fetec@fetecpr.com.br | (41) 3322-9885 | (41) 3324-5636

Por 10:45 Sem categoria

Fala, Dirigente! Entrevista com Elias Jordão, presidente da FETEC-CUT-PR

Na sequência de entrevistas promovidas pelo Instituto de Defesa da Classe Trabalhadora (Declatra), a bola da vez é o presidente da Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Paraná (Fetec-CUT-PR), Eias Hennemann Jordão, que também é membro do Comando Nacional de Greve dos Bancários representando o Paraná.

Nesta entrevista Jordão avalia o cenário da mobilização da categoria, a maior dos últimos anos. No último balanço divulgado pelo Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região já eram 378 agências fechadas em Curitiba e 812 em todo o Paraná.

Jordão também falou sobre as principais reivindicações da categoria, os problemas de saúde enfrentados pelos bancários e criticou o Projeto de Lei 4

330/2004 que pretende escancarar as terceirizações no Brasil.

1 – Como o Sr. avalia a greve até o momento? Há uma grande adesão por parte da categoria?

A greve até o momento está muito além da nossa expectativa inicial. Tínhamos algum receio às vésperas da greve que a adesão inicial seria tímida ou dificultada devido as pressões internas sofridas pelos bancários a não aderirem ao movimento, coisa que acontece todo ano; mas para nossa surpresa iniciamos o primeiro dia com um número muito grande de bancários mobilizados espontaneamente.

Hoje a adesão não somente está grande como vem numa crescente a cada dia, numa resposta muito clara aos bancos que os trabalhadores não agüentam mais as pressões sofridas diariamente pelas metas quase sempre inatingíveis e também pela falta de expectativa de carreira e de garantias mínimas de emprego.

2 – A campanha dos bancários deixa claro que a luta não é apenas por salários. Poderia detalhar um pouco mais sobre este conceito?

Foi-se o tempo, pelo menos na categoria dos bancários, em que se negociava especificamente e quase que exclusivamente as clausulas econômicas. É evidente que a questão salarial ainda é preponderante não apenas porque se trata da recomposição do poder de compra dos trabalhadores, mas principalmente porque é justo que o bancário que produz a montanha de lucros dos bancos, se aproprie de parte destes lucros, mas hoje a prioridade da categoria passa por outras questões mais cruciais.

Nosso foco principal das negociações dos últimos anos tem sido as questões de saúde e condições de trabalho e o emprego. Hoje é assustador o número de bancários afastados por doenças psíquicas causadas pelo assedio moral em consequência das metas abusivas e pela angústia da incerteza do emprego no dia seguinte, por isso temos certeza que remuneração não é tudo se não tivermos a nossa saúde e o nosso emprego. Lamentavelmente o emprego tem sido o motivo de chantagem para cumprimento destas metas, mas nem mesmo o cumprimento das mesmas tem evitado o alto número de rotatividade no setor, rotatividade esta que tem apenas o objetivo de aumentar os lucros dos banqueiros.

3 – O Sindicato dos Bancários também estabeleceu canais de comunicação com os trabalhadores para que eles denunciem qualquer tentativa de assédio. Como estão ser portando os patrões nesta relação? Já existem muitas denúncias? De que ordem?

Interessante que não apenas na base do Sindicato de Curitiba, mas em todo o estado e no país é grande o número de bancários que denunciam aos sindicatos todo tipo de pressão neste momento de greve, denunciando inclusive contingências que os bancos preparam neste período. Como os sindicatos recebem estas denúncias de forma sigilosa, os patrões ficam impossibilitados de terem qualquer reação, o que permite aos sindicatos avançarem no diálogo de convencimento com os trabalhadores pela adesão à greve.

Outro fato importante observado na greve deste ano é que além dos bancários denunciarem as pressões internas para não participarem do movimento, muitas trabalhadores de bancos privados estão ousando participar da greve ativamente, o que nos dá a esperança de retomarmos as grades mobilizações de trabalhadores de algumas décadas atrás, afinal o trabalhador está percebendo que não adianta se submeter cegamente à exploração dos bancos e depois ser simplesmente ser descartado sem nenhuma consideração.

4 – O fato de existir um comando nacional para a negociação facilita ou dificulta para os trabalhadores?

Os bancos são muito organizados entre si no processo de negociação, isso exige de nossa parte muita organização e muito preparo, e isto tem se demonstrado em todas as nossas negociações em que o comando sempre muito bem assessorado tem deixado os negociadores dos bancos na defensiva. É neste contexto que o comando nacional tem uma função primordial na condução da negociação e da unidade nacional dos trabalhadores bancários, até mesmo pela sua conformação que contempla a participação da grande maioria das federações dos principais estados, dos principais sindicatos de capitais e ainda de representantes de todas as correntes políticas do movimento sindical bancário. Portanto, tudo que é discutido no comando tem suas origens nas bases o que reflete numa ação unificada nacional dos trabalhadores conseguindo assim fazer uma pressão maior nas negociações.

5 – Por último, como você avalia o Projeto de Lei 4.330/2004 e suas consequências diretas para os bancários.

A possível aprovação do PL 4330 seria o maior retrocesso da história dos trabalhadores no Brasil. Não vai atacar somente os direitos dos trabalhadores bancários, mas de todas as categorias. Será sem dúvida o fim do trabalho decente e a ampliação do trabalho já precarizado em muitos setores, que estará regulamentado e legislado para uma precarização ainda maior e amparada pela lei. Temos a preocupação que isso poderá ser a extinção da categoria com a possibilidade de terceirizacao de todas as atividades bancarias tanto as atividades fim como as atividades meio, e não é a toa que um dos artigos deste PL atende de forma privilegiada o sistema financeiro que tem empenhado maior esforço na aprovação deste PL. É importante ainda lembrar que este PL compromete não somente os empregos atuais que poderão ser substituídos por terceirizados que recebem em média uma remuneração de um terço do que recebe um trabalhador contratado diretamente, mas principalmente os empregos futuros que poderão ser terceirizados quase que na sua totalidade, acabando inclusive com os concursos públicos e existem exemplos de leis semelhantes em outros países que demonstram isso. Em suma, é um projeto de lei precariza o trabalho da atual e das futuras gerações.

Close