fetec@fetecpr.com.br | (41) 3322-9885 | (41) 3324-5636

Por 19:34 Sem categoria

2018: ano de virada ou de choro

Resultado de imagem para lula boulos freixo
As ten­dên­cias econô­micas, so­ciais e po­lí­ticas, in­ter­na­ci­o­nais e na­ci­o­nais que mar­caram 2017 não foram tran­qui­li­za­doras, in­di­cando que 2018 pode ser ainda mais per­tur­bador. A crise ca­pi­ta­lista global pa­rece se apro­ximar de novo surto de ir­ra­ci­o­na­li­dade fi­nan­ceira, en­quanto o go­verno trum­pista con­tinua em­pe­nhado em criar tur­bu­lên­cias em toda parte.

Nessas con­di­ções, a pos­si­bi­li­dade de eclosão de con­flitos na­ci­o­nais e re­gi­o­nais, ca­pazes de co­locar todo o resto do mundo em tensão má­xima, con­tinua sendo uma pers­pec­tiva real, prin­ci­pal­mente se con­si­de­rarmos que a fração in­dus­trial ar­ma­men­tista dos Es­tados Unidos, em con­luio per­ma­nente com seu sis­tema fi­nan­ceiro, passou a ser uma das prin­ci­pais peças das con­sul­to­rias do go­verno Trump.

Também não é im­pen­sável o res­sur­gi­mento de pro­cessos re­gi­o­nais e na­ci­o­nais, sejam re­gres­sistas e re­a­ci­o­ná­rios, sejam re­vo­lu­ci­o­ná­rios. Todos em con­sequência ou como re­ação à crise e às in­ter­ven­ções das grandes po­tên­cias, que estão pro­du­zindo imensas mi­gra­ções, au­mento da mi­séria so­cial, de­sem­prego es­tru­tural e pa­ra­lisia econô­mica. Apesar de in­di­ca­dores menos tur­bu­lentos, como me­lhoria nos preços de al­gumas com­mo­di­ties mi­ne­rais e agrí­colas, é com a pro­vável piora do con­texto mun­dial que o Brasil se verá em 2018.

O go­verno gol­pista, au­xi­liado pelo par­tido da mídia, deve con­ti­nuar mar­te­lando a “pauta po­si­tiva”: “in­flação em queda”, “eco­nomia em re­cu­pe­ração”, mul­ti­pli­cação das “opor­tu­ni­dades de ne­gó­cios”, “re­dução do de­sem­prego”, “juros em baixa”, “au­mento dos in­ves­ti­mentos” (mesmo quando di­re­ci­o­nados para bolsas de va­lores ou ou­tros me­ca­nismos es­pe­cu­la­tivos), e “ele­vação dos re­cursos para pro­gramas so­ciais”.

Ou seja, nada ou quase nada di­fe­rente do pra­ti­cado em 2017. Pa­ra­le­la­mente, deve dar con­ti­nui­dade ao pro­grama de “re­ci­clagem” dos pro­cessos contra a cor­rupção, de modo a salvar sua pró­pria qua­drilha e fazer com que a gui­lho­tina desses pro­cessos re­caia ex­clu­si­va­mente sobre Lula e o PT.

A re­a­li­dade, porém, tende a po­ten­ci­a­lizar os as­pectos ne­ga­tivos das “re­formas ne­o­li­be­rais” e da prá­tica go­ver­na­mental gol­pista. Nada in­dica que a con­ti­nui­dade do de­sem­prego de mi­lhões de tra­ba­lha­dores, as­so­ciada à pre­ca­ri­zação dos em­pregos exis­tentes e a uma ati­vi­dade econô­mica re­ces­siva terá al­guma pers­pec­tiva real de me­lhora. E tudo in­dica que uma pos­sível apro­vação dos cortes pre­vi­den­ciá­rios e da ele­vação dos tri­butos pagos pelos mais po­bres con­ti­nuará ali­men­tando do­lo­ro­sa­mente ex­plo­sões po­pu­lares anár­quicas e a “guerra civil não de­cla­rada” que con­some mais ví­timas anuais do que guerras reais em ou­tras partes do mundo.

