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Brasília concentrou desenvolvimento econômico do Centro-Oeste, constata Ipea

Brasília – O impacto da criação de Brasília para a economia do Centro-Oeste foi grandioso, apesar da desigualdade na distribuição de renda. De uma região agreste e inexplorada que, até 1960, representava pouco mais de 1% da produção regional, o Distrito Federal (DF) apresentou um acentuado crescimento nos últimos 50 anos até atingir, em 2007, ano do último dado disponível, cerca de 40% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) regional. O percentual não leva em consideração a população que habita e trabalha no entorno da capital.

Um estudo desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) constatou a importância da capital como um polo econômico para toda uma ampla área do interior do Brasil, que ultrapassa inclusive as fronteiras da Região Centro-Oeste.

Analisando somente o aspecto de participação no PIB, o trabalho do Ipea conclui que a proposição inicial de Juscelino Kubitschek para a construção da capital cumpriu-se em ampla medida. “O Centro-Oeste não é mais um vazio territorial, sem gente e sem atividade econômica significativa. Integrou-se ao conjunto do país, desenvolve seus potenciais e até determina, em boa medida, o potencial de toda a nação. O Distrito Federal desempenhou um papel relevante nessa transformação”, disse Milko Matijascic, coordenador do estudo.

A população do Distrito Federal saltou de pouco mais de 64 mil habitantes no ano de sua inauguração para cerca de 2,5 milhões de habitantes em 2007, representando um aumento de aproximadamente 3.700%. “Isso claramente influenciou o aumento da população no Centro-Oeste que aumentou de 2,4 milhões para 13,1 milhões no mesmo período, um crescimento de 430%, duas vezes mais que o aumento da população nacional (180%)”, constata o estudo que utilizou os números da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

Outra dado importante do estudo é o rápido aumento da proporção de domicílios chefiados por mulheres, bem acima do número nacional. Em 1978, o Distrito Federal possuía uma porcentagem menor de mulheres chefe de família (13,04% dos domicílios contra 14,12% no Brasil). Em 2008, os domicílios chefiados por mulheres no DF passam para 43,66% contra 33,43% do Brasil.

O estudo revelou ainda que há um contingente bem menor de domicílios com idosos no Distrito Federal que no resto do país, apesar disso, a proporção de idosos nos domicílios cresceu muito mais rapidamente no DF que no Brasil. Essa proporção saltou de 10,49% em 1978 para 20,25% em 2008.

Por Luciana Lima – Repórter da Agência Brasil. Edição: Aécio Amado.

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Brasília não tem sotaque e renega marcas de outros estados, diz estudiosa

Brasília – Cinquenta anos é pouco tempo para se formar um sotaque, mas, de acordo com linguistas, já existem tendências perceptíveis no modo de falar brasiliense. Na cidade que recebeu sotaques de todo Brasil, uma das tendências mais fortes é a perda das marcas mais características dos modos de falar de cada região, de acordo com a pesquisa realizada pela professora da Universidade de Brasília (UnB) Stella Maria Bortoni.

“Mesmo com pouco tempo, a curva melódica já está presente. Na fala de Brasília, não há traços muito marcados de outras regiões. O que era bem característico na fala dos que vieram para cá já não está presente na fala dos próprios filhos. As gerações de brasilienses, que hoje somam cerca de 50% da população do Distrito Federal, não proliferaram as marcas mais conhecidas do sotaque dos pais”, defende a professora.

Não se encontra na fala do brasiliense, por exemplo, o chiado do carioca e de outras cidades litorâneas que conviveram muito tempo com os portugueses. O “s” é pronunciado à mineira. Não há a ênfase e as interjeições dos gaúchos. Os erres puxados dos goianos e mineiros do sul do estado e do Triângulo desapareceram da fala dos filhos da capital. Também não se tem as vogais abertas dos baianos, nem o típico “t” e “d” dos pernambucanos e paraibanos. “Não são diferenças tão grandes assim, afinal, todos falamos português”, destaca a professora.

“Estas marcas que caracterizam os sotaques de todo país são as reconhecidas pelo senso comum. São aquelas que nos indicam com quem estamos falando. A tendência de que essas marcas desapareçam do falar do brasiliense é muito forte e é um indício de que o falar desse pedaço do Centro-Oeste poderá não ter marcas típicas”, analisa a professora, organizadora do livro O Falar Candango, que reúne 14 artigos sobre aspectos sociolinguísticos presentes na fala do brasiliense.

Stella Maris também percebeu diferenças no falar das comunidades que moram no Entorno do DF e de quem vive no Plano Piloto, e ainda de quem teve acesso à escola. “À medida que a pesquisa prosseguia, comecei a levar em conta a articulação de três movimentos, que expressam bem o que Brasília exibe na fala e na cultura de seus residentes. São eles: do rural para o urbano; do oral para o letrado; e do regional para o suprarregional”, destaca.

