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Se tudo fosse igual

Há uma tese que corre em setores políticos distintos que, pelos equívocos que contém e pelas conseqüências desastrosas que gera, deve ser analisada com precisão. É a tese de que o PT e o PSDB seriam a mesma coisa, assim como os governos do FHC e do Lula.

A tese leva a uma espécie de “terceirismo” entre a direita e a esquerda, buscando definir uma eqüidistância em relação às candidaturas da Dilma e do Serra. Em 2006 essa posição levou a que alguns setores da esquerda propusessem o voto branco ou nulo diante da alternativa de Lula ou Alckmin, como se fosse igual para o Brasil qualquer um deles que fosse eleito.

Se os governos de FHC e Lula fossem iguais, a desigualdade teria diminuído e não aumentado durante o governo de FHC. Se fossem iguais, o extraordinário apoio popular que tem Lula teria sido dado também ao governo FHC que, ao contrário, terminou seu mandato com uma imensa rejeição da população brasileira.

Se fossem iguais, a reação do Brasil diante da mais grave crise econômica internacional desde 1929 teria sido a mesma de FHC em 1999: elevar a taxa de juros a 48%, pedir novo empréstimo ao FMI, assinar a corresponde Carta de Intenções (deles), cortar recursos das políticas sociais, aumentando a recessão e o desemprego, que levou o Brasil à uma profunda e prolongada recessão, de que só saímos no governo Lula.

Enquanto que o Lula reagiu diante da crise incentivando a retomada do crescimento da economia, baixando as taxas de juros, mantendo o poder aquisitivo dos salários, intensificando as políticas sociais, e fazendo assim que superássemos rapidamente a crise.

Se fossem iguais, não teria sentido a luta contra a ALCA – Área de Livre Comércio das Américas -, que FHC propugnava e que o governo Lula inviabilizou, para fortalecer os processos de integração regional. Dizer que são governos iguais ou similares é dizer que tanto faz privilegiar alianças subordinadas com os EUA ou aliar-se prioritariamente com os países do Sul do mundo, com os Brics entre eles.

Se fossem iguais os governos FHC e Lula, o Estado mínimo a que tinha sido reduzido o Estado brasileiro seria o mesmo que o Estado indutor do crescimento e a garantia da extensão dos direitos sociais da maioria pobre da população. O desenvolvimento, suprimido do discurso de FHC, foi resgatado como objetivo estratégico pelo governo Lula, articulado intrinsecamente a políticas sociais e de distribuição de renda.

Se fossem iguais, a maioria dos trabalhadores continuaria a não ter carteira de trabalho assinado, predominando o emprego informal sobre o formal. O poder aquisitivo dos salário teria continuado a cair, ao invés de ser elevado acima da inflação.

É grave que haja setores na esquerda que não consigam distinguir essas diferenças, entre a direita e a esquerda. Perdem a capacidade de identificar onde está a direita – o inimigo fundamental do campo popular -, correndo o grave risco de fazer o jogo dela, em detrimento da força e da unidade da esquerda.

Por Emir Sader.

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Imperialismo a la carte

A coligação tucadema inventou o imperialismo a la carte, isto é, ao gosto do freguês. Funciona mais ou menos assim: como estamos em campanha, podemos fazer do nosso discurso um móbile (que pós-moderno!), uma instalação (que vanguardismo!) ao gosto do freguês que nos ouve.

A campanha tucadema acaba de inventar um novo conceito geopolítico: o imperialismo a la carte.

Lá nos tempos idos do colonialismo, ainda que os impérios tivessem conceitos próprios e os aplicassem religiosamente (o termo vem a calhar), predominava uma concepção de conquista que a gente pode chamar de “no varejo”.

Ou seja, conforme as circunstâncias, os métodos aplicados tinham uma certa maleabilidade, inclusive aquela do “dividir para vencer”. No futuro Brasil, os portugueses foram doutores nisso. Iam dividindo e conquistando as tribos, fazendo-as inimigas umas das outras, destruindo primeiro as inimigas, depois destruindo ou engolindo através da assimilação, forçada ou não, as aliadas. Também os métodos da conquista variavam de continente para continente (basta estudar o teatro dos conquistadores nas Américas e na Ásia para dar-se conta disso).