Porém, mesmo assim não se deve des­prezar a ca­pa­ci­dade da bur­guesia em acuar o povo e suas forças de­mo­crá­ticas e pro­gres­sistas e con­so­lidar seu pro­jeto du­rante 2018, com o im­pe­di­mento da can­di­da­tura Lula e a “eleição” de Alckmin, Bol­so­naro ou outro can­di­dato ti­rado da car­tola. O que vai de­pender, em grande me­dida, do PT e de­mais cor­rentes de es­querda re­co­nhe­cerem a tempo que sua base so­cial po­pular e de­mo­crá­tica está dis­persa, de­sor­ga­ni­zada e de­ses­tru­tu­rada, sem con­di­ções ime­di­atas de uma mo­bi­li­zação mas­siva como nas greves de 1978 e nas “di­retas já” de 1983, único tipo de mo­bi­li­zação capaz de dar um basta! ao gol­pismo.

Se as or­ga­ni­za­ções de es­querda forem in­ca­pazes desse re­co­nhe­ci­mento e não derem a atenção ne­ces­sária para re­verter essa si­tu­ação, di­fi­cil­mente terão con­di­ções de conter a ofen­siva es­tra­té­gica re­a­ci­o­nária, vencer a ba­talha tá­tica elei­toral de 2018 e trans­formar a maior parte do povo bra­si­leiro numa força capaz de der­rotar a ação des­tru­tiva do con­luio entre a bur­guesia na­tiva e a bur­guesia mo­no­po­lista es­tran­geira.

Não há dú­vidas que muita gente na es­querda voltou a falar na ne­ces­si­dade do tra­balho co­ti­diano de base, num re­co­nhe­ci­mento ex­plí­cito de que a es­querda perdeu seu en­rai­za­mento tanto nos lo­cais de tra­balho quanto de mo­radia e es­tudo das classes po­pu­lares, lo­cais que são o foco prin­cipal da luta dessas classes por seus di­reitos e rei­vin­di­ca­ções ele­men­tares. No en­tanto, isso nem sempre é acom­pa­nhado do re­co­nhe­ci­mento de que se deve, em grande parte, ao aban­dono ou en­fra­que­ci­mento das formas de or­ga­ni­zação sin­dical, as­so­ci­a­tiva e par­ti­dária de base nesses lo­cais.

Em tais con­di­ções, mesmo que as di­versas cor­rentes de es­querda con­sigam ela­borar um novo pro­jeto es­tra­té­gico para o Brasil, terá pouco efeito se elas não con­se­guirem barrar a ofen­siva re­a­ci­o­nária. O que só será pos­sível se con­tarem com or­ga­ni­za­ções de base atu­antes, ca­pazes de mo­bi­lizar con­tin­gentes mas­sivos que possam deter as di­fe­rentes frentes da ofen­siva re­a­ci­o­nária. Di­zendo de outro modo, isso sig­ni­fica que, no atual mo­mento, a questão es­tra­té­gica re­side em criar uma bar­reira po­pu­la­ci­onal mas­siva para deter a ofen­siva re­a­ci­o­nária.

Isto é, a tá­tica de luta de 2018 será es­tra­té­gica para der­rotar os gol­pistas e criar con­di­ções fa­vo­rá­veis para cons­truir um pro­jeto que leve em conta as ex­pe­ri­ên­cias ne­ga­tivas e po­si­tivas da es­querda no go­verno do país. Assim, as di­versas cor­rentes ou par­tidos da es­querda per­derão tempo e es­forços se forem in­ca­pazes de co­locar em pri­meiro plano a or­ga­ni­zação, a luta e a mo­bi­li­zação so­cial mas­siva, capaz de der­rotar a ofen­siva gol­pista e criar con­di­ções reais para dis­cutir e levar à prá­tica um novo pro­jeto de país.

