetário Internacional (FMI) na economia mundial. O Fundo recebeu aportes de recursos que aumentaram a sua capacidade de emprestar dinheiro para países em dificuldades.

Os líderes das 20 maiores economias também anunciaram na cúpula de abril que anteciparão em dois anos a reforma de cotas do FMI, o que abre caminho para uma das principais reivindicações dos países emergentes, entre eles o Brasil: maior participação no Fundo. A próxima revisão de cotas do FMI, que acontece a cada cinco anos, será concluída até janeiro de 2011.

Na próxima reunião do G20, que acontece nesta semana em Pittsburg, os líderes das vinte maiores economias do mundo voltarão a discutir as reformas nas instituições internacionais que têm grande papel na administração da economia global.

Reforma do FMI

A reunião do G20 em Londres, há cinco meses, abriu espaço para uma reforma de vozes no FMI. A antecipação da reforma atende um pedido feito por países dos BRICs – Brasil, Rússia, Índia e China – que na véspera do encontro em Londres haviam dito que não contribuiriam para aportes extra de recursos para o Fundo até que houvesse uma revisão no sistema de cotas.

No entanto, durante o encontro do G20, os países dos BRICs recuaram e concordaram com o aporte extra. A revisão do Fundo, que acontece a cada cinco anos, foi antecipada para janeiro de 2011.

Para Arvind Subramanian, diretor da consultoria Peterson Institute for International Economics, sediada em Washington, a reforma do FMI é uma oportunidade para os países emergentes aumentarem a sua participação em um momento em que o papel do Fundo está sendo fortalecido.

“Eu acho que existe uma oportunidade [para maior participação dos emergentes no FMI], mas algumas coisas precisam acontecer”, diz Subramanian.

“Os países emergentes precisam se afirmar [na economia mundial] e, especialmente, eu acho que a Europa precisa estar disposta a abrir mão de um pouco do seu poder. A Europa está desproporcionalmente representada no FMI.”

“Nós não gostamos muito de falar isso, mas é inevitável que a Europa terá de ceder algum espaço”, afirma Berglöf, principal economista do Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento (EBRD, na sigla em inglês).

Para os analistas, a China é o país que ganhará mais espaço no FMI, já que seu papel na economia mundial é hoje muito maior do que no passado, o que teria sido provado na última crise.

“Pelo seu esforço na crise e pelo seu papel em apoiar a recuperação [da economia mundial], a China será reconhecida e isso se refletirá na forma como essas instituições internacionais são gerenciadas. Nas novas estruturas que virão, haverá um papel maior para a China, e também para o Brasil e para a Índia, entre outros países”, diz Berglöf.

O economista europeu acredita que a participação da China aumentará não apenas na redistribuição de cotas dos países, mas em outras formas mais profundas.

Parte dos fundos do FMI é formada por “Direitos Especiais de Saque” (SDR, na sigla em inglês), que é uma mistura das principais moedas usadas no comércio internacional e nos mercados financeiros. Hoje os SDR são formados por combinações de quatro moedas: dólares, euros, libra esterlina e iene. O economista europeu acredita que o iuan chinês provavelmente fará parte desta combinação de moedas no futuro próximo.

Tanto Berglöf quanto Subramanian também afirmam que deve se esperar uma mudança na forma como é escolhido o diretor-geral do FMI. Hoje o nome é decidido apenas por líderes dos países desenvolvidos, seguindo uma tradição de indicar sempre um europeu para o cargo. Em contrapartida, o Banco Mundial é sempre chefiado por um americano. Para os analistas, esse processo deve se tornar mais transparente e abrangente na medida em que outros países aumentam sua participação no Fundo.

G20 e a crise

Para muitos analistas, as decisões anunciadas pelo G20 em Londres, em abril, ajudaram a acelerar o fim da crise e o começo da recuperação mundial.

No comunicado final da reunião, os líderes dos países decidiram apoiar pacotes nacionais de estímulo fiscal, reforçar em US$ 250 bilhões os recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e criar um órgão para estipular regras internacionais para o sistema financeiro – o Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, em inglês).

