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Renda de juros no Brasil atinge 29 porcento da renda bruta disponível; análise trata dos dados de 1993 a 2005

Carga financeira freia crescimento do capital produtivo

A renda de juros de 1993 a 2005 atingiu a média de 29% da renda disponível bruta. Estudo do Ipea aponta que essa excepcional carga financeira sobre o produto funciona como um freio ao crescimento do estoque de capital fixo produtivo e impede o país de trilhar trajetórias de longo prazo coerentes com as demandas sociais, em termos de geração de emprego e de renda.

Em “Acumulação de capital, distribuição e crescimento econômico no Brasil: análise dos determinantes de longo prazo”, Texto para Discussão 1364, publicado pelo Ipea, o pesquisador Miguel Bruno analisa as principais tendências do crescimento econômico brasileiro.

Segundo Bruno, “a dinâmica da economia, entre 1950 e 1980, foi particularmente notável, com elevadas taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e de acumulação de capital”. Em conseqüência, a renda per capita e o nível geral de emprego se expandiram e o país pôde consolidar sua base industrial e deixar para trás a condição de economia primário-exportadora.

No período pós-liberalização, novas oportunidades surgiram para o país reencontrar uma nova trajetória de desenvolvimento. “Mas, apesar da estabilidade de preços e das condições favoráveis do cenário internacional, a performance macroeconômica brasileira tem permanecido muito abaixo da média histórica e do que se espera de uma economia ainda em desenvolvimento”, pondera Bruno.

Recentemente, a melhora no curto prazo de alguns indicadores macroeconômicos tem sido interpretada como se já representasse a entrada da economia brasileira em um longo período de crescimento econômico sustentável. No entanto, afirma Bruno, “uma investigação dos determinantes de longo prazo do crescimento revela não só uma baixa propensão a investir do lucro macroeconômico como também a permanência de taxas ainda muito baixas de crescimento do estoque de capital fixo”.

O trabalho enfatiza que a acumulação de capital fixo produtivo é a força motriz do processo de crescimento econômico e de geração de emprego e de renda. Países que apresentam baixo crescimento do estoque de capital fixo produtivo apresentam taxas igualmente baixas de crescimento do produto e da ocupação. “A acumulação de capital é necessária para que o crescimento econômico possa efetivamente atuar com efeitos positivos no plano social”, diz Bruno.

Apesar de permitir às economias em desenvolvimento o acesso rápido a mercados internacionalizados e de alta liquidez, a globalização aprofundou a vulnerabilidade externa e a fragilidade financeira dessas economias. “Em muitas delas, como a brasileira, um padrão de crescimento econômico com domínio financeiro parece ter-se consolidado”, informa o pesquisador.

Segundo a pesquisa, a financeirização pode explicar a queda da taxa de acumulação e, conseqüentemente, das trajetórias de baixo e instável crescimento econômico que marcam as performances dessas economias no período pós-liberalização. “Esses regimes financeiros não são em geral capazes de garantir taxas altas e sustentáveis de crescimento da renda per capita, porque isto implicaria que os proprietários de capital aceitassem abrir mão da elevada rentabilidade e liquidez proporcionada por ativos de curto prazo conectados à dívida pública, em favor de imobilizações ou ativos reais que, embora diretamente produtivos e relevantes do ponto de vista social, tendem a apresentar maiores riscos e menor rentabilidade”, constata Bruno.

Um regime de crescimento liderado pelas finanças e com elevada concentração de renda e do estoque de riqueza tenderá a reproduzi-las, porque sua macrodinâmica já pressupõe a redução da parcela salarial no produto e a elevação dos níveis de desemprego estrutural.

Apesar da boa performance do setor de bens de consumo duráveis e de capital, é nítido o baixo dinamismo do setor de bens de consumo não-duráveis, que permanece praticamente estagnado desde 1991. “É um setor fundamental no processo de desenvolvimento social do país, por sua importância no consumo das classes de baixa renda”, conta Bruno. Por isso a teoria econômica o denomina setor de consumo assalariado.

A partir dos dados da pesquisa, Bruno conclui que “a estrutura produtiva brasileira ainda privilegia o consumo dos mais ricos em detrimento dos mais pobres”. Há, sem dúvida, uma suave melhora no período 2005-2007, mas que é grandemente superada pela produção de bens duráveis, cuja demanda é assegurada pelo poder aquisitivo mais elevado das classes média e alta.

Leia na íntegra o TD 1364, de Miguel Bruno, acessando o endereço eletrônico http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/publicacoes/tds/TD_1364.pdf.

NOTÍCIA COLHIDA NO SÍTIO www.ipea.gov.br.

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