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Adoecimento de trabalhadores é causado por gestão dos bancos

Apontamento foi verificado durante debates no Sindicato, dentro do Fórum Social Mundial Temático

Adoecimento de trabalhadores é causado por gestão dos bancos, revela debate no Sindicato, dentro do Fórum Social Mundial Temático

Adoecimento de trabalhadores é causado por gestão dos bancos, revela debate no Sindicato, dentro do Fórum Social Mundial Temático

O maior resultado da campanha salarial nacional dos bancários, em 2015, não foram os ganhos salariais da categoria, mas o reconhecimento pelos patrões reunidos na Fenaban – pela primeira vez – que os bancos praticam sim “assédio moral” sobre os trabalhadores. Esta conclusão foi endossada por muitos dos participantes da mesa “Saúde dos Bancários”, na sede do nosso Sindicato, na manhã desta quinta-feira, 21/01, com participação de colegas do Sindicato de Curitiba e Região e da Contraf-CUT. O debate está inserido no Fórum Social Mundial Temático que acontece em Porto Alegre até o sábado, 23.

Banqueiros não mudam gestão

“Os banqueiros agora reconhecem o problema, mas quase nada fazem para mudar”, disse o presidente do SindBancários. “Este encontro é uma oportunidade para a comparação das experiências, na questão de saúde do bancário, entre o nosso sindicato e o de Curitiba, para tentarmos evoluir para uma espécie de cartilha única, com normas e ações contra o assedio”, afirmou Everton Gimenis.

Conforme ele, a pressão sobre os trabalhadores para aumentar a lucratividade crescente dos patrões não diz respeito apenas aos bancos, é parte do capitalismo neoliberal, mas a questão fica mais clara no nosso setor de atividade. “Temos que socializar e dividir não só os problemas, mas as soluções”, lembrou. O presidente da Federação dos Trabalhadores das Empresas de Crédito do Paraná, Júnior Cesar Dias, concorda: “Este debate, que diz respeito aos métodos de administração que provocam o adoecimento dos funcionários, tem que ser discutido mundo afora”, afirmou, lembrando o FSMT.

Bancos públicos na mesma linha

“Hoje vemos bancos públicos como o Banco do Brasil e a Caixa Federal praticando o mesmo tipo de gestão e provocando o mesmo adoecimento em seus funcionários que os bancos privados, o que não deveria acontecer”, denunciou Júnior.

Roberto von der Osten, presidente da Contraf-CUT, relatou um pouco da história. “As questões de saúde sempre foram pesadas para os bancários. Já na década de 30, quando havia os institutos de previdência, existiam sanatórios para tratar casos de tuberculose entre os bancários, e também para tratar neuroses. Mas, na época, não se debatiam as causas destes problemas”, recordou.

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Anos 80: epidemia de Ler/Dort

Com a informatização dos sistemas financeiros, a partir de 1985, começou a haver uma epidemia de casos de Ler/Dort. “Logo se descobriu que havia outras coisas também neste adoecimento, como a depressão. As doenças eram na alma também, não só no corpo”, frisou Betão. O problema teve novo aumento quando, em 1998, os bancos viraram bancos múltiplos e lojas, com metas mais exigentes e a obrigação de venda de produtos.

Nas mesas de negociação, os bancos sempre negavam o problema e procuravam caracterizar tudo como casos isolados. Mas os trabalhos realizados pelos sindicatos, com levantamentos científicos e o crescente número de casos de adoecimento – inclusive de gerentes, em vários níveis – fizeram com que na última mesa de negociação os banqueiros reconhecessem que o problema existe. “Este reconhecimento é pouco, mas já é um começo. E a partir daí vamos avançar e meter o bedelho no tipo de gestão bancária que provoca este grave quadro de falta de saúde”, concluiu o presidente da Contraf-CUT.

Operação De olho na Saúde

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Jacéia Netz, funcionária que coordena o setor de Saúde e Condições de Trabalho do SindBancários de Porto Alegre e Região, relatou um pouco da experiência na entidade nos últimos 20 anos. Em 1994, ela contou, tudo que o SindBancários tinha na aérea de saúde era um departamento odontológico. “Em 1994, construímos a Operação De Olho na Saúde, a partir de um censo bancário que incluiu mais de 12 mil trabalhadores. Depois de detectar alguns problemas, fizemos visitas às agências bancárias, com médicos e fiscais do Ministério do Trabalho e do SUS, até 2000, quando a Fiergs entrou com recurso judicial e conseguiu terminar com a nossa fiscalização”, afirmou.

