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A importância da regulamentação do sistema financeiro, na ótica dos trabalhadores

Oficina no FSM defende controle e regulamentação do sistema financeiro

A oficina “Um outro sistema financeiro é possível” lotou o auditório da Casa dos Bancários na tarde desta quarta-feira, dia 27, no centro de Porto Alegre. Integrada à programação do Fórum Social Mundial 10 Anos, a atividade contou com exposições do economista, professor da PUC-SP e assessor da Contraf/CUT, Carlos Eduardo Carvalho, e da filósofa norte-americana e dirigente da Attac-França (Associação pela Taxação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos), Susan George.

A mesa de abertura foi composta pelos representantes das entidades que promoveram o evento: o presidente do SindBancários, Juberlei Baes Bacelo; os diretores da Contraf-CUT, Miguel Pereira, e da Federação dos Bancários do RS, Amaro Souza, o presidente da CUT-RS, Celso Woyciechowsky, e o representante da Abong, Mauri Cruz.

Juberlei disse que, enquanto trabalhadores do sistema financeiro, os bancários têm uma tarefa maior na reflexão e na busca de alternativas para o modelo econômico atual. “Debater alternativas pra o sistema financeiro deve ser objetivo de todos os que acreditam quem um outro mundo é possível”, destacou.

Amaro Souza disse que é preciso ampliar e aprofundar as discussões sobre o sistema financeiro. Ele também questionou o tratamento dado pelos bancos aos seus trabalhadores. “Nós integramos este sistema e o sustentamos com a nossa força de trabalho. Por outro lado, somos vítimas das instituições bancárias, que deterioram cada vez mais as condições de trabalho em função do lucro a qualquer custo. Os bancos fecham postos de trabalho sem justificativa, usando a rotatividade para reduzir a média salarial dos trabalhadores”, denunciou o diretor da Feeb/RS.

“Queremos colocar o sistema financeiro para atender os interesses da sociedade”, enfatizou Miguel. Ele destacou que os bancários estão empenhados na formatação de uma proposta de regulamentação do sistema financeiro e que a entidade realizará em breve um grande fórum para discutir o tema. “Depois de formatar a nossa proposta, vamos fazer a disputa na sociedade, que é onde interessa”, salientou o diretor da Contraf-CUT.

Celso disse que “o sistema financeiro precisa de muitas mudanças, como a regulamentação em cada país”. Para o presidente da CUT-RS, existem possibilidades de mudanças que devem ser construídas a partir da reflexão e da pressão organizada dos trabalhadores do ramo financeiro e da sociedade.

Mauri ressaltou o sucesso do retorno do FSM a Porto Alegre e a riqueza dos debates que estão ocorrendo na capital e região metropolitana. “A humanidade precisa do Fórum Social Mundial, como espaço da diversidade, reflexão e construção de alternativas, onde está incluído o sistema financeiro”, afirmou o representante da Abong.

As contradições da crise

Carvalho fez uma explanação sobre as origens da crise econômica mundial e o papel do sistema financeiro internacional neste contexto. De acordo com o economista, uma das principais contradições da crise mundial não recebe a devida atenção. “Trata-se do potencial destrutivo do sistema financeiro”, apontou.

O assessor da Contraf-CUT também observou que as consequências da crise ainda são confusas e incertas. “A economia estava à beira do desastre, que só não se efetivou pela ação do estado”, salientou. “Havia um delírio especulativo dos mercados.”

“Não sabemos como o sistema de intervenção dos governos será desmontado. Não tenho certeza se voltaremos ao mundo que era antes”, ressaltou.

O economista disse que o desenvolvimento econômico mundial agora coloca desafios originais. “Antes da crise tínhamos três grandes críticas ao sistema financeiro: a concentração da riqueza, o seu potencial destrutivo e a absoluta ausência de transparência. Uma falta de transparência pela nossa incapacidade de regulação e fiscalização das atividades financeiras”, acrescentou.