Já nos tempos imperialistas propriamente ditos, os ingleses refinaram o método. Nas Américas sua ocupação era de um tipo, na África outro, na Ásia outro. Na China chegou a haver uma espécie de condomínio imperialista, uma espécie de “joint venture” avant-la-lettre, na qual os Estados Unidos já entraram. Nas Américas os britânicos praticaram à larga a “joint-venture” com as oligarquias que açambarcaram os movimentos independentistas.

No século XX, veio novo refinamento. Os movimentos nacionalistas, as disputas ideológicas e a Guerra Fria impuseram um tipo de “satelização” – manu militari ou pata econômica, ou ambas, – dos territórios e povos-alvo. Ou seja, estes tornavam-se uma espécie de “filial” dos vitoriosos, uma casa de negócios com gerência própria, mas não autônoma: quem determinava o cardápio e quem comia o quê era uma política negociada com a matriz.

O fim da Guerra Fria trouxe de vez o imperialismo no atacado. A potência supra-dominante impõe tudo: cardápio, entrada, prato principal, sobremesa e bebidas, tudo servido goela abaixo do freguês. É que, definitivamente, nos territórios-choque, a guerra deixou de vez de ser a extensão da política, como queriam os clássicos do ramo, e passou a ser a razão de ser da política. Nos territórios onde não há ou não havia guerra armada, a política passou a ser, nesta visada, ou patada, a extensão da economia concebida como guerra, e às vezes de extermínio, sobretudo de sonhos, alternativas, desejos outros, essas quireras que de uma vez por todas os povos subalternos não devem ter ou só podem ter de maneira comedida – quer dizer, medida pelos dominantes.

Pois agora, nesse quadro dramático da cena mundial, a coligação tucadema inventou o imperialismo a la carte, isto é, ao gosto do freguês. É mais democrático do que as versões anteriores, não resta dúvida. Funciona mais ou menos assim: como estamos em campanha, podemos fazer do nosso discurso um móbile (que pós-moderno!), uma instalação (que vanguardismo!) ao gosto do freguês que nos ouve. Ah, ele tem medo das Farc e do narco-tráfico? Então tome lá doses maciças nas manchetes da mídia “sempre alerta” de narco-Farc, sempre grudado isso, como “tags”, nos perfis da candidata da situação, e se não foi ela foi seu antecessor, e se não foi ele foi o partido, e se não foi o partido foi seu pai ou seu avô, como na fábula do La Fontaine, versão Monteiro Lobato.

Ah, os nossos correligionários têm preconceito contra “bugre”? Então pau no Evo Morales, no Lugo, e vamos chamar a política brasileira de igualdade no continente de filantropia, porque disso eles também não gostam. Ah, mas o freguês acha também que civilização é comer pizza em Miami. Então acrescenta aí no menu oferto mais uma dose dupla de subserviência aos impérios dominantes, para garantir os (supostos) privilégios das migalhas que caem da mesa só para “nós”, os que sabemos o que “política” e “civilização” devem ser. E por aí vai. A política, assim concebida, se transforma numa espécie de “portal de fragmentos” (ia dizer “colcha de retalhos”, mas para os tucademos isso é coisa de atrasado), colhidos ao acaso. Porque não há responsabilidade no dizer, não há aliados a construir.

A coligação da direita brasileira chegou a virar as costas à própria oposição venezuelana quando esta veio implorar-lhes que votassem pela aceitação do seu país no Mercosul. Esses fragmentos são colhidos ao acaso – conforme o rosto do freguês que está na frente e o que diz o marketing de hoje – mas não são concebidos assim. Eles fazem parte de um discurso articulado, que prega a subserviência em política internacional diante dos impérios e a arrogância ou o ignorar diante dos mais fracos. Mas como isso assim não pode ser dito na lata, então é necessário esfrangalhar o próprio discurso nesse esmerilho de pequenas farpas acusatórias do outro lado, para ir grudando nas suas vestimentas os “tags” do medo e também da falta de respeito para com os outros.

Pois é isso que a “massa cheirosa” quer.

Por Flávio Aguiar, que é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.