Nesse sen­tido, a questão cen­tral da atu­a­li­dade bra­si­leira re­side na de­fesa dos di­reitos so­ciais. É a de­fesa desses di­reitos que pode mo­bi­lizar de­zenas de mi­lhões de tra­ba­lha­dores e mem­bros de ou­tras ca­madas po­pu­lares e da pe­quena-bur­guesia na de­fesa dos di­reitos de­mo­crá­ticos e da so­be­rania na­ci­onal. E é essa mo­bi­li­zação mas­siva que pode levar o bloco do­mi­nante a ra­char e fazer com que fra­ções mé­dias da bur­guesia fi­quem neu­tras ou mesmo se aliem às ca­madas po­pu­lares e mé­dias. Isso nada tem a ver com qual­quer pacto entre a classe tra­ba­lha­dora e se­tores da bur­guesia, mesmo porque a es­ma­ga­dora mai­oria da bur­guesia bra­si­leira é as­so­ciada, de­pen­dente e su­bor­di­nada das bur­gue­sias mo­no­po­listas es­tran­geiras.

Pen­sando para além de 2018, caso as forças po­pu­lares e de­mo­crá­ticos der­rotem os gol­pistas, as­sumam o poder de Es­tado e ini­ciem a cons­trução de um pro­jeto de tran­sição so­ci­a­lista, po­derá haver um pacto com uma nova bur­guesia para o de­sen­vol­vi­mento das forças pro­du­tivas, pacto que in­cluirá a su­bor­di­nação dessa bur­guesia ao poder de­mo­crá­tico e po­pular e a co­o­pe­ração e a con­cor­rência de suas em­presas com as em­presas es­ta­tais.

Antes disso, porém, apesar das di­ver­gên­cias que possam existir, será pre­ciso ga­rantir que Lula con­corra às elei­ções de 2018 com o com­pro­misso de re­vogar as re­formas ne­o­li­be­rais e ini­ciar um pro­grama de de­sen­vol­vi­mento que in­clua uma rein­dus­tri­a­li­zação so­be­rana, com ge­ração de em­pregos, ele­vação da renda da so­ci­e­dade, al­te­ração da es­tru­tura pro­du­tiva, re­cons­trução e mo­der­ni­zação da in­fra­es­tru­tura na­ci­onal (portos, fer­ro­vias, hi­dro­vias, ae­ro­portos e ge­ração de energia limpa). Tudo isso tendo em vista o de­sen­vol­vi­mento so­cial e o mer­cado in­terno, su­prindo a po­pu­lação de ali­mentos e pro­dutos in­dus­triais, de trans­portes, sa­ne­a­mento bá­sico, água po­tável, edu­cação, saúde, energia elé­trica e mo­ra­dias.

Ou seja, de­pen­dendo da ca­pa­ci­dade das cor­rentes de es­querda com­pre­en­derem esse jogo da re­lação entre es­tra­tégia e tá­tica, na qual mo­men­ta­ne­a­mente as ques­tões tá­ticas se tornam es­tra­té­gicas, isso pode levá-las, em 2018, a jo­garem pe­sado na mo­bi­li­zação po­pular para deter a ofen­siva ne­o­li­beral ra­dical e passar à con­tra­o­fen­siva, tendo as elei­ções pre­si­den­ciais como a ba­talha da vi­rada. Se não forem ca­pazes dessa com­pre­ensão, talvez 2018 se afirme não como o ano de vi­rada do povo bra­si­leiro, mas como o ano em que as forças re­a­ci­o­ná­rias con­so­li­daram seu golpe e vão sub­meter esse povo a um pe­ríodo ainda mas des­tru­tivo do que a dé­cada ne­o­li­beral dos anos 1990. E não adi­anta chorar.