O economista baiano ressaltou que para levar adiante a discussão sobre a regulamentação do sistema financeiro é preciso ter mais cooperação entre os bancos centrais. Ele também observou que não há nenhum acordo de regulação monetária sobre as moedas mais valiosas do mundo, o que dificulta qualquer iniciativa.

“A questão da regulamentação esbarra na ausência de regulação macroeconômica. Como pensar em regulamentação se as elites querem a desregulamentação cambial e conseguem ganhar a opinião pública e os governos?”, questionou.

O professor da PUC-SP alertou para “o risco de transformar defeitos em virtudes”, ao avaliar o desempenho dos bancos brasileiros na crise mundial. Ele observou que “no Brasil os bancos são sólidos, mas foram salvos várias vezes pelo Banco Central”.

Socialização no sistema financeiro

Para Susan, com a crise econômica surgiu uma grande crise de justiça. Ela explicou que aqueles que geraram a crise foram recompensados. Por outro lado, a filósofa afirmou que os inocentes, incluindo os trabalhadores que perderam seus empregos, foram punidos.

A norte-americana lembrou que o socorro dado aos bancos chegou a cerca de 14 trilhões de dólares. Segundo ela, com isso os governos alegam não ter dinheiro para investir em saúde, emprego, educação, alimentação. “O G-20 não está propondo nada para evitar uma nova crise, que pode ser pior do que esta”, alertou.

A ativista enfatizou que as finanças hoje tomam as grandes decisões do mundo e que é preciso inverter esta lógica. “Os sindicatos e vocês, brasileiros, devem empurrar os seus governos porque eles não estão se expressando o suficiente. Os movimentos sociais são remédios genuínos para as crises que estamos vivendo.”

Susan também destacou que a sociedade é quem paga pelos bancos, que criam produtos financeiros o tempo todo, fora da economia real. Na sua avaliação, o dinheiro vem basicamente dos bolsos dos trabalhadores, porque a natureza e o trabalho constituem a base de tudo na economia. “O sistema financeiro precisa de regulação, mas eu chamo de socialização. Parte dos bancos tem que ser socializada”, afirmou.

Para enfrentar os desafios do desenvolvimento econômico sem colocar o planeta em risco, a filósofa defendeu o conceito de convergência verde. “Nós precisamos de transporte alternativo, de reflorestamento, do cultivo da biodiversidade e da transferência de tecnologia verde”.

Em sua análise final, Susan resumiu que é preciso mudar a ordem das coisas. Ela fez uma analogia com o mundo atual, onde as finanças aparecem primeiro, seguidas pela economia e onde só depois surgem a sociedade e a biosfera. Na sua opinião, essa ordem deve ser invertida.

A dirigente da Attac-Franca concluiu dizendo que “o capital financeiro é inimigo de todos e, por isso, temos que trabalhar juntos”.

Debate

Vários participantes da oficina fizeram perguntas aos expositores, destacando a necessidade de regulação do sistema financeiro, o fim dos paraísos fiscais, o controle social dos bancos, o fluxo de capitais, a remessa de lucros, a redução dos bônus dos executivos, a ampliação do crédito e a inclusão do trabalho na agenda, dentre outros temas.

Ao final, Carvalho e Susan responderam algumas questões. O economista destacou que “o sistema financeiro saiu bem da crise. Foram socorridos pelo estado e já estão lucrando e pagando bônus de novo”, avaliou.

“O socorro dos estados para os bancos aumentou a dívida pública. “Como equacionar? Como reduzir a dívida sem tumultos?”, questionou o assessor da Contraf-CUT.

Susan reiterou que “o neoliberalismo não funciona, é crise após crise, só não se sabe qual”. Ela alertou que há paraísos fiscais bem maiores que a Suíça, como Londres. Para a ativista, “os banco internacionais deveriam competir para ganhar o prêmio de literatura, pois vivem fazendo ficções”.

Fonte: Contraf-CUT com Imprensa da Feeb/RS.

NOTÍCIA COLHIDA NO SÍTIO www.contrafcut.org.br.

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