Para analistas, as medidas anunciadas nos 29 itens do comunicado tiveram um importante significado político, por mostrarem que os líderes mundiais estavam buscando soluções coordenadas para combater a crise mundial.

“Eu acho que esta reunião do G20 foi muito importante para estabelecer uma estrutura de trabalho e por proporcionar uma sensação de estabilidade, principalmente devido ao reforço do FMI”, afirma Berglöf.

Ao fortalecer instituições globais – como o FMI e o Comitê de Estabilização – os líderes mundiais mostraram que a solução para a crise não partiria de ações isoladas de cada país.

Além disso, o fortalecimento destas instituições não foi meramente retórico, mas foi feito com desembolso de recursos. O FMI recebeu um aporte de US$ 250 bilhões para suas operações, concluído no final de agosto. Isso ampliou a capacidade do Fundo de emprestar dinheiro para países em dificuldades.

“O aporte ao FMI assegurou que até no caso da maior crise possível [em algum país] haveria recursos suficientes para lidar com o problema”, diz Berglöf.

Por Daniel Gallas – Da BBC Brasil em Londres

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O que é o G20?

* O G20 é o grupo da 20 maiores economia do mundo: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Autrália, Brasil, Canadá, China, Coréia do Sul, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Rússia, Turquia e União Européia.
* O G20 representa mais de 80% da riqueza global e mais de dois terços da população
* Os líderes voltam se reunem nos dias 24 e 25 de setembro em Pittsburg (EUA)

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Brasil mais forte no FMI não é crença, é realidade, diz ex-diretor

O ex-diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) e ex-ministro das Finanças da Espanha Rodrigo de Rato disse que o aumento da participação do Brasil e de outros emergentes no FMI não é uma questão de crença, mas sim uma “realidade objetiva”.

“O Brasil, como outros países, tem hoje um peso maior do que as suas cotas e pode esperar que isso se reflita [já]”, disse Rato em entrevista à BBC Brasil sobre a reforma de cotas do FMI prevista para janeiro de 2011.

Para ele, uma “boa notícia” da atual crise foi o fortalecimento de países emergentes, que estão ajudando na recuperação econômica.

“Esta crise é histórica do ponto de vista dos países industrializados, já que pela primeira vez na história, toda a OCDE teve crescimento negativo durante vários trimestres em 2008 e 2009, mas ainda assim a economia mundial teve possibilidade de ter crescimentos positivos, através dos países emergentes”, disse.

Rato é hoje um dos diretores da Lazard, empresa do setor financeiro. De seu escritório em Madri, ele conversou por telefone com a BBC Brasil.

BBC Brasil – Antes da atual crise mundial, muitas pessoas já diziam que o FMI precisava de uma reforma e que o papel da instituição no mundo estava ficando obsoleto. Mas desde o começo da crise, o FMI ganhou muita força. Pode-se dizer que o FMI ganhou com a crise?

Rodrigo de Rato – Eu não acredito que o FMI tenha ganho com a crise. Eu acho que o FMI respondeu à crise e tem sido muito útil para os países do mundo, demonstrou que é uma instituição essencial para a governança mundial e também para resolver os problemas macroeconômicos e financeiros dos países.

Durante os anos 2004 a 2007, havia em alguns lugares a crença de que os mercados de capitais privados poderiam resolver as crises sem nenhum problema. Mas com a crise, houve uma equivocada avaliação de risco por parte do setor privado e ele precisou mais uma vez da ajuda internacional. E por isso o FMI desempenhou um papel muito importante na solução da crise em geral. Pode-se dizer que o FMI estava preparado para atuar, com os instrumentos apropriados e com sua legitimidade global.

BBC Brasil – Um dos pontos da cúpula do G20 foi antecipar a reforma do FMI para 2011 em vez de 2013. O que o senhor acha que vai mudar nesta reforma?

