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Em debate a estruturação de rede sindical para fortalecer luta pela democratização da comunicação

Comunicação é frente de guerra

“A frente de guerra número um, dois e três está nos meios de comunicação e no controle da opinião pública através da mídia”. O alerta, em vídeo, do jornalista basco Unai Aranzadi sobre os “padrões de manipulação e de silêncio impostos pelos conglomerados privados” – que prostituem a informação em nome da liberdade de negócio e do discurso único do “partido do capital” -, deu o tom da Conferência Sindical Democratização da Comunicação, iniciada nesta segunda-feira em Montevidéu.

Promovida pela Confederação Sindical dos Trabalhadores das Américas (CSA), com a participação da CUT Brasil e de centrais, organizações sociais e especialistas de mais de 20 países da América Latina, a Conferência destaca a necessidade de maior protagonismo da classe trabalhadora “na luta pela liberdade de expressão, vista como fator indispensável para a construção de uma sociedade mais justa”.

A conduta dos barões da mídia foi condenada pelos participantes e multiplicaram-se as denúncias de exemplos de transgressão às mais elementares normas da disputa democrática por parte de quem faz uso indevido de concessões públicas, desde o caso brasileiro da pretensa agressão a José Serra, fulminado ridiculamente por uma “bolinha de papel”; o racismo movido contra o presidente boliviano Evo Morales ou a oposição mentirosa e preconceituosa contra a presidenta Cristina Kirchner, que aprovou uma lei para disciplinar os abusos dos meios de comunicação na Argentina.

Painelista do evento, a secretária Nacional de Comunicação da CUT, Rosane Bertotti, destacou a necessidade política e ideológica de construirmos um novo marco regulatório para o setor e que tais medidas saneadoras, “debatidas democraticamente pela sociedade brasileira e aprovadas na Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), sejam agora materializadas na Consolidação das Leis Sociais”. “A democratização da comunicação é um passo essencial para o aprofundamento da democracia em nosso país, elemento fundamental para a valorização dos direitos humanos. Com sua concepção neoliberal de Estado mínimo, privatistas e entreguistas do patrimônio público tentaram nos inculcar seus anti-valores, confundindo liberdade de imprensa com liberdade de empresa”, pontuou. Em contraposição a isso, a CUT tem investido na estruturação de seus próprios meios, como a TV e rádio webs, que vieram ao ar recentemente, explicou.

IMPOSIÇÂO DE MODELO

Conforme lembrou o uruguaio Aram Aharonian, fundador da Telesul e dirigente do Observatório Comunicação e Democracia, da Venezuela, é imprescindível que o movimento sindical se articule com os movimentos sociais para a disputa de projetos, que se dá de forma cada vez mais midiática. “Há três décadas, para impor um modelo político-econômico se recorria às forças armadas, com o saldo de milhares e milhares de mortos, desaparecidos e torturados. Hoje os meios de comunicação de massa levam o bombardeio da mensagem hegemônica diretamente à sala de nossa casa, às nossas cozinhas e dormitórios, durante 24 horas por dia”, destacou.

Segundo o veterano jornalista, “atualmente são os grandes grupos econômicos corporativos que manejam o latifúndio midiático, que criam imaginários coletivos virtuais e decidem quem tem ou não a palavra, quem é o protagonista e quem é o antagonista, enquanto buscam que as grandes maiorias sigam afônicas e invisíveis, sem voz nem imagem”. Para combater esta “ verdadeira ditadura midiática”, defendeu Aram, “é fundamental reivindicar e fazer realidade o sentido etimológico de comunicação, que implica diálogo, interação, intercâmbio, para construir acordos comuns, consensos, entre as partes implicadas no processo”. Daí ressaltou, a importância da proposta da CSA de estruturar redes para um movimento contra-hegemônico, a fim de vitaminar as ações dispersas, tornando-as muito mais potentes e eficientes.

