Os gastos de brasileiros no exterior passaram de US$ 24,987 bilhões, em 2013, para US$ 25,608 bilhões, em 2014, crescimento de 2,48%. O valor voltou a ser recorde, mesmo com o dólar em alta. A conta de viagens internacionais apresentou déficit de US$ 18,695 bilhões no ano passado, cifra também recorde. Os dados foram divulgados hoje (23) pelo Banco Central (BC).
De acordo com o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, a tendência é uma redução no ritmo de crescimento das viagens dos brasileiros ao exterior. Para ele, o principal fator de influência é a valorização do dólar.
“É natural que, em um determinado momento, isso [gastos recorde de brasileiros em viagens ao exterior] mostrasse uma acomodação. A tendência é ter, em 2015, comportamento semelhante ao de 2014”, disse Maciel. Em 2014, ano de Copa do Mundo, os gastos de estrangeiros no Brasil ficaram em US$ 6,914 bilhões, crescendo 3,13%, na comparação com o ano anterior.
As receitas ficaram aquém do que era esperado pelo BC. “Chegamos a fazer uma estimativa do impacto da Copa, que ficou próxima de US$ 1 bilhão”, disse Maciel. Segundo ele, fatores externos podem ter influenciado. “Há uma correspondência do ritmo de crescimento da atividade global com receitas de viagens previstas no país”, destacou, clarou, em entrevista para comentar o resultado das contas externas em 2014.
Quanto ao déficit recorde de US$ 90,9 bilhões das transações correntes do país no ano passado, Maciel atribuiu o resultado principalmente à balança comercial. Para ele, a balança tende a se recuperar este ano, em função da taxa de câmbio – já que o dólar valorizado favorece exportações -, do aumento no volume de comércio internacional e da perspectiva de melhora da conta-petróleo brasileira.
Setor Externo
O balanço de pagamentos registrou deficit de US$9,8 bilhões em dezembro, e superavit de US$10,8 bilhões em 2014. As transações correntes apresentaram deficit de US$10,3 bilhões no mês. No ano, o resultado em conta corrente foi negativo em US$90,9 bilhões, equivalentes a 4,17% do PIB, comparativamente a deficit de US$81,1 bilhões, 3,62% do PIB, em 2013. No mês, a conta financeira apresentou ingressos líquidos de US$1 bilhão, com destaque para os ingressos líquidos de investimentos estrangeiros diretos (IED), US$6,7 bilhões. No ano, a conta financeira acumulou saldo positivo de US$99 bilhões, destacando-se novamente os ingressos líquidos de IED, que atingiram US$62,5 bilhões.
No mês, a conta de serviços foi deficitária em US$4,9 bilhões, comparativamente a deficit de US$4,2 bilhões em dezembro do ano anterior. Em 2014, a conta serviços registrou despesas líquidas de US$48,7 bilhões, elevação de 3,3% na comparação com 2013. As despesas líquidas com aluguel de equipamentos atingiram US$2,8 bilhões no mês e US$22,7 bilhões no ano, acréscimo de 18,8% em relação a 2013. A conta de viagens internacionais apresentou deficit de US$1,6 bilhão no mês, influenciado pelos recuos de 9,6% dos gastos de estrangeiros no Brasil, e de 3,3% dos gastos de brasileiros no exterior, ambos na comparação com dezembro de 2013. No ano, as despesas líquidas de US$18,7 bilhões constituíram o recorde da série, elevação de 2,3% em relação ao ano anterior, com receitas e despesas atingindo os níveis máximos de US$6,9 bilhões e US$25,6 bilhões, respectivamente. As despesas líquidas com transportes somaram US$651 milhões em dezembro, acumulando deficit de US$8,9 bilhões no ano, ante US$9,8 bilhões registrados em 2013. O deficit em serviços de computação e informações atingiu US$426 milhões em dezembro e US$4,4 bilhões no ano, recuo de 0,9%, comparativamente ao ano anterior. As remessas líquidas de royalties e licenças somaram US$223 milhões no mês e US$3,3 bilhões no ano, 8,8% acima do resultado de 2013.
As remessas líquidas de renda para o exterior somaram US$6 bilhões no mês, 20% inferiores ao observado em dezembro de 2013, acumulando US$40,3 bilhões em 2014, acréscimo de 1,2% na comparação com o ano anterior. Em dezembro, as saídas líquidas de renda de investimento direto somaram US$4,3 bilhões, dos quais US$3,8 bilhões em remessas líquidas de lucros e dividendos. As remessas líquidas de renda de investimento em carteira totalizaram US$1,1 bilhão, dos quais US$841 milhões referentes a juros de títulos de renda fixa. As remessas líquidas de rendas de outros investimentos somaram US$639 milhões em dezembro. No ano, os pagamentos líquidos de juros alcançaram US$14,1 bilhões, ante US$14,2 bilhões no ano anterior. As remessas totais líquidas de lucros e dividendos somaram US$26,5 bilhões, elevação de 1,8% na comparação com 2013.
No mês, as transferências unilaterais somaram ingressos líquidos de US$258 milhões, acumulando no ano US$1,9 bilhão, redução de 42,9% na comparação com 2013. O ingresso bruto referente à manutenção de residentes atingiu US$1,9 bilhão em 2014, situando-se 1,7% abaixo do resultado do ano anterior.
