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UM PAÍS DE BANDIDOS

Por Gilberto de Souza – do Rio de Janeiro
Não se pode pressupor descabida a denúncia sobre o esquema Waldomiro, no Rio e em Brasília, diante de tantas provas oferecidas, ou se atribuir à falta de condições técnicas a demora na apuração total do caso Celso Daniel, em São Paulo. Sob estes argumentos seguem apressadas, para as calendas, outras tantas denúncias, sejam sobre enriquecimento ilícito de figuras como Paulo Maluf, José Serra e até mesmo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ou outras personagens que lotam os processos sobre as mesas de delegados, procuradores e juízes pelo Brasil afora.
“Cantilena”, dizem os cidadãos envolvidos em tais denúncias, com a razão de quem permanece livre e desempedido para tocar sua vida, concorrer a cargos públicos e usufruir dos recursos que conseguiu amealhar com o suor do rosto, como afirmam indiciados de todos os tipos, políticos de qualquer cepa e advogados de plantão. Cantilena é, e será, sempre que se supor a ausência do viés político sobre tais denúncias. A nódoa se estende a ponto do senador pelo Amazonas, do Partido Democrático Trabalhista, Jefferson Peres dizer a plenos pulmões que, uma vez investigadas todas as campanhas políticas brasileiras, “no mínimo 90%” apresentarão indícios de irregularidades. E logo ele, que é tido como uma das vozes que sustentam o purismo de princípios e a honestidade de propósitos da política nacional.
Como denúncias existem da esquerda à direita, do cargo mais alto da República ao mais rales apupo sobre o nepotismo do vereador ou à propina do juiz corrompido, sob este nível de apuração muito próximo do sofrível, constata-se que a farra se institui para os inquilinos do poder. Uma vez atingido, em se chegando lá — pelas armas ou no voto —, o senso prático da sobrevivência, nos assentos flutuantes do jetset nacional, grita mais alto.
O jogo do bicho, o moderno, que engloba atividades como o tráfico de drogas, a prostituição e contravenções amiúde, não aquele romântico dos escrevinhadores de palpites da esquina; a rede de patrocínios instaurada para sustentar campanhas políticas até nos rincões ou a mera propina do guarda, aquela que tantas vezes escorregou pela carteira de motorista vencida de milhões de cidadãos, de Norte a Sul do Brasil, qualquer forma de rompimento com a ordem determinada na tábua das leis, enfim, faz deste país um paraíso para a bandidagem.
Ora, se no mínimo 90% das campanhas políticas não passariam por um teste rígido, isso significaria, então, que 90% do poder público brasileiro estariam, de uma forma ou outra, envolvidos em algum escorregão jurídico. Em sendo verdade tal pressuposto, aliando-o às mancadas do Waldomiro, à violência na morte de Celso Daniel, à impunidade que paira sobre tantos outros, a constatação torna-se de uma obviedade atroz.
Uma vez levado em conta que bandido não tem idade, peso, credo, cor ou preferência sexual. Que basta descumprir as leis estabelecidas no país, de forma reiterada e proposital, para se tornar um deles, o número de suspeitos eleva-se aos patamares citados por tão ilustre senador. Simples. Não existe meio bandido, da mesma forma como não há meio virgem.
Pior ainda é se presumir que leis sejam criadas e executadas por gente que, numa escala abissal, estaria metida de forma inexorável em deslizes de qualquer monta, desde a corrupção do guarda até a aprovação de projetos milionários e amplamente discutíveis junto a instâncias públicas. Nem é preciso lembrar a fieira de evidências, nunca comprovadas em juízo, mas que perduram sobre líderes da extrema-direita desde os tempos da famigerada, muitos deles ainda vivos e felizes com suas fortunas. Nem devemos voltar tanto no tempo até os negócios suspeitos do Instituto Brasileiro do Café (IBC), as conversas sobre o preço da ponte Rio-Niterói e por aí vai.
Constata-se, porém, que seria impossível viver em um país com tal nível de bandidagem por mil habitantes, tamanha falta de ética e patriotismo por quilômetro quadrado, em meio a uma quantidade tão imensa de criminosos por metro cúbico. Quem se julgasse gente de bem, os meros 10% de parlamentares que, nas contas do senador, seriam pilares da decência brasileira, já teria sucumbido à desordem, virado às avessas, enfim, iria vadiar, como versou o poeta Zeca Pagodinho.
Como isso não é meramente possível, melhor mesmo é crer que o banditismo destes maus-caráteres, se encoberto de alguma forma, será desvendado por um sistema eficaz e correto, por homens e mulheres com senso cívico, em uma nação que honra as leis sob as quais devem viver todos os seus cidadãos, sem diferenças qualquer, iguais perante elas. Da mesma forma como isto também se mostra uma utopia, diante casos tão expressivos e atuais, não resta alternativa outra que não seja aquela nos ensinada por todos os bons mestres.
Qual delas? Várias. Mas uma com certeza: “A Justiça vem a cavalo”.
*Gilberto de Souza é editor-chefe do Correio do Brasil

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UM PAÍS DE BANDIDOS

Por Gilberto de Souza – do Rio de Janeiro

Não se pode pressupor descabida a denúncia sobre o esquema Waldomiro, no Rio e em Brasília, diante de tantas provas oferecidas, ou se atribuir à falta de condições técnicas a demora na apuração total do caso Celso Daniel, em São Paulo. Sob estes argumentos seguem apressadas, para as calendas, outras tantas denúncias, sejam sobre enriquecimento ilícito de figuras como Paulo Maluf, José Serra e até mesmo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ou outras personagens que lotam os processos sobre as mesas de delegados, procuradores e juízes pelo Brasil afora.