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O Globo estabelece novo padrão de manipulação jornalística

Nestes sete anos e meio de governo Lula eu já tinha visto todo tipo de manipulação da imprensa a favor dos tucanos e contra o governo petista, mas o jornal O Globo de hoje desce mais um degrau rumo ao fundo do poço da credibilidade jornalística: numa matéria sobre declarações de Aloizio Mercadante o jornal simplesmente usou a resposta a uma pergunta, feita por um jornalista sobre um determinado assunto, como resposta a outra pergunta, de outro jornalista, sobre outro assunto! Parece absurdo demais, mas é a verdade. O artigo é de Jorge Furtado.

Do blog de Jorge Furtado

Acho que conheço bastante bem o episódio dos “aloprados”, um dos mais vergonhosos momentos da história da imprensa brasileira, uma tentativa de golpe nas vésperas do primeiro turno da eleição presidencial de 2006, orquestrada pelos principais veículos da mídia, alguns integrantes da Polícia Federal e do Ministério Público e pelos partidos de oposição, e estranhei muito o tal “mea culpa” de Aloizio Mercadante publicado na edição de hoje (29/07/2010) de O Globo.

Segundo o jornal, Mercadante teria admitido “um grave erro”.

A matéria de O Globo tem uma chamada, que está na capa da edição on-line:

MEA CULPA

A manchete:

Mercadante assume grave erro na campanha de 2006

Uma frase em destaque:

“Evidente que o erro é nosso. Nós que não fomos capazes de convencer o eleitor”.

Os dois parágrafos iniciais da matéria, na íntegra:

Candidato ao governo de São Paulo por uma coligação de 11 partidos, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) admitiu nesta quarta-feira que cometeu um “grave erro” na campanha eleitoral de 2006 ao ter seu nome envolvido no escândalo conhecido como dos “aloprados do PT”. Um de seus assessores foi acusado de comprar por R$ 1,7 milhão um suposto dossiê contra o então candidato José Serra (PSDB) ao governo paulista. Mercadante disse que a denúncia foi arquivada e que nunca foi réu em processos que envolvem a administração pública.

– Nunca fui réu em nenhum processo em relação a administração pública. Nenhuma denúncia. Sou bastante rigoroso e bastante exigente. No entanto, aconteceu. Acho que foi um grave erro. Mas consegui (o arquivamento da ação), através do Ministério Público rigoroso, não o engavetador geral do passado. (…) Evidente que o erro é nosso. Nós que não fomos capazes de convencer o eleitor – disse o senador durante sabatina promovida pelo portal UOL e pela “Folha de S.Paulo”.

http://oglobo.globo.com/pais/eleicoes2010/mat/2010/07/28/mercadante-assu…

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O texto segue o padrão de mixórdia muito em voga na antiga imprensa, onde não se distingue o que é incapacidade no uso da língua e o que é má-fé. Segundo o texto, Mercadante teria admitido que “cometeu” um “erro grave” “ao ter seu nome envolvido” no tal escândalo. Qual o erro cometido (e supostamente admitido) por Mercadante? O texto não informa.

Segundo o texto, um dos assessores de Mercadante “foi acusado de comprar um suposto dossiê”, o que já é mentira, ninguém foi acusado de comprar nada, até porque não houve compra alguma. Os tais assessores (Valdebran Padilha e Gedimar Passos) foram detidos porque supostamente iriam comprar um suposto dossiê, num caso único na história mundial onde uma prisão por flagrante foi efetuada antes do (suposto) crime acontecer, se é que algum crime aconteceria. Os dois foram imediatamente soltos, é claro, já que todo o procedimento da polícia e do Ministério Público no caso foi grosseiramente eleitoreiro e tecnicamente bizarro.

A única concretude entre tantas suposições era a necessidade de se produzir manchetes a tempo de influenciar as pesquisas eleitorais antes do primeiro turno da eleição, plano que se cumpriu. (O que não estava previsto era a fragilidade do candidato oposicionista, Geraldo Alkmin, que posou para fotos vestindo uma jaqueta ridícula com logotipos de empresas brasileiras, prometeu vender o avião presidencial para construir um hospital e, outro fato inédito na história mundial, acabou tendo menos votos no segundo turno do que no primeiro.)

O texto de O Globo segue citando Mercadante que, supostamente, teria afirmado: “Evidente que o erro é nosso. Nós que não fomos capazes de convencer o eleitor”. Esta frase aparece em destaque nas páginas de O Globo e, ao meu ver, não fazia sentido algum. O erro é nosso? A que erro Mercadante se refere? E por que o verbo no presente? Se ele se referia a um episódio de 2006 não deveria ter dito, se é que disse alguma coisa, “o erro FOI nosso”? A que “grave erro” (conforme a manchete) Mercadante se refere? A respeito de que não foi capaz de convencer o eleitor?

