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Os juros mais altos do mundo e as lições do Prêmio Nobel

Na última quarta-feira o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu manter a taxa básica de juro (Selic) em 14,25% ao ano, a mais elevada do mundo. Curiosamente (mas sem surpresas) pela decisão tomada o Banco Central (BC) foi fortemente criticado pelos chamados analistas do mercado. Mas não pelo fato do BC manter intocada a maior taxa de juros do planeta, e sim justamente por não tê-la aumentado ainda mais. Não faltou analista, inclusive, questionando uma eventual influência na decisão do BC por parte da Presidenta da República. Como se a decisão de política de juros, que influencia diretamente crescimento, emprego e renda, fosse exclusivamente técnica e não devesse sofrer a influência da política. Este é o sonho, diga-se de passagem, dos banqueiros: um banco central independente que, independentemente do partido que estivesse no poder, se submetesse aos interesses do grande capital.

A decisão do BC ocorreu apenas um dia após o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgar projeção do aprofundamento da recessão no Brasil nos próximos dois anos. Pelas previsões do FMI o Brasil terá nova recessão em 2016 (3,5%) e crescimento zero em 2017. O Brasil tem, de longe, a maior taxa de juros reais (taxa nominal menos inflação) do mundo. Num ranking de 40 países estabelecido pela Infinity Asset Manegement e o site MoneYou o Brasil ficou em primeiro lugar, com 6,78% de juros reais, muito distante do segundo lugar, Rússia, com 2,78%. Em seguida vem China (2,61%), Indonésia (2,29%) e Filipinas (1,27%). Em último no ranking estão Dinamarca (-2,02%), Argentina (-8,87%) e Venezuela (-58,59%). A média geral da pesquisa é uma taxa negativa: -1,8%.

Talvez os membros do Copom, e alguns analistas do chamado mercado devessem ter prestado um pouco de atenção na entrevista que o economista estadunidense Joseph Stiglitz, concedeu a imprensa brasileira em Davos, onde participa do Fórum Econômico Mundial. O Prêmio Nobel de economia em 2001 resume assim seu diagnóstico:

  • A política monetária brasileira (taxa de juros) estrangula a economia. Não tem como crescer praticando uma das mais altas taxas de juros do planeta.
  • O modelo que pretende combater a inflação através da elevação dos juros (adotado pelo BC brasileiro) está desacreditado no mundo inteiro. Aumentar os juros serve no caso em que a inflação decorre de excesso de demanda. Caso contrário, a alta dos juros mata a economia.
  • No Brasil dois problemas se destacam: o colapso do preço das exportações e o escândalo de corrupção. E a política monetária deveria se contrapor a esses fatores. Porém a política de juros estratosféricos está agravando esses problemas.
  • No que se refere à economia mundial há falta de demanda agregada global. Mesmo antes da crise, o que sustentava a economia americana era uma bolha artificial. Se não fosse por ela, a economia teria sido fraca antes do estouro da bolha.
  • Por que a demanda global está fraca? Quatro razões básicas: 1) desigualdade de renda. Quanto mais cresce a desigualdade mais a demanda se enfraquece; 2) Transformações estruturais que estão acontecendo em quase todos os países. Nos EUA, a transição da indústria manufatureira para os serviços, na China, transição das exportações para a demanda interna; 3) bagunça na zona do euro, com políticas econômicas de austeridade, que ajudaram a derrubar o crescimento. E que pegam outros países, inclusive EUA; 4) queda brutal do preço do petróleo. Os países que exportam petróleo têm reduzido os gastos e quem importa – e, portanto, ganha com o menor preço – não necessariamente gasta os recursos poupados, por não saber se o ganho se manterá no longo prazo.

A verdade é dura. Enquanto o Brasil pratica as maiores taxas de juros do mundo e gasta R$ 500 bilhões com a dívida pública em um ano (quase 18 vezes os investimentos com o Bolsa Família) o economista sugere, como saída aumentar os gastos dos governos, investir em tecnologia, educação e infraestrutura. Propõe, além disso, tornar a estrutura tributária mais justa, cobrando mais impostos de quem pode pagar mais, uma urgência no Brasil. Tudo isso, para o economista, estimularia a economia, apesar das dificuldades políticas, já que há grande polarização em todo o mundo. Destaque para uma aguda observação do eminente economista: o que fez Hitler ascender foi o desemprego e não a inflação. O desemprego é a verdadeira causa da instabilidade social. Portanto, os países têm que colocar a geração de emprego e renda como o centro da política econômica. E os bancos centrais têm também que trabalhar nessa direção.

Por José Álvaro de Lima Cardoso, que é economista e supervisor técnico do Dieese em Santa Catarina.

Artigo colhido no sítio http://sensoreconomicobrasil.blogspot.com.br/2016/01/os-juros-mais-altos-do-mundo-e-as.html

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