Os investimentos brasileiros diretos no exterior somaram, em dezembro, retornos líquidos de US$2,2 bilhões, acumulando retornos líquidos de US$3,5 bilhões em 2014, acréscimo de 1,3% ante 2013. Os retornos líquidos de investimento brasileiro direto em 2014 compreenderam US$19,6 bilhões em aquisições líquidas de participação no capital de empresas no exterior, e US$23,1 bilhões de ingressos líquidos na modalidade de empréstimos de intercompanhias.
Os investimentos estrangeiros diretos registraram ingressos líquidos de US$6,7 bilhões em dezembro. No ano, os fluxos líquidos de IED alcançaram US$62,5 bilhões, redução de 2,3% comparativamente ao resultado do ano anterior. Houve ingressos líquidos em participação no capital de empresas no País, US$47,3 bilhões, e em empréstimos intercompanhias, US$15,2 bilhões, em 2014.
Os investimentos estrangeiros em carteira apresentaram saídas líquidas de US$9,5 bilhões, no mês, e ingressos líquidos de US$33,5 bilhões em 2014, comparativamente a US$34,7 bilhões, no ano anterior. Os investimentos estrangeiros em ações totalizaram saídas líquidas de US$601 milhões no mês e ingressos líquidos de US$11,5 bilhões no ano. No mercado doméstico, os investimentos de não residentes em títulos de renda fixa apresentaram saídas líquidas de US$8,5 bilhões no mês e ingressos líquidos de US$20,1 bilhões no ano. Os ingressos líquidos referentes a bônus da República acumularam US$2,5 bilhões em 2014. As notes e commercial papers somaram saídas líquidas de US$409 milhões em dezembro e de US$1,1 bilhão no ano. A taxa de rolagem para papéis de médio e longo prazos, excetos bônus da República, totalizou 57% em dezembro e 90% em 2014. A redução do prazo de incidência do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre captações externas, de 360 dias para 180 dias, favoreceu o ingresso líquido de US$457 milhões em títulos de curto prazo em 2014.
Os outros investimentos brasileiros no exterior resultaram em retornos líquidos de US$222 milhões em dezembro e aplicações líquidas de US$44,9 bilhões no ano, compreendendo concessões líquidas de créditos comerciais e empréstimos, US$31,8 bilhões; redução de depósitos de bancos brasileiros no exterior, US$4,5 bilhões, e constituição de depósitos dos demais setores, US$17,4 bilhões.
Os outros investimentos estrangeiros no País registraram ingressos líquidos de US$2 milhões em dezembro e de US$49,4 bilhões no ano. O crédito comercial de fornecedores registrou amortizações líquidas de US$203 milhões no mês, e desembolsos líquidos de US$11,5 bilhões no ano, concentrados em operações de curto prazo. Os empréstimos de médio e longo prazos apresentaram ingressos líquidos de US$1,4 bilhão, em dezembro, e de US$19,3 bilhão no ano. A taxa de rolagem dos empréstimos diretos de médio e longo prazos somou 203% no mês e 191% em 2014. No ano, os empréstimos diretos e junto a organismos totalizaram ingressos líquidos de US$17,1 bilhões e de US$3,5 bilhões, respectivamente, enquanto os empréstimos de compradores e agências acumularam amortizações líquidas de US$1 bilhão e US$274 milhões, na ordem. Os ingressos líquidos de empréstimos de curto prazo atingiram US$1,1 bilhão no mês e US$21,6 bilhões no ano.
II – Reservas internacionais
As reservas internacionais no conceito liquidez totalizaram US$374,1 bilhões em dezembro, redução de US$1,6 bilhão em relação ao mês anterior. No mês, as operações de linhas com compromisso de recompra somaram vendas de US$10,3 bilhões, elevando o estoque desses ativos para US$10,5 bilhões. A receita de remuneração das reservas atingiu US$237 milhões. As variações por preços reduziram o estoque em US$554 milhões, enquanto as variações por paridades provocaram diminuição de US$1,5 bilhão. No conceito caixa, o estoque de reservas totalizou US$363,6 bilhões em dezembro, redução de US$11,9 bilhões em relação ao mês anterior.
III – Dívida externa
A posição da dívida externa bruta estimada para dezembro totalizou US$347,6 bilhões, elevação de US$9,3 bilhões em relação ao montante apurado para setembro de 2014. A dívida externa estimada de longo prazo atingiu US$293 bilhões, aumento de US$6 bilhões, enquanto o endividamento de curto prazo somou US$54,6 bilhões, elevação de US$3,2 bilhões.
Dentre os determinantes da variação da dívida externa de longo prazo no período, destacam-se os empréstimos tomados pelo setor bancário, US$3,1 bilhões, pelo setor não financeiro, US$1,7 bilhão, pelo governo, US$2,1 bilhões, e a redução provocada pela variação por paridades, US$1,9 bilhão. A variação da dívida externa de curto prazo no período é explicada por empréstimos de curto prazo tomados pelo setor não financeiro e financeiro, US$1,4 bilhão e US$1,9 bilhão, respectivamente.