 

Por Wla­dimir Pomar, que é Es­critor e Ana­lista Po­lí­tico.

Artigo colhido no sítio http://www.correiocidadania.com.br/2-uncategorised/13038-2018-ano-de-virada-ou-de-choro

======================================

2017: sinal negativo para o futuro

Resultado de imagem para brasil temer
No início de 2017 ava­li­amos que o ano po­deria ser de muitas tur­bu­lên­cias e, também, de es­forços, pelas forças de es­querda, para a su­pe­ração de erros e pro­blemas dos anos an­te­ri­ores e para a ela­bo­ração de novas es­tra­té­gias e de tá­ticas de dis­puta ide­o­ló­gica, de or­ga­ni­zação e de luta para en­frentar os pro­blemas ime­di­atos. Isto é, pro­blemas re­la­ci­o­nados com a de­fesa dos di­reitos econô­micos, so­ciais e po­lí­ticos dos tra­ba­lha­dores e de­mais ca­madas po­pu­lares, com a im­plan­tação de re­formas que am­pli­assem as con­quistas de­mo­crá­ticas e po­pu­lares da Cons­ti­tuição de 1988, e com a re­no­vação de­mo­crá­tica e po­pular dos le­gis­la­tivos e da pre­si­dência, em 2018.

Em termos in­ter­na­ci­o­nais, as tur­bu­lên­cias de 2017 vi­eram prin­ci­pal­mente das novas ten­ta­tivas dos Es­tados Unidos, tendo à frente Do­nald Trump, de re­as­sumir, na marra, o papel he­gemô­nico per­dido para a mul­ti­po­la­ri­dade. Ten­ta­tivas que fe­charam o ano com o re­co­nhe­ci­mento de Je­ru­salém como ca­pital de Is­rael, além da ameaça de des­truição com­pleta da Co­reia do Norte, rei­te­rando as pre­ten­sões trum­pistas em en­volver o mundo em tur­bu­lên­cias de re­sul­tados in­certos e des­tru­tivos.

No Brasil, 2017 foi mar­cado pela con­ti­nui­dade da ofen­siva ne­o­ne­o­li­beral e de seu golpe par­la­mentar-ju­di­cial, assim como pelo apro­fun­da­mento da di­visão entre as classes so­ciais que con­formam a so­ci­e­dade bra­si­leira. É evi­dente que tal con­ti­nui­dade e tal di­visão se ex­pri­miram, na po­lí­tica, pela con­tínua des­truição dos di­reitos so­ciais, dos em­pregos, tanto com di­reitos tra­ba­lhistas quanto pre­cá­rios, das li­ber­dades de­mo­crá­ticas, das em­presas es­ta­tais, da in­dús­tria, da so­be­rania na­ci­onal, e dos leves avanços da Cons­ti­tuição de 1988.

Tudo num jogo sujo, mas nem sempre bem ar­ti­cu­lado, entre o go­verno usur­pador e cor­rupto, a maior parte das ban­cadas da Câ­mara e do Se­nado, e a mai­oria do ju­di­ciário e do apa­rato bu­ro­crá­tico e mi­litar do poder de Es­tado. Todos apa­ren­te­mente ori­en­tados pelo oli­go­pólio mi­diá­tico e sua in­te­lec­tu­a­li­dade or­gâ­nica.

Porém, apesar das pro­pa­gandas en­ga­nosas de “re­to­mada do cres­ci­mento”, o fra­casso econô­mico e o de­sastre so­cial tei­maram em con­ti­nuar se mos­trando de inú­meras ma­neiras. E, apesar do con­tínuo bom­bar­deio alar­de­ando os su­postos atos cor­ruptos de Lula e do PT, o que ex­plodiu com mais força do que a bar­ragem de lama de Ma­riana foi a cor­rupção ex­plí­cita e do­cu­men­tada dos prin­ci­pais gol­pistas nos go­vernos cen­tral e es­ta­duais e no par­la­mento.

