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Por 22:33 Sem categoria

Outra Economia acontece no Outro Mundo Possível

Se um dos objetivos do Fórum é promover articulações entre atores da sociedade civil, fazer com que eles criem novos movimentos e façam suas propostas em um espaço democrático, foi isso que aconteceu com a Economia Solidária. Isso não é somente mérito do Fórum Social Mundial, é também do próprio movimento de Economia Solidária que viu no Fórum um espaço valioso para a articulação e proposição de novos debates e práticas.

Muitas são as críticas ao Fórum Social Mundial: existem aquelas que argumentam que os participantes do Fórum não têm apresentado propostas claras ao mundo neoliberal, que ele tem sua atuação restrita a alguns continentes ou que ele deveria ser organizado de maneira mais democrática. No entanto, algo que não se pode menosprezar é a capacidade que o Fórum Social Mundial teve, e ainda tem, de articular movimentos sociais, fazendo com que eles se fortalecessem e percebessem a sua luta como algo que faz parte da luta por outro mundo possível.

Pode parecer otimista demais da minha parte achar que o Fórum Social Mundial tem tanto impacto nas trajetórias dos movimentos sociais, contudo, a experiência da Economia Solidária mostra que o Fórum tem, sim, a sua importância, e esta não pode ser negada.

Economia Solidária é um movimento social que questiona as formas de produção e consumo na sociedade capitalista. É também uma prática utilizada para combater o desemprego e gerar trabalho e renda. Baseia-se a produção autogestionada por meio de cooperativas e associações de trabalhadores em que não há patrão nem empregados, e sim produtores que tem igual poder de decisão nos rumos dos empreendimentos. Nesse processo, a solidariedade e a colaboração são imprescindíveis, visto que são elas, e não a competição, que movem os trabalhadores a fazerem as coisas da melhor forma possível para que tudo dê certo.

O consumo passa a ter também outro valor, já que ele também deve ser solidário e não deve visar o consumo pelo consumo simplesmente. É
contraditório uma pessoa questionar o capitalismo e consumir produtos de grandes empresas que se beneficiam desse sistema. Esse é um movimento em que todas as práticas de produção e consumo devem ser repensadas de modo a não reproduzir as lógicas que querem combater.

Voltando ao Fórum Social Mundial, por que considero que a Economia Solidária é um bom exemplo para mostrar que o Fórum tem dado uma importante contribuição aos movimentos sociais? A Economia Solidária, desde o primeiro Fórum Social Mundial soube muito bem aproveitar o espaço que este proporcionava. Naquela época, esse movimento, no Brasil, não passava de organizações que estavam começando a descobrir que outras entidades faziam a mesma coisa que elas. Já tinham sido formadas algumas redes, mas era ainda algo muito incipiente.

Em 2001, no primeiro Fórum, houve um seminário sobre o tema organizado por gestores do governo do Rio Grande do Sul que teve a participação de mais de mil pessoas. Isso foi o que faltava para que as pessoas que trabalhavam nessas organizações percebessem que aquela era a hora de fazer alguma coisa. A partir desse acontecimento decidiram criar o Grupo de Trabalho Brasil de Economia Solidária (GT-Brasil) com a finalidade de articular o movimento para o próximo Fórum. Desde então, a Economia Solidária cresceu em um ritmo muito rápido, sempre utilizando o espaço do Fórum para organizar algumas de suas plenárias, encontros nacionais e internacionais.

Além disso, ao participar do Fórum Social Mundial, a Economia Solidária deu
sentido a sua luta. O movimento de Economia Solidária surgiu a partir de várias iniciativas, cada uma motivada por uma ideologia. Unir todas essas iniciativas e dar um sentido único a todas elas eram desafios que a Economia Solidária precisava superar a fim de construir, de fato, um movimento social. Esses desafios foram superados a partir do alinhamento da proposta da Economia Solidária à proposta do Fórum Social Mundial: um outro mundo possível precisa de outra economia, que já acontece.

Os militantes da Economia Solidária souberam muito bem utilizar o espaço do Fórum Social Mundial para se organizar. No entanto, esse uso só foi possível, e proveitoso porque o Fórum Social Mundial também mudou ao longo do tempo. Não foi só a Economia Solidária que aumentou, foi o Fórum que também deu mais espaço para a Economia Solidária. Esse aumento de espaço não foi algo pensado, imagino que na época, o Comitê Organizador do Fórum e o Conselho Internacional nem sabiam direito que movimento era esse que surgia. O que de fato aconteceu é que, em 2005, o Fórum
decidiu democratizar-se, enfatizar a autogestão e a sustentabilidade.

Essa mudança aconteceu por vários motivos, sendo que as experiências de Mumbai e do Acampamento Intercontinental da Juventude são os mais citados. Nesse momento quem poderia falar de autogestão? Quem sempre se preocupou com a produção sustentável? Quem estava dando uma alternativa não só teórica, mas também prática para o outro mundo possível?

Outros movimentos sociais também levantavam essas bandeiras, mas o que importa é que o Fórum Social Mundial tinha passado a ser um espaço em que a Economia Solidária poderia mostrar as suas propostas por meio de debates e práticas.

É possível que se essas mudanças não tivessem acontecido e a Economia
Solidária parasse de perceber o Fórum Social Mundial como um espaço importante para a discussão e articulação do movimento, ela se esforçasse menos para ocupar esse espaço.

Por outro lado, como o Fórum pode absorver as demandas desse movimento que precisava de espaços para articulação e divulgação de suas propostas, a Economia Solidária ainda hoje o utiliza para discutir questões internas e propor mudanças na forma de organização da produção e do consumo. Isso não acontece com muitos movimentos sociais. Em muitas situações há a criação de encontros dos movimentos em separado que acabam concorrendo com o Fórum Social Mundial. No caso da Economia Solidária muitas das atividades voltadas para debater a sua própria luta, seu desafios e conquistas ocorrem no próprio Fórum Social Mundial.

No Fórum de 2009, houve o Encontro Mundial de Economia Solidária e a Plenária sobre a construção de uma Economia Solidária Global, Justa e Equitativa. Em 2010 houve a Feira Mundial de Economia Solidária e o Fórum Social de Economia Solidária. Essas atividades supriram as necessidades dos participantes do movimento de discutir os seus desafios, propostas,
valores e de se articularem.

É importante conhecer às críticas ao Fórum Social Mundial, saber quais são as suas limitações, e seus desafios. Entretanto, não podemos esquecer que ele tem a sua importância na trajetória dos movimentos sociais. É certo que em muitos movimentos sociais ele não teve o impacto que teve na Economia Solidária, contudo, ao analisar essa experiência, podemos perceber que muito do que o Fórum Social Mundial se propõe a fazer ele conseguiu, pelo menos nesse caso.

Se um dos objetivos do Fórum é promover articulações entre atores da sociedade civil, fazer com que eles criem novos movimentos e façam suas propostas em um espaço democrático, foi isso que aconteceu com a Economia Solidária. Isso não é somente mérito do Fórum Social Mundial, é também do próprio movimento de Economia Solidária que viu no Fórum um espaço valioso para a articulação e proposição de novos debates e práticas.

Artigo baseado nos resultados de uma pesquisa sobre o Fórum Social Mundial e a Economia Solidária.

Por Paula Pompeu Fiuza Lima, que é bacharel em Ciência Política pela Universidade de Brasília. Contato: paulapompeu@gmail.com

ARTIGO COLHIDO NO SÍTIO www.cartamaior.com.br.

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