No entanto, o trabalho continuou, com parcerias com a UFRGS e o Ministério da Saúde, gerando inclusive trabalhos acadêmicos. “A partir da percepção de que apenas a medicina não poderia dar conta de todo o problema, criamos aqui no Sindicato o Grupo de Ação Solidária, o GAS, que faz um trabalho de apoio”, explica Jaceia. “Não é um grupo terapêutico. O objetivo é criar laços de solidariedade, num trabalho de formação e informação”, disse.

A dor oculta

Nos anos seguintes, o Sindicato desenvolveu um software que cruza os dados do bancário com situações do trabalho e até as condições oferecidas pela agência. O SindBancários chegou a realizar o documentário “A dor oculta”, sobre a questão do medo. “Num banco público, se o funcionário não bate a meta, ele perde a comissão. No banco privado, ele perde o emprego. Sempre há uma perda, uma situação que gera problemas físicos e mentais”, conclui Jacéia Netz.

Junior Cesar Dias, da Fetec-PR e também membro da direção da Fetraf-CUT, defende que o debate do adoecimento em consequência do modelo de gestão do capitalismo atual, também seja levado à outras categorias. “Em outubro do ano passado criamos uma Comissão Permanente de Saúde da Contraf, conjuntamente com a Fenaban, para analisar as causas do adoecimento”, informou Dias. “Ou seja, eles não têm mais como esconder que o atual modelo de gestão é nocivo aos trabalhadores. Ou seja, eles querem manter o mesmo nível de lucratividade com menos trabalhadores – um só bancário fazendo o serviço de dois ou três…”

Poluição no ambiente de trabalho

O líder sindical paranaense lembrou que hoje, quando se discute tanto a destruição do meio ambiente, entendido apenas como a natureza, também precisa entrar na pauta o ambiente de trabalho: “Este também está completamente poluído”, afirma o diretor da Fetraf-CUT.

Os advogado s Allan Nasser e Paula Cosero, do Intituto Declatra, do Paraná, que trabalha com bancários e outros trabalhadores, citaram uma pesquisa que teve como base o HSBC, banco que ocupa a maior parte da categoria em Curitiba. “Cruzando dados de dois universos de documento – as fichas de homologação das recisões de contrato e todos os processos judiciais de fundo trabalhista contra o banco – e sistematizando essas informações, percebemos que 38% referiam problemas de saúde, embora o numero real seja maior”, diz Nasser. “A pesquisa mostrou que hoje os problemas mentais são em maior número, mas as questões de Ler/Dort não foram superadas e estão sempre presentes”, disse.

Métodos assediosos

“Nós utilizamos os mesmos critérios de doença adotados pela Organização Mundial da Saúde da ONU, e percebemos claramente que o HSBC – que agora está indo embora do país – usa métodos assediosos sobre os funcionários”, relatou. O advogado citou ainda dados do INSS, no período 2007-2012, mostrando que os acidentes de trabalho causados por doenças ocupacionais é de 30% entre os bancários, enquanto nas demais categorias profissionais, fica em 2%.

“Hoje os bancos têm que remover os meios ilícitos, deixando de adotar métodos de trabalho desumanos”, complementa. “Se um outro mundo é possível, os métodos de trabalho mais humanizados também são possíveis”, encerrou. A advogada Paula Cosero acrescentou que a atual gestão de trabalho imposta pelos bancos atinge diretamente a ação sindical. “Além de limitar o tempo livre dos trabalhadoesr, de um lado, ela ainda fortalece a competitividade abusiva no local de trabalho, atuando contra a saúde dos bancários”, disse.

Vigilância de Saúde do Trabalhador

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O diretor Mauro Salles, do SindBancários, afirmou que a pesquisa mostrada pelo Paraná pode ser entendida como um retrato do que ocorre em todo o Brasil. Conforme ele, é fundamental criar uma Vigilância de Saúde do Trabalhador, que capacite e qualifique uma intervenção sindical. Salles enumerou alguns pontos que precisam ser trabalhador pelo sindicalismo: fiscalização, negociação, registro de dados, sistematização das informações.

“A legislação trabalhista atual não é ruim. Precisamos hierarquizar os níveis de ação, envolver diretores e bancários. Aqui no Rio Grande do Sul, o trabalho poderia ter como base do Banrisul”, acrescentou. Ao final, o sindicalista deixou uma proposta para debate: criar uma oficina sobre o tema para o próximo Fórum Social Mundial, em agosto em Montreal, no Canadá.

Notícia colhida no sítio http://www.sindbancarios.org.br/adoecimento-de-trabalhadores-e-causado-por-gestao-dos-bancos-revela-debate-no-sindicato-dentro-do-forum-social-mundial-tematico/

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