Essas evi­dên­cias de­sas­trosas do golpe, porém, não bas­taram para deixar claro para a maior parte das forças po­lí­ticas, in­clu­sive da es­querda, que classes e forças so­ciais atuam na base da so­ci­e­dade, seja para impor in­te­resses que pa­re­ciam ul­tra­pas­sados pelas po­lí­ticas re­dis­tri­bu­tivas dos go­vernos he­ge­mo­ni­zados pelo PT, seja para po­si­ci­onar-se di­ante dos efeitos des­tru­tivos da im­po­sição da­queles in­te­resses. Na prá­tica, sem a per­cepção clara dos in­te­resses es­pe­cí­ficos das di­versas fra­ções das classes pre­sentes na so­ci­e­dade bra­si­leira fica di­fícil com­pre­ender, por exemplo, por que emer­giram con­tra­di­ções e con­flitos entre os se­tores po­lí­ticos gol­pistas, ou por que cresceu a acei­tação po­pular de Lula e do PT, apesar do bom­bar­deio mi­diá­tico contra eles.

Há ana­listas para quem os res­pon­sá­veis únicos pelo golpe par­la­mentar e ju­di­cial e pela po­lí­tica em curso foram as fra­ções fi­nan­ceiras das bur­gue­sias das grandes po­tên­cias es­tran­geiras. Isso se tra­duziu, na po­lí­tica, em achar que o sis­tema fi­nan­ceiro na­ci­onal, ou parte dele, po­deria ter se aliado às forças so­ciais que la­bu­taram pela der­rota dos gol­pistas e pela re­to­mada do ca­minho de­mo­crá­tico aberto com a Cons­ti­tuição de 1988. Na ver­dade, as fra­ções fi­nan­ceira e agro­ne­go­ci­ante da bur­guesia na­ci­onal ele­varam-se a he­gemô­nicas e es­ta­be­le­ceram uma ali­ança es­treita com as grandes cor­po­ra­ções trans­na­ci­o­nais das po­tên­cias ca­pi­ta­listas.

Essas fra­ções so­ciais atuam em con­junto no pro­cesso de es­po­li­ação das ri­quezas bra­si­leiras (o que in­clui a es­po­li­ação dos tra­ba­lha­dores) e é um erro supor que possam ter in­te­resses econô­micos e so­ciais de ca­ráter na­ci­onal, de­mo­crá­tico e/ou po­pular. Adi­ci­o­nal­mente, a maior parte das de­mais fra­ções bur­guesas na­ci­o­nais (in­dus­trial, co­mer­cial e de ser­viços), tendo a opor­tu­ni­dade de lu­crar no ren­tismo, também em­barcou na po­lí­tica de des­na­ci­o­na­li­zação em­pre­sa­rial e de su­pe­rex­plo­ração do tra­balho. Com ex­ce­ções pon­tuais, tais se­tores não têm qual­quer com­pro­misso com os in­te­resses na­ci­o­nais de in­dus­tri­a­li­zação e de­sen­vol­vi­mento ci­en­tí­fico e tec­no­ló­gico so­be­ranos.

Du­rante os go­vernos pe­tistas, todas essas fra­ções bur­guesas man­ti­veram uma dupla face. Por um lado, de ali­ança fic­tícia com as po­lí­ticas desses go­vernos. Por outro, de tra­balho de sapa contra eles, mi­nando-os e exau­rindo-os através de ope­ra­ções de cor­rupção em larga es­cala, até uni­ficar-se, em 2016, para a con­se­cução do golpe de im­pe­di­mento da pre­si­dente Dilma. Com isso, acre­di­taram pos­sível uti­lizar o ano de 2017 para trans­formar as elei­ções de 2018 num pas­seio. Su­pu­seram que o bom­bar­deio mi­diá­tico e ju­di­cial contra Lula e o PT ti­raria ambos do páreo.

