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Já viu os efeitos do GOLPE na agricultura brasileira?

“Obediente”

Com Temer, mercado externo dita as regras da agricultura brasileira

Segundo estudo da bancada do PT na Câmara, Brasil ocupa 27,4 milhões de hectares para a produção de commodities agrícolas, dos quais cerca de 60% apenas para atender demanda da China
por Lilian Campelo publicado 03/01/2018 10h31
Marco Aurélio Esparza / CC BY-SA 3.0

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Além de pouca importância à segurança alimentar, atividade agrícola de larga escala polui e impacta sobre comunidades locais, como indígenas e quilombolas

Brasil de Fato – O mercado externo se inseriu de forma mais incisiva na economia agrícola brasileira – depois do golpe parlamentar que derrubou Dilma Rousseff e levou Michel Temer ao poder – e agora dita as regras do agronegócio. A conclusão faz parte de um balanço da atividade agrícola no Brasil elaborado por Gerson Teixeira, assessor da bancada do PT na Câmara dos Deputados, divulgado no final do ano.

O documento aponta que o país destina 27,4 milhões de hectares – correspondentes a 45% da área total do seu território – para a produção de grãos. Deste total, 16 milhões de hectares são utilizados apenas para atender a demanda por commodities da China.

Entre 2016 e 2017, os chineses compraram 53 milhões das 110 milhões de toneladas de soja produzidas no Brasil. Segundo Teixeira, o país só não sentiu os efeitos do privilégio dado à segurança alimentar chinesa, devido à queda na renda da população, igualmente acentuada após o golpe do impeachment.

“A queda da renda fez com que a inflação de alimentos declinasse, mas não foi um declínio virtuoso, foi um declínio por fatores negativos e perversos”, disse o assessor.

Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Gerson Teixeira fala sobre o agronegócio, a produção agrícola brasileira e as consequências do avanço do mercado externo para a soberania alimentar do país. Confira:

Fazendo uma retrospectiva, qual o balanço da agricultura brasileira pós-golpe? 

A agricultura, particularmente a agricultura empresarial de larga escala, basicamente deixou de ser impulsionada por políticas públicas do país. A dinâmica agrícola brasileira e seu perfil produtivo são determinados pelos grandes conglomerados. Esse ano o que se viu foi uma ampliação desses fatores externos definindo a agricultura do país e resultou, cada vez mais, na participação de algumas commodities no perfil da agricultura brasileira.

Junto disso, não houve políticas socioambientais, relativizações socioambientais, por parte do governo e o impacto disso na área agrária é tremendo – especialmente contra comunidades indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais – pela cobiça da terra, pela expansão acelerada da proteção das terras do país. E esse é o quadro geral, um quadro que combina com a passividade do governo para fazer a mediação do expansão do agronegócio, junto com o capital externo determinando o que se deve produzir, a área utilizada para produzir, a quantidade etc.

Segundo dados apresentados pela bancada do PT, no período 2016/2017 o Brasil exportou 74% da soja que produziu para o mercado externo, mas durante os governos petistas a economia também era baseada em exportações de commodities agrícolas. O que o pós-golpe trouxe para esse cenário que se difere dos governos anteriores?

Na verdade, deixou de fazer, não trouxe. Na divisão internacional do trabalho há uma tendência de o Brasil ser o celeiro agrícola, quer dizer, nos transformar em um grande produtor de commodities minerais e agrícolas e isso já vem de tempos. A diferença é que nos governos do PT essa estratégia foi acompanhada por uma gama diversificada e rigorosa de políticas e ações voltadas para o fortalecimento da agricultura familiar, proteção de comunidades indígenas e quilombolas e de uma política importante de assentamentos da reforma agrária, coisa que foi totalmente abandonada no governo Temer.

Enquanto houve um aumento das exportações do agronegócio de produtos como a soja, o consumo interno apresentou uma queda. Que fatores podem explicar essa contração? 

A retração econômica profunda, a perda de salários, a redução real do salário mínimo, a população vem perdendo renda e, naturalmente, o consumo vem baixando. E as populações das camadas mais baixas da pirâmide social são as que mais perdem. Então, se aumentar um pouquinho o poder de renda a população tende a consumir mais alimentos. É o contrário quando se perde renda.

Houve essa queda de consumo em função da queda da renda, o que fez inclusive com que a inflação de alimentos declinasse, mas não num movimento virtuoso. Foi um declínio por fatores negativos e  perversos.

Se esse panorama que se apresentou em 2017 vigorar ainda em 2018, por exemplo, o que podemos esperar como consequências desse quadro?

Antes de tudo nós temos uma ameaça à soberania do país. Cada vez mais o território do Brasil se transforma em garantidor da segurança alimentar de outros países. E isso se sobrepõe também a uma política interna para cuidar da segurança alimentar brasileira.

Inclusive eu acho que neste ano, o governo Temer vai dar o tiro de misericórdia, porque eles não conseguiram ainda, por causa de divisão na bancada ruralista, aprovar uma nova legislação sobre a apropriação de terra no Brasil por estrangeiros.

Há uma grande pressão do capital internacional e não fizeram porque inclusive o Ministro da Agricultura [Blairo Maggi] é contra porque quer que o capital externo compre terras, mas não quer que produza grãos para não competir com ele. Também tem uma reação dos militares, mas eu acho que o próximo grande projeto deles vai ser aprovar essa lei, provavelmente em 2018.

Notícia colhida no sítio http://www.redebrasilatual.com.br/economia/2018/01/com-temer-mercado-externo-dita-as-regras-da-agricultura-brasileira

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