Valor Econômico – Vera Saavedra Durão
No primeiro semestre do ano, as contas econômicas trimestrais medidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registraram uma capacidade de financiamento de R$ 1,1 bilhão para a atividade do país, em comparação a uma necessidade de financiamento de R$ 19,8 bilhões no primeiro semestre de 2002. O fato não é inédito e já aconteceu no primeiro semestre de 2002, quando se gerou uma capacidade de financiamento de R$ 4,2 bilhões. O último ano em que o Brasil gerou esta capacidade de se autofinanciar foi 1992.
Entretanto, esta inversão da trajetória foi causada pela escassez de recursos externos no mercado internacional para os países emergentes, levando o país a fazer ajustes externo e interno para se autofinanciar. Isso gerou uma poupança nacional bruta de R$ 36,8 bilhões de janeiro a junho deste ano. Esse processo foi alavancado pelas contas externas, com destaque para o bom desempenho das exportações e do saldo comercial decorrente também da redução das importações. O saldo externo contabilizado na conta de bens e serviços foi da ordem de R$ 23,9 bilhões neste semestre.
A recessão do período também ajudou a criar capacidade de financiamento na economia, já que os fatores de demanda interna caíram, como o consumo das famílias e do governo, que cresceu menos (R$ 50,6 bilhões), colaborando para a formação de uma poupança bruta doméstica de R$ 36,8 bilhões.
O baixo investimento fixo, entendido como formação bruta de capital fixo, também derivado do ambiente recessivo, colaborou para o país se autofinanciar, pois somou apenas R$ 16 bilhões. No semestre, a FBCF caiu 5,4% nas contas do IBGE, encolhendo a participação do investimento fixo no PIB para 17,8% , ante 19,13% no primeiro trimestre, a taxa mais baixa dos últimos 20 anos. Enquanto a taxa de poupança bruta cresceu para 21,13% do PIB no segundo trimestre, ante 20,38% no primeiro e 15,66% no último trimestre de 2002.
Na análise de Paulo Levy, diretor do Ipea/Rio, esta geração de capacidade de financiamento poderá se prolongar até o final do ano, caso o investimento continue hibernando e as exportações permaneçam em expansão, bem como o saldo em conta corrente. O Ipea estima que neste ano ainda possa acontecer um déficit em conta corrente da ordem de 1,6% do PIB, mas poderá ser menor se as exportações continuarem crescendo. Nesse caso, este resultado da conta corrente poderá até ser um saldo. Se o investimento fechar o ano em queda, como o Ipea prevê, o país não precisará de poupança externa para financiar inversões.
As contas financeiras levantadas pelas contas nacionais do PIB trimestral nominal informam que no primeiro semestre do ano manteve-se um cenário de escassez de recursos externos para os países da América Latina, com redução de entrada do investimento estrangeiro direto e aumento pequeno das reservas, que foram engordadas pelo dinheiro do Fundo Monetário Internacional (FMI).
No período, o país captou em recursos voluntários R$ 5 bilhões e o investimento externo direto (IED) somou R$ 11,5 bilhões, o mais baixo volume desde 1998, quando no mesmo período o país recebeu de IED R$ 11,7 bilhões. Em relação às reservas, com recursos do FMI, elas cresceram R$ 27,8 bilhões e sem o dinheiro do fundo, aumentaram apenas R$ 1,971bilhão. “Grande parte dessa acumulação de reservas se deveram aos recursos do FMI”, constatou Daniel de Souza, do IBGE.
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Por Mhais• 1 de outubro de 2003• 10:44• Sem categoria
RECESSÃO E SALDO COMERCIAL AJUDAM PAÍS A SE FINANCIAR
Valor Econômico – Vera Saavedra Durão
No primeiro semestre do ano, as contas econômicas trimestrais medidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registraram uma capacidade de financiamento de R$ 1,1 bilhão para a atividade do país, em comparação a uma necessidade de financiamento de R$ 19,8 bilhões no primeiro semestre de 2002. O fato não é inédito e já aconteceu no primeiro semestre de 2002, quando se gerou uma capacidade de financiamento de R$ 4,2 bilhões. O último ano em que o Brasil gerou esta capacidade de se autofinanciar foi 1992.
Entretanto, esta inversão da trajetória foi causada pela escassez de recursos externos no mercado internacional para os países emergentes, levando o país a fazer ajustes externo e interno para se autofinanciar. Isso gerou uma poupança nacional bruta de R$ 36,8 bilhões de janeiro a junho deste ano. Esse processo foi alavancado pelas contas externas, com destaque para o bom desempenho das exportações e do saldo comercial decorrente também da redução das importações. O saldo externo contabilizado na conta de bens e serviços foi da ordem de R$ 23,9 bilhões neste semestre.
A recessão do período também ajudou a criar capacidade de financiamento na economia, já que os fatores de demanda interna caíram, como o consumo das famílias e do governo, que cresceu menos (R$ 50,6 bilhões), colaborando para a formação de uma poupança bruta doméstica de R$ 36,8 bilhões.
O baixo investimento fixo, entendido como formação bruta de capital fixo, também derivado do ambiente recessivo, colaborou para o país se autofinanciar, pois somou apenas R$ 16 bilhões. No semestre, a FBCF caiu 5,4% nas contas do IBGE, encolhendo a participação do investimento fixo no PIB para 17,8% , ante 19,13% no primeiro trimestre, a taxa mais baixa dos últimos 20 anos. Enquanto a taxa de poupança bruta cresceu para 21,13% do PIB no segundo trimestre, ante 20,38% no primeiro e 15,66% no último trimestre de 2002.
Na análise de Paulo Levy, diretor do Ipea/Rio, esta geração de capacidade de financiamento poderá se prolongar até o final do ano, caso o investimento continue hibernando e as exportações permaneçam em expansão, bem como o saldo em conta corrente. O Ipea estima que neste ano ainda possa acontecer um déficit em conta corrente da ordem de 1,6% do PIB, mas poderá ser menor se as exportações continuarem crescendo. Nesse caso, este resultado da conta corrente poderá até ser um saldo. Se o investimento fechar o ano em queda, como o Ipea prevê, o país não precisará de poupança externa para financiar inversões.
As contas financeiras levantadas pelas contas nacionais do PIB trimestral nominal informam que no primeiro semestre do ano manteve-se um cenário de escassez de recursos externos para os países da América Latina, com redução de entrada do investimento estrangeiro direto e aumento pequeno das reservas, que foram engordadas pelo dinheiro do Fundo Monetário Internacional (FMI).
No período, o país captou em recursos voluntários R$ 5 bilhões e o investimento externo direto (IED) somou R$ 11,5 bilhões, o mais baixo volume desde 1998, quando no mesmo período o país recebeu de IED R$ 11,7 bilhões. Em relação às reservas, com recursos do FMI, elas cresceram R$ 27,8 bilhões e sem o dinheiro do fundo, aumentaram apenas R$ 1,971bilhão. “Grande parte dessa acumulação de reservas se deveram aos recursos do FMI”, constatou Daniel de Souza, do IBGE.
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