Rato – A verdade é que a reforma do FMI como instituição está em processo ao longo do tempo. O mundo mudou desde 1944, e portanto o FMI já passou por várias reformas. Desde 2005, a instituição está em um processo de reforma para aumentar seu papel nas relações entre a economia financeira e a economia real, e ajudar os países a atingir a boa saúde do seu sistema financeiro, com um programa voluntário.

Também o FMI estava em um processo para melhorar seus instrumentos de resposta e prevenção de crises. Algumas [destas decisões] estão sendo finalmente colocadas em prática, como as facilidades para países emergentes que não tiveram problemas macroeconômicos, mas que podem necessitar de maior liquidez em algum momento.

E também o FMI está em um processo, que começou em Cingapura em 2006, de aumentar o peso dos países emergentes. Eu entendo que o G20 quer acelerar esse processo de governo e que os países emergentes tenham maior papel na instituição. Isso é um processo em andamento.

BBC Brasil – Quais são os países emergentes que terão um papel diferente no FMI, com esta reforma?

Rato – Não se trata de fazer uma lista, mas é inquestionável que há muitas economias emergentes que nos últimos dez, 15 anos aumentaram o seu tamanho e importância na economia mundial, tanto na Ásia como na América Latina. Há países que tinham um papel muito pequeno e limitado na economia mundial e que hoje têm responsabilidades importantes.

Uma das questões claras é que neste momento – em 2009 – mas também no próximo ano, a economia mundial vai depender das economias emergentes, e portanto são as economias emergentes que precisam ter maior responsabilidade. E uma parte disso é ter mais peso e voz no Fundo. Se você analisar o peso de algumas economias no mundo e comparar com as cotas que cada um tem no FMI, verá que há diferenças. E isso também acontece com economias industrializadas, como é o caso da Espanha. Mas são as economias emergentes que estão mais fora do compasso.

Mas não se deve criar blocos, como as economias do Sul contra as do Norte. O que acontece é que as economias industrializadas ou emergentes que aumentaram sua participação na economia mundial devem ter uma capacidade maior de voto, com mais cotas no FMI.

BBC Brasil – O senhor acredita que o Brasil e a China, por exemplo, são dois países que deveriam ter mais cotas e mais voz no FMI?

Rato – Não se trata de uma crença minha. É uma realidade objetiva. A China é a segunda ou terceira economia mundial, vai se tornar o principal exportador do mundo, provavelmente superando a Alemanha, e tem um nível extraordinário de reservas. É lógico que a China tenha não só mais voz como maior responsabilidade. E, além disso, todos reconhecem agora a importância desses países para a estabilidade financeira. Não só da China, como de outros países como a Alemanha, o Japão, o Brasil, que você mencionou, a Índia e o México.

Sendo o FMI o fórum de coordenação e de governança mundial, onde estão representados todos os países do mundo, e sendo o sistema de decisão do Fundo baseado em pesos – onde nem todos os países têm o mesmo peso – é lógico que estes pesos sejam revisados.

BBC Brasil – O que o Brasil pode esperar concretamente desta reforma do FMI? Mais cotas, somente?

Rato – O Brasil, como outros países, tem hoje um peso maior do que as suas cotas e pode esperar que isso se reflita [na reforma]. Mas não se trata só das cotas de um país, mas também de uma maior capacidade de influência do conjunto dos países emergentes. O Brasil, como outros países, se beneficia de uma instituição internacional que possa a qualquer momento dar financiamentos e ajudar os países a prevenir as crises e identificar os riscos macroeconômicos.

O fato de os países emergentes nesta crise terem sido menos afetados do que os países industrializados se deve a muitos desses emergentes – entre eles o Brasil – terem seguido políticas macroeconômicas de estabilização e que melhoraram sua resistência. Neste sentido, o trabalho realizado pelo FMI com alguns países, como o Brasil, foi útil. Esta é a diferença do Brasil de 2001 e 2002 para o Brasil de 2009. Não há dúvida de que a ajuda e o respaldo financeiro do Fundo foram muito úteis para que o Brasil possa ter aplacado os efeitos da crise mais eficientemente.

E isso é uma boa notícia para o mundo, o fato de que houve acontecimentos econômicos positivos em países como Brasil, Colômbia, Chile, Indonésia, Tailândia, China e Índia.