“Cantilena”, dizem os cidadãos envolvidos em tais denúncias, com a razão de quem permanece livre e desempedido para tocar sua vida, concorrer a cargos públicos e usufruir dos recursos que conseguiu amealhar com o suor do rosto, como afirmam indiciados de todos os tipos, políticos de qualquer cepa e advogados de plantão. Cantilena é, e será, sempre que se supor a ausência do viés político sobre tais denúncias. A nódoa se estende a ponto do senador pelo Amazonas, do Partido Democrático Trabalhista, Jefferson Peres dizer a plenos pulmões que, uma vez investigadas todas as campanhas políticas brasileiras, “no mínimo 90%” apresentarão indícios de irregularidades. E logo ele, que é tido como uma das vozes que sustentam o purismo de princípios e a honestidade de propósitos da política nacional.

Como denúncias existem da esquerda à direita, do cargo mais alto da República ao mais rales apupo sobre o nepotismo do vereador ou à propina do juiz corrompido, sob este nível de apuração muito próximo do sofrível, constata-se que a farra se institui para os inquilinos do poder. Uma vez atingido, em se chegando lá — pelas armas ou no voto —, o senso prático da sobrevivência, nos assentos flutuantes do jetset nacional, grita mais alto.

O jogo do bicho, o moderno, que engloba atividades como o tráfico de drogas, a prostituição e contravenções amiúde, não aquele romântico dos escrevinhadores de palpites da esquina; a rede de patrocínios instaurada para sustentar campanhas políticas até nos rincões ou a mera propina do guarda, aquela que tantas vezes escorregou pela carteira de motorista vencida de milhões de cidadãos, de Norte a Sul do Brasil, qualquer forma de rompimento com a ordem determinada na tábua das leis, enfim, faz deste país um paraíso para a bandidagem.

Ora, se no mínimo 90% das campanhas políticas não passariam por um teste rígido, isso significaria, então, que 90% do poder público brasileiro estariam, de uma forma ou outra, envolvidos em algum escorregão jurídico. Em sendo verdade tal pressuposto, aliando-o às mancadas do Waldomiro, à violência na morte de Celso Daniel, à impunidade que paira sobre tantos outros, a constatação torna-se de uma obviedade atroz.

Uma vez levado em conta que bandido não tem idade, peso, credo, cor ou preferência sexual. Que basta descumprir as leis estabelecidas no país, de forma reiterada e proposital, para se tornar um deles, o número de suspeitos eleva-se aos patamares citados por tão ilustre senador. Simples. Não existe meio bandido, da mesma forma como não há meio virgem.

Pior ainda é se presumir que leis sejam criadas e executadas por gente que, numa escala abissal, estaria metida de forma inexorável em deslizes de qualquer monta, desde a corrupção do guarda até a aprovação de projetos milionários e amplamente discutíveis junto a instâncias públicas. Nem é preciso lembrar a fieira de evidências, nunca comprovadas em juízo, mas que perduram sobre líderes da extrema-direita desde os tempos da famigerada, muitos deles ainda vivos e felizes com suas fortunas. Nem devemos voltar tanto no tempo até os negócios suspeitos do Instituto Brasileiro do Café (IBC), as conversas sobre o preço da ponte Rio-Niterói e por aí vai.

Constata-se, porém, que seria impossível viver em um país com tal nível de bandidagem por mil habitantes, tamanha falta de ética e patriotismo por quilômetro quadrado, em meio a uma quantidade tão imensa de criminosos por metro cúbico. Quem se julgasse gente de bem, os meros 10% de parlamentares que, nas contas do senador, seriam pilares da decência brasileira, já teria sucumbido à desordem, virado às avessas, enfim, iria vadiar, como versou o poeta Zeca Pagodinho.

Como isso não é meramente possível, melhor mesmo é crer que o banditismo destes maus-caráteres, se encoberto de alguma forma, será desvendado por um sistema eficaz e correto, por homens e mulheres com senso cívico, em uma nação que honra as leis sob as quais devem viver todos os seus cidadãos, sem diferenças qualquer, iguais perante elas. Da mesma forma como isto também se mostra uma utopia, diante casos tão expressivos e atuais, não resta alternativa outra que não seja aquela nos ensinada por todos os bons mestres.

Qual delas? Várias. Mas uma com certeza: “A Justiça vem a cavalo”.

*Gilberto de Souza é editor-chefe do Correio do Brasil

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