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Na tentativa de preencher tantos furos da matéria de O Globo, fui em busca da entrevista no UOL. (Chega a ser engraçada a dificuldade que a antiga imprensa tem de entender o quanto encurtaram as pernas da mentira no mundo dos arquivos digitais).

Assisti a entrevista, na íntegra.

Aos 11:10 o jornalista Irineu Machado diz a Mercadante, que criticava a administração tucana em São Paulo, que o PT não foi capaz de vencer as eleições para o governo paulista. O jornalista pergunta:

IRINEU MACHADO pergunta:
O senhor acha que o erro foi do partido ou do eleitor que não soube escolher?

MERCADANTE responde:
Não, evidentemente que a deficiência é nossa, nós que não fomos capazes de convencer a sociedade de votar na mudança.

Quarenta e dois minutos depois (aos 53:00), o jornalista Fernando Canzian puxa o assunto dos “aloprados”:

FERNANDO CANZIAN pergunta:
Em 2007 o senhor foi indiciado pela polícia federal por acusação de participação na compra de um dossiê de 1,7 milhões de reais contra tucanos aqui em São Paulo. Acabou tento impacto negativo na sua eleição, o senhor perdeu a eleição em São Paulo. O STF depois arquivou mais o caso foi rumoroso, o caso dos aloprados do PT, o senhor esteve diretamente envolvido.

MERCADANTE responde:
Eu já respondi isso outras vezes pra você, você usou uma frase que você não sustenta, “esteve envolvido”, eu não tive nenhum envolvimento. O que a Polícia Federal fez: “Eu não consigo explicar, quem tem que explicar é o Mercadante”, o que é uma coisa juridicamente inacreditável. Tanto que o Procurador Geral da República, o Ministério Público falou: “Não existe um único indício de participação do Mercadante”. Não foi só o Procurador da República, o mesmo que enquadrou dezenas de deputados, senadores, cassou 4, 5 governadores, pôs na cadeia um governador, esse mesmo procurador disse: “Não existe nenhum indício de participação do Mercadante nas 1.100 páginas que tem o inquérito”. E mais: o Supremo, por unanimidade, arquivou e anulou qualquer menção ao meu nome. Então isso para mim está mais do resolvido e explicado. Agora, na vida é assim: pros amigos você não precisa explicar e para os inimigos não adianta.

MÔNICA BERGAMO pergunta:
Mas eles eram da equipe da sua campanha. O eleitor não pode olhar e falar: Será que o senador é cuidadoso na escolha da sua equipe?”

MERCADANTE responde:
Depois de 20 anos de vida pública você nunca me viu envolvido num ato de corrupção. Nunca fui réu num processo de administração pública, uma denúncia. Portanto, eu sou bastante rigoroso e bastante exigente. No entanto aconteceu, acho que foi um grave erro e eu consegui, através do Ministério Público, rigoroso, que não é o engavetador geral da república que tinha no passado, foi o mesmo que denunciou e cassou vários parlamentares, prefeitos e governadores. Esse episódio mostrou para mim o quanto é importante a justiça.

Vídeo da entrevista completa em:
http://eleicoes.uol.com.br/2010/sao-paulo/ultimas-noticias/2010/07/28/me…

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Em nenhum momento Mercadante se refere ao episódio dos “aloprados” dizendo que “evidente que o erro é nosso”.

Em nenhum momento Mercadante afirmou não ter conseguido convencer o eleitor a respeito de algo sobre o episódio dos aloprados.

O “grave erro” a que Mercadante se refere foi de integrantes da sua equipe.

Ao usar a resposta a uma pergunta, feita por um jornalista sobre um determinado assunto, como resposta a outra pergunta, de outro jornalista, sobre outro assunto, o jornal O Globo estabelece um novo padrão de manipulação jornalística. E ainda faltam dois meses para a eleição.

Quando Dilma ultrapassar Serra em todas as pesquisas, no início da propaganda eleitoral, o que mais eles vão inventar?

Por Jorge Furtado.

ARTIGOS COLHIDOS NO SÍTIO www.cartamaior.com.br.

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