BBC Brasil – Os países emergentes não foram tão gravemente afetados pela crise quanto os países desenvolvidos. Pode se dizer que esta crise fortaleceu o papel dos emergentes no mundo?

Rato – Desde 2006 e 2007, aproximadamente 50% do crescimento mundial já estava nas mãos dos chamados países não-industrializados. No caso da Rússia, isso estava relacionado com o preço do petróleo, mas não há dúvidas de que países como China, Brasil, Índia e outros estavam cada vez mais dinâmicos e estáveis.

Esta crise é histórica do ponto de vista dos países industrializados, já que pela primeira vez na história, toda a OCDE teve crescimento negativo durante vários trimestres em 2008 e 2009, mas ainda assim a economia mundial teve possibilidade de ter crescimentos positivos, através dos países emergentes. E o caso mais claro é o da China, mas na América Latina também temos o caso do Brasil, Peru, Colômbia e Chile. E mesmo o México, que está sofrendo mais pela sua relação próxima com os Estados Unidos, é hoje uma economia muito mais estável.

Eu acredito que o mundo hoje tem fontes de crescimento mais diversificadas do que há 20 anos. Dois terços da economia mundial ainda dependem dos países industrializados, mas o fortalecimento dos países emergentes é uma boa notícia para eles e indica que há milhões de pessoas que têm mais oportunidades.

E aí eu acredito que o trabalho realizado pelos governos e pelas instituições internacionais – como o FMI, o Banco Mundial e o Pacto da Basiléia – compartilhando boas práticas só está fortalecendo o sistema internacional multilateral.

BBC Brasil – Quais são os maiores riscos para os emergentes no futuro próximo? O que poderia eventualmente enfraquecê-los?

Rato – Primeiro os riscos são financeiros, porque os mercados financeiros internacionais e os fluxos de capitais se ressentiram com a crise. Este risco continuará constante. Por um lado, isso deveria levar a políticas moderadas de expansão de gasto e também para os países se fazerem mais atraentes para os investimentos internacionais. Em segundo lugar, há riscos para as exportações e para o comércio internacional. A não-recuperação das economias industrializadas seria uma má notícia para os países emergentes, porque o papel deles segue muito importante.

E em terceiro lugar, esta crise permitiu que muitos países emergentes adotassem políticas anticíclicas, políticas fiscais e políticas monetárias expansivas, e é inquestionável que os emergentes precisam seguir sem que suas economias se desequilibrem. Se houve uma lição desta crise, é que as políticas macroeconômicas moderadas, de redução de dívidas, de contenção de despesas públicas e de melhora de competitividade foram muito úteis. Portanto, essa lição foi boa, e eles não devem se esquecer disso.

BBC Brasil – Algumas pessoas dizem que se a economia global se recuperar muito rapidamente da crise, muitos países industrializados não vão querer promover reformas na ordem econômica mundial. Isso é um risco?

Rato – Acho que não. Isso seria um terror. Como eu disse, a reforma do FMI já começou antes da crise em todos os pontos – em seus instrumentos, na coordenação multilateral, na identificação de riscos para a estabilidade financeira. Também já havia começado antes a reforma do peso dos países emergentes e não-emergentes. Portanto, não acredito que é só a crise que provocou isso, é a realidade.

A crise acelerou processos, mas a realidade já estava aí antes da crise. O Fundo pôs em marcha a reforma de cotas já no ano de 2006, portanto já há um tempo que pleiteamos essas questões. Os primeiros países que se beneficiaram foram México, Turquia, Coréia do Sul e China, e agora na segunda fase esta reforma beneficiará países como Índia e Brasil. Não posso acreditar que vamos voltar para o passado. A história vai na direção que vai, e por sorte esses países estão muito mais prósperos do que há 20 anos, e isso não faz mal a ninguém.

Por Daniel Gallas – Da BBC Brasil em Londres.

NOTÍCIAS COLHIDAS NO SÍTIO www.bbcbrasil.com.br.

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