Para eles, a vi­tória elei­toral em 2018 per­mi­tiria ao gol­pismo le­ga­lizar-se e ir ainda mais longe nos ata­ques contra as classes po­pu­lares, os di­reitos so­ciais, as li­ber­dades po­lí­ticas e a so­be­rania na­ci­onal. Para seu azar, porém, o go­verno Temer trans­formou-se num tram­bolho. As pro­messas de re­cu­pe­ração dos em­pregos e da renda caíram no vazio. As po­lí­ticas de re­dução da in­flação e da taxa bá­sica de juros, de­sa­com­pa­nhadas de po­lí­ticas de in­ves­ti­mentos pú­blicos, só ge­raram pautas de no­tí­cias po­si­tivas sem qual­quer se­me­lhança com a re­a­li­dade.

Nessas con­di­ções, a mai­oria da po­pu­lação passou a en­xergar a cam­panha contra Lula e o PT não como mo­ti­vação ju­rí­dica, mas como per­se­guição po­lí­tica. E as pre­fe­rên­cias elei­to­rais pas­saram a apontar Lula como can­di­dato pre­fe­rido para as elei­ções pre­si­den­ciais de 2018. Essa dupla in­versão das ex­pec­ta­tivas po­lí­ticas da bur­guesia do­mi­nante pi­orou com a falta de con­di­ções do go­verno Temer em atender de­mandas es­pe­cí­ficas, a exemplo da rei­vin­di­cação es­cra­vo­crata do agro­ne­gócio e dos in­te­resses car­to­riais da base par­la­mentar gol­pista. O que in­tro­duziu uma cres­cente di­visão no seio da bur­guesia e, em con­sequência, no seio de sua re­pre­sen­tação po­lí­tica, em­bora não haja pre­dis­po­sição das fra­ções bur­guesas, he­gemô­nicas ou não, de mudar de lado como ocorreu em 2002.

En­quanto isso ocorria nos se­tores do­mi­nantes da so­ci­e­dade bra­si­leira, nos se­tores do­mi­nados (classe tra­ba­lha­dora, ex­cluídos, pe­quena-bur­guesia ur­bana e pe­quena-bur­guesia rural) ins­talou-se a pa­ra­lisia so­cial e po­lí­tica. Em­bora so­frendo as con­sequên­cias das po­lí­ticas ne­o­li­be­rais ra­di­cais do go­verno gol­pista, as classes po­pu­lares não se mo­bi­li­zaram com a ên­fase ne­ces­sária para con­trapor-se a tais po­lí­ticas.

As causas dessa pa­ra­lisia talvez devam ser bus­cadas no fato do PT e de­mais par­tidos e cor­rentes da es­querda ha­verem subs­ti­tuído, em maior ou menor es­cala, o tra­balho de base co­ti­diano re­la­ci­o­nado à luta em de­fesa dos in­te­resses ime­di­atos dessas classes, pelo tra­balho ins­ti­tu­ci­onal, par­la­mentar ou go­ver­na­mental, na­ci­onal, es­ta­dual e/ou mu­ni­cipal.

No PT esse des­co­la­mento ocorreu à me­dida que pre­do­minou, em seu meio, a ilusão de que os pro­gramas so­ciais dos go­vernos pe­tistas se­riam ca­pazes de atender a todos os in­te­resses ime­di­atos das classes po­pu­lares. Nos de­mais par­tidos e cor­rentes de es­querda, o des­co­la­mento ocorreu à me­dida que eles to­maram os go­vernos pe­tistas como ini­migos prin­ci­pais, con­fun­diram a luta pelos in­te­resses ime­di­atos com a luta contra o PT, e mer­gu­lharam num tra­balho ins­ti­tu­ci­onal re­verso. Acres­cente-se a isso o sério erro es­tra­té­gico do go­verno Dilma em re­a­lizar o ajuste fiscal re­cla­mado pelos ne­o­li­be­rais ao invés de cum­prir as pro­messas po­pu­lares das elei­ções de 2014.