Nesses movimentos, a professora também identificou outros rompimentos. “A questão do rural para o urbano é muito relevante, pois Brasília foi construída em uma área de rica e tradicional cultura rural, com a qual a cidade rompe na medida em que ela própria representa a urbanização. A cidade, de fato, foi fundada em um período em que o Brasil todo experimentava uma rápida transição de um modus vivendi rural para o urbano.

O falar dos mais jovens ainda está repleto de expressões que funcionam como um fator de identificação. Entender a letra da música Eduardo e Mônica, de Renato Russo, por exemplo, seria possível apenas para os “iniciados” no “português candango”. Só em Brasília se anda de camelo (bicicleta) ou se pega um baú (ônibus). É aqui também que a meninada jovem chama os amigos de “véi”

A própria arquitetura também emprestou ao “falar candango” expressões que só fazem sentido no glossário da capital federal, onde “fazer uma tesourinha” significa para o motorista retornar utilizando o conjunto de retornos nos cruzamentos em forma de trevo entre as superquadras.

Por Luciana Lima – Repórter da Agência Brasil. Edição: Lílian Beraldo.

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Para urbanista, Brasília foi “atropelada pelo futuro”

Brasília – A capital futurista que reuniu conceitos do bem viver modernistas completa 50 anos e, na opinião do urbanista Frederico Flósculo, professor da Universidade de Brasília (UnB), “acabou atropelada pelo futuro”. O crescimento desordenado, a falta de consciência ambiental, os engarrafamentos, o transporte público insuficiente e precário, a ocupação desordenada do solo e os preços estratosféricos das moradias fizeram da cidade projetada pelo urbanista Lucio Costa uma capital com problemas semelhantes aos das demais áreas metropolitanas brasileiras.

“O futuro atropelou Brasília. O que aconteceu com Brasília ao logo dos 25 anos de autonomia política foi a mais absoluta perda de controle do território. São 25 anos de democracia e 25 anos de bagunça territorial”, avalia o urbanista que ressalta principalmente os problemas hídricos da cidade e a falta de capacidade ambiental de se construir um sistema de saneamento capaz de dar conta de uma população crescente que já supera dos 2,6 milhões de habitantes.

“Estamos em estresse hídrico e a maior parte da população está tirando água de onde não devia. Do lençol freático. Temos hoje mais de meio milhão de pessoas espalhadas em cerca de 550 loteamentos irregulares, ilegais”, exemplifica.

Flósculo cita um estudo realizado pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), a pedido dos militares, em 1979, que apontou a capacidade sanitária da região. Nessa época, os militares já haviam construído as expansões de Ceilândia, do Guará, Gama e Planaltina.

“Ele perceberam que estavam com um jogo urbano em andamento que ficava cada vez mais pesado e fizeram a seguinte pergunta: Considerando os recursos hídricos existentes, quanto a cidade poderá crescer de forma equilibrada? A Caesb fez um estudo brilhante, levantando da capacidade de cada córrego, de cada nascente e de cada rio. O estudo demonstrou que, para Brasília crescer de forma sustentável e ter água na torneira de todo mundo, a população do Distrito Federal não poderia passar de 2,4 milhões de pessoas. Esse limite dado na época foi ultrapassado há cerca de quatro anos”, explica.

Projeção feita pela Companhia de Desenvolvimento do Distrito Federal (Codeplan), com dados do IBGE, aponta para uma população próxima de 3.270.564 habitantes no Distrito Federal em 2030.

Para os urbanistas, Brasília é uma cidade projetada, mas não planejada. Inaugurada em 21 de abril de 1960, a cidade só teve seu primeiro plano de ordenamento territorial 19 anos depois, quando a cidade já tinha cerca de 800 mil habitantes. De acordo com Flósculo, esse primeiro plano foi o único que considerou a natureza delicada do Planalto Central.

“Brasília é uma terra de nascentes. Ao olhar o mapa do Brasil a gente vê as nascentes da Bacia Amazônica, da Bacia do São Francisco, e as nascentes da Bacia do Prata, todas partindo de um mesmo lugar. Trata-se de um lugar especial, com águas prístinas. Um lugar de encontro das águas. Nós, brasilienses, estamos nele. Isso fica muito bonitinho para a quiromancia, mas para o urbanismo é uma desgraça”, destaca.

“O saneamento básico usa todo esse ciclo de depuração que depende da força das águas. Do caminho das águas para o mar. Nós, por termos poucas águas, temos uma capacidade de depuração muito limitada. Brasília não é São Paulo. Se a gente pensar que pode ocupar o Planalto Central do Brasil de uma maneira alastrada como aconteceu na capital paulista e até no Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador, estamos redondamente enganados. Nós não temos capacidade ecológica para segurar o saneamento”, explica.

Por Luciana Lima – Repórter da Agência Brasil. Edição: Lílian Beraldo.

NOTÍCIAS COLHIDAS NO SÍTIO www.agenciabrasil.gov.br.

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