Diretor nacional de Telecomunicações do Uruguai, Gustavo Gómez Germano ressaltou a relevância de que na América Latina, “por distintas razões, se esteja produzindo um processo de revisão das leis sobre os meios de comunicação, em especial os eletrônicos, como rádio e televisão. Se trata na verdade de um processo de re-regulação, porque a regulação anterior habilitava e fomentava a concentração da mídia nas mãos de uns poucos, ao mesmo tempo em que se impedia ou obstaculizava o acesso às grandes maiorias”. Para Gómez, “os Estados devem revisar e reformar sua legislação e realizar controles adequados para reverter e impedir a formação de monopólios e oligopólios na propriedade e controle dos meios de comunicação”. “Sem um papel ativo do Estado esta democratização não será possível, o livre jogo da oferta e da procura não diminuirá os abismos existentes em nossas sociedades”, acrescentou.

Na avaliação do secretário geral da CSA, Victor Báez, “o triunfo de Dilma dá muitas esperanças” para todos os “que lutam contra o modelo hegemônico do capitalismo neoliberal” e sua máquina desinformativa. Entre os exemplos concretos da necessidade de se construir um poder em rede para se contrapor às mentiras difundidas contra a soberania e a liberdade dos povos, Victor citou o caso dos mineiros chilenos, enterrados durante mais de 60 dias, com a mídia privada falando muito da ação da empresa e do governo, mas escondendo as verdadeiras causas do desastre: a falta de investimento na segurança por parte da empresa e da ausência de fiscalização por parte do governo, que por força da reação popular teve de fechar inúmeras outras minas privadas que encontravam-se nas mesmas condições. “O movimento chileno falou das causas, mas a denúncia ficou isolada e a verdadeira notícia não foi veiculada, porque ainda não há uma rede. O acidente nos lembrou um outro ocorrido no México em Pasta de Conchos, onde muitos trabalhadores ficaram enterrados não a 700 metros, mas a pouco mais de 100 metros, sem qualquer socorro. E o dirigente sindical que denunciou teve de se exilar no Canadá”, lembrou.

NOVO INTERNACIONALISMO

Para Álvaro Padrón, da Fundação Fridrich Ebert Stiftung (FES), entidade apoiadora do evento, o momento é de um “novo internacionalismo, com nova base programática, mais unidade e mais pluralismo”. Segundo Álvaro, questões que eram marginais agora ganham maior transcendência no embate de ideias e colocando em xeque a concentração dos meios. A conformação de uma rede de comunicação sindical, frisou, é uma tarefa urgente para colocar as entidades num novo patamar de ação democratizante, para virar a página do neoliberalismo que ainda asfixia muitos estados nacionais.

Professor de jornalismo e representante da FES, Omar Rincón disse que o que estamos assistindo é “uma batalha inédita pelo relato de país e pela hegemonia política”, “onde os meios privados criaram sua própria realidade, que se guia por uma moral de clã, que representa os donos da mídia e que expressa pouca transparência informativa e econômica”.

Representando o Coletivo Intervozes, do Brasil, Pedro Ekman fez um resgate histórico da luta dos movimentos sociais pela liberdade de expressão e demonstrou como os interesses dos barões da mídia e da chamada “livre iniciativa de mercado” encontram-se em contradição com a efetivação de direitos no campo comunicacional. Saudando a iniciativa dos sindicalistas, Pedro defendeu a necessidade de maior articulação com o conjunto dos movimentos sociais para caminhar juntos na consolidação de redes contra-hegemônicas e esclareceu que “não é preciso reinventar a roda, uma vez que já há bastante experiência acumulada, bastando fortalecer as alianças”.

Na avaliação do equatoriano Osvaldo León, da Agência Latino-Americana de Informação (ALAI), o momento é bastante favorável a uma campanha sincronizada pela democratização da comunicação, pois nunca esteve tão evidente o papel daninho dos grandes oligopólios midiáticos, que representam uma agressão ao papel e à responsabilidade de verdadeiros meios de comunicação. “Pluralismo e diversidade não entra nesta mídia que aí está. Por isso nós da [Agência Informativa] Minga, que significa trabalho colaborativo em quéchua, defendemos a necessidade de investir e contar com instrumentos próprios, pois se nós não dissermos nossa própria palavra, outros vão dizer”.

Por Leonardo Wexell Severo, de Montevidéu.

NOTÍCIA COLHIDA NO SÍTIO www.cut.org.br.

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