O des­co­la­mento ge­ne­ra­li­zado dos par­tidos e cor­rentes de es­querda em re­lação às bases onde se en­con­tram seus prin­ci­pais su­portes so­ciais im­pediu não apenas a uni­fi­cação dessas forças para com­bater o golpe de 2016, mas também para com­bater a con­ti­nui­dade da ofen­siva re­a­ci­o­nária em 2017.

Apesar disso, no PT con­ti­nuou ha­vendo uma mai­oria se­gundo a qual não havia mo­tivos para au­to­crí­tica em re­lação àqueles erros po­lí­ticos e or­ga­ni­za­tivos, assim como em re­lação às de­nún­cias de cor­rupção en­vol­vendo al­guns de seus di­ri­gentes que, in­clu­sive, se dis­pu­seram a acordos de de­lação pre­miada. E em vá­rias das ou­tras cor­rentes de es­querda con­ti­nuou pre­do­mi­nando a ideia do PT como ini­migo ou, na me­lhor das hi­pó­teses, como uma carta po­lí­tica fora do ba­ralho.

Nessas con­di­ções, a su­po­sição de que o de­sen­lace da luta da di­reita contra a es­querda e ou­tras forças pro­gres­sistas e de­mo­crá­ticas de­pendia da mo­bi­li­zação so­cial de massa passou a ser subs­ti­tuída pela su­po­sição de que tal de­sen­lace es­taria re­la­ci­o­nado à ela­bo­ração de um novo pro­jeto es­tra­té­gico. Assim, en­quanto tal novo pro­jeto não era ela­bo­rado, ficou fora de foco a re­a­li­zação da dis­puta ide­o­ló­gica e po­lí­tica e da luta con­creta contra a con­ti­nui­dade da ofen­siva re­a­ci­o­nária da di­reita.

Assim, 2017 se en­cerra tanto com o cres­cente em­ba­raço em que se en­con­tram as forças so­ciais bur­guesas para fazer com que seu go­verno “ar­rume a casa”, “re­tome o cres­ci­mento econô­mico e o em­prego”, e “man­tenha a luta contra a cor­rupção”, mesmo dei­xando-se cortar na pró­pria carne, quanto com as di­fi­cul­dades dos tra­ba­lha­dores, dos ex­cluídos e da pe­quena bur­guesia em se con­tra­porem à piora de sua si­tu­ação econô­mica e so­cial, à re­dução ou à perda de seus di­reitos ao tra­balho, à saúde, à edu­cação, à apo­sen­ta­doria e à par­ti­ci­pação po­lí­tica.

Como ocorreu em ou­tros mo­mentos da his­tória bra­si­leira, o povo pode de­morar a se dar conta de que a pro­pa­ganda das “ben­fei­to­rias” pro­me­tidas pelos gol­pistas é farsa en­ga­nosa, e que as re­formas deles são mais ra­di­cal­mente re­gres­sivas, pri­va­tistas e des­na­ci­o­na­li­zantes do que as dos anos 1990, po­dendo de­vastar a eco­nomia e a so­ci­e­dade bra­si­leira por vá­rios anos mais. Nesse sen­tido, a con­ti­nui­dade, em 2017, da der­rota es­tra­té­gica da es­querda bra­si­leira, in­capaz de dar uma res­posta efe­tiva ao avanço re­a­ci­o­nário da di­reita, pode ser con­si­de­rada um sinal ne­ga­tivo para o fu­turo.

Por Wla­dimir Pomar, que é Es­critor e Ana­lista Po­lí­tico.

Artigo colhido no sítio http://www.correiocidadania.com.br/colunistas/wladimir-pomar/13016-2017-sinal-negativo-para-o-futuro

 

Close